Índice de Capítulo

    Ataque a Iserlohn – Parte IV


    Havia dois almirantes titulares do exército imperial em Iserlohn. Um era o comandante da fortaleza, Almirante Thomas von Stockhausen, e o outro era o comandante da Frota de Iserlohn, Almirante Sênior Hans Dietrich von Seeckt. Ambos tinham cinquenta anos de idade e, embora a altura também fosse uma característica que ambos compartilhavam, a cintura de von Stockhausen era um tamanho mais estreita que a de von Seeckt.

    Eles não estavam em bons termos, mas isso tinha menos a ver com responsabilidade individual que com tradição. Eles eram dois oficiais comandantes de mesmo rank no mesmo local de trabalho. Era um milagre eles não baterem os cornos ((Se enfrentarem) um com o outro.

    Conflitos emocionais naturalmente se estendiam até mesmo às suas tropas sob seus comandos. Do ponto de vista da guarnição da fortaleza, a frota era um hóspede desagradável que lutaria do lado de fora, então viria correndo de volta quando as coisas se tornassem perigosas, procurando por um lugar seguro para se esconder – um filho pródigo, era o que eram. E se você perguntasse à tripulação, eles diriam que as tropas da guarnição eram um bando de toupeiras do espaço, escondidas em um bunker e se divertindo em jogos de guerra com o inimigo.

    Duas coisas mal formam uma ponte no abismo que há entre ambos: seu orgulho como guerreiros “suportando a impenetrável fortaleza de Iserlohn” e seu entusiasmo pela batalha com o “exército rebelde”. De fato, quando o ataque inimigo vem, eles competem pelo sucesso inarredável, mesmo que eles desprezem e amaldiçoem um ao outro. Isso resulta em conquistas militares de enorme sucesso.  

    Sempre que as autoridades militares propõem a combinação dos oficiais da fortaleza e do comando da frota para unificar a cadeia de comando, a ideia é rechaçada. Isso devido ao fato do decaimento no número de posições de nível de comando se apresentar como um problema para os oficiais de alta patente e também porque não há exemplo pretérito de conflitos levando a resultados fatais.

    Era 14 de Maio no calendário normal. Os dois comandantes, von Stockhausen e von Seeckt estavam na sala de conferência. Originalmente, ela fazia parte do salão de oficiais de alta patente, mas estava a uma distância equidistante dos escritórios dos dois oficiais comandantes, então ela foi remodelada e transformada em um salão de encontros inteiramente à prova de som. Essa medida foi tomada, pois nenhum dos dois estava disposto a ir no escritório do outro e desde que ambos estavam na mesma fortaleza, eles não poderiam contar apenas com comunicações televisionadas.

    Nos últimos dois dias, comunicações nas vizinhanças da fortaleza foram reunidas. Não havia espaço para dúvidas que a força rebelde estava se aproximando. No entanto, não havia nada como um ataque ainda. Os dois comandantes estavam se encontrando para discutir o que fazer sobre essa questão, mas as conversas não avançaram em uma direção construtiva.

    “Você diz que deveríamos lançar nossas forças porque eles estão lá fora, Comandante, mas nós não sabemos onde eles estão, então como vamos combatê-los?” 

    Falou von Stockhausen, ao qual von Seeckt contra-argumentou: ”Essa é a exata razão pela qual devemos sair: para encontrar onde eles estão se escondendo. Se os rebeldes estão vindo atacar, é provável que eles mobilizaram uma larga força.” 

    Às palavras de von Seeckt, von Stockhausen assentiu em completa concordância. 

    “O que resultará neles sendo derrotados de novo. Os rebeldes nos atacaram seis vezes e nas seis vezes eles foram repelidos. Mesmo se eles tentarem atacar de novo, isso só significa que as seis vezes se tornarão sete.”

    “Esta fortaleza é realmente maravilhosa,” o comandante da frota disse, subentendendo que não era porque eles eram particularmente capazes,

    “De qualquer forma, é um fato que o inimigo está próximo. Eu gostaria de mobilizar a frota e ir buscá-los.”

    “Mas se você não sabe onde eles estão, você não tem formas de achá-los. Espere um pouco mais.”

    Tão logo as conversações estavam começando a andar em círculos, houve uma chamada da sala de comunicações. Dizia que uma estranha transmissão foi captada.

    Apesar da interferência ser grande e a transmissão aparecer e desaparecer, ao menos revelava a seguinte situação:

    Um único cruzador leve da classe Bremen carregando comunicações vitais foi despachado para Iserlohn da capital imperial de Odin, mas se encontrou sob fogo inimigo dentro do corredor e estava atualmente sendo perseguido. Eles estão buscando resgate de Iserlohn.

    Os dois comandantes se entreolharam. Com um grunhido vindo do fundo de sua garganta grossa, von Seeckt disse: “Não está claro onde eles estão no corredor, mas neste momento não temos escolha a não ser sair”.

