Capítulo 3 - O Brilho Desvanecente do Império - Parte IV

O Brilho Desvanecente do Império – Parte IV

Um Marechal Imperial não era apenas um posto acima do Almirante Sênior, nem o posto vinha apenas com uma pensão vitalícia de 2,5 milhões de marcos imperiais por ano. Um Marechal Imperial também não era punido pela lei criminal por qualquer ofensa, exceto alta traição, e podia estabelecer uma admiralität (almirantado), ou departamento, no qual era livre para contratar ou demitir funcionários à vontade.

No momento, havia apenas quatro Marechais Imperiais que desfrutavam desses privilégios, embora esta noite eles se tornassem cinco quando o Conde Reinhard von Lohengramm fosse adicionado ao seu número. Além disso, circulava a notícia de que o Conde von Lohengramm também seria nomeado Vice-Comandante-Chefe da Armada Espacial Imperial, colocando metade de suas dezoito frotas sob seu comando.

“Em seguida, ele será nomeado membro da nobreza. De Conde a Marquês”, alguns sussurravam assim entre si nos recônditos da vasta Sala Pérola Negra.

Junto com o fogo, a grande amiga da humanidade ao longo dos tempos foi a fofoca. Aqueles que adoravam essa amiga existiam em todas as épocas e em todas as circunstâncias, não parando nem no palácio luxuoso nem no gueto caseiro.

Posicionados próximos ao trono do Imperador, aqueles que ocupavam os cargos mais altos do Império permaneciam imóveis – aristocratas de alto nível, oficiais civis e militares de alto escalão e aqueles com vários títulos. Separados por um tapete vermelho de seis metros de largura – duzentos artesãos o haviam tecido ao longo de 450 anos – eles formaram duas fileiras. De um lado, havia uma fileira de oficiais civis, com o Marquês Lichtenlade ocupando a posição mais alta.

O Marquês Lichtenlade, Ministro de Estado do Governo Imperial, estava presidindo as reuniões do gabinete como Primeiro-Ministro Imperial interino. Ele era um homem idoso de setenta e cinco anos, com nariz pontudo e cabelos prateados como neve recém-caída, com um brilho nos olhos mais severo do que penetrante.

A sua frente estavam o Ministro das Finanças Gerlach, o Ministro do Interior Flegel, o Ministro da Justiça Lump, o Ministro da Ciência Wilhelmj, o Ministro do Interior do Palácio Neuköln, o Secretário-Chefe do Gabinete Kielmansek – eles e outros como eles estavam sentados em fileiras.

No lado oposto, havia fileiras de oficiais militares: Marechal Imperial Ehrenberg, que era Ministro de Assuntos Militares; Marechal Imperial Steinhof, Secretário-Geral do Quartel-General do Comando Militar Imperial; Marechal Imperial Krasen, Comissário do Estado-Maior; Marechal Imperial Mückenberger, Comandante-Chefe da Armada Espacial Imperial; Almirante Ofresser, Comissário do Corpo de Granadeiros Blindados; Almirante Ramusdorf, Comissário da Guarda Imperial; Almirante Klammer, Comissário da Polícia Militar; os Oficiais Comandantes das dezoito frotas…

Ao som claro e retumbante de uma trombeta antiga, toda a assembleia começou a se endireitar. Houve um farfalhar como o de folhas ao vento e depois se acalmou. A voz do coordenador de cerimônias fez ressoar os tímpanos dos participantes, anunciando a entrada do Mais Honrado. “Governante de toda a humanidade, soberano de todo o universo, defensor da ordem e das leis que governam o Reino Celestial, Kaiser do sagrado e inviolável Império Galáctico, Sua Alteza, Friedrich IV!”

A melodia solene do hino nacional do Império se elevou após sua última palavra. Todos os presentes inclinaram profundamente a cabeça, como se algo estivesse pressionando seus pescoços.

Talvez alguns deles estivessem contando em voz baixa. Quando levantaram lentamente a cabeça, o Imperador estava sentado em sua luxuosa poltrona dourada.

