Capítulo 14: Um padre suspeito.
— Vamos conversar Kim?
Kim relaxou os ombros e se levantou. Mostrando um respeito considerável, respondeu:
— Claro.
— Vou começar por partes. Primeiro, o que aconteceu lá na cabana?
Kizimu não queira enrolar, saber o que aconteceu na casa era fundamental, para saber se o inimigo morreu e se ocorreu algo a mais na luta.
— Com certeza, irei explicar.
Com muito apreço e tranquilidade, ele começou a explicar, enquanto guardava sua espada na bainha.
— Eu usei todas minhas forças para segurar o braço daquele homem, mas infelizmente cedi quando ele me deu um soco… — A voz de Kim começou com ímpeto, mas começou a ficar fraca e ele continuou:
— Após escutar o som de tiro, apenas o homem rindo sobrou, até cair de costas. Eu levantei e analisei o pulso dele… ele morreu, isso é certeza.
— Isso é um alívio.
— É… mas, você estava com um buraco no peito. Não tinha como demorar em minhas análises. Eu carreguei o senhor e a Senhorita Pandora.
— Entendi, então o homem realmente morreu. Isso é tranquilizador.
Kim quando terminou de falar ficou com a cabeça baixa, e com os dizeres de Kizimu sua face enrijeceu um pouco.
— Eu gostaria de dizer que não a nada com que se preocupar. Mas… Eu voltei lá, para verificar se ainda tinha pessoas presas e para recuperar minha espada.
— Eu tenho é medo de onde essa conversa vai terminar.
Ele gostaria de dizer? Então, algo aconteceu, certo?
— Tanto o corpo de Bento, quanto o corpo daquela criança no chão, não estavam presentes.
— Sem nenhuma explicação?
— Pior, nem rastro de sangue, é como se aquilo nunca tivesse ocorrido. Essa foi minha impressão.
Isso era um problema bem problemático. O homem poderia ainda estar vivo, ou algo pior poderia ter acontecido a ele. Kim estava relutante, como se estivesse se culpando.
— Você não fez nada de errado, Kim.
— Eu, sei, mas… Eu não consegui fazer nada dessa vez. Não consegui proteger você. Você poderia ter morrido, eu estou muito dependente de minha maldição. Quando eu não consegui usar a maldição, eu apenas tinha minha habilidade com espada, pouco prática. Apenas de treinos.
Kim estava apertando sua bainha com força, olhando para baixo. Kizimu sentiu pena, sua dor era válida já que ele se considera cavaleiro dele.
Uma hora ajudaria o garoto a consertar suas dores, deveria priorizar Pandora neste momento.
— Kim, quero ir para um segundo tópico.
— … Qual seria? — O garoto voltou a si com a mudança de fluxo da conversa.
— Como você controla sua maldição?
Saber como ele controla a maldição, era uma das formas dele conseguir ajudar Pandora. Tinha que entender como as maldições funcionavam para poder protegê-la.
— Isso, foi… inesperado, não esperava que fosse perguntar isso agora.
— Bem, essa informação vai me ajudar a resolver um problema atual.
— Posso, saber qual o problema?
Com certeza não. É muito invasivo contar sobre a depressão de Pandora e sua tendência suicida. Não sabia a relação de Kim com Pandora, e isso não importava, não deveria ficar falando sobre isso com todos, independentemente de sua confiança no garoto. Aisha foi uma exceção já que não conseguia esconder, mas isso passa dos limites.
— Desculpa Kim, esse tópico não posso. Infelizmente — falou de maneira leve, para não preocupar o garoto.
— Certo, então respondendo sua pergunta. Minha maldição flui pela minha pele, como meu suor, se eu sinto medo ou raiva, ou qualquer sentimento negativo, ele sai pelo meu corpo. Naturalmente eu devo conter minhas emoções negativas, claro que isso não funciona todo tempo. Então, eu nos meus treinos habituais tento gastar toda minha raiva.
Isso era bastante informação, mas conseguiu entender a essência, isso pode funcionar, ou talvez não, Pandora não era boa em controlar suas emoções, e era mais como se ela não tivesse controle de seus pensamentos e ações.
— Gastar toda raiva?
— Bem, eu disse que funciona como suor, certo? Quando eu guardo minhas emoções naturais do dia a dia, elas ficam guardadas, seria mais como uma bexiga, então, quando ela flui do meu corpo, sai em grande quantidade. Se eu desconto minha raiva de uma vez, o efeito quando eu fico um pouco fora de mim, é ameno e não afeta as pessoas.
— Isso é incrível.
Será que funcionaria para Pandora? Poderia testar isso.
— Outra coisa, eu também consigo sentir minha maldição de certa forma, e consigo segurar minha emoção negativa, para não explodir e acabar matando meus companheiros… de novo.
