Capítulo 32: A loira e o gorro vermelho
— Viver… por você?
Pandora não conseguia entender. Foi o seu primeiro beijo, e da forma mais inesperada. O que Kizimu disse para ela, ficou ainda mais incompreensível. Ela sentiu uma dor aguda e mudou o foco do momento.
— Você está muito machucada. Não se mova.
Kizimu colocou suas mãos sobre a ferida, pressionando ela. A mesma ficou super envergonhada em ter sua pele tocada, por aquele que roubou seu primeiro beijo.
— O que está fazendo?
— Fica quieta.
Kuzimu, absorva, por favor.
“Não há necessidade, estamos na mente dela, diga a ela que ela pode alterar a forma como ela quiser. A única coisa que ela não influencia é as lendas urbanas.”
— Pandora, estamos na sua mente, pense que você não tem nenhuma ferida.
Ela tentou, logo em seguida a ferida se curou lentamente.
Pandora se sentiu mal, ela escolheu morrer novamente e ele estava fazendo de tudo novamente para manter ela viva.
— Desculpa.
Kizimu abraçou ela.
— Eu que peço desculpas. Eu tentei resolver seus problemas por você. Mas dessa vez será diferente, eu vou ficar do seu lado. Vamos resolver suas maldições juntos. Eu dessa vez vou estar do seu lado.
Pandora se culpava. Culpava. A dor no seu peito doía muito, era um sentimento agonizante, até que ela percebeu. Tudo ia e voltada, a dor agonizante não cicatrizava, era como ter espinhos saindo e voltando.
Seus pensamentos a machucavam mais, e seus pesares deixavam suas pálpebras pesadas. Uma dor horrível, uma inconformidade horrível, por que ela tinha que sofrer tanto? Por que ela não poderia jogar todas suas dores foram…
Se ela poderia influenciar a ferida no seu peito…
É só não ficar triste.
— Caramba!
— O que foi?
— Eu tava sendo muito afetada pela depressão. Não sentir ela é uma alteração de clima incrível. — Kizimu não entendeu o que a garota disse. — Certo, eu vou fazer isso.
Pandora se levantou animada, uma animação que ele só viu uma vez.
No mundo das ilusões.
Kizimu riu.
— Errada. Nós vamos fazer isso.
Pandora estava feliz diante do garoto. Uma animação infantil cruzou seu coração que não era mais assolado pela tristeza.
De repente, todas as torneiras abriram e começaram a trasbordar água, os vidros de todos os espelhos de quebraram e as descargas foram todas acionadas.
O banheiro começou a encher e Pandora sentiu um medo terrível. A mesma bateu no rosto e disse: “não”, assim, ficando focada novamente.
— Que mania feia, loira do banheiro. Sempre fica colocando coisas negativas na minha cabeça.
— Você não entende, a morte é tão boa, por que você apenas não aceita ela?
Kizimu se colocou na frente da Pandora assim que a loira do banheiro se materializou na frente deles. Porém…
— Kizimu não precisa.
Pandora tentou assumir a dianteira e Kizimu ficou feliz, mas segurou o braço de sua parceira. Ela olhou para ele, enquanto o mesmo piscou de volta.
— Deixa eu assumir um pouco. Quero tentar uma coisa.
Kizimu pegou na mão de Pandora, segurando a mão da garota, olhou fixamente para a loira do banheiro.
— Maria augusta de oliveira. Filha do visconde. É você não é?
— Como sabe meu nome?
— Isso não sei dizer com clareza, mas… eu sei sua história. — Kizimu respirou fundo e continuou. — Você foi obrigada a se casar com 14 anos de idade. Fugiu para Paris e morreu lá, mas sua alma ficou presa na casa onde viveu por 4 anos. Não apenas isso, mas teve seu corpo morto violado em um barco. Sua história foi triste e horrível, e agora, você tem que viver amaldiçoada em terra. Isso porque, sua mãe se recusou a enterrar seu corpo.
As águas das torneiras ficavam mais intensas e as águas começavam a encher o quarto. Pandora a todo momento sentia sua depressão aumentar, mas lutava com um sentimento positivo fora do comum.
— E se essa for minha história? O que quer?
— Eu tenho uma teoria sobre você. — Kizimu levantou o dedo indicador na frente da loira do banheiro. — Você cria uma depressão na mente de Pandora, porque assim que ela morrer, você vai poder viver sua vida, no corpo dela. Certo?
