Capítulo 5 – Balança
Ao sentar-se em uma das três únicas cadeiras, ele foi inundado por todo o conhecimento sobre os acontecimentos que antecederam seu nascimento.
A princípio, não conteve os sentimentos, emoções que julgava perdidas há milênios, e chorou, horrorizado ao compreender o destino reservado aos seres vivos.
Sem perceber, milênios se passaram desde sua chegada àquele lugar.
Daquele ponto, testemunhou o nascimento de milhares, heróis cujos nomes atravessaram gerações e foram celebrados pela sociedade moderna. Mas também viu a morte, a fome e a guerra.
Mesmo sem possuir um corpo físico, permanecia acorrentado àquele maldito lugar. Incapaz de se levantar, de mover sequer um músculo, assistia à tragédia do mundo como um prisioneiro do tempo.
Só poderia agir se houvesse permissão.
Com o passar das eras, sentiu-se cada vez mais inútil.
Sua posição era a de um mero espectador, um espectador de uma guerra sem fim.
Não estava só.
À sua frente, sobre uma grande mesa, repousava uma pequena balança, oscilando constantemente para seu lado ou para o lado da figura sentada diante dele.
A entidade diante dele chama-se ███████.
Enquanto ele desejava a paz, o outro ansiava pela destruição, por puro ódio dos seres vivos.
Ainda assim, essa entidade não podia agir.
Entre eles, ocupando a terceira cadeira, estava o mais importante dos três: ████. Sentado entre os dois, era ele quem intermediava, limitando as ações de ambos.
Mesmo possuindo poder suficiente para alterar as leis do universo ou extinguir toda a existência, abstinha-se.
Seu único propósito era manter o equilíbrio daquela maldita balança.
— O garoto da profecia, enfim, nasceu — exclamou o mais importante, sua voz ressoando com tal força que, uma vez ouvida, jamais poderia ser esquecida.
— Mas é apenas um reles humano sem importância — retrucou ███████ com desprezo. — Proponho que destruamos tudo agora. Sabemos que ele será apenas mais uma decepção, como todos os outros de sua espécie.
— Muito bem. Atenderei seu pedido, ███████ — disse o mais importante, estendendo lentamente sua mão espectral em direção à balança.
— Espere — interrompeu o primeiro ser, o que ansiava por paz.
— Tem algo a acrescentar? — indagou o terceiro, voltando o olhar para ele.
— Sei que estão cansados. E, sendo o mais novo entre nós, não posso sequer imaginar a extensão da vossa paciência… mas peço humildemente que aguardem apenas mais dois séculos. Deem ao garoto a chance de provar seu valor nesse curto intervalo.
— Não seja tolo! Com exceção de você, os humanos mal vivem um século. O que um simples mortal poderia realizar em tão pouco tempo? — rosnou o ser da destruição, impaciente.
— Cale-se. Estou pensando — disse o mais importante, seus olhos fixos na imagem do garoto.
O silêncio se estendeu por longos instantes, denso como o próprio tempo.
Então, sua voz ecoou como um decreto:
— Darei-lhe apenas um século. Se falhar em cumprir a profecia… destruirei todos os mundos. Fim da discussão.
A balança, sutilmente, inclinava-se para o lado da destruição. E, por mais que tentasse negar, ele sabia: sua esperança era apenas uma linha tênue, desgastada pelo peso dos milênios.
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