Jang!

    Uma boa distância à frente, outra porta se abriu. Um jovem vendado saiu, era Einar. Acompanhado do idoso Ref.

    O idoso retirou a venda dos olhos do garoto e, então, ele e o homem alto se aproximaram de Cao.

    Se ajoelhando, eles disseram em uníssono: — senhor.

    O homem de cabelo marrom, chamado Cao, se aproximou, fitando o olhar no indivíduo com o braço machucado.

    — Por que aquele moleque baixinho está todo surrado e sangrando?

    — Por favor, me perdoe, senhor Cao. Aquele pestinha me mordeu, então eu dei uma lição nele.

    Suas últimas palavras foram ditas com um sorriso, confiante de que Cao o perdoaria. Isso dava a impressão que ele já havia feito isso diversas vezes.

    — Entendo — disse Cao calmamente, acostumado a essa situação.

    Mas quando Cao olhou para o lado e viu a reação do soldado, com o rosto levemente descontente, imaginou que, se deixasse seu servo passar sem punição, teria grandes consequências.

    Pow!

    Cao, chutou seu servo que voou alguns metros dali.

    Em seguida, gritou: — entendo um caralho! Como você pode estragar nossa mercadoria dessa maneira?!

    Com apenas um chute o homem alto se lesionou severamente, e com dificuldade se ajoelhou novamente em sinal de reverência.

    — Eu nunca mais farei isso meu senhor — disse o homem alto.

    Cao se virou para o soldado, tentando disfarçar o nervosismo.

    — Me perdoe, esse servo ainda é um novato. Não consegui discipliná-lo como deveria.

    O soldado cruzou os braços.

    — Não imaginava que o renomado mercador Cao trataria as mercadorias de seus clientes dessa forma.

    A respiração de Cao falhou por um instante.

    Merda! Não posso perder esse negócio de jeito nenhum!

    O desespero cresceu dentro dele. Nos últimos anos, sua fortuna havia definhando, e essa venda era sua chance de se reerguer. Sem hesitar, ele caiu de joelhos no chão.

    — Por favor, grande soldado Harold! Eu faço qualquer coisa!

    Dentro daquele capacete de prata, o sorriso de Harold era malicioso.

    — Então vamos fazer uma aposta.

    — Aposta…?

    Harold apontou para dois garotos que estavam parados ali, que os observavam em silêncio.

    — Se o jovem com mais mana vencer, eu ganho trinta por cento de desconto em qualquer mercadoria que eu quiser. Mas se o baixinho ganhar…

    Ele fez uma pausa, saboreando as palavras.

    — Você mata esse servo, e eu abro mão do desconto.

    O mercador congelou.

    T-TRINTA POR CENTO?! Esse patife quer me assaltar?

    Seu olhar se estreitou para os garotos. Era óbvio que o menor morreria.

    Por isso odeio negociar com soldados, são todos ladrões!

    Harold suspirou.

    — Você não parece muito satisfeito com minha humilde proposta…

    Cao forçou um sorriso, mesmo sentindo a raiva corroer por dentro.

    — Claro que não! Eu só estava pensando em como o senhor é generoso.

    — Fico feliz que pense assim.

    Vai se ferrar, desgraçado! Pensou o mercador, furioso.

    Cao se ergueu e seus olhos frios e impiedosos fixaram-se nos dois meninos no meio da arena.

    Levantando a mão direita em direção aos garotos bradou em alta voz: — Número 77 e Número 61. Matem-se.

    João ficou estático, olhando fixamente para o mercador. Depois rapidamente desviaram para o jovem à sua frente. Matar? Por que eu…

    No segundo em que seus olhos se voltaram para o Número 61, um punho surgiu como um meteoro, atingindo seu rosto com uma força brutal.

    BAM!

    O impacto foi tão violento que João foi arremessado para trás, seu corpo frágil saiu rolando várias vezes pelo chão áspero da arena.

    Mesmo nessa situação de vida ou morte, a mente de João não parava de rodar em pensamentos estranhos.

    Ele cuspiu um pouco de sangue no chão.

    Sinto que esse soco me acordou…Que engraçado, aquele jogo que Leonardo me deu é realmente um portal para outro mundo!

    Ele franziu a testa e levou as mãos ao rosto. Suas mãos eram menores, macias, sem os calos de antes.

    Esse corpo… não é o meu. Acredito que este seja o corpo de uma criança que faleceu… e, de alguma forma, minha alma entrou dentro desse corpo.

    Endireitando-se, olhou ao redor.

    Também preciso considerar o idioma, a arquitetura, as roupas e até mesmo os comportamentos das pessoas, tudo aqui é completamente diferente da Terra.

