Capítulo 68 - Desprezo
Lila apertou a mandíbula, seus olhos vasculhavam a cena em busca de um agressor, mas só conseguiu balançar a cabeça em uma negação amarga.
Os murmúrios da multidão se tornaram mais audíveis:
— Pobres coitados…
— Que tragédia. O que será que houve?
— Eu ouvi dizer que foi outra briga entre Ordens rivais.
— Sério? De novo? Isso está se tornando cada vez mais comum por aqui…
Uma onda de intenção assassina explodiu na rua, fazendo com que a multidão recuasse, assustada e tremendo.
O próprio Jaro era o epicentro. O choque foi tão grande que Lila quase desembainhou sua espada por reflexo, seus músculos estavam tensos e prontos para o ataque, até que percebeu a origem do ódio.
Essa intenção é… profunda demais. Quase o ataquei sem querer! Pensou Lila, com seu olhar fixo em Jaro. Pelo que ele passou pra conseguir emanar isso?
Alice, que estava ao lado dele, sentiu a mudança e se encolheu. Ela levantou a mão trêmula e chamou com a voz fraca: — Jaro…?
Ele piscou, como se estivesse acordando de um transe, e levou a mão à testa.
Eu perdi a consciência de novo?! Droga… isso tá ficando recorrente demais. Preciso descobrir a causa disso depois. Pensou Jaro, nervoso, porque de tempos em tempos quando sentia muita raiva, ele perdia a consciência e não se importava de matar o que estivesse na frente.
— Estou bem. Eles ainda estão respirando, vou verificar o estado deles.
Os olhos de Alice se arregalaram. Ela limpou o rosto apressadamente. — S-sério?! Certo!
Depois de verificar o pulso de cada um, Jaro confirmou que todos ainda estavam vivos, mas que precisavam ser levados com urgência a magos de cura ou curandeiros.
Por sorte do destino, vários guardas chegaram. A fiscal Lila relatou tudo o que havia acontecido e, com a ajuda deles, todos foram rapidamente encaminhados a clínica médica do Distrito Azul.
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— Acredito que a Ordem do Gelo esteja por trás de tudo — afirmou Lila.
No salão de treinamento do Distrito Azul, reuniam-se alguns membros da Equipe III, toda a Equipe II, a Equipe IV e os fiscais.
— Aqueles desgraçados de novo… — rosnou Damien, com testa se fechando em irritação.
— Eles passaram dos limites desta vez! — esbravejou Garin. — E tudo porque os instrutores da turma dois — ele lançou um olhar de desprezo, referindo-se à Ordem do Gelo — são uns frouxos e deixam que façam o que quiserem! Quantos jovens já não morreram nas mãos desses malditos?!
— Controle-se, Garin… — disse Elias. — Não temos provas concretas. Eles podem usar isso contra nós.
— Hmph…
— Mesmo você tendo razão, Elias — Lila continuou — desta vez não podemos deixar que isso passe impune. Tenho certeza de que vão tentar arrumar confusão com as outras equipes da turma cinco.
— Concordo com a Lila — assentiu Damien. — Precisamos cortar o mal pela raiz, mesmo que isso exija sermos… mais duros.
A intenção assassina que transbordou da voz de Damien fez todos olharem para ele por um instante.
— Antes que chegue o dia de vocês receberem suas primeiras missões, precisamos dar um fim nisso — declarou ele. — Vamos desafiar a Ordem de Gelo para um confronto de sangue na Arena de Ferro!
Os fiscais se entreolharam, alarmados.
— Mas a turma cinco ainda nem é uma Ordem formada! — protestou Garin. Ele olhou para os jovens reunidos com um pouco desprezo. — Duvido que sejam fortes o bastante para derrotar a Ordem do Gelo! Isso é loucura! As chances deles morrerem são enormes!
— Tenho que concordar com o Garin — acrescentou Elias. — As mercadorias da turma dois já tem vasta experiência e já mataram pessoas. Enquanto isso, nossos candidatos da turma cinco ainda estão aprendendo a usar magia… Esqueçam é simplesmente impossível.
As palavras dos dois fizeram Damien hesitar. Mas então Lila se pronunciou: — Discordo.
— Como é que é? — Garin franziu o cenho. — Explique!
— Acredito que os alunos da turma cinco são capazes. E essa será uma oportunidade perfeita para adquirirem a experiência necessária. Vai ser um degrau importante antes das missões reais.
A palavra “experiência” fez vários alunos engolirem seco. Ela queria dizer matar pessoas?
