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    Linhas da Morte – Parte II


    Na capital da aliança Heinessen, um feroz debate estava se desenrolando entre as facções suportando e se opondo às requisições de larga escala da força expedicionária.

    Aqueles a favor diziam, “O objetivo original era liberar as pessoas afligidas sob o governo opressivo imperial. Resgatando cinquenta milhões de pessoas da fome é obviamente a coisa moral a se fazer também. Além do mais, quando as pessoas descobrirem que nossas forças os salvaram também – conjuntamente com a oposição ao governo imperial – causará um sentimento público que se inclinará inevitavelmente em favor da nossa aliança. Por razões militares e políticas, os pedidos da força expedicionária deveriam ser honrados e os suprimentos alimentares e de outras necessidades deveriam ser dados aos residentes da zona ocupada…”

    A isso havia também o contra-argumento: “Essa operação tem sido pobremente planejada desde o início. O plano inical requeria gastos totalizando 200 bilhões de dinares – isso equivalia a 5,6 por cento do orçamento total da nação para este ano e mais que 10 por cento do orçamento militar. Mesmo com essas despesas somente, era certo que esse valor seria inflado quando as contas estivessem consolidadas. Em adicional, assegurar as zonas ocupadas com provisões alimentares aos residentes, a bancarrota fiscal estaria assegurada. Eles deveriam encerrar essa campanha, abandonar os territórios ocupados e retornar a Iserlohn. Só assegurar Iserlohn era o suficiente para bloquear as incursões do império…”

    Apelos ideológicos, cálculos frios e emoções corriam todos juntos e parecia que o feroz debate poderia durar para sempre.

    Um relatório – ou melhor, um choro – vindo de Iserlohn, no entanto, foi o que decidiu a questão: “Ao menos dê aos soldados a chance de morrer em batalha. Se vocês gastarem todo o dia sem fazer nada, nada esperará além de uma inglória morte por inanição.”

    Suprimentos foram distribuídos de acordo com as demandas militares e começaram a ser enviados, mas não muito tempo depois, demandas adicionais vieram em quase os mesmos números que os anteriores. A zona ocupada era expandida e o número de pessoas residindo nela se expandiu para cem milhões. Naturalmente, não havia maneira de se evitar o aumento dos suprimentos necessários… 

    Aqueles que suportaram as primeiras requisições se sentiram humilhados, como alguém poderia esperar. O lado oposicionista disse: “Nós não tentamos alertá-los? Não há fim para isso, ou não? Cinquenta milhões se tornarão cem milhões e cem milhões se tornarão duzentos milhões. A intenção do império é destruir a aliança financeiramente. O governo e os militares cegamente caminharam a essa situação e não serão capazes de evitar responsabilidade. Nós não temos nenhuma outra opção. Recuem!” 

    “O império está usando civis inocentes como armas para resistir a nossa força de invasão. É uma tática desprezível, mas considerando que estamos fazendo isso em nome do resgate e da liberação, não podemos deixar de admitir que é uma tática efetiva. Nós devemos recuar. Ou nossa força deverá suportar todo o sobrepeso dos civis famintos e acabarão sendo atingidas por um contra-ataque total quando suas forças se esgotarem.” Assim falou João Lebello, Presidente do Comitê de Finanças do Alto Conselho. Aqueles que suportavam a mobilização não disseram um palavra. Ao invés disso, eles meramente ficaram em suas cadeiras com um olhar sombrio – ou melhor, chocados.

    A senhora Cornélia Windsor, presidente do Comitê de Tráfego de Inteligência, estava olhando para a tela cinza de um terminal de computador que não exibia nada, seu rosto bonito ficou rígido.

    A essa altura, até mesmo a senhora Windsor sabia muito bem que não havia nada a se fazer além de se recuar. Nada poderia ser feito sobre as despesas até então, mas as finanças do país não poderiam suportar mais gastos.

    No entanto, se eles se retirassem agora sem ter alcançado nenhum tipo de sucesso militar, ela perderia prestígio por ter apoiado a guerra. Não apenas aqueles que se opuseram a essa mobilização desde o início, mas também aqueles da facção pró-guerra que atualmente a apoiavam, sem dúvida buscariam responsabilizá-la politicamente. O cargo de presidente do conselho, que ela almejava desde que decidiu entrar na política, também se afastaria dela.

    O que aqueles incompetentes em Iserlohn estavam fazendo? A senhora Windsor foi tomada por uma raiva terrível; ela rangeu os dentes e cerrou os punhos e suas unhas bem cuidadas cravaram-se nas palmas das mãos.

    Não havia escolha a não ser recuar, mas antes disso, mesmo que fosse apenas uma vez, que tal mostrar a todos uma vitória militar sobre a Marinha Imperial? Se fizessem isso, ela mesma salvaria sua reputação e essa campanha também poderia evitar ser considerada um símbolo de loucura e desperdício pelas gerações futuras.

    Ela olhou para o presidente do conselho, um homem idoso. Aquele velho que, de forma tão teimosa e indiferente, ocupava o cargo mais poderoso do país… O chefe de Estado, ridicularizado como “aquele que ninguém escolheu”. No final de um jogo deselegante produzido pela mecânica da esfera política, ele havia saído vitorioso sem nenhum esforço próprio, como um pescador que se depara com uma ave lutando com uma ostra e facilmente leva as duas. Fui enganada a apoiar isso porque ele falou sobre a próxima eleição. Ela odiava o presidente do fundo do coração por tê-la colocado nessa confusão. Por outro lado, o presidente do Comitê de Defesa, Trünicht, estava bastante satisfeito com a clareza de sua própria previsão.

    Para ele, era óbvio que as coisas acabariam assim. Com o atual nível de força nacional e militar, não havia como a aliança invadir o império com sucesso. Em um futuro muito próximo, a força expedicionária sofreria uma derrota miserável e o atual governo perderia o apoio das massas. No entanto, o próprio Trünicht se opôs àquela mobilização mal planejada e, assim, tendo se mostrado um homem de verdadeira coragem e discernimento, não só sairia ileso disso, como provavelmente ganharia a reputação de um verdadeiro estadista. Isso deixaria apenas Lebello e Huang como concorrentes, mas eles não tinham apoio entre os militares e a indústria de defesa. O que significava que, no final das contas, a cadeira do presidente do Alto Conselho iria para Trünicht.

    Era isso que ele queria. Em seu coração, ele sorria com satisfação. Era ele mesmo quem seria chamado de “o maior chefe de estado da história da aliança… aquele que derrubou o império”. Não havia ninguém além dele que fosse digno dessa honra.

    No final, o argumento a favor da retirada foi rejeitado.

    “Até que algum tipo de resultado seja alcançado na frente de batalha, não devemos fazer nada que possa restringir nossas forças.”

    Esse foi o argumento da facção pró-guerra, apresentado em um tom de voz um pouco envergonhado. Para Trünicht, esse “resultado” seria algo absolutamente esplêndido. Embora, naturalmente, o tipo de resultado com que ele contava estivesse muito longe daquele que os falcões esperavam.


    Lançamentos todas as segundas, quartas e sextas!

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