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    『 Tradutor: Vento Leste // Revisor: Otakinho 』


    “Ei, o que temos aqui? Um garoto pelado caminhando sozinho nas Terras Esquecidas?” Uma voz masculina gargalhou desenfreadamente.

    “Hehe, é o seu dia de sorte Tuari. Parece que o pequeno Lanu não terá que doar sangue este mês. Mas, esse aqui parece um pouco pálido… não tenho certeza se conseguiremos muito dele.” Um segundo homem riu com uma voz mais rouca e ainda mais desagradável.

    Após essa piada de mau gosto, mais risadas e brincadeiras atrevidas começaram. A maioria dessas vozes profundas e maliciosas eram masculinas, mas também havia algumas femininas entre elas.

    Para entender o motivo dessa loucura, era preciso entender as condições precárias em que viviam. Infelizmente, o objeto de suas piadas mesquinhas não conseguia entender nada.

    ‘Do que diabos estão falando?! Não consigo entender uma palavra do que dizem. Que porra de linguagem é essa?’

    O menino pelado com cerca de 14-15 anos que estava diante deles estava muito pensativo, imaginando todo tipo de coisa. Ele estava fazendo uma expressão serena, mas por dentro estava petrificado.

    Seu rosto estava pálido e encharcado de suor. Sua aparência é bem mediana, não a ponto de ser feio, mas ele era um tanto pequeno e a estrutura óssea de seu rosto não era particularmente delicada. As duas características únicas que compensavam isso eram seus cabelos negros e olhos quase igualmente escuros que brilhavam de tanta inteligência.

    Sua pele estava coberta de bolhas e queimaduras vermelhas e uma ferida aberta grande o suficiente para uma adaga passar estava alguns centímetros abaixo de seu coração, sangrando intensamente.

    Se seus ferimentos não fossem tratados imediatamente, o menino sem dúvidas iria morrer.

    Uma Centelha.

    Uma luz infinitamente pura, essa foi a primeira coisa que ele viu quando foi trazido a este mundo. Quando seus olhos ainda estavam fechados, sua consciência tão frágil quanto uma vela em meio ao vento, a luz já o havia cegado. Quando finalmente abriu os olhos, não estava mais lá, mas de alguma forma ainda era capaz de sentir sua existência.

    Substituindo aquela linda centelha, uma selva exuberante e um grupo de homens e mulheres adornados com pinturas e outros ornamentos tribais de repente preencheram seu campo de visão. Cada um deles era muito bárbaro, com a pele enrugada e queimada de sol, embora certamente fossem mais jovens do que aparentavam. O que todos tinham em comum eram as olheiras profundas e uma magreza quase doentia, como se estivessem sofrendo de anemia e desnutrição.

    O menino não teria ficado tão assustado se fossem pelo menos uma ou duas cabeças mais altos que ele. Ele ainda não havia percebido que era ele quem havia se tornado menor. O fato de estarem todos armados com lanças, arcos e machados primitivos obviamente nada tinha a ver com seu tremor…

    Enquanto esses nativos brigavam, gritando cada vez mais palavras que ele não entendia, o menino sentiu a fraqueza o acertar em cheio enquanto sangrava até a morte.

    “… Socorro.” Ele sentiu o desespero tomar conta dele quando percebeu que mal conseguia ouvir sua própria voz, muito menos esses bárbaros que não falavam a mesma língua que ele.

    Se fosse capaz de pensar com clareza, nunca teria implorado por ajuda, mas em vez disso teria corrido para salvar sua vida. Mal conseguia se lembrar de seu nome enquanto suas memórias antes de aparecer neste buraco esquecido por Deus eram extremamente embaçadas.

    “Hmm, Koko, pensei ter ouvido ele dizer alguma coisa…” As sobrancelhas de Tuari se ergueram em surpresa.

    Infelizmente, embora tivesse ouvido algo, como era de se esperar, ele não havia entendido nada.

    “Renda-se, garoto, e nenhum mal acontecerá a você. Você só terá que… cooperar um pouco.” Uma nativa usando apenas umas folhas na cintura e no peito dirigiu-se a ele com uma voz doce, mas o cabelo do menino se arrepiou com seu sorriso falso, acompanhado de uma fileira de dentes amarelos.

    ‘E-eu preciso correr.’

    Quando esse pensamento passou por sua mente, uma Centelha brilhante preencheu seu campo de visão como uma mosca zumbindo e pareceu brilhar um pouco mais forte por um momento fugaz tão breve que ele pensou que fosse sua imaginação.

    Suas pernas recuaram, mas já era tarde demais. Não havia mais força em seu corpo. Sua visão ficou turva e ele sentiu sua consciência vacilar e afundar no mesmo poço de escuridão e miséria que atormentava sua mente.

    Porém, ao contrário de antes, ele ainda não havia percebido, mas a dor que o torturava parecia ter diminuído um pouco.

    Thud.

    Seus olhos rolaram para trás, e então ele caiu de cara no chão como uma marionete cujas cordas foram cortadas.

    “Doli, seu charme é tanto que o fez desmaiar de pura felicidade. Ou isso, ou seu hálito ficou pior do que eu posso me lembrar, hahaha.” Outro bárbaro zombou alegremente.

