Capítulo 4 - Agonia
Do lado oposto da arena, se abriu outro portão. Dele saiu um jovem vendado: era Einar, acompanhado pelo idoso Reff. Este retirou a venda dos olhos do rapaz e, em seguida, ele e o sujeito alto se aproximaram do mercador, que estava junto do soldado.
Os guardas, ajoelhando-se em reverência, se apresentaram.
— Senhor, eu sou Ryan Drake, guarda do Distrito Verde.
— Este pobre velho se chama Reff Sten, também sou do Distrito Verde — disse o idoso.
— É… acho que me recordo de vocês — afirmou Kao.
— É uma honra senhor — respondeu Ryan.
— Porém… Ryan você que trouxe aquele baixinho não é?
— Sim senhor… — confirmou Ryan, preocupado.
— Porque ele está naquele estado?
— E-eu…
Merda… Justo o senhor Kao que irá avaliar esse duelo. Pensava o sujeito alto.
— Por favor, me perdoe, meu senhor. Aquele pirralho me mordeu, então dei uma lição nele.
— Entendo… Não tem problema não se preocupe — o mercador sussurrou, tocando o ombro de Ryan.
Me livrei… Reflitia Ryan.
No entanto, o mercador, ao notar a expressão contrariada do soldado ao lado, percebeu que ignorar o incidente poderia trazer consequências sérias.
Phew!
Sem aviso, desferiu um chute contra o guarda, que foi arremessado a vários metros. Em sequência, gritou: — Entendo o caralho! Como você ousa estragar nossa mercadoria dessa maneira?!
Ryan caiu no chão, gravemente ferido, mas ainda assim reuniu forças para se ajoelhar novamente, ofegante. Porque ele sabia que, se não fizesse isso, seria morto.
— Eu juro que isso nunca mais vai acontecer — Ryan exclamou, visivelmente arrependido.
— É claro que você não vai fazer, porque, se fizer, eu vou esmagar a sua cabeça.
O sujeito alto engoliu em seco ao ouvir essas ameaças. Já Kao tentava esconder o nervosismo diante do soldado.
— Perdoe-me. Esse servo ainda é inexperiente. Falhei em discipliná-lo de forma adequada.
— Não esperava que o renomado mercador Kao tratasse assim as mercadorias dos próprios clientes.
O desespero tomou conta do mercador. Sua fortuna havia se deteriorado nos últimos anos, e aquela venda era sua chance de recuperação. Sem pensar duas vezes, caiu de joelhos.
— Por favor, soldado Harold! Faço o que for necessário!
Por trás do capacete prateado, Harold sorriu de maneira maliciosa.
— Você é um cara muito valioso para o clã Moong. Por isso, devo ser benevolente… Que tal fazermos uma aposta?
— Uma aposta?
Harold apontou para os dois garotos que observavam a cena em silêncio.
— Se o de cabelo vermelho vencer — disse, referindo-se a Einar — eu recebo trinta por cento de desconto em qualquer mercadoria. Mas, se o baixinho ganhar… você elimina esse servo inútil. E eu abro mão do desconto.
O mercador congelou.
T-trita por cento?! Esse patife quer me assaltar?
Seu olhar se estreitou para os garotos. Era óbvio que o menor morreria.
Por isso odeio negociar com soldados, são todos ladrões!
Harold suspirou.
— Você não parece muito satisfeito com minha humilde proposta…
Kao forçou um sorriso, mesmo sentindo a raiva corroer por dentro.
— Claro que não… Eu só estava pensando em como o senhor é generoso.
— Fico feliz que pense assim.
— Que seja — murmurou Kao.
Fitando os olhos nos dois garotos posicionados no centro da arena. Ergueu a mão direita em direção a eles e bradou: — Número 77 e Número 61. Matem-se.
João permaneceu estático, encarando o mercador. Matar? Porque eu… No instante em que seus olhos se voltaram para Einar, um punho surgiu como um meteoro, acertando seu rosto.
THUD
O impacto foi tão violento que João foi lançado para trás. Seu corpo frágil rolou diversas vezes pelo chão áspero da arena.
— Moleque, pode me odiar. Mas tenho que te espancar até a morte. Ordens são ordens.
Einar avançou, agarrando João pela gola e começou a socá-lo violentamente.
BAM! BAM! BAM!
