Capítulo 4 - Banho de Sangue no Espaço - Parte VI - Combo de Aniversário (07/50)

Banho de Sangue no Espaço – Parte VI

Embora Ofresser não tivesse grandes esperanças de receber uma recepção heroica e aplausos de admiração, as circunstâncias que o receberam ao chegar à base militar confederada de Gaiesburg estavam, no entanto, fora de suas expectativas.

Quando enviou a transmissão informando seu retorno seguro, o oficial de comunicações reagiu com choque total e, quando a nave pousou, foi imediatamente cercada — não por mulheres bonitas carregando buquês de flores, mas por soldados fortemente armados.

“E você seria o Almirante Sênior Ofresser, que lutou tão bravamente em Rentenberg?” O homem que falava com esse tom afetado era o Comodoro Ansbach, arquiteto do plano de fuga de Odin e considerado o braço direito do Duque von Braunschweig.

“Não dá para perceber olhando?”, disse Ofresser, irritado.

“Só estou me certificando. Nosso líder aguarda, então, por favor, venha por aqui.”

De lá, o herói de Rentenberg foi conduzido a um auditório amplo e espaçoso. Fileiras de oficiais e soldados que estavam sentados lá voltaram seus olhares para ele, mas não havia calor algum em nenhum dos seus olhos.

No topo da escadaria que levava ao palco havia uma cadeira lindamente trabalhada, na qual o Duque von Braunschweig estava sentado. Ele tinha uma postura altiva, embora houvesse também algo de estranho nela, como se fosse algum tipo de imperador em treinamento.

“É bom ver que você voltou vivo e bem, Ofresser.” O tom era claramente reservado para interrogatórios. “Todos os seus subordinados, até o último homem, foram executados publicamente. Então, por que você voltou aqui sozinho, vivo?”

“Executados?”

Ofresser ficou de boca aberta. Sua mandíbula estava cheia de dentes falsos; assim como a cicatriz em sua bochecha, eles eram prova de um lutador que havia sobrevivido ao purgatório do combate corpo-a-corpo. Gritos furiosos misturados com sarcasmo zombeteiro atingiram o rosto do Almirante Sênior, que ficou pasmo, de boca aberta.

“Seu idiota! Dê uma olhada nisso!”

Imagens de vídeo começaram a ser exibidas em uma tela na parede. Ofresser soltou um grunhido baixo. Rostos familiares estavam alinhados em uma fileira. Era a cena de sua execução pública pelas forças de Reinhard na Fortaleza de Rentenberg. Emoções avassaladoras de terror e derrota eram visíveis naqueles rostos — rostos que, um por um, se tornaram buracos vazios no instante em que os raios laser perfuraram seus cérebros.

“E aí, Ofresser? Você não tem nada a dizer em sua defesa?”

Mas Ofresser continuava sem palavras.

“Acho que você voltou vivo para nós porque nos traiu e vendeu sua consciência para aquele pirralho mimado. Seu cão sem vergonha! O que você prometeu a ele? Trazer minha cabeça?”

No rosto severo de Ofresser, uma expressão de fúria e compreensão se espalhou repentinamente e ele abriu a boca mais uma vez.

“Uma armadilha! Isso é uma armadilha! Seus idiotas! Não conseguem ver?”

Era menos um grito do que um rugido. Os oficiais e soldados que formavam uma parede humana ao seu redor saltaram para trás como se pressionados por alguma energia invisível. Várias mãos alcançaram reflexivamente os blasters em seus cintos.

“Atirem nele!”, gritou von Braunschweig. “Matem-no!”

Aquela ordem provocou caos em vez de calma. Embora as armas tenham sido rapidamente sacadas, todos sabiam do perigo de atirar no meio de uma multidão.

O clarão de um punho monstruoso atingiu um dos soldados no queixo. Com um som grotesco, sua mandíbula se quebrou e o soldado voou pelos ares.

O gigante enfurecido gritou as palavras “Isso é uma armadilha!” repetidamente enquanto avançava em direção ao Duque von Braunschweig, que estava sentado no topo da escada. Mesmo que sua intenção fosse apenas fazer o homem ouvir, certamente não parecia assim para os outros. As ordens do Comodoro Ansbach ecoaram e algumas dezenas de soldados se moveram para ficar entre o Duque e Ofresser. Bloqueando seu caminho, eles apontaram os canos de seus rifles laser para o gigante desarmado. Foi uma surra literal. A pele se rasgou, sangue espirrou e o som de novas fraturas por compressão ecoou. Um homem normal teria desmoronado ou possivelmente morrido no local. Mas a investida de Ofresser nem sequer diminuiu. Derrubados, gritando de dor, os soldados caíram pelas escadas em uma avalanche. Cuspir saliva misturada com sangue no chão, o Comodoro Ansbach se levantou. Ele tinha sido um dos derrubados. Alisando o cabelo despenteado com uma mão, ele sacou sua arma com a outra.