Friedrich IV, trigésimo sexto Imperador do Império Galáctico. Aos sessenta e três anos, ele era um homem que dava a impressão de estar estranhamente desgastado. Embora não fosse muito idoso, havia algo nele que fazia com que as pessoas quisessem chamá-lo de “velho”. Ele quase não tinha interesse nos assuntos de Estado. Tampouco parecia ter a capacidade ou a vontade de usar ativamente o poder absoluto que possuía. Imperador Friedrich IV: um homem fraco que ostentava o brilho crepuscular de seu poderoso ancestral Rudolf, seu oposto polar.

O Imperador havia perdido sua Imperatriz dez anos antes. Não foi uma doença intratável – apenas um resfriado que piorou e se transformou em pneumonia. O câncer havia sido vencido na longínqua antiguidade, mas tirar o resfriado comum da lista de doenças, como um historiador da Aliança tão maliciosamente disse, era impossível “mesmo para a glória e o poder de Rudolf, o Grande”.

Desde então, o Imperador concedeu a uma de suas amantes o título de condessa – ou Gräfin-Grünewald -, tornando-a sua esposa de fato, embora tenha se abstido de torná-la Imperatriz. Porém, como essa amante não era de alta estirpe, ela se absteve de comparecer a funções oficiais do Estado e, como de costume, não mostrou seu belo rosto diante da corte naquela noite. O verdadeiro nome da Condessa von Grünewald era Annerose.

Com uma voz sonora, o coordenador de cerimônias chamou o homem do momento para se apresentar. “Lorde Reinhard, Conde von Lohengramm!”

Dessa vez, não houve necessidade de fazer uma reverência profunda, de modo que todos os presentes voltaram os olhos para o jovem oficial militar que atravessava o tapete em direção a eles.

Houve suspiros de admiração entre as nobres damas. Mesmo aqueles que tinham hostilidade contra Reinhard – ou seja, a maior parte dos participantes – não puderam deixar de reconhecer sua incomparável boa aparência.

Seu rosto era como o de uma boneca feita com a mais fina porcelana baici, embora seus olhos fossem penetrantes demais para os de uma boneca, sua expressão intensa e forte demais. Se não fosse a indulgência do Imperador com a irmã mais velha de Reinhard, Annerose, e a expressão que Reinhard usava naquele momento, a fofoca de sodomia do súdito soberano provavelmente teria sido inevitável.

Com um passo rápido, próprio de um oficial do exército, Reinhard passou pelo emaranhado de emoções variadas dos espectadores, chegando finalmente diante do trono, onde, com uma reverência que não se sentia em lugar algum de seu coração, ele se ajoelhou.

Nessa postura, ele esperou ser agraciado pelas palavras de seu soberano. Em funções oficiais, os súditos não tinham permissão para se dirigir ao imperador.

“Conde von Lohengramm, suas recentes façanhas militares foram realmente esplêndidas”, disse o Imperador, falando com uma voz desprovida de originalidade ou caráter.

“Se me permite a ousadia, isso foi feito totalmente pela graça da autoridade de Vossa Majestade.”

A resposta de Reinhard também não teve originalidade, mas isso se deveu ao cálculo e à autocontenção. Mesmo que ele dissesse algo inteligente, não estava falando com alguém capaz de entender a esperteza, e fazer isso só alimentaria as hostilidades dos presentes. Para Reinhard, aquele pedaço de papel que o Imperador pegou do condutor de cerimônias e começou a ler em voz alta era muito mais importante.

“Em reconhecimento ao seu sucesso na subjugação das forças rebeldes no sistema estelar Astarte, eu o nomeio, Conde Reinhard von Lohengramm, para o cargo de Marechal Imperial. Além disso, eu o nomeio Vice-Comandante da Armada Espacial Imperial e coloco metade de suas embarcações sob seu comando. 19 de março, Ano 487 do Calendário Imperial, Friedrich IV, Imperador do Império Galáctico”.

