Capítulo 7 - Fortaleza Contra Fortaleza - Parte VI

Fortaleza Contra Fortaleza – Parte VI

Enquanto os subordinados de Yang Wen-li começavam a travar sua luta desesperada em Iserlohn, Rupert Kesselring, assistente do senhor feudal do Domínio de Phezzan, lidava com um visitante enfurecido com a postura de um matador experiente.

“Por favor, Comissário. Não há necessidade de ficar tão irritado.”

O leve sorriso do jovem, nesse momento, foi como uma bandeira vermelha acenada para o homem mais velho, o Comissário Henlow, e isso estava aumentando a sua pressão arterial.

“É fácil para você falar isso, Kesselring, mas quanto a mim, não posso ficar aqui parado e aceitar isso calmamente. Seguindo a sua recomendação, chamamos Yang de volta de Iserlohn e o submetemos a um inquérito oficial. Mas o que aconteceu depois? Uma enorme frota imperial cruzou a fronteira, aproveitando-se da sua ausência. Não é incrível, um timing esplêndido? Gostaria muito de ouvir uma explicação detalhada sobre esta informação!”

“O seu chá está esfriando.”

“Eu disse alguma coisa sobre chá? Seguimos o seu conselho e…;” 

“Foi errado da minha parte aconselhá-lo.”

“O quê?”

“Eu disse que foi errado da minha parte aconselhá-lo.”

Com um floreio elegante que beirou a ostentação, Kesselring levou uma xícara de chá com leite aos lábios. “Desde o início, eu não tinha nada que lhe dizer que o Almirante Yang deveria ser interrogado. Afinal, isso conta como interferência nos seus assuntos internos. Era o seu lado, ao contrário, que tinha bons motivos para recusar. E, no entanto, não exerceu esse direito. Todos vocês voluntariamente concordaram com a minha intromissão impertinente. Mesmo assim, Vossa Excelência insiste que toda a culpa é deste humilde filho de Phezzan?”

O jovem phezanês observou com compostura enquanto o rosto do Comissário da APL mudava de cor a cada segundo.

“Mas mesmo assim…; a julgar pela forma como agiu quando falamos da última vez, é difícil culpar-nos por pensar que, se recusássemos, a APL cairia em desgraça com Phezzan.”

Foi um contra-ataque desesperado, mas o assessor do senhor feudal parecia singularmente impassível.

“De qualquer forma”, disse ele, “isso agora é água debaixo da ponte, por isso não faz sentido discutir isso. A questão que se coloca é o que vem a seguir. Diga-me, Comissário, o que planeja fazer daqui para frente?”

“Como assim, ‘daqui para frente’?”

“Oh, meu Deus, você nem pensou nisso, pensou? Isso me deixa em uma situação difícil. Nós aqui em Phezzan estamos muito preocupados com o futuro — estamos pensando muito sobre com quem seria melhor para nós manter amizade: com o atual governo Trünicht ou com um possível futuro governo Yang…;”

Essas palavras atingiram o comissário como um golpe chocante de um chicote na bochecha. A sua expressão era a de um texugo que acabara de sair da sua toca e se deparara com o cano de uma espingarda de caça.

“Uma futura administração Yang? Ridículo! Er… com licença, mas não há como isso acontecer. Absolutamente não.”

“Ah, é mesmo? Parece muito seguro de si. Nesse caso, deixe-me fazer-lhe uma pergunta: há três anos, você previu que, num futuro muito próximo, um jovem chamado Reinhard von Lohengramm se tornaria governante do Império Galáctico?”

O comissário não disse nada.

“É assim que se apresenta a riqueza das possibilidades históricas. É assim que se manifesta a caprichosidade do destino. Comissário, eis algo em que você deveria refletir longamente: até que ponto a sua felicidade pessoal está ligada à sua lealdade incondicional à administração Trünicht? Um homem inteligente como você certamente sabe como é importante entrar no negócio desde o início quando se trata de investimentos. O presente, é claro, é de grande importância para os seres humanos, mas não porque é resultado do passado — é mais porque é a fonte do futuro.”

Kesselring pegou na xícara de chá com leite que tinha pousado anteriormente. Do outro lado da névoa fina de vapor que se elevava dela, podia se ver o Comissário Henlow, um homem que se revirava em meio a muitos cálculos, com a expressão de alguém que acabara de perder a capacidade de agir por si mesmo.