Capítulo 5 - A Batalha da Região Estelar de Dória - Parte VI - Combo de Aniversário (13/50)
A Batalha da Região Estelar de Dória – Parte VI
Bagdash, que havia sido sedado com um agente soporífero, finalmente abriu os olhos. Quando informado da situação, ele ficou sentado atordoado por um tempo e então, inexplicavelmente, solicitou uma reunião com Yang.
Isso aconteceu justamente quando Yang estava terminando relutantemente seu suco de vegetais após o jantar. Ao contrário do chá escuro, ele não podia colocar conhaque no suco de vegetais.
Bagdash, que apareceu naquele momento acompanhado por von Schönkopf, admitiu claramente que o objetivo final de sua missão era assassinar Yang. Ele continuou dizendo: “E a razão pela qual participei do golpe foi porque achei que havia uma chance de dar certo. Não posso ficar aqui e dizer que foi apenas um terrível mal-entendido. Suas estratégias inteligentes superaram todas as nossas previsões, então não há nada a ser feito agora.”
Sem dizer nada, Yang olhou para o fundo do copo de papel.
“Honestamente, se você não estivesse lá, tudo teria funcionado perfeitamente. Você realmente se intrometeu.”
Vendo-o despejar sua sincera decepção e frustração, Yang não pôde deixar de esboçar um sorriso irônico no rosto.
“Então, você pediu esta reunião para poder registrar reclamações sobre mim… para mim?”
“Não é isso.”
“Bem, então o que é?”
“Eu quero mudar. Quero trabalhar para você.”
Yang girou o copo de papel vazio na mão. “Será que você é realmente capaz de jogar fora sua ideologia e convicção e mudar tão facilmente?”, disse ele.
“Ideologia? Convicção?”, disse Bagdash com desprezo descarado. “Isso são apenas expedientes para sobreviver. Se eles atrapalham minha sobrevivência, então vão para o lixo.”
Foi assim que Bagdash passou a ser tratado como alguém que havia voluntariamente deposto as armas e se rendido, e foi confinado em um quarto em uma cabine a bordo da Hyperion. Ele tinha uma atitude insolente, no entanto, e reclamava que não havia vinho nas refeições. Ele também exigia que os soldados que lhe traziam as refeições fossem mulheres — e extraordinariamente bonitas, ainda por cima.
O oficial encarregado de guardá-lo ficou irritado e reclamou com Yang sobre sua atitude, mas o jovem comandante de cabelos escuros não disse a palavra “Inexcusável!”. “Bem, por que não?”, disse ele. “Não tenho certeza sobre a questão das mulheres soldados, mas não me importo se você pelo menos lhe der vinho.”
A gentileza para com homens descarados e insolentes parecia, de alguma forma, um ponto em comum entre Reinhard e Yang.
Dois ou três dias se passaram e Bagdash apareceu diante de Yang mais uma vez. Yang estava em sua sala particular, atolado em trabalho burocrático, lidando com as consequências da batalha, planejando a próxima operação, reorganizando unidades e assim por diante.
“Para ser sincero”, disse Bagdash, “estou cansado de ficar sem nada para fazer. Comecei a querer trabalhar. Você acha que poderia me dar alguma tarefa?”
“Não se preocupe com isso. Em breve encontrarei um bom uso para você.”
Yang tirou uma arma da gaveta da mesa.
“Minha arma. Vou emprestar para você. Não adianta nada eu carregá-la.”
A reputação de Yang como um atirador ruim era bem conhecida.
“Eu, hum, agradeço…”, murmurou Bagdash enquanto pegava a arma, verificava se havia uma cápsula de energia carregada e encarava Yang, cujos olhos estavam voltados para a papelada. Silenciosamente, ele virou o cano na direção dele.
“Almirante Yang!”
Yang olhou para cima ao ouvir sua voz, mas, embora visse o cano apontado para si mesmo, sua expressão não mudou muito, e ele apenas voltou a olhar para a papelada.
“Não conte a ninguém que eu te emprestei essa arma, oficial. Murai e os outros gostam de reclamar. Se você entender isso de antemão, tudo ficará bem. De qualquer forma, assim que sua situação for decidida, você receberá uma arma oficialmente.”
