Capítulo 67 - Sol
Os cabelos brancos de Raizen e seus olhos amarelos como o sol sempre chamavam atenção. Mesmo sem orelhas pontudas, havia algo nele que lembrava as criaturas fantásticas que Jaro só conhecia dos jogos de fantasia.
Raizen pegou um copo de madeira sobre o balcão e o virou de uma vez antes de começar a falar.
— Os demônios… são seres da era primordial, assim como nós, humanos. Porém, ao contrário das quatro grandes raças: Anões, Elfos, Espíritos e Humanos, que possuem princípios, razões e sociedades, os demônios não têm isso, apenas nos veem apenas como alimento ou objetos para satisfazer seus desejos e eles se consideram superiores a todas as outras raças.
Ele apoiou o copo na mesa e continuou: — Na Era dos Mercadores, os demônios travaram uma guerra importante. Queriam dominar o mundo sob a liderança do rei demônio Zaron, que, por motivos desconhecidos, recebeu a bênção da Deusa Íris, por causa disso, o Rei Demônio foi considerado um herói por muito tempo. Como a possível existência dessa deusa só foi confirmada há poucos anos, ainda temos apenas teorias do que realmente aconteceu nas primeiras eras, mas dizem até que ela pode ter sido a mesma força que guiou os antigos heróis do passado. Mas isso é outra história.
Raizen respirou fundo.
— Depois que Zaron e seus duques foram supostamente mortos, os demônios restantes fugiram e se espalharam entre todas as raças.
Jaro franziu o cenho.
— É tão difícil assim identificar eles? Por que não exterminaram todos de uma vez?
— Era exatamente isso que todos queriam. Mas Zaron ensinou a eles uma magia negra abominável: se um demônio matar alguém, ele consegue assumir a forma da vítima.
Os olhos de Jaro se arregalaram.
— Então… desde a Era dos Mercadores, eles estão infiltrados entre as raças. Isso significa que o número deles só aumentou.
— Exatamente — confirmou Raizen. — Às vezes, um deles mostra a verdadeira cara e causa destruição sem precedentes, principalmente entre aqueles que acreditavam que eram humanos. Por isso muitos ainda temem que Zaron e seus duques possam estar vivos… apenas aguardando o momento certo para atacar novamente.
Raizen fitou o olhar em Jaro.
— E o Demônio Azul é um desses… Ele é um demônio que foi descoberto há alguns anos; no entanto, se escondeu na floresta do território da cidade do conde de Várzea. E é por isso que há alguns regimentos espalhados pelo território. A anos estão montando um plano para matá-lo, pelo menos esse deveria ser o objetivo, mas esses medrosos malditos, eles…
Raizen olhou para Lila, entendendo que não deveria passar daquele ponto.
— Tudo bem, não precisa contar todos os detalhes. Mas, pelo visto, ele é muito poderoso para serem necessários três regimentos inteiros do exército do Reino Nive apenas para matar um demônio.
— Pelo visto você entendeu a força de um demônio. Se formos comparar, na guerra, eles eram como um rio, enquanto a aliança das raças era como o mar, e mesmo assim quase perdemos. Eles são monstros imbatíveis, mas mesmo que seja extremamente difícil, você não precisa matá-lo sozinho. Como você sabe, vai rolar a grande disputa entre os regimentos. Depois disso, eles não terão desculpas e terão que matar o Demônio Azul. Se você conseguir retirar apenas um dedo dele como prova que foi eliminado, eu irei aceitá-lo como discípulo.
— Isso significa…
— Sim, significa que você vai ter que estar na linha de frente ano que vem e vai ter que mostrar seu valor ao clã para se tornar um membro principal. Mas não se preocupe, como eu irei ensiná-lo minha Meditação do Sol Celestial, apesar de não ser meu cultivo principal, ela o ajudará a circular sua mana um pouco melhor. Isso tornará as coisas mais fáceis.
— Esse “eu acho”… me deixa com medo — murmurou Jaro. — Mas não voltarei atrás com minha palavra. Eu trarei a cabeça dele para você.
— Hohoho, como é bom ser jovem.
Acho que isso é só capricho meu, mas vai ser divertido ver esse brotinho crescendo. Raizen se levantou, aproximou-se de Jaro e pousou a mão sobre a cabeça dele.
— Apenas relaxe.
A mana de Raizen percorreu os canais de Jaro, que em pouco segundos formou uma pequena esfera flamejante próxima ao núcleo. Após alguns minutos, Raizen retirou a mão, mas Jaro continuou imóvel, com os olhos fechados, mergulhado na meditação.