    “Mas isso é realmente uma boa ideia?”

    “O que você quer dizer com isso? Minhas tropas são um rebento à parte das toupeiras espaciais que só querem saber de segurança.”

    “O que isso quer dizer?”

    Os dois chegaram à sala de reuniões de operações conjuntas e sentaram-se, com rostos enojados lado a lado.

    Von Seeckt deu ordens para lançar a frota aos seus próprios oficiais de estado-maior, e von Stockhausen olhou em outra direção enquanto explicava a situação.

    Quando von Seeckt terminou de falar, um de seus oficiais de estado-maior se levantou de sua cadeira. 

    “Um momento, por favor, Sua Excelência.”

    “Ah, Capitão von Oberstein…” disse o Almirante von Seeckt, sem um resquício de boa vontade em sua voz. Ele odiava esse novo oficial de estado-maior designado. Aquele cabelo grisalho, aquele rosto pálido que parecia sem sangue, aqueles olhos artificiais que emitiam um brilho estranho de vez em quando – ele não gostava de nada disso. Ele é um verdadeiro retrato da tristeza, pensou. “Você tem alguma opinião?”

    Ao menos na superfície, von Oberstein parecia imperturbável pelo tom de má-vontade de seu oficial superior.

    “Eu tenho.” 

    “Muito bem, vamos ouví-lo”, von Seeckt assentiu relutantemente.

    “Bem então, eu direi. Isso pode ser uma armadilha.”

    “Uma armadilha?”

    “Sim, senhor. Para atrair a frota para fora de Iserlohn. Nós não devemos sair. Nós devemos observar a situação sem fazer um movimento.”

    Von Seeckt bufou com desdém. “Então o que você quer dizer, oficial, é que se sairmos, o inimigo estará esperando, e se lutarmos, seremos derrotados.”

    “Isso não foi o que eu quis dizer.”

    “Bem então, o que você quis dizer? Nós somos soldados e lutar é nosso dever. Em vez de procurar a nossa segurança pessoal, deveríamos pensar proativamente em destruir o inimigo. E o mais importante, o que podemos fazer se não pudermos ajudar uma nave amiga que está em apuros?”

    Ele sentia antipatia em relação a von Oberstein e ele também tinha que considerar sua aparência na frente de von Stockhausen, que estava observando esse desenvolvimento com um sorriso irônico. Também, von Seeckt era um tipo de líder de armas e glória, o tipo que não podia esperar de lado quando o inimigo estava à frente dele; não estava em sua natureza ficar estacionado na fortaleza e esperar por um assalto. Ele acreditava que se ele fizesse isso, a carreira gasta nas naves de batalha teria sido um desperdício.  

    “Eu não sei, Almirante von Seeckt – seu oficial do estado-maior de fato tem um ponto. Nós não sabemos nem a posição precisa dos nossos inimigos nem dos nossos aliados, e a ameaça é grande. Que tal esperarmos mais um pouco?”

    Foi a opinião de von Stockhausen opinando lateralmente que definiu a questão.

    Von Seeckt disse não sem rodeios.

    Enfim a Frota de Iserlohn, composta de quinze mil naves grandes e pequenas, começou a sair do porto.

    Von Stockhausen assistiu a partida pela tela do controle de tráfego do porto na sala de comando. A visão das naves de guerra, como enormes torres em seus lados, e dos destróieres elegantes e aerodinâmicos lançados em formações ordenadas, partindo para um campo de batalha no vazio do espaço, era realmente magnífica.

    “Hmph. Eu espero que você volte de forma sábia,” von Stockhausen murmurou para si mesmo. Ele não podia dizer coisas como “morra” ou “perca”, nem mesmo brincando. Essa era sua própria forma de exercer moderação.

    Seis horas se passaram e então uma vez mais a transmissão veio. Era de um cruzador leve da classe Breman e as seguintes palavras foram emitidas entre sinais de estática: “Nós finalmente chegamos perto da fortaleza, mas ainda estamos sendo perseguidos pela força rebelde atacante. Solicitamos bombardeamento de artilharia para cobrir nossa aproximação.” 

    Enquanto ele ordenava os artilheiros para fazer as preparações para fogo de cobertura, von Stockhausen tinha uma profunda expressão amarga em seu rosto. Onde aquele imbecil do von Seeckt foi? Tudo bem falar de forma grandiosa, mas ele foi incapaz de ajudar um aliado sozinho lá fora?

    “Reflexos de naves na tela!” reportou um de seus homens. O comandante deu ordens de aumentar a imagem projetada.

    O cruzador da classe Bremen estava se aproximando da fortaleza com o desequilíbrio de um bêbado. Os múltiplos pontos de luz que podiam ser vistos no plano de fundo, é claro, eram embarcações inimigas.

    “Preparem-se para atirar!” von Stockhausen ordenou.


    Lançamentos todas as segundas, quartas e sextas!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota