Capítulo 1 - Antes da Tempestade - Parte III

Antes da Tempestade – Parte III

Duas horas depois, Yang reuniu sua equipe executiva na sala de conferências. Essa era a famosa sala onde os comandantes da Fortaleza de Iserlohn e sua frota permanentemente estacionada se reuniam quando a fortaleza estava sob o controle da Marinha Imperial — onde era comum haver confrontos, discussões e depois cada um seguir seu caminho.

A equipe reunida ao redor da mesa era a seguinte:

Contra-Almirante Alex Caselnes, Diretor Administrativo da Fortaleza.

Comodoro Walter von Schönkopf, Comandante das Defesas da Fortaleza.

Contra-Almirante Fischer, Vice-Comandante da Frota de Patrulha de Iserlohn.

Contra-Almirante Murai, Chefe do Estado-Maior.

Comodoro Patrichev, Vice-Chefe do Estado-Maior.

Capitão Blood-Joe e Comandante Lao, Oficiais do Estado-Maior.

Tenente Frederica Greenhill, Assessora principal do Comandante.

Também estavam presentes o Tenente-Comandante Nilson, Capitão da nave de guerra Ulysses, e seu primeiro oficial, o Subtenente-Comandante Eda.

Yang fez uma demonstração convencional de olhar para os rostos dos oficiais reunidos e, em seguida, abriu a boca para falar. Não era realmente do seu feitio falar em tom grave e solene; ele parecia mais estar conversando com amigos enquanto tomava uma xícara de chá.

“Acho que todos já sabem disso, mas a nave de guerra Brocken, da Marinha Imperial, chegou com o enviado militar com uma proposta bastante interessante. Eles querem fazer uma troca de prisioneiros entre os dois milhões de prisioneiros de guerra que o Império e a Aliança mantêm entre si.”

“Então eles também estão tendo dificuldade para alimentar os seus”, disse Caselnes sarcasticamente.

De altura média e com uma constituição física robusta e saudável, ele era mais um burocrata militar do que um soldado, com muito mais experiência no serviço de retaguarda do que na linha de frente. Mestre no trabalho burocrático, era especialista em administrar linhas de abastecimento, operar organizações e gerenciar instalações. Após a derrota em Amritsar, a culpa pelo fracasso do plano de abastecimento recaiu sobre ele — embora aquele desastre tivesse sido, na verdade, resultado da estratégia engenhosa do Marechal Imperial von Lohengramm — e ele foi transferido para um posto avançado remoto antes de ser redesignado para Iserlohn a pedido de Yang.

Era justo dizer que Alex Caselnes era o prefeito de fato da cidade de Iserlohn, com cinco milhões de habitantes. Sua habilidade em lidar com a administração pública provavelmente teria se mostrado útil mesmo em organizações maiores e mais complexas.

“Provavelmente isso é parte do motivo”, disse Yang. “De qualquer forma, eu também sou parcialmente culpado.”

Ao tomar Iserlohn, Yang havia capturado prisioneiros de guerra em número equivalente à população da vasta cidade.

O Comodoro von Schönkopf sorriu com a conversa. Com 33 anos e aparência refinada, ele foi o responsável por executar com sucesso o plano de Yang. Era um homem de nascimento nobre, que fora trazido ainda criança do império para a aliança quando seus avós desertaram. Ele tinha coragem e inteligência de sobra, além de um espírito indomável que às vezes era interpretado como perigoso. Quanto ao homem em si, ele era sempre calmo, mesmo diante de suspeitas e olhares.

“Ainda assim, isso não é motivo para risadas”, disse Yang. “A frase ‘dificuldade em alimentá-los’ traz consigo uma implicação séria: que pode não estar longe o momento em que não haverá mais como fazê-lo.”

“Ou seja?”

“Simplificando, devemos ver isso como um sinal de que Reinhard von Lohengramm finalmente decidiu entrar em um conflito armado com a confederação dos nobres.”

Quando Yang mencionou o nome daquele jovem loiro, considerado pela Marinha da Aliança como sua maior ameaça, um silêncio mortal tomou conta de toda a sala.

Nos últimos meses, Yang pensava constantemente sobre o que fazer com o Marquês Reinhard von Lohengramm, que se aproximava cada vez mais do poder no Império Galáctico.