O silêncio foi constrangedor.
— Eii, me responde poxa.
Os olhos da loira do banheiro encheram de raiva e seus cabelos voaram loucamente.
— E SE FOR? Porra, eu apenas sofri e vida e na morte, agora eu estou amaldiçoada nessa garota. Eu quero viver e não posso. Então claro que eu quero que ela morra.
— Esse é o seu motivo? — Pandora fracamente disse. — Vocês sempre quiseram a liberdade…
Pandora respirou fundo e disse: “enfim” — … e se eu der um pouco de liberdade para vocês?
Os cabelos que voavam da loira do banheiro pararam.
— O que quer dizer com isso?
— Eu quero deixar vocês terem acesso ao corpo, mas quero estar no controle visivelmente. Sempre brigávamos para ter o corpo, mas, e se estivéssemos juntos?
A loira do banheiro ficou pensativa, colocando a mão sobre o queixo.
— Isso é possível?
— Eu também quero saber.
Kizimu entrou na dúvida.
— Podemos tentar… por que não tentamos conversar mentalmente? Ao invés de apenas trocar aleatoriamente. E se tentássemos dividir o corpo, mas claro, eu fico no controle mestre.
— Isso me irrita, por que eu não posso ficar no controle?
Pandora soltou a mão de Kizimu e andou para ficar na frente da loira do banheiro.
— Porque o corpo é meu. — Uma depressão atingiu sua mente com força. Ela resistiu e sorriu. — Isso não é o suficiente, estou ciente que toda minha depressão é uma das minhas maldições.
— Sinceramente isso não é uma proposta ruim. Eu não acho que vou conseguir te dar depressão com aquele anel. E aquele garoto… ele não vai deixar você morrer. — A loira do banheiro olhou a garota em sua frente de cima a baixo. — Pandora, você ficou forte.
Pandora sentiu uma felicidade quando ouviu sua própria voz dizer isso. Ainda mais quando era sua própria depressão que estava dizendo.
— Obrigada.
— Mas é patética quando está envergonhada.
— Queee!!?
A loira do banheiro sorriu. Ela andou na direção de Pandora e passou pelo seu corpo.
— Moleque, quero que você cuide da Pandora, e não deixa ela esquecer da promessa. Quero tocar o chão com meus próprios pés. — A loira se virou até a garota de cabelos pretos. — E Pandora, eu vou deixar você ter acesso a minha maldição, sempre que quiser. Em troca, quero estar no controle, ao menos uma vez ao dia.
— Uma vez ao dia?
— Única condição.
Pandora suspirou e sorriu.
— Certo!
Aos poucos a loira do banheiro começou a desaparecer, as águas param de cair. A água estava na canela dos garotos. Pandora sentiu uma energia fluir para seu coração e alma, onde, aos poucos, seu corpo ficou translúcido e seus cabelos loiros com pontas azuis.
— Legal, você desbloqueou um novo personagem.
— Posso ser sincera, é engraçado saber que você não lembra de nada e solta essas referências a jogos.
— Verdade, né, por que será?
— Não sei, mas tenho coisas inacabadas com outras duas maldições.
Kizimu sorriu, e andou na direção de sua amiga, no instante seguinte, ele abraçou ela. A garota ficou sem reação inicialmente, mas devolveu o abraço.
— Bem-vinda de volta.
— Obrigada… eu estou de volta.
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A dupla, Kizimu e Pandora, os dois que ironicamente tinham maldições que tentavam trocar com eles constantemente, saíram do banheiro feminino.
A água estava no limite da canela, mesmo no quarto apertado. A garota começou a entender, sua mente apertada sempre estava sendo violada pelas águas da depressão da loira do banheiro.
— Pandora, agora iremos ver quem?
— Acho que tenho coisas a falar para o saci. Você vai me ajudar, né?
— Sim. Eu também quero falar umas boas para aquele pivete.
Pandora riu e os dois garotos entraram na porta que tinha sido detonada por completa. Do lado de dentro tinha uma tranquilidade caótica, e ambos viram o Saci.
Era o corpo de Pandora, agora com a pele escurecida, um gorro vermelho na cabeça e olhos vermelhos. Um sorriso demoníaco estava na face e ela tornou-se a falar.
— Voltaram, voltaram, voltaram. Vocês me deixaram entediado sabiam. Eu quero muito, muito, muito vocês comigo. Vamos, vamos, vamos. Eu preciso. Eu preciso. Eu preciso… matar a garota.
