Capítulo 2 - A Batalha de Astarte - Parte IV

A Batalha de Astarte – Parte IV

O estoque acumulado de inquietação estava prestes a atingir o ponto de saturação. Uma cabeça de trovão invisível parecia pairar sobre a ponte do Patroklos, o carro-chefe da Segunda Frota da Marinha da Aliança. Quando uma descarga de bolhas cairia dela? Quando as ordens para assumir uma formação de batalha de estágio um foram emitidas, toda a tripulação estava vestindo trajes espaciais. Ainda assim, a inquietação estava atravessando seus trajes, fazendo-os se arrepiar.

“A Quarta e a Sexta Frotas aparentemente foram destruídas.”

“Estamos sozinhos aqui. E, a esta altura, a força do inimigo é maior do que a nossa.”

“Quero informações. O que está acontecendo? Qual é a situação atual?”

Falar fora de hora era proibido, mas se eles não dissessem algo, o desconforto seria insuportável. Isso não estava no plano. Eles não iriam pegar um inimigo com a metade do tamanho deles em um ataque triplo, eliminá-lo e cantar uma canção de vitória…?

De repente, a voz de um operador soou na ponte a partir de seu microfone. “Frota inimiga se aproximando.”

“A partir de uma ou duas horas…” Yang murmurou. Embora ele tenha falado apenas para si mesmo, o seguinte relatório veio como resposta:

“Rumo 0110, elevação menos onze graus, aproximando-se em alta velocidade.”

Yang não reagiu à tensão que então tomou conta da ponte da nave Patroklos em suas garras.

Tudo isso era como ele havia previsto. A Força Imperial havia atingido a Sexta Frota da Aliança em seu flanco de popa a estibordo e atravessou-a para emergir da frente em seu lado de bombordo, traçando uma curva natural enquanto virava sua ponta de lança em direção ao último inimigo restante, a Segunda Frota. Com a Segunda Frota avançando em linha reta, a Frota Imperial deveria aparecer em algum lugar entre uma e duas horas.

“Postos de combate!”, ordenou o Vice-Almirante Paetta, e Yang pensou: “Você é muito lento”.

Esperar que o inimigo venha até você e então revidar era a tática ortodoxa, mas, nesse caso, era impossível ignorar o fato de que os pensamentos de Paetta estavam bloqueados. As medidas que precisavam ser tomadas também precisavam do momento certo para funcionar. Com manobras rápidas, não teria sido impossível atingir a força inimiga por trás e depois coordenar com a Sexta Frota para pegá-la em um movimento de pinça.

Na batalha, era impossível não sacrificar ninguém. No entanto, ao mesmo tempo, o efeito da vitória era reduzido na proporção inversa das perdas crescentes. Foi ao encontrar o ponto que tornava ambas as proposições compatíveis que a tática, como disciplina, encontrou sua razão de ser. Em outras palavras, significava obter o resultado esperado. Em outras palavras, significava obter o máximo efeito com o mínimo de perdas ou, para ser mais frio, encontrar a maneira mais eficiente de matar seus companheiros. Yang ficou em dúvida se seu Comandante entendia isso.

Era tarde demais para fazer qualquer coisa pelos que já haviam sido sacrificados. E, desde o início, isso não era algo que pudesse ser varrido para debaixo do tapete dizendo: “Não foi possível evitar”. A liderança militar deveria estar envergonhada por sua má liderança tática. Mas isso viria mais tarde, depois de tudo o que foi dito e feito – o que eles tinham que pensar agora era em como evitar uma reprodução expansiva de seu erro e como encontrar uma maneira de transformar um desastre em uma bênção.

Se o arrependimento pudesse trazer de volta oficiais e soldados mortos, os líderes deveriam estar derramando lágrimas aos montes. Mas, no final das contas, eles não estariam fazendo nada mais do que brincar com a tristeza, não é mesmo?

“Todos as naves, abram fogo!”

Se essa ordem veio antes ou depois, ninguém sabia dizer. Um flash de luz forte o suficiente para fazer as pessoas pensarem que suas retinas haviam sido fritadas roubou a visão de todos que estavam na ponte.

Com um atraso de meio instante, o corpo de Patroklos foi sacudido por uma explosão de energia e, em seguida, foi jogado e girado em todas as direções.

