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    Prelúdio – Parte IV


    Pelo ponto de vista dos Planetas Livres, tal encontro era uma possibilidade ao qual eles tinham se preparado há um longo tempo. Para o lado imperial, no entanto, isso veio como um raio do céu azul, então a vitória foi dos Planetas Livres. Entretanto, logo antes do tiro de canhão de raios-nêutrons que transformou a nave de guerra imperial em uma bola de chamas de destruição, um comunicado emergencial foi lançado em direção à capital do império.

    Os burocratas imperiais extraíram velhas gravações dos arquivos de um computador e aprenderam que há mais de um século atrás houve um incidente envolvendo a fuga de escravos de Altair. Então eles não morreram no espaço depois de tudo; eles viveram e até mesmo prosperaram! Uma força foi reunida para pôr fim a essa insurreição. Grandes naves de batalha foram despachadas para a fortaleza daqueles rebeldes.

    E lá aquelas naves de guerra foram totalmente derrotadas. Isso por muitas razões porque os militares imperiais foram tão ruidosamente massacrados apesar dos números superiores. Uma delas sendo a campanha de longa distância que causou exaustão mental na cabeça de soldados e oficiais. Outra sendo o problema da cadeia de suprimentos que foi levada muito fracamente. Em adição, os militarem imperiais sabiam muito pouco sobre a área na qual eles estavam lutando. Eles também tinham subestimado tanto a força de seu inimigo quanto a sua vontade de lutar. Sua estratégia descuidada. Os militares dos Planetas Livres possuíam comandantes capazes. Et cetera, et cetera.

    Pao Lin – comandante em chefe da aliança militar – era um mulherengo, beberrão e glutão, e apesar dos homens de estado da aliança – que colocavam grande importância na ancestral e puritana simplicidade de estilo de vida – eram aptos a fazer vistas grossas a esse comportamento, o homem era um gênio quando se tratava de táticas e estratégias. Yusuf Topparole – seu chefe de pessoal, que o assessorava em seu trabalho – era também conhecido como “Agarrando Yusuf” 1, pois ele estava sempre reclamando em assuntos grandes e pequenos, dizendo: “Por que você tem que me dar tanto trabalho árduo?”

    Topparole, no entanto, era também um preciso e acurado teórico que podia muito bem ser chamado de um vivo e respirante computador. Ambos os homens ainda em seus trinta anos quando – nas margens externas do sistema Dagon – eles conduziram a maior operação de envelopamento 2 da história, aniquilando o inimigo e se tornando os maiores heróis da Aliança desde a sua fundação.

    Para os Planetas Livres, essa foi uma ocasião para a expansão material. Quando elementos descontentes dentro do Império Galáctico souberam da existência de um poder independente resistindo à hegemonia, eles fugiram do império em massa. 

    Buscando um lar onde pudessem viver em paz, eles vieram em massa para a aliança.

    Nos três séculos que se seguiram à morte do Imperador Rudolf, o establishment – firme como era antes – havia se tornado um pouco mais brando e a influência do Escritório de Manutenção da Ordem Pública, que antes não poupava esforços para oprimir o povo, também havia desaparecido. As vozes de descontentamento dentro do império estavam ficando mais altas.

    Os homens e mulheres que entraram na Aliança dos Planetas Livres foram aceitos em um espírito de “aquele que vier não será rejeitado”, mas nem todas essas pessoas defendiam os ideais republicanos. Entre esse número, havia até mesmo alguns aristocratas e membros da família imperial que vieram, tendo estado do lado perdedor das intrigas da corte. Com a permissão de entrada dessas pessoas e com o crescimento rápido demais dos Planetas Livres, talvez fosse uma progressão inevitável que a natureza da aliança começasse a mudar cada vez mais.

    O Império Galáctico e a Aliança dos Planetas Livres estavam em um estado crônico de guerra desde o primeiro contato, mas de tempos em tempos eles também eram visitados por períodos de paz incerta. Um produto disso foi a Terra do Domínio Phezzan. Tratava-se de uma espécie de cidade-estado no sistema estelar de Phezzan, que ficava quase exatamente entre as duas potências. Estava sob o domínio soberano do Imperador Galáctico e pagava tributo ao império, mas quando se tratava de seus assuntos internos, era quase totalmente autônomo – acima de tudo, porque lhe era permitido ter relações diplomáticas e comerciais com a Aliança dos Planetas Livres.

