Capítulo 7 - Vitória para quem? - Parte VI
Vitória para quem? – Parte VI
À luz de sua posição e circunstâncias, a falta de cerimônia de Yang beirou o absurdo. Ele se movia rapidamente sozinho, fazendo com que seus subordinados se preocupassem com sua segurança — ainda mais porque era difícil avaliar onde os partidários remanescentes da facção golpista poderiam estar escondidos.
Ignorando as insistentes recomendações do Chefe do Estado-Maior, Murai, para que fosse cauteloso, Yang seguiu sozinho até o Quartel-General Operacional Conjunto e conseguiu descobrir o local onde o Almirante Bucock estava preso, interrogando os suboficiais que se renderam. Em pouco tempo, Yang o libertou e mandou levá-lo para um hospital.
O almirante idoso havia enfraquecido fisicamente durante os quatro meses de prisão, mas o brilho em seus olhos e a clareza de sua fala tranquilizaram Yang.
“Estou profundamente envergonhado”, disse Bucock. “Não fui de nenhuma utilidade para você, nem mesmo com as informações que lhe passei.”
“De forma alguma. Fui eu quem tornou as coisas difíceis para você ao demorar tanto. Precisa de alguma coisa?”
“Bem, no momento, adoraria um gole de uísque.”
“Vou mandar trazer uma garrafa imediatamente.”
“O que aconteceu com o Almirante Greenhill?”
“Ele morreu.”
“É mesmo? Huh. Então este velho sobreviveu a mais um.”
Yang estava grato ao Almirante Greenhill por ter tido o bom senso de não levar reféns — nem altos funcionários nem cidadãos — com ele. No entanto, sentiu-se menos grato quando libertou Dawson, o Diretor Interino do Quartel-General Operacional Conjunto.
Uma montanha de assuntos a resolver após o incidente se erguia diante de Yang.
Ele precisaria informar toda a Aliança sobre o fracasso do golpe e a reinstituição da Carta da Aliança, avaliar os danos, prender os membros sobreviventes do Congresso Militar para o Resgate da República e solicitar laudos de autópsia para os mortos, incluindo o Almirante Greenhill e o Capitão Evens. Quando pensava nisso, havia muitas outras coisas também. A cabeça de Yang doía.
Foi em um momento como esse, porém, que Yang percebeu a verdadeira competência de sua assessora, Frederica Greenhill. Logo após saber da morte do pai, ela disse a Yang: “Você pode me dar uma… não, duas horas, senhor? Sei que posso me recuperar disso, mas agora não consigo. Então…”
Yang assentiu. Quando foi informado de que Jéssica Edwards estava entre os massacrados, ele também foi forçado a avaliar quanto tempo levaria para se recuperar.
Yang não acreditava que seu pai tivesse cometido suicídio. Não havia como ele ter colocado o cano da arma entre os olhos e puxado o gatilho. Provavelmente ele havia sido morto a tiros por outra pessoa. No entanto, esse era um pensamento que não precisava ser dito em voz alta.
Quando Frederica estava prestes a se retirar, o jovem almirante disse: “Uh, tenente, como posso dizer isso… não desanime”.
Ele era capaz de comandar uma vasta força de um milhão, de dez milhões, movendo-os exatamente como ordenava em um campo de batalha interestelar. Mas havia momentos em que ele não conseguia controlar nem mesmo sua própria língua.
Depois de duas horas, Frederica saiu do quarto e começou a trabalhar com a graça de um rio que corre rápido. Uma montanha de arquivos assinados como “concluídos” começou a se formar na frente de Yang. Enquanto ele examinava as páginas, impressionado, viu que a habilidade dela ia até escolher o trajeto da parada da vitória e até definir o horário.
Talvez esse trabalho árduo fosse, naquele momento, sua salvação.
Chegou uma notícia de von Schönkopf, que tinha saído para patrulhar a cidade. Ele disse que Julian tinha encontrado o principal responsável pelo incidente. Para Yang, que perguntou em voz alta quem era, ele disse: “Você provavelmente nem quer ouvir o nome dele, mas é o presidente do Conselho Superior, senhor”.
Era realmente um nome que Yang detestava ouvir.
A notícia era que Job Trünicht, dado como desaparecido desde antes do golpe, havia reaparecido. Julian, que acompanhara o Almirante Bucock ao hospital, estava voltando para Yang quando seu carro terrestre foi chamado para parar perto de um prédio antigo.
“V-você é…”, gaguejou o jovem ao ver quem se dirigia a ele. O indivíduo que seu guardião mais detestava no mundo estava ali, sorrindo para ele.
“É claro que você me reconhece”, disse Job Trünicht, Presidente do Conselho Superior da Aliança dos Planetas Livres, com voz suave. “Eu sou o seu chefe de Estado.”
Julian sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Os sentimentos do menino haviam sido fortemente influenciados por Yang.
“Você é Julian, não é? O pupilo do Almirante Yang. Ouvi dizer que você é um jovem com um futuro promissor.”
Julian ficou em silêncio e inclinou a cabeça apenas por educação. Ele se sentiu mais cauteloso do que surpreso ao saber que o homem conhecia sua existência.
Atrás de Trünicht estavam reunidas cinco pessoas, homens e mulheres. Suas expressões eram sombrias.
“Essas pessoas são membros da Igreja de Terra que me deram abrigo. Estive escondido na igreja subterrânea deles, fazendo todos os esforços para derrubar esses militaristas tirânicos durante todo esse tempo.”
Esforços? Que esforços você tem feito? Você não esteve apenas se escondendo em um lugar seguro o tempo todo? Você não está apenas saindo para a luz agora que tudo já acabou? Julian queria dizer isso, mas pensou na posição de Yang e permaneceu em silêncio.
“Bem, então me leve à minha residência oficial. Tenho toda a cidadania para animar com a boa notícia de que estou ileso.”
Sem escolha, Julian deixou o presidente entrar no carro terrestre. Após uma curta viagem, ele entregou Trünicht a von Schönkopf e seus subordinados, que estavam posicionados em frente à residência oficial.
“Bem, bem. Um desastre termina e outro toma seu lugar”, disse Yang com um encolher de ombros, mas algo dentro dele não o deixava rir. Diziam que Trünicht havia sido salvo e abrigado por muito tempo por alguns fiéis terraístas. Isso significava que a Igreja de Terra também estava sendo usada por Trünicht, assim como os Cavaleiros Patrióticos?
Ou poderia ser o contrário?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.