Capítulo 55 – Golpe Final
Narrador: Azazel
O sangue pingava em queda livre até tocar o solo, e logo uma poça espessa se formou aos pés de Hendrick. As múltiplas feridas no torso o deixavam irreconhecível, como se alguém tivesse esculpido seu corpo usando lâminas. Já não havia distinção entre o que escorria dele ou de Azazel.
Mesmo sem sentir dor, Hendrick percebia a velocidade fugindo do corpo, drenada junto com cada fio de sangue que deixava suas veias. A constatação acendeu um reflexo bruto. Ele avançou um passo trêmulo e desferiu um chute direto no peito de Azazel, lançando o demônio a vários metros. No instante seguinte, as pernas de Hendrick cederam, e ele caiu de joelhos, pressionando o próprio peito ensanguentado.
Azazel atravessou uma fileira de árvores, derrubando troncos como estacas frágeis antes de sumir em uma explosão de poeira. O ar se turvou. No interior daquela névoa de terra levantada, algo se moveu.
Um estalo. Um rompimento.
Azazel emergiu da cortina de poeira, arrancou uma árvore inteira e a lançou como uma lança colossal na direção de Hendrick, que continuava ajoelhado, ofegante, mortalmente exposto.
Mas a madeira nunca o tocou.
Eleonor apareceu como um corte de luz. O braço em chamas riscou o ar, a espada desceu numa trajetória perfeita, e a árvore foi partida ao meio antes de alcançar Hendrick. Metade do tronco girou no ar; a outra metade tombou atrás de Hendrick com um baque surdo, levantando fragmentos de casca e terra.
Ela bufou, a lâmina ainda vibrando na mão, os olhos fixos no demônio atrás da poeira.
A poeira ainda ondulava no ar, carregando o cheiro metálico do sangue e o amargor da terra rompida.
Hendrick levantou o rosto. A respiração era pesada, mas não fraca. Ele colocou uma mão no chão, tentando firmar o corpo instável. Sangue pingava do queixo, marcando o barro em pequenos pontos escuros.
— Não… — Murmurou Hendrick.
Eleonor deu um passo à frente
— Eu disse para você se afastar! — Disse ele irritado, cuspindo sangue que escorria da garganta.
Eleonor ignorou.
Hendrick tentou se erguer. Primeiro falhou. Depois, com um impulso teimoso e um rosnar contido, levantou-se por inteiro. Seu corpo cambaleou, mas seus olhos permaneceram imutáveis, fixos no ponto onde Azazel começava a emergir da poeira, regenerando o que restara do impacto.
A forma demoníaca surgiu com lentidão calculada, exibindo a arrogância de quem sabe que o próprio corpo não entende a palavra “limite”. Ossos se encaixaram, músculos se puxaram como fibras vivas, e, por fim, a pele se fechou com um estalo úmido. Azazel deu um sorriso largo demais, um sorriso que parecia predador e teatral.
— Acabou a brincadeira! — Disse Eleonor enquanto fixava os olhos em Azazel. — Esse demônio fica mais forte conforme o tempo passa, se continuar assim não seremos capazes de mata-lo.
— Eu notei isso. — Admitiu Hendrick despreocupadamente.
— Então por que não está lutando seriamente? — Perguntou Eleonor irritada.
— Não tem graça lutar contra um fracote, por isso quis lutar de igual para igual com ele. — Brincou ele, logo em seguida soltando um breve sorriso.
Eleonor bufou, mas não retrucou.
Azazel por outro lado parou de rir.
— Fracote?! — Repetiu ele irritado, mas ninguém lhe deu atenção
— Vamos acabar com isso logo, ainda temos que matar o desgraçado do Atreus. — Disse Eleonor, colocando sua mão esquerda calorosamente no ombro de Hendrick.
— Ta. Ta…. — Respondeu Hendrick. — Ei! — Gritou ele. — Sua maluca do caralho! Sua mão ta me queimando!
Em meio a conversa dos dois, Azazel avançou rapidamente, subiu sua foice e pretendia desce-la de forma que iria cortar Eleonor e Hendrick ao meio em um só golpe.
Mesmo distraído com a conversa, Hendrick notou os movimentos de Azazel, e, a poucos centímetros de ser atingido ele usou seus reflexos sobre-humanos para desviar do ataque ao mesmo tempo que jogava Eleonor na direção da lâmina de Azazel.
— Eu disse que não precisava da sua ajuda — Disse ele enquanto sorria.
A foice atingiu Eleonor, rasgou sua armadura como faca quente cortando manteiga, mas quando a lâmina tocou sua pele a lâmina de Azazel se desfez em mil pedaços, restando apenas o cabo em sua mão.
Azazel ficou paralisado com o que viu, sua arma que até agora estava cortando tudo e todos, agora não passava de um amontoado de cacos frágeis no chão.
— Eu sei. — Disse Eleonor ajustando sua postura, segurando a espada colossal com a mesma naturalidade com que alguém segura uma pena. — Mas isso não significa que você vai lutar sozinho e ficar com toda a diversão para você.
Ela continuou falando como se o empurrão de Hendrick ou o ataque de Azazel não fossem nada.
Por um momento, algo quase parecido com um sorriso cruzou o rosto ensanguentado de Hendrick. Uma sombra de satisfação feroz.
Eleonor voltou a encarar Azazel, e num piscar de olhos cortou-o ao meio, lançando a parte superior de seu corpo a alguns metros enquanto a parte inferior caia inerte no chão.

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