Jaro caminhava com um semblante alegre. Suas feridas já estavam quase totalmente curadas e, nas mãos, carregava uma caixa repleta de poções de mana. Não tinha certeza de como funcionavam, mas, pelo nome, estava convicto de que tornariam ele e sua equipe muito mais poderosos.

    Logo, Jaro e Serena chegaram à mansão. Ao adentrar, encontraram Raizen, que estava lendo um livro como de costume. Jaro explicou sobre Serena e a registrou rapidamente. Diferente dele, que fora tratado como uma mercadoria e só obteve sua identidade de forma forçada, Serena era uma mulher livre e não precisaria passar pelo mesmo processo. No pulso dela havia um pequeno bracelete, que provava sua identificação como moradora da Vila Crim e cidadã livre do Reino de Nive.

    Após isso, os amigos de Jaro também chegaram à mansão. Era óbvio o motivo, faltavam poucos minutos para o treinamento. Eles se cumprimentaram brevemente, mas todos perceberam que Jaro e Serena estavam um pouco estranhos, até que surgiu uma pergunta de Alice, que os olhava com certa irritação: — Serena, qual o número do seu quarto?

    — Eu… não tenho um quarto. — confessou, um pouco sem jeito. — Estou dormindo no do Jaro.

    Ninguém esperava, que dois jovens fossem dividir o mesmo quarto. Sussurros e risadinhas começaram a circular, mas em vez de criar constrangimento pesado, havia um ar de diversão.

    O rubor no rosto de Serena denunciava seu desconforto, enquanto Jaro mantinha a expressão calma, embora claramente incomodado.

    Antes que a situação piorasse, Jaro ergueu a voz: — Chega disso. Falta pouco para o treinamento.

    O tom sério dele fez o riso morrer nos lábios dos outros. Apesar disso, estava empolgado.

    — Quero mostrar algo pra vocês.

    Jaro abriu a caixa que carregava e revelou frascos de vidro com um líquido azul que cintilava suavemente, pulsando como se tivesse vida própria.

    — O que é isso? — perguntou um Taylor, franzindo a testa. — Parece saboroso…

    Jaro ergueu um dos frascos, deixando a luz refletir em seus olhos.

    — São poções de mana. Ganhei como compensação pela última missão. — fez uma pausa e acrescentou, sincero: — Mas não sei ao certo quais são os efeitos. Só imagino que nos fortaleçam.

    O grupo se entreolhou, relutantes, mas a curiosidade falou mais alto. Ele entregou um frasco a cada um, um por um, e eles levaram o líquido aos lábios. Surpreendentemente era doce e refrescante, tinha um sabor agradável que lembrava frutas que ninguém conseguia nomear.

    Quase de imediato, a sensação veio, um calor suave se espalhava pelo peito, correndo pelas veias como uma corrente elétrica agradável.

    — Eu… consigo sentir minha mana! — exclamou Alice, os olhos brilhando de espanto.

    — É-é c-como se ela estivesse mais próxima e viva dentro de mim… — completou Peter, abrindo e fechando as mãos como se quisesse tocar o ar ao redor.

    Um sorriso involuntário escapou em meio à tensão que ainda pairava. Todos se sentiam mais fortes, mais inteiros, como se seus corpos e espíritos estivessem em perfeita sintonia. Sem mais palavras, seguiram e se alinharam-se ao redor do círculo branco gravado no chão.

    Assim que o último deles entrou, uma luz intensa os envolveu. Num piscar de olhos, foram arrancados daquele lugar e lançados diretamente na base subterrânea.

    Chegando ao destino, em frente ao prédio dos professores, estava o professor Jason, junto de quinze jovens que eram:

    Equipe I: Zoe, Estelle, Aurora, Liam e Lopez.

    Equipe II: Greg, Einar, Sophia, Chen e Maisie.

    Equipe IV: Carter, Lamir, Rivera, Trevor e Aisha.

    — Finalmente chegaram os últimos — exclamou Jason, despreocupado.

    As outras equipes encaravam a Equipe III, que havia chegado bem em cima da hora. Jaro ficou surpreso ao ver os demais grupos. Depois daquela semana, eles também estavam diferentes; já não havia medo em seus rostos, mas sim chamas em seus olhos. Ao mesmo tempo, as outras equipes também ficaram surpresas com a Equipe III, em especial com Jaro e Peter, que usavam máscaras demoníacas cobrindo seus rostos.

    Alguns murmuravam:

    — Não tinha um nanico no grupo deles? referindo-se a Jaro.

    Porém, um dos aprendizes o reconheceu de imediato. Não era outro senão Einar. Seus olhos estavam serenos, mas também surpresos, como Jaro havia mudado tanto em tão pouco tempo?

    Até que Jason pediu para todos prestarem atenção. Jaro então percebeu algo curioso, uma pequena esfera flutuava próxima à boca do professor, amplificando sua voz. Pensou consigo: Um microfone voador? A esfera seguia Jason conforme ele se movia.

    — Bem, antes de começarmos nosso treinamento, gostaria que a nova integrante da Equipe Fantasma se apresentasse.

    Antes que Serena se aproximasse, Jaro a puxou pelo braço e sussurrou em seu ouvido:

    — Em hipótese alguma fale seu nome verdadeiro, nem informações reais.

