— Estou pronto.

    Lila, que já estava de prontidão, surpreendeu-se com o visual de Jaro.

    O garoto vestia uma regata e uma calça de um tecido que lembrava lã, ambas de tom pastel e ele usava um cinto de cordas finas e botas de couro marrom.

    A calça, um pouco folgada, dava-lhe um ar despojado, mas era a máscara negra que chamava atenção: cobria-lhe a boca, o nariz e parte do pescoço, deixando apenas os olhos vermelhos à mostra.

    Nos bicipes, os braceletes que Ryan lhe deu brilhavam discretamente sobre seus bíceps.

    Jaro sabia que mostrar sua aparência à toa poderia ser perigoso.

    Embora fosse incomum naquele mundo, algumas pessoas escondiam seus rostos, e isso muitas vezes as marcava como criminosas ou indivíduos de má índole.

    Esse garoto tem instintos afiados… refletiu Lila, observando-o dos pés à cabeça.

    Ela assentiu com a cabeça e começou a caminhar, mantendo o silêncio.

    Pelo jeito, ela vai continuar sem falar… Pensou Jaro, franzindo a testa, descontente. Espero que dê tudo certo.

    Enquanto avançavam pelo corredor, Jaro notou o ambiente ao redor. Era um espaço amplo, com várias portas numeradas. Acima de cada uma, placas indicavam os números dos quartos.

    O seu era o 203. A princípio, ele pensou que estivesse em um hotel, mas a atmosfera era estranhamente vazia e silenciosa.

    Após alguns minutos de caminhada, chegaram a uma escada e começaram a descer. O corredor seguinte era menor, mas igualmente imponente.

    Continuaram andando, e Jaro não conseguia deixar de se impressionar com o tamanho daquele lugar. Mais duas descidas e, finalmente, avistaram um grande portão.

    Estavam prestes a atravessá-lo quando Jaro percebeu, de relance, uma figura familiar passando ao seu lado.

    Era Einar!

    O garoto estava acompanhado de um homem careca, vestido com as mesmas roupas de Ryan.

    Um aperto no peito tomou conta de Jaro. Ele tinha certeza de que Einar havia morrido na arena após aquele soco.

    Lembrou-se do sangue jorrando da boca do adversário. E agora, ali estava ele, vivo e aparentemente bem.

    Algo dentro de Jaro sussurrava que ele precisava agir.

    Talvez eu esteja sendo precipitado… mas deixar um cachorro que chutei vivo pode ser perigoso. Ele pode querer me morder de novo!

    Antes que Lila pudesse reagir, Jaro desapareceu do seu lado. Ela sentiu sua presença se dissipar no ar e, ao se virar, viu apenas as marcas das botas dele no chão.

    Alguns metros à frente, Jaro já estava com o punho pressionando o antebraço do guarda careca.

    Esse menino é louco?! Por que ele atacou um guarda?! pensou Lila, estupefata.

    Einar, que estava atrás do guarda, reconheceu Jaro imediatamente. Aqueles olhos vermelhos eram inconfundíveis. Era o garoto que o havia derrotado na arena.

    — E aí, putinha, pensei que tinha te matado — disse Jaro, com um sorriso sarcástico.

    — S-seu… — começou Einar, mas foi interrompido pelo guarda careca, que, com um movimento rápido, empurrou Jaro para longe.

    O garoto deslizou pelo chão, precisando apoiar as mãos com força no solo para não bater contra a parede. O careca assobiou, impressionado.

    Esse pirralho é forte.

    — Eu não sei quem é você, garoto, mas atacar outro número fora da área de treinamento é proibido — disse o guarda, com voz firme e olhar severo. Ele colocou a mão na cintura, pronto para sacar a espada, e sua aura começou a se manifestar, densa e ameaçadora.

    Jaro apertou os lábios até sentir o gosto do sangue.

    Merda, esse careca é mais fraco que Ryan e Lila, mas ainda assim não consigo me imaginar derrotando-o.

    Foi então que uma presença avassaladora pairou sobre eles. Era Lila! Sua aura brilhava como chamas, envolta em uma energia avermelhada

    O guarda careca olhou para ela, assustado.

    Porra! Essa é a guarda desse pirralho? Logo a Bruxa do Fogo… pensou ele, sentindo-se encurralado.

    — Eu estou protegendo esse menino. Peço que esqueça o que aconteceu — disse Lila, com uma voz calma, mas carregada de autoridade.

    O guarda careca baixou a cabeça, evitando contato visual.

    — Tudo bem — respondeu o guarda.

    — Estamos indo, Einar. Vocês podem se resolver depois no treinamento — disse o guarda, olhando de canto para Jaro, que ainda fixava Einar com um olhar de predador.

    — Entendido — respondeu Einar, encarando Jaro com igual intensidade.

    Lila deu alguns passos à frente, pegou Jaro pelo braço e, num instante, ambos desapareceram em um clarão de chamas.

    — Tsk, exibida — murmurou o guarda careca, abanando a cabeça.

    ⧖⧗

    — Por que atacou aquele guarda? — perguntou Lila, já em outro local, com Jaro amarrado a uma árvore e visivelmente machucado.

    Ela sabia que naquele lugar era fácil fazer inimigos, mas um garoto desafiar um guarda muito mais forte que ele era algo fora do comum. Se ela quisesse protegê-lo de verdade, precisava entender suas motivações e os riscos que ela poderia enfrentar.

    — Você deveria bater na pessoa que está protegendo?

    Lila, impaciente, deu um soco no estômago dele. Ele cuspiu sangue.

    Como ela tem tanta força?pensou Jaro, sentindo uma dor delirante no estômago, enquanto baba caía de sua boca.

    Depois de algum tempo se recuperou e com o rosto marcado pela dor, exclamou:

    — Não era no guarda, tá legal? Eu queria acertar aquele moleque atrás dele. Aquele pirralho quase me matou! Eu deveria simplesmente passar por ele sem fazer nada? Ele tem que entender que não sou mole. Se eu demonstrar fraqueza, esse lugar vai me devorar.

    Ele respirou fundo, tentando controlar a raiva que fervia em seu peito.

    — Você entende, Lila?

    Lila observou-o em silêncio, impressionada com a maturidade e a determinação do garoto. Ele parecia um lutador experiente, consciente dos perigos de deixar uma ameaça viva. E, apesar de ter agido de forma precipitada, não se acovardou diante do guarda.

    Ela começou a ver potencial naquele menino. Talvez valesse a pena vigiar ele.

    Do outro lado, Jaro tentava entender a origem de tanta raiva. Por que ele sentia essa necessidade incessante de matar?

    Acho que estou me tornando um monstro. Pensou, enquanto o sangue escorria de seus lábios.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota