— Tá…

    O jovem sem demora se despiu na frente dela com naturalidade, sem demonstrar qualquer vergonha. Serena ficou paralisada por um instante, sem saber onde olhar. O calor subiu em seu rosto, e ela desviou o olhar, totalmente corada.

    Depois, Jaro enrolou uma toalha na cintura e sentou-se em um banquinho de madeira. Serena, esforçando-se para manter a compostura, pegou uma pedra de sabão e começou a esfregar, com cuidado, as costas dele.

    Seu coração batia acelerado, e por um breve momento, pensamentos indecentes surgiram em sua mente. Ela imaginava o corpo dele sob a toalha, a firmeza dos músculos…

    Pare com isso, Serena! repreendeu-se mentalmente, afastando as ideias pervertidas. Respirando fundo, continuou com a tarefa.

    — Serena, você confia em mim?

    A pergunta veio de repente, quebrando o silêncio.

    Nessa hora, a jovem de cabelos negros se lembrou do que havia acontecido momentos antes, quando entrou em seu quarto para se lavar. Percebeu, surpresa, que todas as suas cicatrizes físicas, causadas pelas filhas e esposas do ancião, haviam desaparecido.

    A magia de cura usada por seu salvador fora a responsável.

    — Apesar de termos nos conhecido há poucas horas… não sei explicar, mas confio em você mais do que em qualquer outra pessoa desta vila — ela falou determinada.

    — Então escute com atenção o que vou dizer… e, por favor, não entre em pânico. Eu estou sentindo a presença de milhares de monstros, acredito que são os Dollaks. Eles cercaram a Vila Crim. Provavelmente foram atraídos pelos mercenários que meus monstros eliminaram.

    Serena arregalou os olhos, horrorizada.

    — Fui orientado a fugir em situações assim. Quando há tantos reunidos, isso significa que um Rei Dollak está liderando a tropa de monstros. E—

    — Você precisa partir! — interrompeu Serena, em lágrimas.

    — É… eu poderia fugir, mas não conseguiria dormir sabendo que abandonei pessoas que poderia salvar — declarou, em sequência sussurrou: — Especialmente agora que tenho o poder para isso…

    — Mas…

    — Vai ficar tudo bem.

    Se levantando, foi até a bacia de madeira, mergulhou nela rapidamente e saiu para se vestir. Já de roupas trocadas, voltou-se para ela.

    — Quero que fique aqui.

    Serena apenas assentiu, consciente de que nada podia fazer. Nesse momento, Jaro ergueu a mão e invocou um esqueleto.

    — Velmir, proteja essa senhorita a qualquer custo.

    — Sim, senhor! — respondeu a criatura, ajoelhando-se diante de ambos.

    De repente, alguém bateu à porta.

    — Pelo jeito, chegou a hora do banquete… tenho que ir.

    — Boa sorte… — respondeu a jovem, lançando-lhe um olhar preocupado.

    Do lado de fora, estava Joanan, esperando e sorrindo de forma animada.

    — Herói! Já preparamos o banquete. O ancião e todo o povo estão ansiosos pela sua presença.

    — Claro, vamos — respondeu Jaro, ajustando a roupa antes de seguir o camponês.

    Eles caminharam pelas ruas iluminadas por tochas e lamparinas improvisadas. O banquete acontecia ao ar livre, bem no centro da vila.

    O ambiente era vibrante: luzes pendiam entre as casas, mesas longas estavam repletas de comidas quentes, frutas e jarras de bebida.

    Crianças corriam entre os adultos; enquanto alguns aldeões dançavam, outros se divertiam jogando ou apostando.

    — Aqui é mais animado do que eu imaginava — comentou Jaro, observando a movimentação.

    — Sem dúvida! Tudo isso graças a você… e também ao nosso ancião, é claro — exclamou Joanan, rindo.

    — Você até que é uma boa pessoa, Joanan — elogiou Jaro, colocando a mão em seu ombro.

    — Obrigado, senhor — respondeu Joanan, sem entender muito bem o que ele queria dizer.

    Jaro então seguiu até a área mais reservada, onde o ancião o aguardava, cercado pelas esposas. O velho chefe se levantou ao vê-lo, exibindo uma expressão calorosa.

    — Nosso bravo salvador! A vila celebra por sua causa. Venha, sente-se à nossa mesa.

    — É uma honra — respondeu Jaro, apertando a mão do ancião.

    Eles conversaram por alguns minutos, trocando palavras sobre a celebração, o cotidiano da vila e as mudanças que ocorreram desde sua chegada. No entanto, o clima mudou levemente quando o ancião trouxe à tona outro assunto: — Já que falamos de festas… minha filha Freya tem demonstrado muito interesse por você.

    Jaro franziu o cenho, surpreso.

    — Ah… é mesmo?