Ruídos de coisas caindo e objetos colidindo se sobrepuseram a gritos e berros de raiva. Nem mesmo Yang foi capaz de evitar cair. Ele levou um golpe forte nas costas e ficou sem fôlego. Enquanto o comunicador de seu capacete captava uma confusão caótica de ruídos e vozes e um fluxo de ar intenso da área ao redor, Yang endireitou a respiração e cobriu os olhos sem visão com as palmas das mãos – protegendo-os, embora depois do fato.

E quem precisava de uma bronca por causa disso? Deixar de ajustar a capacidade de fotofluxo das telas não era um erro fácil de perdoar. Se esse tipo de coisa continuasse acontecendo, seria uma maravilha se eles não perdessem.

“… aqui é a torre de popa! Ponte, por favor, responda. Aguardando ordens!”

“- Sala de máquinas. Aqui é a sala de máquinas. Ponte, responda, por favor…”

Por fim, Yang abriu os olhos. Uma névoa esmeralda pairava sobre todo o seu campo de visão.

Ele se sentou e notou a pessoa deitada ao seu lado. Um fluido espesso e pegajoso, de tonalidade profunda, cobria tudo, desde sua boca até o peito.

“Comandante”, disse Yang em voz baixa, olhando atentamente para o rosto do Vice-Almirante. Ele colocou as duas pernas com firmeza no chão e se levantou.

Uma fissura agora atravessava uma seção do anteparo e a pressão do ar estava caindo rapidamente. Parecia que algumas pessoas que não estavam com suas botas magnéticas ligadas tinham sido sugadas para fora. A abertura, no entanto, estava sendo rapidamente selada por um agente de ligação vaporizado soprado contra ela pela arma de operações do sistema de autorreparo.

Yang olhou ao redor da ponte. Estava uma bagunça; quase ninguém ainda estava de pé. Depois de confirmar que o comunicador de seu capacete ainda funcionava, Yang começou a dar instruções.

“O Comandante Paetta está ferido. Um cirurgião da marinha e paramédicos poderiam vir à ponte, por favor. Oficiais de operações, descubram o quanto estamos danificados e iniciem os reparos – vocês podem se apresentar mais tarde. Por favor, se apressem. Torres de popa, todos as naves já estão em combate, portanto, não devem precisar de nenhuma instrução específica – cumpram suas tarefas designadas. Sala de máquinas: você disse alguma coisa?”

“Eu estava preocupado com as coisas na ponte, senhor. Não há danos aqui.”

“Bem, graças a Deus por isso.” Havia uma nota de sarcasmo em sua voz.

“A ponte está operacional, como você pode ouvir. Agora quero que se acalme e se concentre em suas tarefas.”

Ele deu outra olhada na ponte.

“Há algum oficial aqui que não esteja ferido?”

Um homem deu um passo à frente com um andar ligeiramente perigoso. “Estou bem, Comodoro.”

“O senhor é, hum…”

“Tenente Comandante Lao, da equipe de oficiais.” O rosto de olhos pequenos e nariz pequeno que aparecia no capacete do traje espacial parecia ter a mesma idade de Yang. Além disso, dois astrogatores e um operador levantaram as mãos e ficaram de pé, mas isso foi tudo.

“Ninguém mais?”

Yang deu um tapa em seu capacete onde estava sua bochecha. A liderança da Segunda Frota havia sido essencialmente eliminada.

Um cirurgião naval chegou correndo com uma equipe de paramédicos. Com rapidez e eficiência, eles examinaram o Vice-Almirante Paetta e disseram a Yang que uma costela quebrada havia perfurado seu pulmão quando seu peito bateu no canto de um painel de controle.

“Ele teve muito azar”, opinou o médico desnecessariamente. Por outro lado, não se podia negar que a sorte de Yang tinha sido boa.

“Comodoro Yang…” O Vice-Almirante Paetta chamou seu jovem oficial de equipe, assaltado por tormentos físicos e mentais. “Você assume o comando da frota…”

“Eu, senhor?”

“Você é o oficial mais graduado que ainda está inteiro. Mostre-me… o que você tem como tático…” O Vice-Almirante parou de falar de repente – ele havia perdido a consciência. O médico da marinha chamou um carro robô que servia de ambulância.

“Ele tem grande consideração por você, não tem?”, disse o Tenente Comandante Lao, impressionado.

“Será? Eu me pergunto.”

Lançamentos todas as segundas, quartas e sextas.

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