    Sua piada foi imediatamente seguida por uma gargalhada coletiva. A mulher seminua olhou para eles, mas seu beicinho revelou mais desgosto do que tristeza e eles riram ainda mais.

    “Pare de ser idiota! O garoto está perdendo sangue! O que você vai dizer a Malia se ele morrer antes do sacrifício? Você vai tomar o lugar dele?”

    O grupo de homens, embora másculos e parrudos, estremeceu de terror ao ouvirem a pergunta. Eles definitivamente não queriam tomar o lugar dele.

    “Doli está certa. Vamos voltar ao trabalho. Se as outras equipes não atingirem suas cotas, podemos até ser recompensados.”

    Aquele que acabara de falar era um bárbaro mais velho que os outros e carregava a única espada de bronze do grupo. Ele era tão magro e envelhecido quanto os outros, mas o respeito que os outros nativos tinham por ele era genuíno.

    Sem saber o que estava acontecendo ao seu redor, as feridas do adolescente foram costuradas às pressas e rapidamente colocaram uma bandagem feita de plantas locais por cima. Então, o guerreiro Tuari o colocou em seu ombro como um saco de batatas antes de partir em direção à sua aldeia.

    Um pouco depois.

    SPLASH!

    O menino acordou no susto, o balde de água gelada momentaneamente o fez esquecer a gravidade de seus ferimentos. Com fios de sua ferida mal costurada sendo puxados pelo impulso, ele engasgou de dor, chamando a atenção para si mesmo.

    Tornando-se o alvo de todos esses olhares, ele finalmente percebeu onde estava. Ou pelo menos, onde não estava mais.

    Era uma aldeia decrépita. E mesmo assim, talvez tenha sido uma avaliação um pouco lisonjeira demais.

    À primeira vista, era apenas um pedaço de terra lamacenta que cheirava a mijo e esterco, onde haviam sido erguidas algumas dezenas de tendas sujas, tecidas com peles de animais. No centro da aldeia havia dois yurts, tão grandes quanto seu quarto na Terra. 1

    Uma verdadeira anomalia no meio desta ode na pré-história, uma humilde casa colmada feita de pedras e pedaços de madeira empilhados dominava a aldeia do alto de uma pequena colina com apenas seis ou sete metros de altura. Do lado de fora da entrada, que não tinha portas, havia um altar lamentável.

    Era mais correto chamá-lo de “Ponto sombrio”. Quatro estacas de madeira com cerca de dois metros de altura foram postas no chão em um quadrado, sobre as quais foi colocado um tapete de pelo quase novo.

    Embaixo havia um monte de pedra que deveria ser algo como uma sepultura rudimentar, com uma pequena estela de madeira do tamanho de um tijolo apoiada. Era como se fosse um pedaço de casca de árvore, pois não havia nada esculpido nele. 2

    Agora, ele estava ajoelhado e amarrado como os outros na frente deste altar com uma dúzia de outras pessoas de todas as idades que pareciam muito mais saudáveis ​​do que ele. Assim como ele, todos estavam pelados, mas ele ficou agradavelmente surpreso ao ouvir um deles mal conseguindo falar inglês.

    Graças a Deus ele não era louco! De qualquer forma, não era o único nessa confusão. A angústia de não saber se estava preso em um pesadelo ou totalmente acordado corroía suas entranhas e ameaçava enlouquecê-lo.

    De pé em círculo ao redor dos prisioneiros dos quais fazia parte, cerca de 80 ou 90 aldeões os observavam com uma mistura de sadismo e alívio, esperando que seu destino fosse decidido. Seus sussurros apenas aumentaram sua ansiedade. 

    De repente, a multidão ficou em silêncio e o adolescente notou duas mulheres saindo da única cabana de palha da aldeia.

    A primeira tinha cabelos brancos e era pequena, e tão enrugada e ossuda que poderia ser uma evidência viva de que os dinossauros existiram. Determinada a traumatizá-los antes do ritual, ela estava vestida tão discretamente quanto os outros aldeões, seus mamilos flácidos caídos balançavam livremente sob o sol quente.

    O menino e os outros homens e mulheres ajoelhados engoliram o vômito com dificuldade, dizendo a si mesmos que perder os olhos não seria um desfecho tão ruim para aquele dia terrível.

    A segunda mulher era exatamente o oposto da primeira, ela era jovem e bonita. Ajudando a velha a andar, mostrava o quanto seu corpo era atlético e curvilíneo, junto de sua pele levemente bronzeada, mas bem hidratada, esbelta, mas não magra. Seu rosto de boneca não era anêmico como o dos outros nativos, enquanto seus lábios e bochechas rosadas exibiam um brilho saudável e radiante. Ela tinha olhos amarelos-alaranjados arredondados em forma de amêndoa, longos cílios ruivos e seu cabelo castanho-avermelhado sedoso caindo em cascata sobre os ombros. Ela parecia muito jovem. Não mais que dezesseis. Também não era muito alta, ainda mais baixa que o menino.