    O Império Galáctico, ao se apresentar como o governante único e absoluto de toda a humanidade, não reconhecia a existência de nenhuma autoridade legítima fora da esfera de sua influência. Nos documentos oficiais, a Aliança dos Planetas Livres não era mencionada por seu nome formal; em vez disso, escrevia-se “a entidade rebelde”. Os militares da Aliança também eram “rebeldes”, e o presidente do Alto Conselho (o chefe de estado da Aliança) era “aquele deplorável Senhor da Guerra rebelde”.

    Com regulamentações estatais como essas em vigor, a diplomacia e o comércio com a Aliança deveriam estar fora de questão, mas Leopold Raap – um poderoso comerciante de origem terráquea – possuía uma paixão que poderia ser chamada de extraordinária e impulsionou o estabelecimento desse domínio muito peculiar. Com petições e persuasão – e, acima de tudo, subornos muito grandes – a questão foi decidida.

    Representando o domínio estava o Senhorio ou Senhor do Domínio, que, como Vassalo do Imperador, governava em seu nome, supervisionava o comércio com a Aliança e, ocasionalmente, até desempenhava o papel de diplomata. Ao monopolizar o comércio exterior, o domínio acumulou enormes reservas de riqueza e, por menor que fosse, seu poder tornou-se impossível de ser ignorado.

    Seria falso dizer que ninguém jamais trabalhou pela amizade entre o Império e a Aliança. Manfred II, que foi entronizado em CI 398 (ES 707), era um dos vários filhos ilegítimos do Imperador Helmut. Depois de escapar das garras de assassinos, ele passou sua infância na Aliança dos Planetas Livres e cresceu em uma atmosfera mais liberal.

    Por causa disso, parecia que sua entronização poderia em breve trazer paz e comércio justo entre as duas potências, bem como uma reforma política dentro do império. No entanto, essas esperanças logo se desfizeram, pois esse jovem e popular imperador foi assassinado em um ano e as relações entre as duas potências esfriaram imediatamente. O assassino de Manfred II era um aristocrata reacionário, mas há também um argumento convincente que sugere que, nos bastidores, as mãos de Phezzan estavam trabalhando, buscando preservar seu monopólio sobre o direito ao comércio exterior.


    E assim, no final do século VIII ES e do século V CI, o

    Império Galáctico – indisciplinado e sem controle simplesmente por causa de seu imenso tamanho – e a Aliança dos Planetas Livres – tendo perdido os ideais de seu período de fundação – continuaram sua luta principalmente por inércia, com Phezzan em seu meio. De acordo com os cálculos de alguns economistas, o poder nacional relativo dos três estados era o seguinte:

    Império Galáctico 48%

    Aliança dos Planetas Livres 40 por cento

    Domínio Phezzan 12 por cento

    O equilíbrio de poder era precário.

    Além disso, a população total da humanidade, que era de trezentos bilhões, cem bilhões no auge da prosperidade da Federação Galáctica, havia caído para quarenta bilhões, devido aos longos anos de caos.

    A distribuição era de vinte e cinco bilhões vivendo no império, treze bilhões nos Planetas Livres e dois bilhões em Phezzan.

    “Seria bom se algo desse certo, mas parece que não vai dar.”

    Essa foi uma declaração que descreveu bem a situação.

    O que virou essa situação de cabeça para baixo foi o aparecimento de um jovem em Odin, o terceiro planeta do sistema Valhalla. Com o nome da principal divindade da mitologia nórdica, Odin era o planeta para o qual Rudolf havia transferido a capital do Império Galáctico. O nome desse jovem de beleza gelada e semblante destemido era Conde Reinhard Von Lohengramm.

    O sobrenome de Reinhard Von Lohengramm era originalmente Müsel e, em CI 467 (ES 776), ele nasceu em uma família pobre que era aristocrática apenas no nome. A vida de Reinhard mudou quando ele tinha dez anos de idade e Annerose – sua irmã mais velha por cinco anos – foi levada para o palácio interno do Imperador Friedrich IV. Reinhard, um jovem de cabelos dourados e olhos azuis como o gelo, tornou-se tenente-comandante de uma divisão da guarda imperial aos quinze anos, recebendo promoções aceleradas graças ao seu próprio talento e ao favorecimento de Annerose junto ao Imperador.

    Quando chegou aos vinte anos, recebeu o título de Conde Von Lohengramm e foi promovido ao cargo de Almirante Sênior da Marinha Imperial. Esse tipo de gerenciamento extremo de pessoal é típico de ditaduras, mas com o posto também vem a responsabilidade. Se ele fosse um nobre de boa ascendência, não haveria grande necessidade de provar seu valor, mas como Reinhard não era nada mais do que “o irmão mais novo da favorita do Imperador”, ele não teve escolha a não ser fazer isso.

