João acordou em puro desespero. Seu coração batia loucamente e sua respiração estava pesada.

    Tentou se mover, porém o corpo estava rígido, como se estivesse preso em um pesadelo do qual não conseguia escapar.

    A escuridão ao seu redor era absoluta e sufocante. Seus pensamentos desordenados giravam em sua mente.

    Forçou a memória, tentando puxar alguma lembrança que explicasse sua situação.

    Mas, tudo o que encontrou foi um vazio imenso, um borrão sem começo nem fim. A única coisa clara era o medo.

    O som de sua própria respiração ecoava pelo lugar, preenchendo o silêncio.

    Huf, huf, huf.

    — ALGUÉM ME TIRA DAQUI!!!

    Que merda é essa? Minha voz está mais jovem! Pensou, confuso. Além dessa situação, sua voz estava diferente.

    — C-c-caralho — disse com dificuldade, percebendo que sua voz estava mais fina, parecia que tinha voltado à puberdade.

    Isso o deixou ainda mais desesperado. A ideia de ter sido drogado ou estar envolvido em algum experimento maluco fez seu coração disparar.

    O milionário tentou se mexer, porém algo o segurava. Algemas frias apertavam seus pulsos e tornozelos.

    A sensação do metal gelado contra a pele o fez estremecer. Ele estava sentado, encostado em uma parede de pedra.

    O desespero aumentou. Ele gritou mais algumas vezes, tentou se soltar, puxou as correntes com toda a força que conseguiu reunir.

    O metal rangia, mas não cedia. Frustrado, desistiu. O cansaço tomou conta e sua respiração desacelerou aos poucos.

    Agora mais calmo, se deu conta que estava vendado.

    Por isso está tão escuro… Cheguei a pensar que estava no inferno. E, pior ainda, minha voz! Que porra fizeram comigo?

    A única explicação lógica seria um sequestro. Só que algo não fazia sentido. Ele tomava precauções.

    Seu apartamento tinha segurança de alto nível. Então, como? Claro que era possível, mas ser sequestrado sem ao menos ver uma única pessoa era, no mínimo, estranho.

    Nesse momento, suas últimas lembranças o atingiram como um soco.

    “VOCÊ MORREU.”

    João começou a se lembrar do que aconteceu há poucos minutos.

    A estante caindo, o jogo em suas mãos, as mensagens, a água negra e, por fim, sua própria morte.

    Cada sensação daquele momento, estava vívida e intensa na sua cabeça.

    Esse jogo que ele me deu com certeza tem algo a ver com minha situação. Não… não pode ser. Duvido que ele tentaria me prejudicar.

    João estava levemente decepcionado. Ele realmente o via como seu amigo.

    Mesmo tendo trabalhado pouco tempo com ele, percebeu que Leonardo era um cara diferenciado.

    Sempre tratava todos com gentileza e estava sempre ajudando quem precisava.

    Ajudando até o próprio João, quando acabou contraindo uma grande dívida na época.

    O milionário, é claro, que pagou tudo depois de alguns meses. Mesmo assim, não conseguia imaginar que seu amigo tentaria prejudicá-lo.

    Ainda tentava acreditar que tudo não passava de uma coincidência e que o jogo não tinha nada a ver com isso.

    O que aconteceu no seu quarto foi real demais, deixando João pensativo, o jogo era algum tipo de portal para outro mundo?

    Como um gamer e leitor voraz de RPG e histórias de fantasia, ele não parava de pensar nas possibilidades.

    Ele abanou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos fúteis.

    Isso é impossível… mas com certeza Maria e Renata estão chorando rios por mim agora.

    É óbvio que elas nunca agiriam dessa forma por ele; o milionário as conhecia muito bem.

    Hah… que piada. Elas só queriam meu dinheiro. Uma hora dessas, elas provavelmente estão pulando de alegria. Pensando na fortuna que conseguiram.

    As modelos realmente poderiam alegar que estavam em união estável.

    João, porém, imaginou que algo assim aconteceria. De antemão, preparou um testamento quando fez seus primeiros milhões.

    No documento, ele doaria tudo para hospitais e ONGs. Não deixando nada para futuras sanguessugas.

    Ele não sentia raiva delas. Pelo contrário, talvez por conviver tanto tempo com as modelos.

    Ele experimentou algo próximo de uma família. E como nunca teve uma, isso só deixou um vazio, uma saudade estranha.

    Mesmo que o relacionamento entre eles fosse raso, mesmo que não houvesse amor de verdade, algo nele se apegou àquelas duas.

    ⧖⧗

    Há três dias, João estava trancado naquele cômodo. Três dias sem comida, sem água, sem um som sequer para lembrar que ainda existia um mundo lá fora.

    Seu corpo estava fraco, mas sua mente, já havia se despedaçado. Horas e horas se arrastavam como uma lesma.

    Às vezes, murmurava coisas sem sentido. Outras, mergulhava fundo em memórias que doíam. Onde foi que errou? O que poderia ter feito diferente?

    Os bons momentos eram raros, mas existiam, e ele se agarrava a eles como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira no oceano.

    No entanto, uma coisa ainda o mantinha preso à realidade, por mais tênue que fosse: o desejo de continuar vivendo.

    Era um instinto primitivo, quase animal, que o impedia de sucumbir completamente.

    Muitas vezes, pensou em morder a própria língua, e dar um fim a tudo de uma vez por todas.

    Mas, sempre que esses pensamentos surgiam, o medo o paralisava.

    O medo da dor, do desconhecido, da possibilidade de que a morte não fosse o alívio que ele tanto desejava.

    De repente, João, que estava com cabeça baixa, meio adormecido, acordou assustado.

    Ele sentiu o cômodo começar a esfriar. O ar ficou pesado. Agora parecia carregado de uma energia quase palpável.

    Um choque fraco percorreu seu corpo, como se pequenas correntes elétricas estivessem passando por sua pele.

    Ele sentiu um calafrio, seguido por uma sensação de formigamento que se espalhava por seus membros.

    Finalmente… eu vou morrer? Pensou, enquanto um sorriso estranho se formava em seu rosto.

    Era um sorriso de alívio, de aceitação, mas também de medo.

    Por algum motivo, ele estava convencido de que a morte estava próxima.

    A sensação de frio intensificou-se, e os choques elétricos pareciam ganhar força. João começou a sentir uma tontura avassaladora, como se o chão estivesse se movendo sob seus pés.

    Ele fechou os olhos, tentando se concentrar, mas a tontura só piorava.

    — Humano…

    Uma voz estranha ecoou. Era como se trovões gigantes estivessem estourando dentro daquele pequeno cômodo, sacudindo as paredes e fazendo o ar vibrar.

    No momento em que seu cérebro processou aquela voz, foi como se um véu fosse arrancado de sua mente.

    A insanidade desapareceu. A dor, o desespero, a angústia… tudo sumiu.

    Se ele ainda tivesse líquidos no corpo, com certeza estaria encharcado de mijo, lágrimas e talvez até de outra coisa.

    O medo continuava ali, mas ele tentou se manter firme.

    Com a voz trêmula, perguntou: — Foi você que me sequestrou?

    No mesmo momento que perguntou, os choques que percorriam seu corpo diminuíram.

    O vento frio que antes o envolvia desapareceu, e os sons dos trovões cessaram.

    Eu enlouqueci?

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