— Hoho, ele aprende rápido. Já está cultivando pela Meditação do Sol Celestial.
— Ele também aprendeu rápido a Meditação Da Névoa Sagrada — comentou Lila.
— Isso é fantástico. Acho que não tem jeito, gênios são gênios.
De repente, a porta da biblioteca se abriu bruscamente.
— Socorro! — gritou Alice, ensanguentada, carregando Peter, que estava ainda pior.
— O que houve?! — exclamou Lila.
— Depois eu explico, por favor… só salvem ele primeiro!
— Coloque-o na mesa, vou ver o que posso fazer — respondeu Raizen.
— C-certo!
Alice obedeceu, deitando Peter sobre uma das mesas. Ele gemia de dor; o corpo estava marcado por vários furos e havia um ferimento horrível na barriga.
Enquanto Raizen cortava as vestes dele para avaliar os danos, os olhos de Alice deslizaram até Jaro, que permanecia impassível, completamente concentrado.
— O que ele está fazendo? — perguntou ela, confusa, por ele continuar naquela posição mesmo com um colega ferido no local.
— Está meditando a energia do núcleo. Não o interrompa — respondeu Raizen, já iniciando os primeiros socorros.
— C-certo… — murmurou ela, abaixando a cabeça, aflita.
— Na verdade, tudo bem. Já terminei — declarou Jaro, abrindo os olhos. — O que aconteceu lá fora, Alice?
Ela ergueu o rosto, esperançosa: — Alguns malucos de mantos azuis atacaram a equipe I tentando roubar o dinheiro deles. Eu, Vitória, Peter e Taylor estávamos voltando do treino e tentamos ajudar, mas eles eram muito mais fortes. Durante o confroto, eu e o Peter tentamos correr para avisar vocês, mas aqueles covardes lançaram lanças de gelo em mim, mas Peter me protegeu e acabou ficando nesse estado…
— Corajosos, lutarem assim em plena cidade. Já tenho uma ideia de quem são esses arruaceiros — comentou Lila. — Vou verificar essa situação.
Alice pareceu aliviada, mas Jaro ergueu a mão.
— Espere um instante, fiscal.
Ele se aproximou de Alice e pousou a mão em seu ombro.
Quanto?
Os dois vão custar um dia da sua vida.
Certo. Faça.
Entendido.
Uma forte luz verde envolveu Alice, curando-a instantaneamente. Ela, Raizen e Lila ficaram incrédulos. Depois, Jaro se aproximou de Peter e fez o mesmo; a luz verde o envolveu.
Não o cure totalmente. Não quero levantar suspeitas.
Certo.
Peter, antes agonizando, respirava melhor e parecia estabilizado.
— Você é um mago de cura?! — perguntou Alice, surpresa.
— Sou… e gostaria que mantivessem isso em segredo.
Todos assentiram ao pedido do jovem mascarado.
Além de raio, ele também consegue usar o elemento água?! Se o mercador Kao descobrir… Pensou Lila, cerrando os punhos. Isso significava que Jaro estava se tornando cada vez mais valioso e que, mais cedo ou mais tarde, o mercador perceberia.
O único impulso que ela sentia era o de protegê-lo. Ele a lembrava demais de sua irmãzinha… e, pouco a pouco, estava se tornando um companheiro importante.
— Pode nos levar até lá, Alice? — perguntou Jaro, firme.
— Posso, sim — respondeu ela, com os olhos ardendo de fúria. Alice mal podia esperar para incinerar aqueles desgraçados que feriram seus amigos.
— Raizen, cuide dele enquanto estivermos fora.
— Podem ficar tranquilos — disse Raizen, soltando um sorriso. — Eu vou cuidar dele.
— Obrigado.
— Boa sorte — acrescentou ele. — Estarei esperando vocês.
— Não vai demorar.
— Hoho.
⧗
Ao chegarem, Jaro, Lila e Alice congelaram. Uma multidão densa bloqueava a rua, todos murmurando e olhando para o mesmo ponto.
Eles abriram caminho com pressa, empurrando as pessoas até chegarem à frente. A cena era brutal. Os membros da Equipe I, Vitória e Taylor estavam espalhados no chão como bonecos quebrados, encharcados em um mar de sangue que escorria pelo solo de pedra.
Seus corpos estavam cobertos de hematomas profundos e cortes horríveis.
— Não… — Alice soltou um som engasgado e suas pernas falharam. Ela caiu de joelhos na beira da poça de sangue, as lágrimas jorravam incontrolavelmente. — Como isso pôde acontecer?!

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