    Quase ao mesmo tempo, a Aliança dos Planetas Livres ganhou um novo estrategista. 

    Tratava-se de Yang Wen-li, que nasceu em ES 767 e se alistou aos vinte anos. Yang Wen-li nunca teve como objetivo uma carreira militar e, se uma série de coincidências não o tivesse empurrado na direção certa, ele teria chegado ao fim de sua vida não como um criador de história, mas como um espectador.

    “Há coisas que você pode fazer e coisas que você não pode fazer.”

    Essa era a filosofia de estimação de Yang. Em relação ao destino, ele tinha uma disposição muito mais passiva do que Reinhard, mas, por outro lado, tinha grande capacidade de adaptação e inventividade. Mesmo assim, ele permaneceu desconfortável com a guerra e com o trabalho do soldado de processá-la e, pelo resto de sua vida, as autoridades militares nunca ficaram livres de seus pedidos para “abandonar meu posto e se aposentar”.


    No início de ES 796 e CI 487, Reinhard liderou uma frota de vinte mil navios em uma expedição. Seu objetivo era fazer com que as forças rebeldes – que tão audaciosamente se referiam a si mesmas como a Aliança dos Planetas Livres – se rebelassem e, por meio dessa conquista, estabelecer sua própria posição pessoal.

    Os militares da Aliança haviam organizado uma frota de quarenta mil naves para interceptá-lo. Um dos oficiais da equipe dessa frota chamava-se Yang Wen-li.

    O Conde Reinhard Von Lohengramm tinha vinte anos de idade naquele ano, e Yang Wen-li tinha vinte e nove…


    Lançamentos todas as segundas, quartas e sextas!

    1. Creio que se refere ao ato de “agarrar os cabelos” em desespero.[]
    2. O envelopamento é a tática militar de conquistar objetivos na retaguarda do inimigo com o objetivo de destruir forças inimigas específicas e impedir sua capacidade de retirada. Em vez de atacar um inimigo de frente, como em um ataque frontal, o envelopamento busca explorar os flancos do inimigo, atacando-o de várias direções e evitando onde suas defesas são mais fortes. Um envelopamento bem-sucedido diminui o número de baixas sofridas pelo atacante, ao mesmo tempo em que provoca um choque psicológico no defensor e aumenta as chances de destruí-lo. Um envelopamento consiste em uma ou mais forças envolventes, que atacam o(s) flanco(s) do inimigo, e uma força de fixação, que ataca a frente do inimigo e o “fixa” no lugar para que ele não possa se retirar ou mudar seu foco para as forças envolventes. Embora seja uma tática bem-sucedida, há riscos envolvidos na execução de um envelopamento. A força envolvente pode se estender demais e ser isolada das forças amigas por um contra-ataque inimigo, ou o inimigo pode contra-atacar a força de fixação. De acordo com o Exército dos Estados Unidos, existem quatro tipos de envelopamento: 1ª – Uma manobra de flanco ou envelopamento único consiste em uma força envolvente que ataca um dos flancos do inimigo. Essa manobra é extremamente eficaz se as forças de retenção estiverem em um local bem defensável (por exemplo, o martelo e a bigorna de Alexandre, o Grande, na Batalha de Issus) ou se houver uma linha forte e oculta atrás de um flanco fraco (por exemplo, Batalha de Breitenfeld (1631) e Batalha de Rocroi). 2ª – Um movimento de pinça ou envelopamento duplo consiste em duas manobras de flanco simultâneas. Aníbal criou essa estratégia em sua obra-prima tática, a Batalha de Cannae. Mais tarde, o general do califado Rashidun, Khalid ibn al-Walid, aplicou a manobra em uma batalha decisiva contra o Império Sassânida durante a Batalha de Walaja. Em 1940 e 1941, na Segunda Guerra Mundial, os alemães empregaram repetidamente essa tática para cercar centenas de milhares de tropas inimigas de uma só vez, principalmente na Batalha da França e na Operação Barbarossa contra a URSS. 3ª – Um cerco no qual o inimigo é cercado e isolado em um bolsão. As forças amigas podem optar por atacar o bolsão ou investi-lo (para interromper os reabastecimentos e evitar fugas) e esperar que um inimigo sitiado se renda. 4ª – Um envelopamento vertical é “uma manobra tática na qual as tropas, lançadas ou aterrissadas por via aérea, atacam a retaguarda e os flancos de uma força, cortando ou cercando a força”. 5ª – Um tipo especial é a tática do repolho, que tem sido usada pela Marinha chinesa em torno de ilhas disputadas. Seu objetivo é criar um envoltório em camadas do alvo.[]

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