    Serena assentiu e caminhou até Jason. Enquanto passava, todos os jovens das outras equipes não conseguiam deixar de reparar em sua aparência. Alguns rapazes estavam morrendo de inveja da Equipe Fantasma. A jovem cumprimentou Jason respeitosamente e ficou de frente para a multidão.

    — É… meu nome é Carol e eu vim de uma cidade distante, a oeste. Espero que nos demos bem — informou em alta voz, mesmo nervosa.

    Alguns homens gritaram e assobiaram, deixando Serena um pouco embaraçada. Depois, ela voltou para perto de Jaro.

    — Muito bem, agora vamos prosseguir com o treinamento. Sigam-me.

    Depois de caminherem aproximadamente meia hora, chegaram a uma sala de treinamento, a mesma que Lila havia mencionado a Jaro anteriormente.

    Todos ficaram atônitos. O espaço se estendia por impressionantes 500 metros de comprimento, e o teto alcançava 200 metros de altura, como se estivessem dentro de uma catedral gigantesca, mas repleta de halteres, barras e armas de todos os tipos. Cada detalhe parecia minúsculo diante da vastidão do ambiente.

    Jason explicou que, na Primia, equivalente à segunda-feira, eles teriam aulas práticas e teóricas com ele até o meio-dia. Ele acrescentou que a sala de treinamento ficaria aberta 24 horas por dia, caso quisessem praticar por conta própria. Nos demais dias, os professores Kyle, Amélia e Olivia ministrariam aulas teóricas e práticas, embora estas não exigissem esforço físico direto.

    — Sei que vocês já sabem de algumas coisas, mas vou reforçar.

    Ele começou a explicar como funcionavam as guildas e os clãs. As guildas eram grupos organizados que assumiam missões variadas, desde caçar criminosos ou monstros até tarefas mais simples, como escoltar alguém, explorar áreas perigosas ou coletar ervas raras e valiosas.

    Os clãs, por sua vez, cada um com sua própria filosofia, treinavam seus guerreiros em técnicas e habilidades específicas. Além disso, clãs e guildas serviam ao rei e podiam ser convocados em tempos de guerra. Para gerar renda, muitos clãs se afiliavam a guildas, enviando guerreiros para cumprir missões e receber recompensas.

    Jason também mencionou o clã Moong, cuja filosofia cruel envolvia vender pessoas e escravizar seres humanos. Como as vendas não eram suficientes, o clã treinava os jovens sequestrados e os enviava em missões das guildas, ficando com 50% das recompensas, enquanto a outra metade servia para que o jovem pudesse se sustentar. Apenas os distritos Azul e Vermelho mantinham esse sistema, enquanto o distrito Verde era destinado principalmente a prisões e pessoas sem habilidade em mana.

    Ao ouvirem isso, as “mercadorias” sentiram-se frustradas e indignadas. Significava que teriam que arriscar suas vidas e se esforçar ao máximo, entregando quase todos os lucros aos seus donos.

    Jason continuou explicando que os distritos contavam com estabelecimentos como restaurantes, lojas de roupas, joalherias, ferreiros, hotéis, hospitais e até cinemas. Esses locais não só atendiam à população que vivia sob a influência do clã Moong, que ainda recebia visitas semanais, mas também eram estratégicos para atrair novos guerreiros para o clã e motivar os comerciantes e trabalhadores a continuarem suas atividades.

    Enfim, Jason anunciou uma surpresa. Quatro guardas entraram, alinhados atrás dele, e mesmo Lila estava entre eles. Os aprendizes observaram, curiosos e surpresos. Ele explicou que não iriam realizar as missões sozinhos, uma medida necessária para evitar fugas e proteger os jovens, considerados mercadorias valiosas.

    Para definir os responsáveis, foi realizado um sorteio entre os guardas da turma 5. Em ordem da esquerda para a direita, Jason chamou-os à frente: Damien seria o fiscal da Equipe I, Elias da II, Lila da III e Garin da IV.

    Jason prosseguiu detalhando o procedimento. No prédio dos professores, onde estava a secretária sênior Elise, os jovens deveriam escolher suas missões. Cada equipe selecionaria três opções e, em seguida, apresentaria a um fiscal, que autorizaria apenas uma delas, caso o nível da tarefa seja alto. As missões eram atribuídas conforme o nível de cada grupo.

    Para finalizar, Jason explicou que, ao longo de 11 meses, seria avaliada a quantidade de missões realizadas por cada equipe. Cada missão valia pontos, sendo que as mais perigosas conferiam maior pontuação. Os pontos eram brevemente indicados nos pergaminhos das missões, mas, mensalmente, um placar seria exibido na sala, mostrando o desempenho de cada equipe. Além disso, as lutas entre equipes também geravam pontos.

    E o que isso significava, afinal? Que, ao final dos 11 meses, a equipe com mais pontos se tornaria a principal da turma 5, reunindo todos os demais membros sob seu comando. Isso despertou um espírito competitivo nos jovens, mas principalmente em Jaro e Einar.

    Jaro manteve a postura firme, analisando cada detalhe com calma. Isso pode ser o início de algo muito maior… Para ele, era uma grande oportunidade de conquistar mais aliados.

    Do outro lado da moeda, Einar observava os outros com atenção. Esses lixos são apenas um degrau para me tornar o melhor. Vou chegar ao topo, custe o que custar.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (3 votos)

    Nota