Capítulo 6 - Para todo homem sua estrela - Parte IX

Para todo homem sua estrela – Parte IX

“O que você está dizendo é que quer se demitir, certo?”

A resposta do Marechal Sitolet quando Yang apresentou sua carta de demissão não foi muito criativa. Yang, no entanto, não esperava que ele pegasse a carta com uma das mãos e, com um floreio da outra, lhe entregasse seu subsídio de aposentadoria e seu cartão de pensão, então ele fez o aceno mais amigável que pôde.

“Mas você ainda tem apenas trinta anos de idade.”

“Vinte e nove.” Yang deu ênfase especial aos vinte.

“Mas, de qualquer forma, você não tem nem um terço de sua expectativa de vida média. Não acha que é um pouco cedo para deixar sua vida para trás?”

“Excelência, não é isso que estou fazendo”, objetou o jovem almirante. Ele não estava abandonando sua vida; estava colocando-a de volta nos trilhos. Tudo até agora tinha sido um desvio forçado contra sua vontade. Desde o início, ele queria ser um observador da história, não um criador dela. O Marechal Sitolet entrelaçou os dedos das duas mãos e apoiou o queixo de aparência robusta sobre eles.

“O que nosso exército precisa não é de sua erudição como historiador, mas de sua competência e capacidade como tático. E precisamos disso desesperadamente.”

Eu já não me deixei levar por sua lisonja uma vez? Yang disparou de volta em seu coração. De qualquer maneira que ele olhasse para isso, ele tinha que estar fazendo um sério exagero em sua relação de débito e de crédito com os militares. Só por ter tomado Iserlohn, acho que devo receber alguns trocados, pensou Yang. No entanto, o ataque do diretor Sitolet tinha duas vertentes.

“O que acontecerá com a Décima Terceira Frota?”

Diante dessa pergunta improvisada, mas eficaz, a boca de Yang se abriu um pouco.

“Essa é a sua frota e ela acabou de ser formada. Se você renunciar, o que acontecerá com eles?”

“Bem, eles vão…”

O fato de ter se esquecido disso só poderia ser descrito como um erro descuidado. Ele tinha que admitir que havia estragado a operação. Uma vez que você se envolvia em algo, não era fácil se soltar novamente. No final, Yang se retirou do escritório do diretor, deixando sua carta de demissão com ele, embora estivesse claro que ela não seria aprovada. Indignado, ele desceu as escadas por meio de um elevador gravitacional.

Sentado em um sofá da sala de espera, Julian Mintz olhava desinteressadamente para as pessoas uniformizadas que passavam de um lado para o outro, mas quando viu Yang à distância, levantou-se com energia. Yang havia lhe dito para passar pela sede quando voltasse da escola naquele dia. “Por que não comer fora de vez em quando? Além disso, tenho algo que quero lhe contar.” Isso foi tudo o que ele disse ao garoto. Ele queria surpreendê-lo: “Na verdade, acabei de deixar o serviço militar. De agora em diante, será a vida despreocupada de um aposentado”.

Mas agora, no entanto, seus planos ainda estavam no ar, de modo que aquele sonho feliz havia desaparecido em uma única baforada da exalação amarga da realidade. Bem, o que eu digo a ele agora? Inconscientemente, Yang relaxou o passo e estava tentando pensar em alguma coisa quando uma voz do lado o chamou. O capitão Walter von Schönkopf estava lhe fazendo uma saudação. Devido a suas recentes façanhas, von Schönkopf estava agora programado para ser promovido a comodoro.

“Eu o vi saindo do escritório do diretor, Excelência. Por acaso veio apresentar sua demissão?”

“Claro que sim. Mas não há dúvida de que ela será recusada.”

“Eu deveria dizer isso. Não há como o serviço deixar você ir.” O capitão, que já foi um cidadão do império, estava olhando para Yang com uma expressão divertida. “Com toda a seriedade, porém, quero ver pessoas como você permanecendo no serviço, senhor. Você está sempre no alvo em sua avaliação da situação e também tem sorte. Servindo sob seu comando, talvez eu nunca me destaque em batalha, mas pelo menos as chances de sobrevivência parecem altas.”

Von Schönkopf estava calmamente fazendo uma avaliação de um oficial superior bem na frente do homem.

“Decidi fechar as cortinas de minha vida morrendo de velhice. Quero viver até os 150 anos, me transformar em um velho carrancudo e, quando der meu último suspiro, ouvir meus netos e bisnetos chorando de alegria por finalmente se livrarem de mim. Não tenho interesse em morrer em uma explosão de glória. Por favor, mantenha-me vivo por tempo suficiente para fazer isso”.

Depois de dizer o que tinha a dizer, o capitão bateu continência novamente e sorriu para Yang, que retribuiu a saudação com um comportamento desmoralizado.

“Desculpe-me por ter tomado seu tempo. Olhe aqui, o garoto mal pode esperar por você.”

Caselnes e Von Schönkopf possuíam uma grande capacidade de fazer piadas sarcásticas, mas isso não fazia diferença quando Julian estava por perto; talvez houvesse algo nele que os tornasse simplesmente solidários.

Enquanto Yang e Julian caminhavam lado a lado, Yang olhou para o garoto, incapaz de suprimir um certo grau de confusão em seu coração. Era uma coisa tão estranha… Sentir emoções como as de um pai, mesmo sem nunca ter se casado.

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