Para garantir o poder absoluto, Reinhard teria que destruir um poderoso grupo de nobres que o viam como inimigo. Isso provavelmente envolveria a eclosão de uma guerra civil em grande escala. As informações que Yang tinha não eram abundantes, mas eram suficientes para deixar claro que Reinhard estava avançando firmemente com os preparativos para exatamente esse tipo de conflito.

O problema era que Reinhard estava preparando o terreno não apenas dentro do império, mas também dentro da Aliança dos Planetas Livres. Reinhard não estava disposto a ficar parado e deixar a confederação dos aristocratas se unir à Aliança dos Planetas Livres (APL), nem permitir que a Marinha da Aliança atacasse os dois lados depois que eles se esgotassem. As feridas que a Marinha da Aliança havia sofrido em sua derrota em Amritsar ainda não estavam cicatrizadas; eles não tinham nada a perder em campanhas externas, mas Reinhard aparentemente não estava deixando nada ao acaso.

Então, o que ele deveria fazer?

Yang tentou analisar as circunstâncias em que Reinhard havia sido colocado. Havia certas limitações com as quais Reinhard estava sobrecarregado e não havia dúvida de que ele faria seus planos de acordo com elas.

Analisado e organizado, os resultados ficaram assim:

1. As forças de Reinhard teriam muito trabalho apenas lutando contra a confederação dos nobres de alta linhagem.

2. Abrir uma operação em duas frentes seria, portanto, impossível.

3. Devido às condições 1 e 2, o que se devia fazer era atacar a APL através de subterfúgios, em vez de força militar.

4. Dividir o inimigo e colocá-lo uns contra os outros era a essência da conspiração.

Com Reinhard tendo avançado até este estágio, Yang podia adivinhar qual seria o próximo passo: ele encontraria alguma maneira de dividir as Forças Armadas da Aliança por dentro!

Era isso que Reinhard faria. Era isso que ele tinha que fazer. Mesmo se Yang estivesse no lugar de Reinhard, ele não seria capaz de pensar em nada diferente. Se as facções das forças armadas da aliança estivessem lutando entre si, Reinhard ficaria livre para lutar contra os nobres, sem medo de ser atacado pelas costas. Bem, então, o que ele fará especificamente… Quando os pensamentos de Yang chegaram a esse ponto, ele chegou a uma conclusão. Talvez eu esteja pensando demais, Yang não pôde deixar de se perguntar. Ele não era tão confiante quanto os outros pensavam que ele era.

Ainda assim, o trabalho em que estava envolvido não era sobre a busca pela verdade e pela humanidade. Não era sobre perseguir algum valor absoluto. Era ganhar ou perder. Era competição. Ganhar e perder eram apenas termos relativos, então, se ele estivesse um passo à frente de seu oponente — se tivesse uma vantagem sobre o inimigo —, então seu trabalho estaria feito. Isso fazia parecer fácil, mas obter uma vantagem sobre um gênio como o Marquês Reinhard von Lohengramm era extremamente difícil.

Para Yang, havia uma pequena coisa da qual ele se arrependia. Durante a batalha em Amritsar no ano passado, Yang teve um desempenho em combate que ninguém mais conseguiu igualar, mas ele não podia dizer necessariamente que tinha dado o seu melhor na reunião de operações que aconteceu antes. Mesmo que tivesse acabado se transformando em uma luta livre, ele não deveria ter tentado bloquear a retórica irresponsável e agressiva dos linha-dura?

É claro que eu teria acabado perdendo mesmo se tivesse lutado com eles, refletiu Yang com uma careta.

De qualquer forma, uma proposta de troca de prisioneiros havia chegado do império e Yang precisava relatá-la à capital da Aliança, Heinessen, o planeta que leva o nome do pai fundador da nação. O governo provavelmente aceitaria a proposta de bom grado. Os prisioneiros de guerra não tinham direito ao voto, mas os soldados que retornavam sim.

Isso significava dois milhões de votos, além dos votos de suas famílias. Sem dúvida, uma celebração vazia, mas grandiosa, seria realizada.

“Ei, Julian, faz tempo, mas parece que podemos voltar para Heinessen.”

Sua voz estava alegre, o que Julian achou um pouco estranho. Heinessen estaria cheia de cerimônias, festas, discursos e todo tipo de coisa que Yang odiava. Mas agora havia um motivo para Yang precisar ir a Heinessen.