O saci avançou como uma bala na direção de Pandora, e no instante que tentou dar uma meia-lua no corpo da garota, seu pé atravessou seu corpo, sem atingir.
— O queeee!?
— Saci, você não vai conseguir me atingir, não agora.
— Chata. Chata. Chata. Morre. Morre. MOORREEE.
Ele sorria, enquanto fez uma sequência de ataques na direção de pandora, que parada, nenhum dos golpes atingiu ela.
— Saci pererê. Nascido do bambo. — O saci tornou a olhar para Kizimu. — Você não quer matar ela de verdade, né?
— O QUEEEE? Por que acha isso? Você é idiota? Eu tô dizendo. Tô dizendo. Tô dizendo.
Uma tormenta de furacão avançou em Kizimu e não atingiu o garoto. Ele foi protegido por Pandora, que decidiu que o ataque não atingiria ele.
— Vocês. Chatos. Chatos. Morram. Por que não morrem? Podem morrer? Podem parar de ser tediosos. Eu quero. Eu. Eu… morram por favor.
— Saci, seja sincero, você quer liberdade, mas não quer matar ninguém.
— Não, eu quero sim. Eu quero. Quero, quero, quero. — O saci se esperneou no chão, tal como uma criança que não tinha seu brinquedo. — Sejam acertados, morram. Parem. Deixem-me livre. Eu quero brincar. Eu quero. Eu quero. Eu quero.
Kizimu andou até o saci e algo inesperado aconteceu.
— Eu quero ser LIVREEEEEE!
Um furacão explodiu das pernas do Saci, elevando seu corpo aos céus. Foi uma explosão de ventos tão rápida e inesperada que levou o corpo de Kizimu aos ares.
— Kizimu, não!
O garoto voou como um raio aos céus, em uma velocidade que ultrapassava sua possibilidade de respirar. A visão de Kizimu embaçou com a falta de pressão no ambiente e ele foi jogado de um lado para o outro.
A velocidade era tanta que Pandora não encontrava o garoto. Ela não conseguia fazer os ventos pararem, porque eram uma ação direta do Saci. Mesmo que pudesse defender um ataque, não poderia impedir a ação de continuar.
Kizimu sem conseguir respirar, começou a desmaiar.
— Saci, larga ele. Deixa ele em paz, por favor.
— Nunca. Nunca. Nunca. Vocês não são divertidos.
— Assim ele vai morrer.
— NANANANANANANANA.
O saci tampou os ouvidos como uma criança birrenta, e continuou no centro do enorme furacão que saia dos seus pés.
Pandora voou, ela entrou no furacão com seu próprio corpo, ela estava intangível e voou pela loucura do vento que estava cheio de brotos de bambos e destroços. Nada atingia ela, e ela achou o corpo que era devastado pelo furacão.
— Parem!
Pandora fez uma ação que nunca conseguiria fazer. Ela parou tanto o corpo de Kizimu com uma fala, quanto o corpo do Saci, com um comando. No instante seguinte, o furacão parou lentamente.
— O quê!? Como? Como? POR QUÊ? Por quê? Como é possível?
— Saci, eu quero conversar com você.
— NUNCAAAAAA.
Novamente o furacão retornou, aos poucos começou novamente a fluir. Pandora pegou o corpo de Kizimu e voltou ao chão.
— Kizimu acorde.
O garoto estava desacordado. E então ela pensou que ele não desmaiou e ficou acordado o tempo todo. Instantaneamente Kizimu abriu seus olhos.
— AAARG. Quê?
Kizimu olhou para todos os lados, tentando recuperar o ar para seus pulmões. Olhou nos olhos de Pandora que sorria, estava determinada, e isso encheu o peito de Kizimu de felicidade.
— Certo. Cof. Cof. — Kizimu se levantou, com o ar arisco tão forte que quase retirava ele do chão, até que Pandora pegou na sua mão, o garoto sorriu. — Vamos.
— O que faremos para parar ele?
— Você é capaz de criar qualquer coisa né?
— Acho que sim…
Kizimu pediu uma coisa no ouvido de Pandora, ela não entendeu bem o que ele queria fazer com esse objeto, mas confiou nele. Com o objeto criado, ela entregou ao garoto.
— Caramba, isso vai ser divertido. Pandora fique aqui, eu vou trazer ele para você conversar com ele.