Mas João parecia alheio àquilo. Seu corpo estava tão debilitado que mal conseguia se defender e, mesmo que tivesse forças… será que realmente conseguiria lutar contra esse pequeno monstro? No fundo, ele já sabia que iria morrer. E talvez fosse exatamente isso o que desejava desde que despertou nesse novo mundo.
Sem resistência, apenas aceitou o próprio destino. Seu rosto era esmagado a cada golpe; a dor explodia por todo o corpo e o sangue jorrava, espalhando-se no ar e sujando o rosto impiedoso do agressor. João tentava respirar, mas seu corpo não respondia.
Isso dói tanto… Por que morrer leva tanto tempo…? O milionário reflitia, aflito.
Ele ainda ouvia os golpes, mas a escuridão começava a envolvê-lo, até que sua visão se apagou por completo.
⧖⧗
Em uma torre colossal, que parecia desafiar os próprios céus, erguia-se imponente sobre o abismo. Um pouco abaixo de seu ápice, as nuvens se aglomeravam. Já o céu estava tomado por escuridão, e ventos avassaladores batiam violentamente nas pedras da torre. Apesar de sua altura grandiosa, o topo da torre era surpreendentemente modesto, ostentando um trono.
Sobre o trono, sentava-se uma figura enigmática, envolta em uma túnica branca e um capuz que ocultava qualquer traço de identidade. Atrás do trono, outra figura, igualmente envolta em uma túnica negra. A pouca distância deles, uma projeção flutuava no ar, mostrando a cena perturbadora de um garoto mordendo e arrancando um pedaço do braço de um homem.
“E-eu estava morrendo de sede… O-obrigado pelo sangue.”
— Esse humano enlouqueceu de vez — comentou uma voz feminina. — Ele realmente bebeu o sangue por causa da sede? — O ser batia o punho contra o braço do trono. — Hahaha, que criatura peculiar…
— Minha deusa, não desejo interromper sua diversão… mas… você realmente lhe deu apenas aquela espada? — perguntou o ser que permanecia atrás do trono, hesitante.
Num gesto suave dos dedos, a deusa interrompeu a projeção.
— Apenas? Celis, você realmente acredita que a espada que concedi a esse humano não é suficiente? — A voz da deusa, imbuída de autoridade, atormentou o espírito da criatura de túnica negra, que, ajoelhada atrás do trono, baixou a cabeça enquanto as mãos tremiam.
— Perdoe-me, senhora… mas sim, pensei que poderia ser… insuficiente.
— Se eu lhe desse algo mais poderoso, ele derrotaria aquele monstro com facilidade. E onde estaria a graça nisso?
Celis ergueu o rosto, expressando incredulidade.
— Mas, minha deusa… como pode um humano, empunhando apenas uma espada simples, enfrentar algo tão terrível?
— Eu também duvidei no início. Porém, após anos observando-o, descobri algo fascinante. Ele possui um talento único. Um dom que nem mesmo muitos deuses têm.
Um trovão estrondoso rasgou os céus, iluminando brevemente o rosto da deusa. Seus traços divinos estavam agora envoltos por um sorriso.
— Não desejo ser intrometida, minha deusa, contudo… que tipo de talento seria esse?
— Hahaha! Sabia que você não resistiria. Você é ousada para uma criação!
— Mil perdões!
Celis sentiu medo, imaginando o pior. Porém, a deusa apenas ergueu a mão, sinalizando para que se acalmasse.
— Relaxe, minha querida. Vou revelar o segredo. O talento dele… é para a batalha. Ele possui o Espírito da Guerra.
— U-um Espírito da Guerra? Isso é loucura!
O Espírito da Guerra é um dom que desperta dentro de alguns seres e deuses. Aqueles marcados por esse espírito possuem talentos sobrenaturais para o combate e um instinto aguçado.
Eles aprendem novas formas de luta mais rapidamente que o normal. Mesmo sem treinamento, seus reflexos, leitura de movimentos e tomada de decisão em combate estão acima da média.
Conta-se que o Espírito da Guerra nasceu do primeiro conflito entre os deuses, uma energia viva gerada pelo derramamento de sangue divino e pela vontade de vencer a qualquer custo. Desde então, ele nasce em hospedeiros dignos, alimentando-se de sua sede por luta.
— Filha… o destino, às vezes, zomba até mesmo de nós, deuses.
O ser divino recostou-se no trono, e seu olhar voltou-se para a projeção suspensa no ar.
— Não me decepcione, humano. Estou ansiosa para ver até onde você pode ir…
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