— Como pretende provar isso? — perguntou o velho, erguendo uma sobrancelha.
— Podemos testar os candidatos mais fortes de cada equipe.
— E como você sugere que eu os teste?
— Em combate.
O Velho sorriu, satisfeito.
— Hahaha… perfeito. Se eles conseguirem me causar um arranhão, aceitarei qualquer decisão.
Enquanto isso, as jovens mercadorias se entreolhavam, visivelmente abaladas com tantas informações complicadas.
Logo após, cada Fiscal reuniu-se com sua respectiva equipe.
Na equipe III, apenas Jaro, Alice e Serena estavam disponíveis. A jovem de cabelos negros estava treinando com Elise no momento do ataque e ficou completamente atordoada ao ouvir sobre o confronto. Os demais membros continuavam na clínica médica, junto da equipe I, todos em estado estáveis. No entanto, ainda estão acamados.
— Você consegue? — perguntou Lila, encarando Jaro.
— Vou vingá-los, custe o que custar.
— É a sua cara.
Da equipe II, Elias escolheu Einar; da equipe IV, Garin selecionou Carter. Os três se posicionaram diante do velho. Seus cabelos prateados e olhos amarelados revelavam a idade avançada, mas também uma pressão de mana inabalável.
— Vou lutar apenas com força física… Venham como se quisessem me matar, ou talvez não saiam vivos daqui.
— Só não me atrapalhem — comentou Carter, disparando para frente.
— O mesmo vale pra mim. — Einar o seguiu logo atrás.
Jaro apenas balançou a cabeça. Esses malucos são muito arrogantes
Carter lançou diversas esferas de vento em direção ao velho, que desviou de todas sem sequer se mover do lugar. Num piscar de olhos, Carter surgiu no flanco esquerdo e sacou uma espada de aço, mirando o pescoço do ancião. Garin, porém, segurou a lâmina usando apenas um dedo.
— Lento. Mas devo admitir, me surpreendeu. Hahaha.
— Argh! — Carter forçou a espada com mana, mas o dedo do velho não se mexeu nem um milímetro.
Como um velho gagá desses tem tanta força?!
Einar aproveitou o momento e atacou pelo flanco direito, mirando um golpe direto, mas Garin segurou seu braço sem esforço.
— Nada mal, garoto, mas ainda não é suficiente — zombou o velho.
— É mesmo? — Einar soltou a espada, ergueu a mão bem diante do rosto de Garin e, com um sorriso crescente, bradou: — Morra!
No mesmo instante, uma esfera de fogo irrompeu da palma do jovem, rugindo em direção ao alvo.
Esse idiota enlouqueceu?! Lançar uma bola de fogo tão perto assim?! A sobrancelha do velho arqueou, surpreso, e então uma grande explosão tomou conta da arena.
— O quê?! Como esse pirralho conseguiu lançar uma bola de fogo?! — gritou Damien.
— Eu… eu não faço ideia — disse Elias, pasmo. — Mas isso é simplesmente incrível. Não é à toa que ele é o jovem mestre que eu protejo. Hahaha!
— C-como ele já consegue usar magia?! Eu achei que eu era a mais talentosa! — resmungou Alice, indignada.
— Abaixa a bola. E, sinceramente, não é nada demais… eu também consigo — murmurou Chen e bagunçou o cabelo de Alice com um cafune na cabeça. — Você ainda é café com leite.
— Argh! Sua desgraçada! — Alice começou a socar Chen, que defendia cada golpe sem esforço.
— Vamos, meninas… calma — pediu Serena, suspirando.
— É só tirar essa gata de rua de perto de mim — rebateu Chen, com deboche
— O quê?! Não me segura, Serena! Eu juro que mato essa desgraçada!
Serena reagiu na mesma hora, avançando sobre Alice e prendendo-a pela cintura antes que ela disparasse mais uma vez pra cima de Chen.
— Deixa isso pra lá. Você não tá vendo que todo mundo tá olhando? — Serena lançou.
— Só dessa vez! Mas não pense que tô fugindo, sua piranha! — Alice gritou em direção a Chen.
Enquanto isso, Chen mostrou a língua para Alice, que respondeu levantando o dedo do meio antes de se afastar ao lado de Serena.
Impressionante… Pensou Jaro. Depois da explosão de chamas à sua frente, sua mão até coçou de vontade; ele também queria usar magia. Mas ainda não tivera tempo de procurar Raizen novamente.

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