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    Fernando, que ainda estava olhando de forma indiferente para a frente, suspirou.

    “Apenas faça o que tem que fazer, você não precisa se justificar para mim.” falou, com uma voz calma e impassível.

    O homem alto assentiu.

    “Você está certo. Devo estar falando demais somente para desencargo de consciência. Então… vamos acabar logo com isso.” Ao falar até aí, Alastor virou-se, quando sua enorme palma se esticou em direção ao rapaz pálido.

    Como um relâmpago, a gigantesca mão disparou cortando o ar rumo ao pescoço de seu alvo, seus dedos com unhas grossas e levemente alongadas eram como garras que estavam prontas para destroçar a carne de alguma presa.

    O jovem Tenente, que até então permanecia aparentemente alheio ao perigo iminente, moveu repentinamente seu olhar voltando-se para o sujeito gigante, quando agarrou com força seu pulso esquerdo, impedindo qualquer avanço.

    Sem acreditar que o garoto conseguiria pará-lo, o sujeito empurrou sua palma com força para frente, enquanto os ossos do seu braço rangiam e seus músculos estufavam, mas não importava quanta força ele colocasse, sua mão esquerda não se movia e o garoto continuava o encarando com um semblante gelado.

    “Como…?” Alastor ficou um pouco surpreso com isso, olhando para a algema vermelha no braço do rapaz, estava claro que assim como ele próprio, o mesmo também estava usando uma Algema Ardot. Logo, tudo que ambos poderiam fazer, era usar uma pequena parcela de sua força corporal, pois embora tivessem altos Atributos aprimorados, eles ainda estavam intimamente ligados ao Mana, dependendo dela para que pudessem usá-los em seu máximo potencial. Era como se os dois fossem um carro potente, mas não tivessem combustível disponível.

    Fernando não perdeu tempo e reagiu, ao ver o braço do homem que estava totalmente estendido e enrijecido, desferiu um gancho com o punho direito em direção ao seu cotovelo, visando quebrá-lo.

    No entanto, o sujeito gigante bloqueou o golpe com o outro braço, se levantou e se preparou para atacar novamente. Porém, o rapaz foi mais ágil e logo largou seu pulso e se afastou, levantando-se e indo para um dos cantos da cela.

    De frente um para o outro, com ambos de pé, era como se o jovem pálido estivesse diante de um gigante. Como se este fosse o confronto entre um urso e um cão, o pequeno canídeo poderia dar algumas mordidas, mas o urso estava confiante em terminar com tudo rapidamente.

    “Não torne isso difícil garoto…” Alastor falou, com uma expressão escura, apalpando a sua mão atingida, sentindo um pouco de dor.

    “Desculpe se estou te atrapalhando ao não me permitir ser morto.” O jovem pálido respondeu, de forma sarcástica.

    O homem alto se manteve olhando para ele com olhos estoicos.

    “Eu queria lhe conceder o direito de uma morte rápida da forma mais indolor possível, geralmente eu esperaria você dormir e faria isso com um estrangulamento, mas eu não tenho tempo para fazer isso dessa vez. Então, mesmo que seja um pouco incômodo, você não sentirá muita dor, eu lhe asseguro.” disse, enquanto apertava suas mãos.

    Ouvir o sujeito falar casualmente sobre como o mataria, fez o jovem pálido dar um leve sorriso.

    “Eu prefiro do jeito difícil, se você for capaz, é claro… Mas acho que não estou a sua altura.” zombou, estalando o pescoço, se preparando para continuar lutando.

    Embora ainda estivesse mentalmente exaurido e com seu corpo não inteiramente recuperado, ele sabia tinha boas chances de vencer, pois seu oponente também estava limitado ao não poder usar toda a sua força Física, Magias e Habilidades.

    Vendo que o garoto não estava disposto a aceitar sua boa vontade, Alastor não hesitou, quando avançou novamente, com seu punho fechado, decidindo que o nocautearia primeiro antes de por fim a sua vida.

    Essa cela é muito apertada, não tenho para onde fugir… Fernando refletiu, ao encostar suas costas nas barras de metal. Acho que não tenho escolha, então.

    Com seu oponente vindo em sua direção, o jovem Tenente reagiu rapidamente. Mesmo que Alastor fosse um gigante tão ou até mais alto que Oliver e ele não pudesse usar suas Habilidades, Magia ou Mana, decidiu enfrentá-lo de frente!

