Capítulo 3 - A Frota Yang Se Mobiliza - Parte IV

A Frota Yang Se Mobiliza – Parte IV

O Domínio Terrestre de Phezzan.

Um estado comercial e mercantil situado no chamado Corredor de Phezzan, entre o Império Galáctico e a Aliança dos Planetas Livres. Seu mundo natal e suas colônias artificiais abrigavam uma população de dois bilhões de habitantes e sua riqueza era tal que rivalizava com a do império e da aliança.

Naquele momento, o aparato de inteligência de Phezzan estava operando a todo vapor. As informações coletadas passavam pelo secretariado, de onde eram encaminhadas para as mãos do chefe de estado, Landesherr Adrian Rubinsky.

Era por meio desse mecanismo que Rubinsky, “a Raposa Negra de Phezzan”, conseguia se manter a par dos desdobramentos do golpe de estado, no conforto de sua casa.

13 de abril. O dia do golpe.

O Almirante Bucock, Comandante-Chefe da Armada Espacial das Forças Armadas da Aliança, recebeu uma mensagem em seu escritório do Almirante Greenhill, Chefe do Departamento de Investigações de Campo do Comitê de Defesa.

“Unidades de combate terrestre realizarão exercícios de treinamento em grande escala em toda a capital hoje. Os planos para essas manobras foram feitos no início do ano, portanto, pedimos a todos os departamentos que não prestem atenção e realizem suas tarefas normais como se nada estivesse acontecendo. Este treinamento será de grande importância para a situação na fronteira…”

Essa mensagem foi enviada a quase todos os líderes militares e o público também foi notificado por meio de transmissões normais.

Assim, mesmo quando grupos de soldados armados foram avistados em ação nas ruas da cidade, poucos suspeitaram de algo errado. Mesmo quando alguém ficou desconfiado e chamou a polícia militar, todas as dúvidas foram dissipadas com uma única frase: “É apenas um exercício”. Quando uma mensagem chegou em nome do Chefe do Departamento de Investigações de Campo, os oficiais mais profissionais foram os que menos questionaram.

Nem mesmo Bucock deu muita importância ao assunto — é verdade que ele estava extremamente ocupado com a supervisão da armada espacial, que se preparava para entrar em ação na fronteira —, nem jamais lhe ocorreu que alguém pudesse dar um golpe enquanto a força principal da armada espacial ainda estava na capital.

Ao meio-dia, porém, o velho almirante foi levado à força para se encontrar com os principais conspiradores do golpe.

Eram o Almirante Dwight Greenhill, Diretor do Departamento de Investigações de Campo, e o Vice-Almirante Bronze, Diretor do Departamento de Inteligência. O velho almirante ficou perplexo ao ver oficiais de tão alto escalão participando.

“Entendo”, resmungou Bucock. “Então, devo entender que o Departamento de Inteligência e o Departamento de Investigações de Campo estão corrompidos há algum tempo?”

As funções do Departamento de Investigações de Campo — no âmbito doméstico — abrangiam a gestão e operação de atividades não bélicas, como treinamento, operações de resgate e migração de tropas e instalações, portanto, se seu diretor fosse um dos conspiradores, seria muito fácil colocar as unidades necessárias em posição.

De algum lugar entre os vários homens que o cercavam, emanava um cheiro forte de álcool velho.

“Hum, eu me lembro desse cheiro.” O Comandante-Chefe de cabelos brancos lançou um olhar amargo para a fonte do odor. “Contra-Almirante Lynch, capturado pelo império em El Facil há alguns anos.”

“Fico honrado por você se lembrar”, respondeu Lynch com uma risada arrastada.

“Por mais que eu gostasse de esquecer, isso não é possível. Afinal, você abandonou seu dever de proteger civis… abandonou sua responsabilidade para com os soldados sob seu comando… e tentou fugir para se salvar… Oh, você é uma celebridade.”

Lynch não parecia magoado. Ele aceitou aquelas palavras mordazes com um sorriso irônico e, em seguida, com um floreio, tirou uma pequena garrafa de uísque, destampou-a e tomou um gole. Os oficiais ao seu redor — verdadeiros ascetas — franziram a testa para ele. Era evidente que os compatriotas de Lynch o desprezavam e Bucock não conseguia explicar o que um homem como ele estava fazendo em suas fileiras. Ele voltou os olhos para Greenhill.

“Vossa Excelência eu o considerava um bastião da razão e da consciência, mesmo dentro das forças armadas.”