Reinhard se levantou, subiu os degraus e, fazendo uma profunda reverência, recebeu sua carta de nomeação. Ao mesmo tempo, o cetro de um Marechal Imperial lhe foi entregue. Naquele instante, o Conde Reinhard von Lohengramm tornou-se um Marechal Imperial.

Mesmo quando um sorriso brilhante surgiu em seu rosto, Reinhard não sentiu nenhuma satisfação interior. Esse não era nada mais do que o primeiro passo no longo caminho que ele tinha de percorrer – o caminho para tomar o lugar daquele tolo desastrado que havia usado seu poder para roubar sua irmã.

“Hmph. Um Marechal Imperial de vinte anos?”

Esse murmúrio baixo veio do Almirante Sênior Ofresser, Comissário do Corpo de Granadeiros Blindados. Ele era um homem grande e bem constituído, com cerca de quarenta anos; uma cicatriz esculpida em sua maçã do rosto esquerda por um laser de um soldado da Aliança era de um roxo vívido. Deliberadamente deixada parcialmente sem cicatrização, ela anunciava ao mundo que ele era um general feroz e experiente em batalhas.

“Desde quando a gloriosa Armada Espacial Imperial foi reduzida a um brinquedo de criança, Excelência?”

O homem a quem ele sussurrou de forma tão provocante era aquele que acabara de ter metade dos homens sob seu comando roubados de si por Reinhard.

O Marechal Imperial Mückenberger, Comandante em Chefe da Armada Espacial Imperial, arqueou levemente uma sobrancelha grisalha.

“É o que você diz, senhor, mas não se pode negar que o pirralho dourado é um tático talentoso. É fato que ele destruiu as forças rebeldes apesar de estar em menor número e seus talentos até mesmo silenciaram veteranos de batalha como Merkatz.”

“De fato, o homem parece ter tido suas presas arrancadas.” Lançando um olhar para o Almirante Merkatz, que permanecia em silêncio em meio a uma fileira de oficiais militares, Offresser fez uma crítica impiedosa. “Embora seja verdade que o pirralho os derrotou, uma vitória por si só pode ser apenas um acaso. Se você me perguntar, tudo o que posso pensar é que o inimigo simplesmente não sabia o que estava fazendo. A vitória e a derrota são relativas, afinal de contas.”

“Você está falando muito alto.”

Embora tenha falado de forma reprovadora, o Marechal Imperial não negou o conteúdo do que o Almirante Sênior havia dito. A conquista de Reinhard não era algo fácil de ser aceito por nobres de alta nobreza e Almirantes da velha guarda.

No entanto, sendo a hora e o lugar o que eram, o Marechal Imperial aparentemente sentiu a necessidade de mudar de assunto. “A propósito, sobre esse inimigo em particular, você já ouviu falar de um Comandante chamado Yang?”

“Deixe-me pensar… não me lembro de ninguém com esse nome. O que há com ele?”

“Na batalha recente, ele foi o homem que impediu a força rebelde de se desintegrar completamente e causou a morte do Contra-Almirante Erlach.”

“Ah?”

“Ele parece ter bastante aptidão para o trabalho de um general. Tenho informações de que até mesmo o nosso filhote de cabelos loiros teve seu nariz afinado por ele.”

“E você não está feliz em ouvir isso?”

“Eu estaria se isso fosse apenas sobre Reinhard. Mas você acha que eles escolhem contra quem lutar quando vão para a batalha?”

Como era de se esperar, havia uma nota de repulsa na voz do Marechal Imperial, ao que Ofresser encolheu desajeitadamente os ombros grossos.

Na Sala Pérola Negra, a música estava começando a tocar novamente. Era “Thy Courage Doth Walküren Adore”, uma peça composta em louvor aos oficiais militares que deram tudo de si a serviço do rei e do país.

A cortina estava começando a cair sobre o que, para os nobres, havia sido uma cerimônia muito desagradável.

Lançamentos todas as segundas, quartas e sextas!