Bagdash deu uma risadinha e colocou a arma no bolso interno do paletó, posicionando-a de forma que não fosse perceptível. Saudando Yang, ele se virou de volta para a porta. E então, seu rosto congelou pela primeira vez.
O olhar penetrante de Julian Mintz atravessava o rosto de Bagdash como uma flecha. Ele tinha uma arma na mão, apontada com precisão para o coração de Bagdash. Bagdash limpou a garganta ruidosamente e mostrou as duas mãos para Julian, acenando-as. “Ei, ei. Não me olhe assim. Eu entendo se você estava observando. Foi uma piada. Eu jamais atiraria no Almirante Yang. Eu devo muito a ele.”
“Você pode dizer que não falou sério, nem por um instante?”
“O quê?”
“Se você matasse o Almirante Yang, seu nome entraria para a história — mesmo que não fosse de uma maneira boa. Você pode me dizer honestamente que a tentação não passou pela sua cabeça?”
“Espere um minuto…” Bagdash disse em voz baixa.
Não havia abertura na postura de Julian e incapaz de mover um dedo sequer, Bagdash ficou parado ali.
“Almirante Yang, por favor, diga alguma coisa”, disse Julian, finalmente pedindo ajuda.
Mas antes que Yang pudesse responder, Julian gritou: “Almirante, eu não confio neste homem. Mesmo que ele jure lealdade agora, não há como saber o que ele fará no futuro.”
Yang jogou seus documentos de lado, colocou as duas pernas sobre a mesa e cruzou os braços.
“O perigo futuro não é motivo para matar alguém no presente, Julian.”
“Eu sei disso. Mas tenho um bom motivo.”
“Qual?”
“Enquanto ainda era prisioneiro, ele pegou uma arma pertencente ao Almirante Yang Wen-li e tentou assassiná-lo com ela. Isso merece a morte.”
Enquanto Bagdash encarava a expressão implacável de Julian, gotas de suor brotaram em seu rosto. O argumento de Julian convenceria quase qualquer pessoa. Ele percebeu então que havia sido colocado em uma posição insustentável que nem mesmo poderia imaginar.
Yang riu.
“Tudo bem. Certamente você pode deixar uma coisinha dessas passar. Bagdash já ficou com medo por tempo suficiente. Você não sente pena dele? O preguiçoso está suando, não está?”
“Mas, Almirante…”
“Tudo bem, Julian. Comandante, isso é tudo. Você pode ir agora.”
Julian abaixou a arma, mas os olhos fixos em Bagdash não estavam menos severos e penetrantes. O comandante respirou fundo.
“Bem, bem, você é mais assustador do que parece, garoto”, disse Bagdash ao sair.
“Não vou esquecer que seus olhos estão em mim.”
Julian se virou para seu tutor legal, insatisfeito. “Almirante, se você tivesse dado a ordem, eu não teria deixado aquele homem sair daqui.”
“Tudo bem. Bagdash é um homem que sabe fazer contas. Enquanto eu continuar vencendo, ele não vai nos trair. Por enquanto, isso é o suficiente. E além disso…”
Yang baixou as pernas, que estavam apoiadas na mesa.
“Na medida do possível, não quero forçá-lo a matar pessoas.”
Yang sabia que estava sendo egoísta. Afinal, ele estava forçando os filhos de outras famílias a matar. Mas, ainda assim, era isso que Yang sentia sinceramente.
Já era julho quando a notícia do Massacre do Estádio em Heinessen escapou da rede de controle de transmissão e chegou até Yang. Quando Yang soube da morte de Jéssica Edwards, ele não disse uma palavra sobre o assunto. Colocou os óculos escuros e escondeu os olhos, e não os tirou nem uma vez durante todo o dia. No dia seguinte, sua aparência e postura estavam normais.
Yang, tendo garantido a segurança do seu entorno, voltou sua atenção para Heinessen, o quarto planeta do sistema Baalat. Era o final de julho quando ele começou a mover a frota, e estava claro que essa mobilização resolveria de uma forma ou de outra a questão da rebelião. Ninguém na frota conseguia esconder sua ansiedade, exceto o próprio Yang.
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