“Sinto-me honrado.”

“Mas parece que eu o superestimei. Tudo o que consigo pensar agora é que sua razão e sua consciência devem estar adormecidas para você participar de algo assim.”

“Pensei muito sobre isso. Tente pensar da seguinte maneira, almirante. Quão corrupta está nossa política atualmente? Quão sufocada está nossa sociedade? Temos uma mobocracia ¹ novamente correndo solta, escondida atrás de uma palavrinha bonita como democracia e não vejo a menor esperança de que ela possa se reformar. Que outro caminho existe para trazer disciplina e reforma?” 

“Então é isso. Certamente, o sistema atual é corrupto e chegou a um beco sem saída. Então, o que você quer dizer é: ‘Portanto, vou derrubá-lo com força armada’. Estou perguntando apenas para ver o que você dirá, mas o que acontecerá quando você se tornar corrupto, especialmente considerando que você tem todo o armamento? Quem vai disciplinar você e como?”

O tom de Bucock era severo, e seu oponente hesitou claramente.

“Não vamos nos tornar corruptos”, disse outra voz com convicção. “Temos ideais. Ao contrário deles, sabemos o que é a vergonha. Somos incapazes de fazer o que a classe política atual faz. Eles engordam suas barrigas em nome de palavras bonitas como democracia, bajulando o eleitorado para ganhar poder, fazendo acordos confortáveis com capitalistas — negligenciando, ao mesmo tempo, nossa sagrada missão de derrubar o Império Galáctico. Estamos apenas fazendo o que nossa paixão pela restauração de nossa nação exige. Nós nos levantamos com relutância, porque não tínhamos outra escolha. A corrupção surge da busca do interesse próprio — nós nunca seremos corruptos.”

“Eu me pergunto”, disse Bucock. “Parece-me que você está justificando uma tomada ilegal do poder com palavras bonitas como restauração, missão sagrada, paixão e assim por diante.”

A língua afiada do velho almirante feriu profundamente o orgulho dos oficiais, provocando-lhes uma dor aguda. Vozes se ergueram em raiva.

“Almirante Bucock, queremos ser o mais cavalheiros possível, mas, pela minha parte, não posso deixar de pensar que suas últimas palavras foram um pouco longe demais.”

“Cavalheiros?” O riso de Bucock ecoou pela sala, cheio de sarcasmo.

“Desde os dias em que os seres humanos rastejavam de quatro até esta tarde, as pessoas que quebram as regras usando violência nunca foram chamadas de cavalheiros. Se é assim que vocês querem ser chamados, porém, agora vocês têm o poder, então, enquanto ainda o têm, recomendo que peçam a alguém para escrever um novo dicionário para vocês.”

A fúria crescia entre os oficiais como uma miragem de calor. Com um olhar, Greenhill controlou sua ignição.

“Poderíamos conversar o dia todo, mas não acho que chegaremos a um consenso. Só pedimos que a história julgue as decisões que tomamos.”

“A história pode não ter nada a dizer a você, Almirante Greenhill.”

Com isso, Dwight Greenhill, presidente do Congresso Militar para o Resgate da República, desviou o olhar.

“Leve-o para outra sala. Não podemos faltar com a cortesia.”

Os pontos estratégicos de Heinessen estavam sob o controle das unidades rebeldes. O Quartel-General Operacional Conjunto, o Quartel-General de Ciência e Tecnologia e o Centro de Comando e Controle de Defesa Espacial, bem como o Edifício do Alto Conselho e o Centro de Comunicações Interestelares, caíram nas mãos das unidades rebeldes sem quase nenhum derramamento de sangue. 

Até mesmo o Almirante Dawson, Diretor interino do Quartel-General Operacional Conjunto, havia sido confinado. No entanto, o alvo final do ataque — o presidente do Conselho Superior, Job Trünicht — não estava em seu escritório. Acredita-se que ele tenha escapado por uma passagem secreta para uso em emergências e desaparecido no subsolo…

1. Anteriormente eu traduzi como sociedade de massas, mas vi que a palavra mobocracia também existe, para quem não se lembra do significado é quando grupos de interesse dominam o aparelho burocrático do estado e passam a dirigi-lo de acordo com seus interesses pervertendo assim a democracia, o estado passa a funcionar se curvando totalmente aos interesses desse grupo ignorando a lei e a vontade popular expressa por meio do voto. Muito parecido com o que vem ocorrendo no Brasil recentemente.[↩]