Capítulo 2: Um novo amigo.
Chegando perto do jardim, era aparente que a casa era particularmente grandiosa. Kizimu e Esme entraram pelos fundos. O grande jardim era bem polido e muito cuidado. O jovem observava tudo com atenção.
Segundo as explicações anteriores, toda a casa era dele e, se quisesse, poderia retirar todos dali. Claro que não faria isso, mas, se era sua casa, por que não sentia nenhuma familiaridade?
Seu rosto no espelho era familiar, mesmo que diferente. A aparência de Amelaaniwa lembrava alguém, mas também era distinta. Aquele penhasco era muito familiar. Porém, a casa, não.
Tudo era muito confuso, tudo era cansativo, tudo era…
— Mestre, por que parou?
Verdade, por que seus pés pararam? Foi medo? Receio de entrar em casa? Um sentimento confuso estava em si, como se ao entrar nunca mais fosse sair.
No inferno. Não metaforicamente, não fisicamente, não realisticamente, e sim. Psicologicamente. Estamos aprisionados por nossas falhas e defeitos.
Essas palavras… bem, não era fisicamente, nem metaforicamente, porém saber que ele morava dentro do inferno psicológico era…
Lembrar depois do que passou vai ser doloroso. Saiba que, quando se lembrar de tudo, você vai morrer.
Essas palavras, eram assustadoras.
Seu nome é…
— Senhor Kizimu?
Espera, não tinha notado… Kizimu? Não era… Kuzimu?
Ele caiu, e a bile começou a subir pela garganta. Esme, desesperada, o aparou e segurou seu corpo masculino com cuidado. Sua mente estava em cacos, tudo girava, sinos altos pareciam queimar sua existência, como se ele estivesse sendo apagado.
— Você está bem?
De súbito, sua mente, que prestes estava a desabar, mudou de rumo. Um sentimento prazeroso percorreu seu corpo, e sua mente fixou-se em uma única coisa.
A pele macia segurando seu peito. As mãos pequenas e delicadas acariciando suas costas. A voz doce que o deixava louco.
“Pare, demônio.” — Pare, demônio, sua mente ecoou no mesmo instante em que pensou.
— Por favor, se afaste no momento.
— Ãn, sim. Tudo bem.
Com delicadeza a pequena Esme se afasta a uma distância não muito longa. Preocupada, ela o observa. Ele respira fundo e olha nos olhos da garota.
— Me responda uma coisa. Meu nome… não seria Kuzimu?
Apenas falando esse nome, os sinos ecoavam, mais e mais.
— Não. Minne deixou bem claro. ‘Seu nome é Kizimu, ele não deve e nem será outro, isso é um fato.’
Disse Esme como se imitasse alguém.
Kizimu, ainda confuso, se levantou. Engoliu o ácido que subira pela garganta, gerando um desconforto gradativo, e entrou apressado na casa. Esme, ainda preocupada, o acompanhou, sem dizer mais nada.
Eles passaram por corredores muito bem decorados, com quadros, pinturas e obras de arte bem organizadas. Era tudo dele? Kizimu caminhava apressado, sem saber exatamente o que procurava — apenas sabia que havia algo, ou melhor, alguém que poderia responder suas perguntas com mais clareza. A pessoa que lhe dissera seu nome. Ela era…
— Ah, senhor Kizimu, fico feliz que tenha acordado.
À sua frente, estava um jovem de cabelos loiros. Parecia ter sua idade. Era esbelto e aparentava ser fisicamente fraco. Contudo, algo dentro de Kizimu sentia perigo. Os cabelos loiros quase o confundiram com quem ele queria encontrar, mas a face masculina e o corpo diferente deixavam claro que não era quem buscava.
Sua aparência visual era um conjunto de roupa formal, uma camisa branca com um colete muito bem-arrumado preto. Na sua bainha de couro existia uma claymore média, seus olhos eram azuis e límpidos. Mesmo Kizimu sendo um homem, conseguia considerar que ele era um jovem extremamente belo.
A beleza do homem era tal como uma pintura, porém, algo era triste de se ver. O sorriso que pintava aquele belo quadro, não era um sorriso verdadeiro. Escondia-se atrás de uma máscara de felicidade, uma tristeza no sorriso.
— Quem é…
— Meu nome é Kim Umbral. Sou um amigo de Minne. Devo muito a ela, e ela pediu que eu protegesse você, como seu cavaleiro pessoal. — O garoto fez uma apresentação visual impressionante.
