— Tô interessado. Quanto custa pra ver essas opções?

    — Apenas 1000 mil crons.

    — Certo.

    Ela ativou uma tela, e o conteúdo apareceu projetado em uma tela holográfica para Jaro.

    — Aqui estão as empresas abertas pra investimento. Temos fábricas, comércio de tecnologia, forjas, bordéis e até companhias de transporte espacial.

    — Espacial, é? interessante — murmurou Jaro, passando os dedos sobre as imagens flutuantes. — Mas quero algo mais… sólido.

    Depois de um bom tempo conversando com Rebeca e analisando as imagens, ele parou numa empresa chamada SilverRock.

    — Essa aqui ela tá sem uma descrição… Qual é o ramo?

    — É uma construtora de renome e tem filiais em quase todo o império — explicou Rebeca. — Porém, aconteceu alguns problemas por aqui no Distrito Azul… e eles estão passando por uma grande burocracia.

    Jaro assentiu.

    Uma construtora com problemas, hein… Isso me dá alguns ideias.

    — Tem uma filial aqui no Distrito Azul?

    — Sim, tem. — Ela digitou algo e mostrou o endereço num holograma.

    — Ótimo. — Ele sorriu e tirou mais uma moeda de ouro do bolso, colocando na mão dela. — Pelo seu atendimento.

    Rebeca ficou sem palavras, o rosto dela corou levemente.

    — M-muito obrigada, senhor. Foi um prazer atendê-lo! — declarou ela, se curvando.

    — O prazer foi meu.

    Espero que essa SilverRock, realmente vala a pena.

    ⧖⧗

    — Esquece! Retirem meu nome dessa maldita lista! — rugiu uma voz grossa, tomada pela raiva.

    — Calma, senhor! Eu… eu irei remover imediatamente! — respondeu um funcionário pálido, suando frio, enquanto tentava manter uma postura profissional.

    A filial da SilverRock parecia prestes a implodir. Pelo menos trinta homens, de rostos vermelhos e punhos cerrados, cercavam cinco funcionários que mal conseguiam respirar no meio do caos.

    — Vocês nos enganaram! — gritou um homem de manto verde. — Aquele prédio subterrâneo era o nosso maior investimento e vocês estragaram tudo!

    Um dos funcionários tentou argumentar, mas sua voz trêmia: — A culpa não foi da empresa… houve um conflito, algo que fugiu do nosso controle—

    O sujeito interrompeu, cuspindo as palavras. — Vocês não tem nenhum vigia ou guarda? Uma empresa com uma reputação tão boa não consegue proteger uma simples construção?!

    Jaro, que havia acabado de entrar no prédio, observava tudo de longe. Quando ouviu menções sobre um construção de um prédio destruída na base subterrânea, seu coração gelou. Não pode ser… aquele prédio… Pensou, lembrando-se da batalha sangrenta contra os colegas de Oswin.

    Tanto faz. Não é da minha conta. Seguindo em frente, ele achou um assento próximo à ala de negócios, onde o movimento era mais calmo. Um funcionário, de ombros caídos e expressão exausta, se aproximou.

    — Em que posso ajudar, senhor? — perguntou, com a voz rouca.

    — Quero investir — respondeu Jaro, sem rodeios.

    O homem piscou, confuso, como se não tivesse entendido direito.

    — Desculpe… você quer investir? Agora?

    — É. Algum problema?

    O funcionário olhou em volta, como se esperasse que o mascarado a sua frente fosse caçoar dele. Mas, o indivíduo parecia sério. Isso fez brotar um sorriso incrédulo em seu rosto.

    — Problema nenhum! — respondeu, tentando disfarçar o entusiasmo. — Vamos… negociar.

    Enquanto ele separava os documentos, alguns investidores começaram a perceber a cena. Um deles gritou do outro lado do cômodo: — Ei! Não faz isso! Essa empresa é um buraco sem fundo!

    — Tá achando que vai ficar rico? — zombou outro. — Vai acabar igual a gente!

    O funcionário que estava atendendo o mascarado levantou-se num pulo, irritado.

    — Já chega! Vocês querem arruinar o que resta da empresa? Saiam daqui antes que eu chame a guarda!

    O grupo ainda tentou retrucar, mas, após alguns minutos de tensão e murmúrios, foram acalmados, não com palavras, mas com bolsas de moedas de ouro entregues discretamente. Logo, um a um, foram saindo, lançando olhares rancorosos.

    — Então… — Começou o funcionário, agora mais calmo. — O meu nome é Jorge. A SilverRock está planejando um novo prédio Residencial no Distrito Vermelho. Será o maior já construído luxuoso, seguro… e extremamente rentável.

    Jaro arqueou a sobrancelha.

    — Mas dessa vez tudo será diferente! Vamos colocar mais guerreiros poderosos para defender a construção e também temos a garantia do Chefe do clã, o senhor Gerran — comentava Jorge, confiante.

    Então esse é o nome do desgraçado que manda nesse lugar. Pensava Jaro, com um sorriso sob a máscara. Ele acabou se animando, mas sabia que precisava se acalmar e focar na negociação.

    — Se tudo der certo, seu lucro pode ultrapassar milhares de moedas de ouro!

    — Coisa boa… No entanto, quero começar um pouco baixo. Tem algum problema?

    — Claro que não! qual seria o valor que o senhor tem em mente? — indagou Jorge, abrindo o sistema.

    — Acho que 500 mil crons está de bom tamanho.

    Jorge arregalou os olhos, com um grito contido escapando de sua garganta.

    — Quinhentos mil?! Senhor, isso é… isso é mais do que suficiente pra iniciar o projeto!