    Uma voz próxima o arrancou de seus pensamentos, trazendo-o de volta à realidade cruel.

    — Pivete, pode me odiar. Mas, ainda tenho que espancá-lo até a morte. Ordens são ordens.

    Einar se aproximou, segurou João pela gola e começou a socá-lo violentamente.

    BAM! BAM! BAM!

    Porém, João não parecia se importar. Seu corpo estava tão fraco que sequer conseguiria se defender e, mesmo que tivesse forças, será que realmente poderia lutar contra esse pequeno monstro?

    No fundo, ele já sabia que ia morrer. E era isso mesmo que ele tanto ansiava desde que acordou nesse novo mundo.

    Sem resistência, apenas aceitou seu destino.

    Seu rosto estava sendo esmagado a cada soco, a dor explodiu por todo o seu corpo.

    O sangue jorrava, espalhando-se pelo ar e sujando o rosto do garoto que o golpeava sem piedade.

    João tentava respirar, mas seu corpo não respondia.

    Isso dói tanto…

    Ele ainda ouvia os golpes, mas a escuridão já tomava conta. Sua visão ficou embaçada, os sons pareciam distantes.

    Por que morrer leva tanto tempo…?

    Ele apenas fechou os olhos, esperando seu fim.

    ⧖⧗

    Em uma torre colossal, que parecia desafiar os próprios céus, erguia-se imponente sobre o abismo.

    Um pouco abaixo de seu ápice, as nuvens se aglomeravam, como se fossem súditas reverentes ao seu poder.

    O céu, envolto em tons sombrios e ameaçadores, rugia com trovões distantes.

    Enquanto ventos avassaladores e poderosos batiam violentamente nas pedras antigas da torre.

    Apesar de sua altura grandiosa, o topo da torre era surpreendentemente modesto.

    Um trono real, esculpido em pedra negra e adornado com runas antigas.

    Apenas alguns centímetros além do trono, em qualquer direção, havia um precipício sem fim.

    Sobre o trono, sentava-se uma figura enigmática, envolta em uma túnica branca e um capuz que ocultava qualquer traço de identidade.

    Atrás do trono, outra figura igualmente envolta em uma túnica negra, estava imóvel.

    A pouca distância deles, uma projeção flutuava no ar, mostrando a cena perturbadora de um garoto mordendo e arrancando um pedaço do braço de um homem.

    “Eu estava morrendo de sede… e, por acaso, seu sangue me saciou. Era delicioso. Obrigado por isso.”

    — Hahahaha! Esse humano ficou louco mesmo — falou uma voz feminina e celestial. — Ele realmente bebeu o sangue por causa da sede? Hahaha, que criatura peculiar.

    — Minha deusa, não desejo interromper sua diversão… mas… você realmente lhe deu apenas aquela espada? — perguntou o ser que permanecia atrás do trono, hesitante.

    Com um gesto suave dos dedos, a figura sentada no trono interrompeu a projeção.

    — Apenas? Celis você realmente acredita que a espada que concedi a esse humano não é suficiente?

    A voz da deusa era calma, mas carregada de uma autoridade que fez Celis suor frio.

    A figura atrás do trono ajoelhou-se imediatamente, a cabeça baixa, as mãos tremendo levemente.

    — Perdoe-me, senhora… mas sim, pensei que poderia ser… insuficiente.

    — Se eu der algo mais poderoso, ele vai derrotar aquele monstro com facilidade. E onde estaria a graça nisso?

    Celis ergueu o rosto, seus olhos refletindo incredulidade.

    — Mas, minha deusa… como pode um humano, com aquela simples espada, enfrentar algo tão terrível?

    — Eu também duvidei no início. Mas, após anos observando-o, descobri algo fascinante. Ele possui um talento único. Um dom que nem mesmo muitos deuses possuem.

    Um trovão estrondoso explodiu nós céus, iluminando brevemente o rosto da deusa. Seus traços divinos eram agora envoltos por um sorriso.

    — Não desejo ser intrometida, minha deusa, mas… que tipo de talento seria esse?

    — Hahaha! Sabia que você não resistiria. Você é ousada para uma criação!

    Celis sentiu medo, imaginando o pior. Mas a deusa apenas ergueu a mão, acalmando-a.

    — Relaxe, minha querida. Vou revelar o segredo. O talento dele… é para a batalha. Ele possui o instinto de um rei da guerra. Um dom raro, mesmo entre os deuses.

    — Um… rei da guerra? Isso é loucura — Celis engoliu em seco, seus olhos arregalados.

    A deusa recostou-se no trono, seu olhar voltando para a projeção parada no ar.

    Não me decepcione, humano. Estou ansiosa para ver até onde você pode ir. E… espero que goste do pequeno presente extra.

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