Cavaleiro pessoal? Isso é tranquilizador e, ao mesmo tempo, tenso. O fato de que ele precisasse de um cavaleiro, fazia ficar preocupado com do que ele precisaria ser protegido.
O garoto na sua frente era belo e muito jovial. Seus braços eram finos, não tinha barba assim como Kizimu e isso chamou sua atenção, como alguém tão jovem poderia ser seu cavaleiro.
— Você parece ter a minha idade.
— Sim, eu, você e Minne, temos todos 16 anos.
Isso era revelador. Não tinha muitas lembranças, e vendo seu rosto antigo em suas poucas memórias, lembrava-o um garoto de 10 anos.
— Eu adormeci por quantos anos?
— Apenas Minne pode lhe responder essa pergunta, senhor Kizimu. Eu não sei dizer, quando cheguei já se encontrava em coma.
— Temos a mesma idade, então, me chame apenas de Kizimu.
— Se assim desejar.
A conversa seguia um fluxo confortável para Kizimu e isso alegrava o garoto. Esme, que estava aguardando atrás do garoto de cabelos pretos, se posta diante de ambos e faz uma reverência.
— Senhor Kim. Eu tenho afazeres domésticos, poderia acompanhar o senhor Kizimu, mostrando a casa e o resto dos residentes?
— Resto dos residentes? Quantas pessoas moram aqui?
— Se contar com o senhor e Minne que não se encontra na residência. A mim e ao seu cavaleiro, um total de 12 pessoas.
Kizimu ficou surpreso com a quantidade. As pessoas listadas eram: Minne, um completo mistério; Kim, seu cavaleiro pessoal, que acabara de conhecer; Esme, a empregada que lhe causava uma sensação estranha; e ele próprio. Tirando esses quatro, ainda faltavam oito.
Uma dessas oito pessoas era a irmã de Minne, Amelaaniwa — a garota que lhe dissera seu nome. Havia também uma enfermeira e um médico, cujas vozes ouvira em uma das vezes em que acordara. Talvez morassem ali também. Além dessas três pessoas e os quatro já citados, restavam cinco completos mistérios.
— Certamente, irei acompanhar o senh… digo, o Kizimu. Eh, me sinto muito íntimo em chamá-lo apenas pelo nome.
— Temos a mesma idade, então seremos bons amigos.
Kizimu estende seu punho até o garoto loiro e ele fica surpreso.
— Ele é diferente, não é? — comentou Esme satisfeita.
— Todos somos. — respondeu Kim com leveza enquanto tocava seu punho ao de seu senhor.
O diálogo de Esme e o garoto Kim fez ele se ater ao fato. Primeiro, ele era diferente? Por quê? Segundo, o que era aquela aura assustadora vindo da terceira porta à esquerda.
Kizimu ficou espantado com aquele miasma saindo, era estranho porque nenhum dos dois notava, então ele ficou quieto.
Esme se curva uma última vez e anda na direção de uma grande porta dupla de madeira central, contudo se virou à direita no corredor. Deixando Kim e Kizimu sozinhos.
— Desculpa pedir assim, mas poderia me levar até Amelaaniwa?
Que estranho, Amelaaniwa era um nome incomum, mas ele gravou como se não fosse nada.
— Nesse momento ela deve estar em seu quarto. Eu te levo até lá.
— Obrigado.
Eles seguem pelo corredor, até passar pela porta com a presença estranha. Kizimu não se conteve.
— Oh! Kim, me tire uma dúvida, o que tem atrás dessa porta?
— Ah, bem observado, esse é o quarto de Masha Dara, quer conhecer ela?
— Quem é ela?
— É um assunto delicado, apenas a conhecendo para entender. O que posso afirmar é que gosta muito de conhecer, só que ela pode ser um pouco… diferente.
Kim estava fazendo muitos rodeios. Kizimu estende sua mão para a maçaneta.
“Entrar lhe trará a morte” — Kizimu sorriu — Então não permita que eu morra.
Uma conversa ocorreu em sua mente. De forma assustadora, ele sentia que podia confiar no seu instinto interno.
Demônios, inferno, tudo isso era muito novo, porém era tudo bem familiar.
— Kim, eu sou humano?
— Sim, todos nós somos.
— Ótimo.
Kuzimu entra na sala.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.