Capítulo 6 ‐ Aceitação
O garoto, que até então apenas observava João, despertou. Se levantando, assumiu uma postura de combate.
Em sequência, através de seu pé direito, pressionou o chão e, num impulso veloz, avançou como um raio.
Seu punho partiu direto em direção ao rosto de João.
— MORRAAA!!!!
O baixinhoo sorriu, surpreso, ao ver o soco vindo lentamente. Num movimento ágil, ele desapareceu da linha de visão de Einar.
Inclinando-se para a direita, desferiu um golpe usando toda força que ainda sobrava, atingindo-o abaixo das costelas, exatamente onde o fígado se encontrava.
A visão de Einar escureceu instantaneamente, e ele caiu no chão do Mar de Ferro.
— E-eu consegui… — sussurrou o jovem, antes de seu corpo ceder à exaustão e despencar no chão.
— N-não é possível! — Reff olhou em choque, sem acreditar no que via.
Kao apertou os punhos, seus olhos brilhavam, e um grande sorriso apareceu em seu rosto. Eu não tinha percebido, mas esse baixinho é uma mina de ouro!
As quatro figuras ficaram impressionadas com aquela curta luta! Esses dois garotos com certeza eram dois pequenos talentos.
— Que resultado inusitado… Isso é um empate, Kao.
— S-sim… — assentiu o mercador.
— Eu irei comprar esses dois garotos. Por isso, você vai podá-los e vendê-los para mim quando eles tiverem a idade mínima para entrarem no exército — ordenou Harold, enquanto jogava um pequeno saco de pano nas mãos de Kao.
— Vamos, eu quero dar uma olhada nas outras mercadorias do distrito vermelho. — Harold complementou, enquanto andava em direção à saída.
Rapidamente, Kao abriu o pequeno saco que cabia na sua mão. Continha diversas moedas de ouro, e uma pedra brilhante se destacava: era um diamante! A respiração de Kao parou por alguns segundos, mas ele manteve a compostura.
— Guardas do Distrito Verde.
— Senhor — disseram em conjunto, suor caia da testa de ambos.
— Peguem os garotos, levem para os curandeiros e, depois que estiverem bem, os levem para o distrito azul. Eu pessoalmente irei escolher os mestres deles.
— Sim, senhor! — responderam.
Enquanto caminhava para a saída, também falou:
— Ah, e vocês estão promovidos. Vão ao gabinete de administração solicitar a promoção.
— Isso significa que… eu vou ser poupado? — perguntou Ryan.
— Por enquanto, sim… Espero que não faça nada que mude minha opinião.
— Obrigado senhor!
Assim que o soldado e o mercador se afastaram, ambos respiraram aliviados. A presença daqueles dois grandes guerreiros era tão opressora que mal conseguiam respirar normalmente.
Sem trocar uma palavra, os guardas se moveram com rapidez: Ryan colocou João sobre o ombro direito, enquanto Reff pegou Einar. Em seguida, partiram para cumprir as ordens que haviam recebido.
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João acordou e se deparou com um teto esbranquiçado. Sentia uma sensação confortável nas costas, estava deitado sobre um colchão.
Ao se sentar na cama, percebeu que seu corpo estava coberto por faixas. Mas o melhor de tudo era que, ao movimentar os braços, não sentia dor alguma em nenhuma parte do corpo.
Isso provavelmente significava que um mago havia o curado. Como era apaixonado por jogos de RPG de fantasia e lia muitas novels, aquilo o deixou fascinado.
Ao olhar para o lado, teve uma surpresa: o indivíduo alto, Ryan, estava perto de uma janela fechada, de braços cruzados e olhos cerrados.
Colocaram logo esse cara pra cuidar de mim?!
— Ei.
Ryan despertou e sem descruzar os braços, Ryan levantou levemente seu dedo médio. Nesse momento, João sentiu uma grande pressão vinda do sujeito. Que o fez pular da cama pra bem longe dele em posição de combate.
Que sensação estranha é essa?! Esse maluco quer me matar? Droga… o que eu faço agora?! Pensou o jovem.
Ele é realmente talentoso. Esses instintos não são normais, principalmente em uma criança. Para alguém ter reflexos tão afiados assim, teria que treinar por anos e estar constantemente em perigo! Ryan refletia, enquanto um sorriso se formava nos seus lábios.
O homem alto abaixou o dedo e a pressão sumiu.
— O que você fez?!
— Eu simplesmente te ataquei usando minha mana.
— Mana… — murmurou João, admirado por um momento.
— Haha, parece que ficou interresando. Não se preocupe, em poucos anos você vai aprender também.
O jovem suspirou.
Esse cara está mais gentil. Nem parece que me espancou…
— Enfim. Eu estou aqui por que sou uma cara legal. E vim te dar alguns orientações.
João franziu a testa.