    O burburinho recomeçou. Outros funcionários, antes cabisbaixos, começaram a cochichar animados. Alguns se aproximaram discretamente, curiosos com o novo investidor misterioso.

    — Só quero que usem bem o meu dinheiro.

    Jorge assentiu várias vezes, nervoso. — Claro, claro… é um prazer fazer negócios com o senhor! Daqui alguns meses já será iniciada a construção. Nesse dia, eu te comunico por mensagem e também te enviarei todas as atualizações do edifício.

    — Confiarei em você.

    Com um toque, Jaro autorizou a transferência. O brilho azul da interface iluminou de leve sua máscara demoníaca branca. E pela primeira vez em horas, o clima na filial SilverRock mudou. Os funcionários começaram a sorrir e até comemorar em silêncio.

    — O senhor não irá se arrepender — afirmou Jorge, enquanto levava Jaro até a saída.

    Que bom que peguei algumas moedas antes de sair da dungeon… Vou multiplicá-las aos poucos. Querendo ou não, a SilverRock vai me render muito dinheiro.

    Jaro não planejava apenas fazer investimentos, aquilo era só o começo. Ele queria criar laços com as empresas mais influentes do império, talvez até vender parte de seus conhecimentos, ideias e construir produtos modernos para elas e, quem sabe, se tornar CEO de uma delas. Mas, pra isso, precisava de mais do que ambição: precisava de mais conhecimento sobre esse mundo.

    Principalmente, depois que a Chefe o informou que ele não poderia mais comprar Booster ou Mana até alcançar o próximo estágio — o Naka —, isso o deixou abalado. Dentro do Distrito Azul, as pessoas são perigosas e imprevisíveis; qualquer vacilo pode ser fatal. Ele sabia que, dali em diante, teria que ser mais esperto… e muito mais cuidadoso.

    ⧖⧗

    Depois de fechar negócio com a construtora SilverRock, Jaro correu direto pra biblioteca. O sol já tava alto, e o calor batendo nas ruas do Distrito Azul parecia derreter até o chão. Assim que entrou, o som do sino na porta ecoou, e lá estava Raizen, sentado atrás do balcão, com um sorriso sorriso preguiçoso.

    — Olha só quem apareceu… — sussurou Raizen, sem tirar os olhos do livro que lia. — Veio devolver o livro?

    Jaro se aproximou, respirando fundo. — Preciso de mais indicações. Tudo o que tiver sobre o Império, os reinos, economia, empresas, monstros, territórios… e clãs também. Quero entender esse lugar direito.

    Raizen levantou uma sobrancelha. — Tudo isso de uma vez? Que é isso, tá montando um plano de dominação mundial, hoho.

    — Quero saber o máximo possível. Se eu não entender como as coisas funcionam, vou acabar sendo só mais um idiota andando às cegas — Jaro respondeu sério, encostando as mãos na mesa.

    Raizen fechou o livro com um estalo e se levantou devagar.

    Eles são parecidos… Reflitou Raizen, lembrado-se de Lila ou melhor… Carla.

    — Tá bom, garoto. — Ele caminhou entre as prateleiras, pegando alguns volumes empoeirados. — Começa com esses aqui. Esse fala sobre a estrutura política do Império Olimpo, esse outro é sobre as famílias influentes e como controlam o comércio. Esse aqui… — Ele entregou um livro grosso e encapado de couro — fala sobre monstros e criaturas do continente leste. Vai te dar pesadelo, mas também vai te abrir a mente.

    — Pesadelos eu já tenho de sobra. — Jaro deu um leve sorriso. — E o sobre os clãs?

    — Ah, esse é complicado. Pouca gente escreve sobre eles. O que se sabe é o que sobreviveu em registros antigos… e em boatos. — Raizen olhou de lado. — E às vezes, garoto, os boatos são mais verdadeiros que os registros.

    — Então quero ouvir os dois.

    Raizen soltou uma risada curta. — Você é teimoso igual o velho da guilda. Ele se levantou e caminhou até uma estante repleta de livros empoeirados. — Tenho muitos autores bons aqui — comentou, passando os dedos pelas lombadas —, mas o meu preferido é esse.

    Puxou um volume muito mais grosso que os anteriores e o colocou diante de Jaro.

    — É esse. É um compilado de vários registros sobre clãs e de como surgiram.

    Jaro olhou o livro, surpreso. — Caramba… obrigado, Raizen.

    Raizen apenas sorriu, voltando a se sentar. — Depois me diz o que achou.

    Jaro passou o resto da tarde mergulhado nos livros. As horas foram sumindo, as páginas viravam lentamente, porque Jaro ainda não compreendia bem o alfabeto desse mundo — tendo que apelar para Raizen o ensinar. No final, não tinha saído do primeiro livro ainda. Isso vai demorar mais tempo que pensei… mas não tem problema até que estou me divertindo. Quando olhou o relógio, já eram quase dez da noite. Raizen ainda estava por perto, sentado em uma das mesas, observando o garoto com um olhar satisfeito.

    — Sabe, Jaro… A maioria vem aqui atrás de livros sobre Heróis ou de entretenimento supérfluos. Já você veio atrás de conhecimento útil. Porque se esforça tanto em obter mais conhecimento?

    Jaro fechou um livro sobre o Império, ainda exausto, mas com os olhos brilhando, sob a máscara.

    — Ouvi uma vez que “conhecimento é poder”. Desde aquele dia, passei a enxergar tudo de um outro jeito… e hoje, graças a isso, sempre estou um passo à frente dos meus inimigos.

    A fala de Jaro pegou Raizen de surpresa, como uma pequena iluminação. Um sorriso discreto surgiu em sua face.

    — Um belo provérbio, jovem… hoho. Curioso como certas palavras têm o poder de mudar até a visão de quem as ouve.

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