O milionário abriu os olhos, seu coração batia como um tambor. Seu rosto estava molhado, não de suor, mas de lágrimas que escorriam como rios.

    — Eu… estou vivo?

    Ele olhou ao redor, reconhecendo cada detalhe do quarto que havia sido seu refúgio por anos. A iluminação suave, os móveis luxuosos, o PC. Tudo estava no lugar.

    — Estou em casa?!

    Sem hesitar, ele se levantou, correu até o espelho, e lá estava: seu reflexo o encarava.

    — Tudo isso foi um sonho? — sussurrou, com um sorriso frágil se formando em seus lábios.

    Mas então, algo chamou sua atenção. Na cama, duas silhuetas repousavam em paz.

    Renata… Maria…

    Seu coração apertou, uma emoção avassaladora tomou conta de seu peito.

    — Nunca imaginei que seria tão bom ver vocês…

    Ele se aproximou, estendendo a mão para acariciar Maria. Porém, para seu horror, sua mão atravessou o corpo dela como se fosse névoa. O sorriso em seu rosto desapareceu instantaneamente, substituído por uma expressão de puro terror.

    — N-n-não… — Ele balançou a cabeça, negando a realidade que se impunha diante de seus olhos.

    Nesse instante, o quarto começou a se contorcer. As paredes tremulavam como se fossem feitas de líquido, o chão desaparecia sob seus pés, e um buraco gigantesco se abriu, sugando tudo ao seu redor como um vórtice insaciável.

    — AHHHH!!! — seu grito ecoou no vazio enquanto ele caía, mergulhando no abismo.

    PLOFT!

    Seu corpo colidiu com algo macio. Não havia dor. Apenas um céu estrelado se estendendo sobre ele, e um sol pequeno brilhando na imensidão. Se levantando, observou ao redor. Uma floresta exuberante se estendia diante de seus olhos, tão perfeita que parecia irreal. As árvores eram perfeitas, suas folhas balançavam suavemente na brisa. O som dos insetos, o farfalhar das folhas, o canto dos pássaro. Tudo era harmonioso e extraordinário.

    Logo seus olhos caíram em uma pequena casa de madeira, isolada entre as relvas, a quinhentos metros de distância.

    — Que lugar é esse?

    Seus olhos brilhavam de incredulidade.

    — Isso é um paraíso, é tão lind—

    — Lindo. — Uma voz feminina o interrompeu de repente.

    O milionário se virou, procurando a dona daquelas palavras. Diante dele, estava uma jovem de cabelos brancos como a neve e olhos vermelhos como sangue. Vestia um traje branco com detalhes dourados, e braceletes reluzentes adornavam seus braços. Sua beleza era como se uma deusa tivesse descido dos céus.

    — Humano, posso iniciar o contrato?

    João sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A voz dela… essa voz… ele já a tinha ouvido antes! Era a mesma voz que escutou naquele cômodo escuro, mas agora bem mais suave.

    — Quem é você? Como sabe meu nome? E… onde estou? Eu estava levando uma surra há alguns segundos, de repente estava no meu quarto e agora nessa floresta!

    Ele colocou as mãos na cabeça, enquanto murmurava coisas sem sentido. A loucura daquele cômodo escuro o havia atingido novamente. A mulher se aproximou calmamente do milionário e pressionou levemente sua testa com o dedo indicador, fazendo com que a insanidade gradualmente desaparecesse.

    — O que você fez comigo? — Ele se afastou, atordoado.

    — Você está melhor, humano?

    — Sim… eu acho.

    — Não temos muito tempo. Você vai morrer em breve. — Ela ergueu a mão, palma virada para cima, como se oferecesse algo invisível. — A única coisa que você precisa saber agora é que, se aceitar fazer um contrato comigo, você viverá.

    João ficou em silêncio, seus olhos se estreitando enquanto processava as palavras dela.

    Viver? Eu perdi tudo que era importante pra mim porra!

    — E se eu recusar?

    — Você morre.

    É óbvio…

    João encarando a linda mulher a sua frente. Sem hesitação, respondeu: — Não aceito.

    Pela primeira vez, a mulher esboçou uma reação. Um brilho curioso surgia em seu olhar atento.

    Esse humano é estranho… o que a deusa espera dele?

    — Pode me deixar morrer — afirmou desviando seu olhar.

    O ignorando, ela deu alguns passos, chegando bem perto do milionário. Seus corpos estavam tão próximos que ele podia sentir o calor dela pulsando contra o seu.

    Seus dedos delicados deslizaram pelo pescoço dele, envolvendo-o. Ele ficou paralisado, seus braços hesitaram pairando perto da cintura dela.