O rosto de Kim se tornou nublado, ele estava tremulo e claramente estava desconfortável falando do assunto.
— Você passou por muita coisa, né?
— Meu passado é mais tortuoso que imagina.
A tristeza no rosto de Kim deu pena em Kizimu, deveria conhecer o passado de seu amigo, ajudar ele também é sua missão. Prometeu a Amelaaniwa que salvaria a todos.
— Isso realmente pode me ajudar Kim, obrigado, o que disse, complementa o que Masha me contou, e posso formular uma teoria para ajudar… Erm, quem preciso.
— Desculpa querer me intrometer no caso que claramente não quer comentar. Mas… é sobre Pandora certo?
Droga, ele descobriu muito rápido, talvez sua condição seja mais comum que imaginava.
— Por que acha isso? Não vou negar ou dizer que está certo, mas qualquer informação que puder me dar me ajuda.
— Pandora tem questões complexas aqui. Ela é a segunda empregada da casa, chegou um ano depois de Esme. Pelo que me lembro, não chegou como uma empregada e sim, como apenas uma hóspede. Só que ela se achava um fardo e se obrigou a trabalhar aqui.
Conhecendo pandora, isso até que é bem a cara dela. Só que isso é ruim? Se sentir um fardo e ajudar na casa em que vai morar, isso é o certo, não?
— Certo, e quais são as questões?
— Ela sofre com sua maldição. Senhorita Pandora de repente… bem, como eu explico? Ela pode começar a ir para um lugar distante, ou começar a gritar lutando contra a maldição. Depende muito de como ela esteja lutando ou se ela é completamente dominada.
— …
— Ela pode também ter seu corpo mudado, como você viu, as chamas e o vento, era sua maldição. Ainda não descobrimos o que é, talvez tenha mais de uma alma ou, bem, não sei bem o que é.
Kim formulou uma teoria parecida com Masha, ou pode apenas ter escutado a teoria dela, o que faz sentido se ela for a pesquisadora. O que faz Kizimu pensar que Masha não deu tanta importância a Pandora.
Se Masha quisesse, é bem provável que achasse uma solução, mas, não era algo que despertou seu interesse.
— Bem, a maldição da Pandora eu desvendei. São lendas urbanas e folclore, pensa, chamas lembra o Curupira e um furacão substituindo os pés, é como Saci. Então, tenho quase certeza que essa é a explicação da maldição.
— Oh, isso é uma ótima teoria… entendi, talvez com essa informação, possamos ajudar ela a controlar sua maldição.
O garoto loiro se surpreendeu bastante, com um ar de respeito assentiu para seu senhor.
Kim era apenas um garoto, mais velho que Kizimu em idade mental. Passou por muita coisa na infância. A casa que está agora com certeza é o melhor lugar para ele.
— Kim…
Toc, toc, toc.
— Entre. — Kizimu disse em voz alta.
Um pequeno porte, com cabelos turquesa e olhos vermelhos, entra na sala. Usando uma roupa que agora poderia afirmar que não era uma roupa de empregada comum, era ela. Esme Filomena.
— Senhor Kizimu, desculpa atrapalhar seu descanso, mas, um Padre chamado Samuel Sépulcro, deseja ver o senhor.
Kizimu achou estranho, mas não havia motivos para recusar sua entrada.
— Claro, deixe-o entrar. — no mesmo instante Kim se aproximou e falou algo em seu ouvido:
— Achei melhor avisar, esse nome não é de nenhum dos residentes.
— Ah…
Um homem bem-vestido com uma batina branca entra, seu rosto dava a impressão de um homem de pele envelhecida, ele não era um senhor de idade, mas andava como um. Seus olhos eram azuis como o céu e sua passada era eloquente a um padre, dando espaço para cada passo. Sua aura era de alguém santo.
Atrás dele uma mulher usando Qipao muito bem cuidado que cobria o corpo todo, o rosto da mulher era todo branco como se fosse um okame, ela olhava para baixo e seguia o Padre logo atrás.
— Oh, então você seria o Kizimu, queria muito te conhecer. Muuito mesmo.
— Desculpa ser rude, mas quem lhe enviou?
— Eu sou um antigo amigo de seu pai, eu vim aqui quando soube que acordou, vim lhe benzer.
Era suspeito, muito suspeito. Como ele já sabia que Kizimu tinha acordado? Kuzimu não falou nada, porém, estava muito quieto desde que enfrentou John Bento. Não aceitar seria desrespeito e aceitar seria perigoso.
— Kim, fica de guarda. — sussurrou para Kim, antes de se sentar na cama. — Certo, Samuel, eu aceito que me benze, estou precisando mesmo da benção dos Deuses para ver se eu relaxo um pouco.
Samuel Selpucro sorriu com leveza.
— Que bom meu garoto, vou orar por você e por todos os moradores dessa casa. Amém.
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