Pandora sorriu, ela confia em Kizimu, então soltou a mão do garoto.
— Eu vou te cobrir.
— Obrigado, mas vai ser bem rápido.
O garoto correu, e se jogou no furacão novamente e momentos seguintes algo aconteceu. No centro, Kizimu jogou uma peneira, e era ela que estava fazendo o furacão parar.
— Temos que jogar uma peneira no redemoinho… bem, eu tô jogando no furacão e está dando na mesma. Haha, isso é tipo um jogo.
— Isso funcionou? Por quê? Por quê? Como vocês fazem isso? Pode parar? Pode? Pode? Pode?
— Eiii, quer algo divertido?
O saci que caiu no chão ficou curioso. Kizimu levantou sua mão, claro para um aperto de mão. A garota com gorro vermelho e pele escura não entendeu nada, perguntando: “O quê? O quê? O quê?” Consecutivamente, e Kizimu ficou calado, estendendo a mão, com um grande sorriso no rosto.
— Fala logo. Fala logo. Fala logo. O que é divertido? Eu quero saber. Eu quero. Eu quero. Quero. Quero. — O saci continuou falando, até finalmente apertar a mão de Kizimu. — Era isso? Um aperto de mão? Isso é muito chaataiaiaaiaiaiiaiaia.
De repente, um choque muito forte perjurou no corpo do Saci, que recuou bruscamente. Ele olhou para Kizimu que caiu na gargalhada. E então.
— Hahahahhahaahahahahahahahha.
— Hahahahahahahaahahah. Você viu, eu disse que seria engraçado.
A dupla ria no centro e Pandora não entendeu por que o choque de mão era tão engraçado. Enquanto o Saci continuava rindo, Kizimu pegou o gorro vermelho do Saci.
— Eeeiii, me devolve, devolve, devolve.
— Antes de eu te devolver, quero que escute o que Pandora tem a dizer. O que ela vai dizer também é muito divertido.
— O queee!? Você promete?
— Sim, eu prometo, ouve a titia Pandora vai.
— Não me chama de titia, é ridículo.
A dupla ria enquanto Pandora ficava sem saber o que fazer, e então ela se aproximou.
— Saci.
— Desembucha, eu quero saber o que é divertido. Eu quero. Quero. Quero.
— Eu vou deixar vocês terem posse do meu corpo.
O saci travou. Ele demorou para entender o significado e quando entendeu entrou em colapso.
— O quê!? Queeee? Vo-você está mentindo.
— Não estou não. Eu entendi que vocês apenas querem liberdade, e então, eu quero fazer uma proposta. Eu quero estar no controle de todos vocês, e então, em algum momento do dia, vocês vão poder entrar. Cada um na sua vez.
O saci ficou admirado, como uma criança vendo um brinquedo que muito queria.
— Serio!? Serio!? Você deixa mesmo? Mesmo? Posso?
— Sim!
Pandora disse sorrindo, e realmente feliz. Agora resolvendo esse problema, ela não sentiria aquela dor, a depressão e seus problemas internos, todo seus problemas seriam resolvidos, e no fim, todos vão ter o seu momento.
— Antes de trocar, quero que sempre falem comigo. Eu vou dar o momento certo para vocês entrarem.
— Mas eu quero mesmo hein, quero brincar todos os dias… tio, você vai brincar comigo? — Kizimu riu e fez um legal com a mão.
— Com certeza. Vamos brincar todos os dias.
Aos poucos, feliz, o Saci pulou nos braços de Kizimu e abraçou o garoto. Após isso pulou em Pandora e abraçou ela. Ele estava sumindo.
— Por favor. Por favor. Não quebre essa promessa, me deixe brincar todos os dias. Eu quero me divertir muito.
— Não esqueça disso.
Enquanto o Saci estava abraçando Pandora, Kizimu colocou o gorro vermelho nele, e então ele sorriu uma última vez.
— Obrigado. — E então, desapareceu.
Pandora sentiu algo invadir sua alma e mente. O corpo da garota escureceu. Nesse momento ela sentiu que tinha acesso aos poderes do Saci, ela também sorriu.
— Boa, você capturou mais um.
— Errado. Nós salvamos mais um.
— Você tem razão. Agora falta mais dois.
Pandora estava determinada, e feliz pegou a mão de Kizimu.
— Vamos!
— Sim, vamos.
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