    O braço do sujeito magro avançou como um chicote cortando o ar, com seu punho mirando diretamente na lateral da cabeça do rapaz. Por outro lado, Fernando, que era muito menor, rapidamente levantou a guarda, enquanto avançava, como se fosse um pugilista.

    BAM!

    Antes que pudesse chegar muito perto, o soco o atingiu seu braço que protegia sua têmpora. O impacto foi tão forte, que apesar de defender o golpe, o jovem pálido sentiu como se um martelo tivesse o acertado.

    Mesmo com as algemas, esse cara é muito forte! pensou, atordoado. 

    Diferente das Algemas Evral que ele havia usado durante seu julgamento em Belai, as Ardot dessa prisão tinham correntes entre as braçadeiras, sendo removidas durante o encarceramento, mantendo apenas as braçadeiras, dando maior liberdade de movimento aos presos. Pois não somente todos ali eram oficiais, recebendo um tratamento muito melhor em relação aos presos comuns, como devido a própria natureza da liga metálica do item, seria incomum um detento se tornar uma ameaça que não pudesse ser facilmente contida pelos guardas.

    Ainda, sim, as algemas eram incômodos e atrapalhavam durante a luta, dificultando os movimentos das mãos e dos pulsos.

    Mesmo com todos estes empecilhos, Alastor deveria ter praticamente a mesma força que um Subtenente comum ou de um Sargento no ápice, essa não era a força que qualquer pessoa deveria atingir ao usá-las! 

    Apesar de estar sendo suprimido pelo metal em seus pulsos, seu corpo ainda era resistente e forte, se não fosse isso, o Tenente sentiu que teria sido nocauteado em um único ataque. Isso o fez imaginar quão forte esse sujeito seria se não estivesse preso as Algemas Ardot.

    Mas, apesar disso, Fernando não se intimidou, pelo contrário, seu olhar estava cheio de vontade de lutar. Na verdade, havia até mesmo uma leve empolgação numa luta como essa, algo que ele próprio não estava ciente.

    Vendo que seu primeiro ataque não foi suficiente, Alastor novamente ficou surpreso, mas logo moveu seu outro punho, visando o outro lado.

    Percebendo sua intenção, o jovem Tenente não ficou parado e chutou sua perna de apoio.

    Bam!

    No entanto, ao contrário do que esperava, o sujeito gigante não se abalou com o chute e continuou seu golpe. Vendo isso, Fernando franziu a testa, irritado já que com à diferença de envergadura, seria difícil golpeá-lo acima da linha de cintura. Então decidiu que seria melhor continuar tentando minar sua maior desvantagem, visando suas articulações longas e pernas, como ele havia decidido assim que o viu pela primeira vez, quando socou em direção ao punho entrante.

    Bang!

    Punho contra punho, ambos colidiram fortemente, quando dois estalos agudos soaram.

    Dessa vez Alastor finalmente deu um passo para trás, sentindo muita dor, enquanto o rapaz também recuou.

    Olhando para sua mão esquerda, o sujeito ficou surpreso ao sentir a dor aguda aumentar assim que tentou mover seus dedos.

    Está quebrado? pensou, sem entender como isso era possível.

    O rapaz a sua frente não era baixinho, tinha pelo menos 1,70 de altura, mas em relação a ele próprio, que tinha 2,30 de altura, não era diferente de uma criança. Além disso, Alastor sabia que ele próprio não era uma pessoa comum.

    Ele havia nascido como o quarto filho de uma família humilde de Avalonianos, sendo desde seu nascimento, uma criança muito maior e mais forte que as demais.

    Aos seus oito anos, Alastor já era quase tão alto quanto seu pai, o que assustou o homem, fazendo com que ele inconscientemente o rejeitasse. Sua mãe, apesar de não o rejeitar abertamente, era supersticiosa e devido aos boatos dos vizinhos, que falavam que o tamanho anormal da criança era um mal agouro, acabou sentindo algum medo persistente do garoto.

    Conforme o tempo passava, seu corpo pedia constantemente por mais e mais comida, mas como seus pais mal tinham o suficiente para viver e tinham quatro filhos para alimentar, tudo que ele podia fazer era resistir a fome constante para não prejudicar seus irmãos. Muitas vezes, ele ia a uma floresta próxima da pequena cidade que vivia, para caçar pequenos animais e colher frutas e cogumelos silvestres.