O Comodoro se aproximou de Ofresser, estabilizando a respiração, embora não houvesse instabilidade em seus passos. O Almirante Sênior, transformado em um colosso coberto de sangue, fixou o olhar sombrio em seu novo inimigo e, então, com um grunhido, estendeu os braços grossos e maciços em sua direção. Com um leve passo para trás, o Comodoro se esquivou e rapidamente pressionou o cano de sua arma contra a orelha do oponente. Ele puxou o gatilho.

Acompanhado por um clarão, sangue jorrou da orelha do outro lado da cabeça de Ofresser.

Convulsões ondulantes percorreram o corpo enorme de Ofresser. 

Quando cessaram, aquela enorme massa de músculos sem vida ficou imóvel por alguns segundos, como se fosse sustentada pelas mãos de algum deus invisível, mas finalmente caiu para a frente, sobre a escada. Quando sua testa bateu no canto de um degrau, um som oco ressoou, o acorde final de um capricho macabro. Enquanto cercavam o corpo, ninguém disse uma palavra por um tempo.

“Aquele traidor!”

Por fim, o Duque von Braunschweig começou a lançar insultos em voz alta, embora um fino véu de terror ainda se agarrara ao seu rosto.

“Ele se entregou no final — como aquele cão raivoso ousou tentar me machucar…”

O Comodoro Ansbach limpou a garganta. “Você diz isso, mas ele realmente pretendia nos trair?”

“É um pouco tarde para perguntar isso. Se é isso que você pensa, por que atirou nele?”

Ansbach balançou a cabeça, bagunçando novamente o cabelo recém-arrumado.

“Foi para proteger a vida de Vossa Excelência, o Duque. Ainda assim, é possível, não é, que ele tenha enlouquecido com o choque de se ver sob suspeita e porque percebeu — como ele mesmo disse — que havia caído em uma armadilha.”

“Possivelmente. Mas e daí se ele fez isso? Ele está morto agora e nunca mais vai empunhar um tomahawk. Mesmo que ele tenha feito isso porque nos traiu, mesmo que estivesse tentando me prejudicar, fazer distinções neste momento não tem sentido.”

“Entendo. Nesse caso, como você deseja explicar este incidente? Quero dizer, estamos falando da causa da morte do Almirante Sênior Ofresser…”

Uma série de tumultos teria sido altamente vergonhosa para a ordem e a disciplina dos nobres militares confederados, então Ansbach, pensando em voz alta, perguntou indiretamente se não seria melhor amenizar as coisas com uma história de que ele havia morrido de doença.

O Duque von Braunschweig levantou-se da cadeira. O descontentamento era evidente em seu rosto e em seus movimentos. Seus nervos sempre tiveram pouca elasticidade e agora pareciam prestes a se romper a qualquer momento.

“Mesmo que ‘suavizássemos as coisas’, isso não significa que poderíamos esconder isso. Ofresser foi executado pelo crime de trair seus companheiros. Transmita isso a todas as forças.”

O líder partiu, cada passo seu parecendo um chute no chão, quando ele se foi, Ansbach deu de ombros e ordenou que os soldados levassem o corpo daquele gigante que em vida fora elogiado por sua ousadia e temido por sua brutalidade. 

Os olhos vazios do morto pareciam olhar para Ansbach. Com voz cansada, ele murmurou: “Não me olhe com esse ressentimento… Eu também não sei o que vai acontecer amanhã. Pode muito bem ser que você agradeça em Valhalla por ter morrido antes do fim do dia.”

O Comodoro estremeceu. Ele próprio tinha ouvido um tom estranhamente profético nessas palavras.

As consequências desse incidente foram enormes. Ofresser deveria estar na frente de todos em desprezo por Reinhard. Se até ele se tornara traidor, quem entre eles poderia ser tão fiel e inabalável até o fim? Enquanto os nobres trocavam olhares desconfiados entre si, alguns deles começaram até a perder a fé em si mesmos…

Com a notícia da morte horrível de Ofresser, o humor de Reinhard melhorou um pouco. Era uma recompensa justa para um homem que havia insultado não apenas a ele, mas também a sua irmã.

Reinhard nomeou o Vice-Almirante Dickel comandante da Fortaleza de Rentenberg, transformou-a em base para as suas próprias forças e mais uma vez começou a planejar as operações para avançar e atacar Gaiesburg.

Apenas um efeito colateral permaneceu entre as forças de Reinhard. Os Almirantes von Reuentahl e Mittermeier lembravam-se da montanha de cadáveres no Corredor Seis sempre que viam fricassê e, por algum tempo depois, sentiam náuseas quando o prato era servido.