Capítulo 57 - Magia
Em um lugar escuro e gelado, uma jovem loira, vestida numa armadura de prata, permanecia presa, as mãos erguidas por correntes presas ao teto, os pés fixados em suportes no chão, forçando-a a ficar em pé. Seu corpo estava destruído, ela tinha cortes fundos na pele, e seus olhos vazios não pareciam mais enxergar nada.
Até que alguém, vestindo um manto azul-escuro, aproximou-se em silêncio. Sem hesitar, golpeou-a com uma espada, perfurando seu peito. O sangue explodiu, quente, inundando o chão e pingando nas correntes. Com calma, o homem inclinou um cantil e o encheu até a boca com aquele líquido rubro.
— Com isso, falta pouco para completar a Poção Celestial de Mana — murmurou sorridente, aproximando-se do cadáver e, num gesto doentio, beijou a testa do cadáver. — Você me serviu muito bem, querida.
Um chamado ecoou atrás da porta: — Senhor Oswin, tem dois pirralhos querendo falar contigo.
Oswin levantou a cabeça, como se acordasse de uma soneca agradável e respirou fundo.
— Quem são os idiotas que ousam atrapalhar minha diversão? — resmungou. — Roz, os deixe entrar.
Um brutamontes ainda maior que Theo — o primeiro humano que Jaro matou — jogou dois jovens para dentro do cômodo, um era esguio, o outro mais baixo. Os dois se ajoelharam imediatamente diante de Oswin.
— Ah, são vocês… Jake e…
— James, senhor…
— Isso. Agora lembro.
Quando levantaram a cabeça, quase vomitaram. O manto azul de Oswin estava ensopado de sangue; parte do rosto que escapava do capuz também estava manchado. Mas o pior foi quando seus olhares caíram sobre a mulher morta atrás dele, ainda sangrando. Os dois voltaram a abaixar a cabeça, tremendo.
Oswin pegou uma toalha sobre uma cadeira e começou a limpar o rosto, ainda ali, diante deles. Depois se aproximou lentamente.
— Suponho que vieram me contar algo urgente.
A simples presença dele parecia apertar o coração dos dois garotos.
— S-sim, senhor… — começou Jake, nervoso. — Como sempre, a gente estava cobrando a taxa mensal das outras ordens… Mas, do nada apareceu maluco com uma máscara demoníaca. — O jovem fez uma pausa, como estivesse vergonha de completar o que iria dizer. — E nos deu uma surra e ordenou que a gente não cobra-se mais taxas. Não faço ideia de que ordem ele é… e agora não conseguimos mais cobrar ninguém…
Oswin inclinou o corpo, falando baixo próximo aos ouvidos dos dois.
— Interessante… Para alguém atrapalhar vocês assim, deve ser no mínimo do estágio Naka, ou perto disso.
— Isso mesmo — confirmou Jake, com um sorriso. Agora aquele filha da puta nos paga por ter batido na gente!
— Entendo. Mas se vocês não conseguiram identificar a ordem dele, então provavelmente é alguém da turma cinco. Eu avisei para não mexerem com a turma cinco. Eles são novos, mas especiais. Por isso não permiti que os provocassem. Mas agora que a Poção está quase pronta… não me importo mais. Quero que cobrem todos da turma cinco, assim como fazem nas outras.
— M-mas, Oswin…
Ele se afastou e pegou o cantil que usou antes, tomando um gole do sangue.
— Vocês devem estar pensando que não vão conseguir sozinhos… e é verdade, não vão. Vocês são os mais fracos da nossa Ordem do Gelo. — Um sorriso medonho apareceu — Mas não se preocupem… toda a nossa Ordem vai se mover, dessa vez.
Jake e James ficaram animados na hora.
— Sério? Assim vai ser fácil lidar com aqueles moleques! — declarou James, sorrindo.
— Claro que sim. — Oswin jogou o cantil para ele. — Bebam isso.
— O quê é isso…? — James cheirou o líquido espesso. Sangue? Na hora, seu rosto, que antes sorria, ficou espantado.
Oswin sorriu e exclamou: — Bebam. Vai ajudar vocês a ficarem mais fortes.
— Tá… — respondeu James, com um pé atrás.
Jake assentiu movendo a cabeça, sentindo nojo.
Eles sabiam que, se recusassem, morreriam ali. Então cada um deu um gole rápido tentando não sentir o gosto daquele líquido, mas foi em vão. O gosto era repulsivo, metálico e amargo.