    Quando Alastor completou doze anos, ele já tinha mais de 1,80 de altura e ajudava seu pai e irmãos mais velhos em trabalhos manuais, como agricultura e venda de lenha. Com seu tamanho e força descomunais, ele poderia facilmente fazer o trabalho de dois ou três homens, o que fez seu pai o aceitar um pouco mais.

    Entretanto, tudo mudou quando sua pequena cidade foi atingida por uma Doença de Mana desconhecida e altamente contagiosa, que ficou posteriormente conhecida como Devoradora Vermelha.

    Era uma doença que infectava as pessoas e criava manchas vermelhas em seus corpos consumindo continuamente o Mana do corpo, sendo especialmente perigosa e agressiva para os homens. Se o indivíduo não tivesse muito Mana em seu corpo, ele morreria em poucos dias, o que fazia essa doença ser mortal para os Avalonianos comuns.

    Antes dos Magos de Cura e Magistas especializados em doenças infecciosas das Legiões chegassem até a cidade, mais de 80% da população havia sido atingida, incluindo o próprio Alastor e sua família.

    Mesmo após o envolvimento das Legiões e a chegada de Magistas do Conselho Superior, uma cura só foi descoberta cerca de um mês e meio depois do início da epidemia, mas até então metade da cidade de Merdaka já havia sido dizimada pela Devoradora Vermelha.

    No fim, de todos os membros da família de Alastor, haviam restado apenas sua irmã mais velha e sua mãe, com ele sendo um dos únicos homens infectados que resistiu a doença graças ao seu corpo e Mana anormal para sua idade, sobreviveu antes da cura ser descoberta.

    Sua mãe supersticiosa o acusou de ser o causador de toda a tragédia e da morte de seu pai e irmãos, sendo o mau agouro que havia trazido aquilo a cidade, expulsando-o de casa antes dos treze anos.

    Sem opções, ele partiu sozinho e devido ao seu tamanho e força, facilmente conseguiu se alistar nas tropas estacionárias de uma pequena legião, onde adquiriu experiência e se provou no campo de batalha.

    Quando ele percebeu que podia matar homens armados usando apenas as mãos, soube que seu poderoso corpo tinha um propósito e isso era lutar.

    Contudo, devido à corrupção excessiva no local e seu ‘sexto sentido’ em sentir a maldade das pessoas, acabou por decidir abandonar a legião, pulando de lugar em lugar e campo de batalha em campo de batalha.

    Anos depois reencontrou sua irmã Kiara, quando soube que sua mãe havia partido desse mundo, tendo em seu leito de morte enviado a ele um pedido de desculpas, incumbindo sua filha de reencontrar seu irmão caçula para entregar sua última mensagem.

    Até esse ponto, Alastor já havia feito algum nome em meio a grupos mercenários. Mas ao se encontrar de novo com sua irmã e ouvir as últimas palavras de sua mãe, decidiu por abandonar essa vida de mercenário e protegê-la até que ela encontrasse seu próprio caminho. Sendo assim, optou por se estabelecer em uma Legião.

    Tendo escolhido os Leões Dourados, Alastor foi enviado de uma cidade a outra por um tempo com sua irmã indo onde ele fosse até que ela conseguiu se estabelecer em uma das cidades próximas ao Portão Sul. Mesmo sendo um Avaloniano e sofrendo perseguição por parte de alguns, sua força e talento não poderiam ser escondidas e rapidamente subiu de cargo, até chegar ao cargo de Tenente.

    Porém, o mundo não era fácil e muito menos justo, em seu terceiro ano na cidade, presenciou em um beco da cidade um crime de um recém-nomeado Capitão que se tornou seu superior direto. O homem assassinou brutalmente uma jovem garota Avaloniana e tentou usar sua posição para encobrir o crime.

    Movido pela raiva, usou suas próprias mãos para por fim na vida do sujeito. Mesmo sendo um Capitão talentoso, não pôde escapar da morte frente ao gigante. Apesar de ser um humilde Tenente Avaloniano, sua força Física era comparável a Usuários de Habilidades, mesmo que nunca tivesse aprendido uma.

    Então, sendo alguém que sempre foi uma aberração de pura força bruta, Alastor não conseguia entender como um garoto que mal tinha vinte anos poderia feri-lo e quebrar os ossos de seu punho.

    Após o choque de força, Fernando olhou brevemente sua própria mão direita e imediatamente soube que estava quebrada, mas não se importou. Na verdade, estava pensando em algo mais importante que isso.

    Assim como eu pensei… Tem algo estranho comigo. ponderou, ao sentir seu corpo mais forte e vibrante.

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