    Os olhos dos homens brilharam quando a viram, mas enquanto ela era a única bárbara que queriam ver nua, ela era, infelizmente, para seu pesar, a única mulher devidamente vestida.

    Seu conjunto amarelo girassol consistia em uma saia e um bolero de manga curta revelando seu abdômen tonificado, umbigo fofo, braços macios e pernas longas e ágeis. Ela andava descalça como os outros bárbaros, mas curiosamente isso só aumentava seu encanto aos olhos dos prisioneiros. 3

    As duas mulheres caminharam lentamente até o altar, então a jovem sussurrou algo para a mulher mais velha depois de lançar um olhar apático para os prisioneiros. A velha assentiu, então ergueu as palmas para eles e começou a recitar um cântico em alguma língua obscura.

    “Gari gori, goru, giri…”

    O menino e os outros prisioneiros ficaram sem palavras.

    ‘Que porra você está balbuciando, bruxa velha?’

    Então um milagre aconteceu.

    O fóssil parou de balbuciar e o menino sentiu uma onda de conhecimento estrangeiro inundar seu cérebro. Seus olhos se arregalaram em choque um segundo depois, a velha anunciou com uma voz anasalada. 4

    “Terminei.”

    ‘Eu posso entendê-la!’

    Descrença e incompreensão estavam no rosto de cada prisioneiro. O menino, tão sereno quanto possível, mal ousava considerar as infinitas possibilidades que surgiam dessa constatação.

    Isso era magia.

    Quando seu coração aceitou a realidade, sua mente foi completamente abalada e lentamente passou a aceitar o que estava acontecendo com ele. Se tivesse sido transportado para um mundo onde a magia era uma realidade, então não seria tão ruim.

    Enquanto isso, a jovem caminhou até eles e parou na frente do homem mais à esquerda, o mais robusto deles, ela perguntou gentilmente:

    “Qual é o seu nome?”

    Até sua voz era doce e angelical, um néctar divino para os ouvidos.

    “Thomas.”

    “Hmm…” Ela assentiu pensativamente.

    Então ela passou para o próximo.

    “E você?”

    “Anton.”

    “Hum…”

    O processo se repetiu até que ela chegou na frente do menino. Vendo seu rosto pálido, suas feridas e sua aparência doentia, uma carranca desdenhosa, quase enojada, brilhou em seu rosto.

    “Qual é o seu nome?

    “Ikaris. Meu nome é Ikaris.”

    “Hum…”

    Ikaris observou calmamente enquanto a jovem voltava até a velha xamã, então a viu murmurar algo novamente enquanto apontava para alguns deles. O que todos tinham em comum era que eram homens fortes. O prisioneiro que falava inglês estava entre eles.

    Sem saber por quê, o menino ficou aliviado por não ter sido escolhido.

    Assim que a seleção foi concluída, um grupo de guerreiros equipados com lanças de madeira escoltou desleixadamente os homens escolhidos até o altar onde uma grande tigela de madeira havia sido colocada despercebida por eles. Um silêncio arrepiante caiu sobre a aldeia e por instinto ou cautela os homens escolhidos previram o destino que os esperava.

    Um deles começou a lutar.

    “E-eu não quero fazer isso. Me deixa sair!”

    Claro, seus gritos foram ignorados. Por seu “Entusiasmo”, foi inclusive o primeiro a servir de exemplo. O bárbaro empurrando-o para frente com sua lança o forçou a se ajoelhar em frente à tigela com um chute na panturrilha. Impiedosamente, outro homem agarrou suas mãos amarradas e, com a faca na mão livre, cortou seus pulsos.

    “Aaaaarrgh!”

    Ikaris subconscientemente fechou os olhos, mas surpreendentemente o grito não durou. Não era o grito abruptamente abafado de alguém morto na hora, mas o silêncio de alguém percebendo que havia se preocupado à toa.

    Bem, por assim dizer.

    O sangue escorreu de seus pulsos para a tigela embaixo, mas depois de derramar o equivalente a uma lata grande de refrigerante, o guerreiro que havia cortado suas veias fez sinal para que ele recuasse, enquanto outro se encarregava de cuidar de seu ferimento.

    Os outros escolhidos ficaram imediatamente aliviados quando descobriram que esses bárbaros não tinham intenção de matá-los e obedientemente deixaram que suas veias fossem cortadas, derramando seu sangue com mais ou menos sinceridade.

    Quando a tigela grande estava quase cheia, Ikaris esperava algum tipo de ritual xamânico para o final, talvez até mesmo algumas danças tribais ou canções, mas não foi assim.

    Ficaram amarrados ao sol na praça da aldeia o resto do dia, depois o sol se pôs e ele entendeu o porquê de tudo isso.

    1. Yurt: Yurt, ger ou iurte é uma tenda ou cabana circular usada tradicionalmente pelos pastores nômades mongóis e de outros povos da Ásia Central, como os quirguizes e os cazaques.[]
    2. Estela: Coluna ou placa de pedra em que os antigos faziam inscrições.[]
    3. Bolero: O bolero nada mais é do que um tipo de casaqueto mais curto, tipo os colete nos smoking[]
    4. Sim, é basicamente uma voz fanha[]

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