Por um instante acharam que seria apenas isso… até que o chão começou a ficar distorcido e parecia que tinha cinco Oswins — na realidade, eles estavam muito tontos. Os dois desabaram, batendo o rosto no piso gelado. Uma dor absurda percorreu seus corpos, queimando de dentro para fora. Eles se contorciam, gritando como animais feridos.
Oswin apenas observou, friamente.
— Relaxem, minhas crianças… esse sangue vai deixá-los muito mais poderosos do que imaginam. Mas… se não tiverem talento suficiente, infelizmente vão morrer.
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Enquanto isso, na sala de aula, um microfone redondo começou a flutuar, aproximando-se até ficar perto da boca da Amélia.
— Primeiro… antes de começar a aula. Acredito que o termo “professor” não cabe aqui. Vocês vão aprender a matar outros seres humanos e táticas de assasinato. De agora em diante, me chamem de Instrutora, e chamem de Instrutor todos os que vierem a ensiná-los. Entenderam? E se alguém perguntar quem mandou vocês mudarem de ideia, digam que fui eu. Entendido?
Todos ficaram em silêncio por um momento. Isso deixou a instrutora irritada; ela deixou escapar sua mana, o que fez até mesmo Jaro estremecer, era como se um monstro ainda mais feroz que o Rei Dollak estivesse à sua frente. Sentindo a pressão, todos gritaram: — Entendido!
— Gostei da vibração de vocês.
Então ela se virou e começou a escrever várias coisas por alguns minutos; isso deixou todos desconfortáveis, porque as curvas do corpo dela eram muito sensuais, principalmente de costas.
— Como podem ver, anotei aqui os melhores livros sobre metodologia básica de mana e magia. Não é preciso ler todos, mas esses títulos vão ajudá-los a compreender os fundamentos. Nesta sala há vinte aprendizes; provavelmente cinco de vocês conseguirão manipular mana sem muitas dificuldades.
— E o restante que não tiver o talento para magia? — perguntou Greg.
— Então vão precisar se esforçar ainda mais para entender como a magia funciona! Porque, no campo de batalha, um mago faz grande diferença; se você não souber como lidar com um, o que lhe resta é apenas a morte.
— Faz sentido… — assentiu o jovem.
— Continuando… saibam que quem nasceu com talento, não é tão complexo aprender. A magia é algo natural, presente na maioria das pessoas que possuem um núcleo de mana. A partir desse núcleo, cada indivíduo nasce, aleatoriamente, com um ou mais elementos.
Quanto mais elementos, mais raro é o mago. Ainda mais raro que um mago ofensivo ou defensivo é o mago de cura. Eles são raríssimos e possuem um talento acima da média para o uso de mana. Além deles, existe também o mago elemental, magos capazes de manipular quatro elementos.
São tão raros que, atualmente, apenas 100 magos elementais existem em todo o Império. Quanto aos elementos, vocês podem ter nascido com: Fogo, Escuridão, Água, Vento, Terra ou Raio — explicou ela, respirando fundo, continuou: — Até aqui creio que entenderam, vamos para a prática.
Os jovens se organizaram em círculo ao redor da instrutora Amélia, mantendo distância suficiente para que cada um pudesse ser chamado individualmente.
— Estão vendo esta orbe? — anunciou ela, erguendo-a para que todos pudessem enxergar. — Ao derramar sangue nela, a orbe irá sugá-lo e, então, mudará de cor conforme o elemento do usuário. Se for água, ficará azul; fogo, vermelho; escuridão, preto; terra, marrom; vento, branco… e o último, raio… amarelo.
— Quem quer ser o primeiro? — perguntou Amélia, com uma voz angelical, mas que por algum motivo, conseguia pôr medo em todos os presentes.
— Eu vou — declarou Einar, calmo.
Se eu não estiver enganada, esse sujeito… era uma das mercadorias que mais se destacou. Vejamos se ele tem talento. Pensava Amélia, curiosa.
Ele caminhou até a instrutora, que pediu para que levantasse a mão. Amélia segurou firme e, com uma pequena lâmina, fez um corte profundo na palma. Einar não reclamou, mesmo com o sangue escorrendo e pingando diretamente na orbe, que absorvia cada gota como se estivesse viva. Depois, ela pediu que ele segurasse o objeto por alguns segundos.
A cena deixou muitos jovens desconfortáveis. O corte fora realmente profundo, e alguns nunca tinham visto tanto sangue escorrendo da mão de um humano. Após alguns instantes, a orbe brilhou em vermelho.
— Muito bem. Einar possui proficiência no elemento fogo. Próximo.
Não é o elemento mais poderoso, mas ainda assim vou fazer o mundo inteiro lembrar do meu nome por causa dele! Pensou Einar.

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