    — O que você vai fazer? — João não se sentiu intimidado; já tinha experiência lidando com mulheres.

    Ela não respondeu. Em vez disso, inclinou-se lentamente, fechando os olhos e aproximando o rosto do dele. João sentiu o calor de sua respiração antes que seus lábios se tocassem. O beijo começou suave, mas logo se intensificou, seus lábios eram macios, urgentes, e buscavam mais a cada instante.

    João cedeu, seus braços encontrando a cintura dela, puxando-a ainda mais para perto, como se quisesse apagar qualquer espaço que ainda existisse entre eles.

    O beijo durou alguns segundos, ela se afastou devagar, foi como se ele tivesse sido arrancado de um sonho. De repente, a grama sob seus pés começou a mudar. Um líquido escuro se espalhou rapidamente inundando a floresta.

    De novo isso!? João nem conseguiu gritar dessa vez…

    Novamente tudo se apagou. João não sentia mais nada e nem via. No entanto, a voz dela soava na sua cabeça.

    Abra os olhos, humano.

    João obedeceu. Assim que suas pálpebras se ergueram, ficou surpreso: ele estava flutuando. Tudo ao seu redor era escuridão, mas não havia medo, era como estivesse enrolando num cobertor quente.

    Não posso te deixar morrer, por isso, temporariamente, te dei um pouco do meu poder. Sobreviva, humano…

    A voz dela foi se tornando cada vez mais distante… até desaparecer por completo.

    João abriu os olhos de súbito e socos violentos o acertavam. A dor explodia em seu rosto. Diante dele, o rosto de Einar. A raiva o incendiou por dentro. Instintivamente, João ergueu o braço e a palma da sua desceu cortando o ar e atingindo o jovem em cheio.

    Einar tentou desviar, mas era tarde demais. Um corte profundo rasgou seu peito, indo do trapézio até abaixo das costelas. O sangue jorrou, tingindo o chão. Ele caiu de joelhos, pressionando o ferimento com uma das mãos.

    João, agora de pé, observava seu oponente atentamente.

    — Eu disse pra aquela vadia que não queria… — murmurou, cuspindo sangue. Em seguida, riu. — Quer saber? Foda-se. Estou num mundo de fantasia… não vou mais desperdiçar essa chance!

    O idoso Reff estava muito feliz há alguns momentos. Contanto que seu plano obtivesse sucesso, ele seria promovido. No entanto, essa felicidade durou pouco ao ver seu pupilo sendo cortado brutalmente.

    O velho, que ainda permanecia com um joelho no solo, socou o chão.

    — Como?! Esse pirralho estava quase morrendo!

    Do outro lado, o soldado Harold ficou perplexo. Esse baixinho estava fingindo ser fraco para fazer um ataque surpresa?

    Ele olhou de canto de olho para Kao, e o mesmo parecia tão surpreso quanto ele. Não… O mercador também está surpreso. E os olhos desse garoto eram vermelhos?!

    No meio da arena, os garotos se encaravam. Einar tinha um rosto abatido por causa do ferimento. Ele tinha certeza de que seu saco de pancadas havia apagado. Só que, depois de alguns segundos, o menino abriu os olhos e o atacou. Se ele não tivesse recuado rapidamente, teria sido morto.

    Einar olhou para a mão esquerda de João. Ele não segurava nenhuma arma, mas seus dedos sangravam e as unhas haviam sido arrancadas. Então, Einar compreendeu: João havia usado os próprios dedos como uma lâmina. Ele sabia que, para aquilo, era necessária uma força descomunal. Por sorte, o corte foi profundo apenas em seu trapézio, sendo superficial nas demais regiões.

    Do outro lado da moeda, João não parecia estar muito melhor. Na verdade, a qualquer momento, o jovem poderia desmaiar. Entretanto, depois que aquela mulher o beijou, ele se sentia mais forte. E não apenas isso, tudo ao seu redor parecia mais lento, enquanto seus pensamentos estavam mais acelerados.

    De repente, João abriu os braços e começou a rir loucamente. Estou me sentindo tão bem… Então, ficando sério, ele assumiu uma pose clássica de um boxeador.

    — Ei, vadia… venha.

    Einar estava paralisado, tomado pelo medo do desconhecido. Quem era aquele garoto? De onde vinha tanta força? Como ainda conseguia ficar de pé? Perguntas como essas assombravam a mente do jovem.

    Nesse instante, o velho Reff gritou: — O QUE VOCÊ ESTÁ OLHANDO, EINAR? MATA ELE!!!

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