    — Sim. Ela já passou da idade de se casar e nunca se encantou por ninguém. Mas você… bem, parece ter causado uma forte impressão.

    — Não sei se estou pronto para algo assim — respondeu Jaro, forçando um sorriso. — Mas agradeço a confiança. Vou pensar no assunto.

    O ancião riu e deu um leve tapa em seu ombro.

    — Só não demore demais. Freya não costuma esperar quando deseja alguma coisa.

    Jaro desviou o olhar e fingiu rir, preferindo não prolongar o assunto. Pegou uma caneca e tentou se misturar à festa, porém o peso daquela conversa permaneceu martelando em sua mente.

    Jaro… eles estão se aproximando. Sei que você já foi alertado, mas um grupo de dollaks pode ser mais letal que um exército humano. É mais seguro usar esses camponeses como iscas e fugir.

    Relaxa, Já ouvi muitos alertas. Eu vou ficar atento.

    Consegue me dizer quantos são?

    Por volta de duzentos.

    São muitos… talvez você não consiga fechar um contrato comigo, chefe. Hahaha.

    Eu não vou deixar você morrer.

    — Eu sei… — murmurou Jaro, com um sorriso cansado.

    Logo depois, ele se levantou e subiu em uma das mesas do local. Alguns riram, achando que ele estava bêbado. Outros apenas o observaram com curiosidade.

    — Moradores da vila Crim! Eu sei que vocês têm sofrido: ataques de mercenários, monstros… tudo isso sem o apoio do clã Moong. E mesmo assim, vocês resistiram! Defenderam sua terra e suas famílias!

    Todos se emocionaram diante das palavras do herói da vila. Em seguida, ele ergueu a caneca de hidromel que alguém havia deixado sobre a mesa.

    — Um viva a vocês… e aos deuses!

    O lugar inteiro explodiu: — VIVA AO HERÓI! GLÓRIA AO HERÓI! HONRA AO HERÓI!

    O rosto do jovem mascarado escureceu, talvez decepcionado.

    É… não importa o mundo… os seres humanos são facilmente envenenados pelas palavras.

    — Mas não é só por isso que estou aqui. — continuou Jaro, descendo da mesa. — Acredito que todos vocês esperaram esse momento… o julgamento dos mercenários que planejavam atacar essa vila. E agradeço por terem confiado em mim e não os terem executado no calor do momento.

    Ele apontou para alguns camponeses próximos.

    — Tragam os prisioneiros!

    Em poucos minutos, seis moradores apareceram empurrando um grupo de vinte e seis homens acorrentados. Sujos, machucados e alguns feridos, seus rostos demonstravam raiva, desprezo… e medo.

    O povo da vila formou um grande círculo, com o jovem mascarado e os criminosos no centro. Jaro deu um passo à frente e puxou a arma da bainha.

    A Espada da Verdade reluzia sob a luz da lua.

    — Moradores! Ouvi de alguns de vocês que esses homens mataram, roubaram… e até tiraram a inocência de jovens desta vila.

    Muitas pessoas choravam e, furiosas, lançavam insultos contra os criminosos. Alguns diziam:

    — Vocês tiraram a vida da minha filha! — chorava uma mulher.

    — Vocês nos roubaram por meses! — gritava um homem, com os olhos cheios de raiva.

    Voltando-se para os mercenários, o jovem indagou: — Vocês cometeram tais crimes?

    Um deles cuspiu no chão.

    — Vai se foder, heróizinho de merda! E daí se foi a gente?

    Os outros apenas o encaravam, tensos e calados.

    Sem se importar com o comentário, o jovem ergueu a espada, permitindo que todos a vissem claramente.

    — Esta espada foi forjada por um anão, nas profundezas das montanhas. Dizem que ela possui um poder raro, quem for cortado por essa lâmina só poderá dizer a verdade.

    A multidão o ouvia, perplexa e ansiosa.

    Sem perder tempo, um a um, Jaro cortou os braços dos prisioneiros; um corte raso era suficiente. Empunhando a espada ativada, iniciou o interrogatório.

    Primeiro, quis saber se algum deles já havia roubado. Depois, perguntou se já haviam cometido estupro. Por fim, questionou se já tinham matado um inocente.

    Cada resposta era um “sim”, vindo um após o outro. Os criminosos, sem controle sobre as próprias palavras, confessavam seus pecados.

    Quando terminou, Jaro se virou para o povo e proclamou: — O QUE ELES MERECEM?!

    — A MORTE!!!

    A resposta foi unânime, e isso deixou os criminosos em um estado de pânico.

    — Eu fui forçado!!!

    — NÃO! NÃO, NÃO! EU NÃO QUERO MORRER!

    Jaro não hesitou. De olhos frios, ergueu a lâmina e, um a um, decapitou os vinte e seis mercenários.

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