— Não me olhe assim, só porque te bati um pouco, haha. Só queria te dizer que daqui uma semana você terá um mestre. E também que você pode ir conhecer o distrito azul, óbvio que não sozinho.
Ele apontou para a porta principal do quarto.
— Atrás daquela porta tem uma gostosa — Ryan tossiu. — Uma guarda. Ela vai cuidar de você até ser vendido. Também vai te acompanhar e mostrar por onde você pode andar.
Coçando a barba, murmurou:— Acredito que é só isso… — E começou a caminhar até a porta, mas parou de repente.
— Quase me esqueço…
De um dos bolsos da roupa, ele puxou dois braceletes de prata e os lançou para João, que os agarrou.
— Use-os bem. Isso vai te ajudar.
— O que é iss—
CRASH!
Ryan bateu a porta e saiu.
— …
Do lado de fora, encostada na parede ao lado da porta, uma mulher estava sentada. Vestia uma simples camiseta preta, justa o suficiente para destacar suas curvas e os seios, deixando a barriga à mostra.
Usava uma calça branca e sandálias de madeira. Ao seu lado, repousava uma espada em uma bainha de cedro.1No rosto, usava uma máscara de demônio vermelho, com expressão feroz e olhos vazios.
Ryan a observou por alguns segundos, analisando cada detalhe, antes de se afastar calmamente, começando a andar.
Essa gostosa é forte pra caralho, acho que ela me mataria em três golpes… não em dois! Que moleque surtudo.
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Meia hora depois que o guarda foi embora, o garoto permaneceu sentado de pernas cruzadas, em silêncio. À sua frente, uma mesinha japonesa cercada por pratos que ainda continham restos de comida. Bem ao seu lado, pegou um copo cheio de água, levou-o à boca e bebeu devagar.
Logo após, espreguiçou-se, satisfeito.
— Preciso descansar… Desde que cheguei a este mundo, minha mente não parou um segundo. Mas antes, preciso dar uma olhada nesse quarto.
Desde a partida de Ryan, João só conseguia pensar em duas coisas: comida e água. Por isso, ainda não havia explorado direito o local.
Começando pela sala, logo de frente para a porta principal. Era simples, mas aconchegante. Havia um sofá de dois lugares, uma estante onde repousava uma TV de cubo e um pequeno rádio.
Entre o sofá e a TV, uma mesinha japonesa completava o ambiente.
João ficou boquiaberto. Até então, só tinha visto construções antigas. Jamais imaginou que a tecnologia daquele mundo pudesse ser tão avançada. As paredes, o teto, os móveis, tudo lembrava um típico apartamento dos anos 90.
A cama ficava no canto direito da sala. Era confortável, coberta por dois lençóis macios e alguns travesseiros. Ao lado, uma pequena estante trazia cartas em branco e uma caneta de pena. Mais adiante, havia um guarda-roupa. Ao abri-lo, encontrou roupas simples, todas mantendo aquele estilo nórdico predominante.
A cozinha localizava-se à esquerda da sala, acessível com poucos passos. Lá, havia uma pia para lavar a louça e armários repletos de alimentos estranhos. O que mais lhe chamou a atenção, porém, foi o fogão e a geladeira, ambos funcionando perfeitamente, apesar da ausência de energia elétrica ou gás.
Ao se aproximar do fogão de quatro bocas, notou uma joia quadrada incrustada na estrutura. Pressionou o primeiro botão e viu a chama surgir instantaneamente.
— Esse mundo é mais avançado do que parece.
Curioso, foi até a geladeira. Lá estava outra pedra luminosa, igual à do fogão, mantendo o interior refrigerado. Ao levantar os olhos, notou uma lâmpada, e nela, mais uma dessas joias brilhantes.
— Cacete… até as lâmpadas usam isso.
Em sequência, foi até o banheiro, situado entre a cozinha e a cama. Pequeno, mas funcional. Tinha um chuveiro com outra daquelas pedras incrustadas, aparentemente usada para alternar a temperatura da água.
Sentindo-se sujo, decidiu tomar um banho. A água quente caiu sobre sua pele, lavando não só a sujeira, mas também o cansaço acumulado. Após se enxugar, aproximou-se do espelho e, pela primeira vez desde que chegou, encarou sua nova aparência.
Seus cabelos eram pretos e desgrenhados. Os olhos, vermelhos como sangue, idênticos aos daquela mulher de seus sonhos.
No espelho, via o rosto de um garoto de cerca de 14 anos.
— Então. esse sou eu? Ou melhor, meu novo eu…
Encarando seu reflexo com seriedade, declarou: — Uma nova vida em… creio que exige um novo nome.
João inspirou profundamente. Então, como um sussurro do destino, um nome surgiu em sua mente.
— A partir de hoje, eu me chamarei Jaro.
- Nome comum de diversas árvores coníferas[↩]
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