Índice de Capítulo

    Esme estava terminando de pegar o pó do chão.

    — Senhor Kizimu, agora eu vou para o corredor da escada, lá é pequeno, não precisa me ajudar.

    — Mas…

    — Eu já sei, que tal você visitar Kim, ele deve estar treinando nos jardins.

    Kim, o garoto com maldição da Peste, tinha perguntas para ele, queria aprender sobre ele, queria ver o sorriso dele.

    — Acho que é uma boa.

    — Muito obrigada pela sua ajuda.

    Esme se curvou para seu senhor, pegando a barra da saia e cruzando as pernas. Ela era perfeita, cabia na palma de sua mão, e sua beleza era algo de outro mundo. Seu medo irracional já havia passado, e a lacuna que tinha criado desapareceu.

    — De nada, agora vou indo.

    Esme levou o pó ao lixo e Kizimu andou para os corredores. Passou por quadros e adornos, tinha quadros de pássaros, flores, artes renascentistas, um olho estranho, um ser negro com 3 cabeças. Eram muitas artes. Também passou pelo quarto de Masha. Gostaria de ver ela também, depois de ver Kim, iria até seu quarto.

    Chegando nos jardins, procurou seu amigo. Procurando os sons masculinos de esforço, andou até uma pequena planície passando pelas flores. Kim estava sem camisa, treinando sua espada. Ele cortava o ar com maestria, em movimentos repetidos, mas muito ferozes.

    — Kim?

    — Oh, aaff, Senh… uff, digo, Kizimu, ffuu. Estou treinando agora.

    — Posso ficar um pouco com você?

    — Fique a vontade. Uff.

    Cada corte cruzava o ar e um som de vento cortado ocorria. Kim brandia com força e habilidade a espada. Kizimu sabia que nunca chegaria naquela beleza de espada.

    O suor escorria pelo corpo definido do garoto de cabelos loiros, o mesmo com um corte na orelha e seus olhos azuis límpidos mostravam a beleza de uma bela pintura. Era uma beleza incomparável que diferia a beleza das garotas que conhecia.

    — Kim, essa espada é meio diferente da sua, pelo que me lembro.

    — Sim, uff, essa, aff, é de Cassian. Fuu.

    A espada de Kim foi quebrada por Tarotian. Agora o Cavaleiro estava desarmado.

    — Onde você recebeu sua espada, Kim?

    — Onde eu nasci, tinha uma ferreira muito habilidosa, ela que fez minha espada.

    Kim limpou seu rosto suado com um pano branco em seu pescoço.

    — Onde nasceu. Eu nunca soube de onde veio.

    Tarotian falou um pouco sobre o passado do garoto. Um passado tortuoso com muitas mortes. Mortes culposas do próprio garoto loiro.

    — Uff. Eu nasci no reino de Insurgia. Aff, lá eu aprendi a brandir minha espada. Argh.

    Um cansaço claro existia no garoto loiro. Ofegante, ele ficou onde estava.

    — Certo, eu vou treinar também.

    — Treinar?

    Kizimu retirou de seu bolso sua faca de caça, a lamina estava numa bainha em nylon. O garoto retirou a bainha e apresentou sua lâmina de aço, o tamanho da arma era de 30.5 cm e sua base cabia com muita beleza em sua mão, a joia quadrada turquesa tinha uma beleza incomparável. Kizimu começou com movimentos aleatórios cortando o ar.

    — Há! Iá! Ow! Pei! Pah!

    Kim riu.

    — Ei, você sorriu.

    — Ãn?

    — Me desculpe falar dessa forma, mas seu sorriso… contém uma tristeza que me incomoda. Poxa, você pode ser feliz.

    Kim voltou ao seu sorriso natural, um sorriso triste.

    — É mesmo…

    — Sim.

    — Kizimu, me diga. Se você fosse o culpado de matar a todos da sua mansão… conseguiria sorrir naturalmente?

    Kizimu resfolegou. A ideia nunca passou em sua mente, e deixou um peso enorme nos próprios ombros.

    — Eu… não… desculpa.

    — Não precisa se desculpar. Meus erros do passado, são meus erros. Seu pai disse algo parecido também.

    — Meu pai?

    Kizimu até esse momento nunca parou para pensar. Escutou o nome de seu pai mais cedo, mas estava fixo em outro detalhe, Minne. Porém, ele acordou na casa, sem a companhia de seus pais. Amelaaniwa disse que os pais dele não iriam voltar, o que significaria que estavam mortos?

    — Pode me contar sobre meu pai, Kim?

    — Seu pai… claro.

    ‘Seu pai era um grande amigo de meu pai, parece que foram amigos de infância. Muitas vezes eu o via, e muitas vezes ele brincava comigo. Eu conheci seu pai desde os 3 anos de idade. Ele brincava comigo e eram dias muito felizes e alegres.

    ‘Depois do meu maior pecado, eu fiquei isolado de todos. Mas um dia, seu pai veio, ele disse que eu iria para um lugar onde finalmente poderia voltar a sorrir. Eu fui levado para essa casa e aprendi aos poucos a controlar minha maldição.

    ‘Mesmo que a casa controle minha maldição, ela ainda flui, então as pessoas dessa casa tem medo de mim. Elas me temem, ainda mais sabendo o que aconteceu.

    ‘Aisha é a única que fala comigo naturalmente, mas, também a uma certa distância. Esme cuida de meu quarto e minhas coisas normalmente, talvez seja a que eu mais considero “amiga”, mas esse termo é distante para nós.

    O garoto com olhos azuis límpidos continuou brandindo sua espada. Kizimu ouviu sua história com atenção.

    — Meu pai foi alguém incrível então.

    — Sim, ele foi meu herói, fico feliz de servir o filho dele. Eu vim para cá, e fui designado a ser cavaleiro de Minne, mas a mesma pediu para eu servir o senhor.

    — Isso me incomoda. Onde Minne está?

    Kim parou um momento de brandir sua espada.

    — Ela disse que ficaria alguns meses fora resolvendo um problema. Mas antes de sair ela deu instruções a todos os residentes. A mim, ela pediu para eu servir o senhor Kizimu e ouvir qualquer ordem, mesmo que sua ordem seja matar alguém. Foi algo bem cruel, mas eu entendi o que ela quis dizer. Enfrentamos um problema que se eu não seguisse suas ordens, nós…

    — Não, minhas ordens não foram boas o suficiente. Eu não tinha ideia de como resolver nada. Eu tentei usar a lógica, mas eu mesmo não pude fazer nada. Fui apenas um peso.

    Kim ficou calado, e voltou a brandir sua espada. Kizimu seguiu sua deixa e também começou a atacar aleatoriamente com sua faca.

    — Está errado.

    — Ãn?

    — Não ataque aleatoriamente. Quando se usa uma faca, deve fazer a lâmina se tornar uma extensão sua. Ataque como se visualizasse o alvo. Mire no pescoço, barriga, flanco, braços, faça movimentos fixos onde deveria atingi-lo.

    Os ataques com o punhal apenas seguia o braço esvoaçante de Kizimu, inexperiente. Tentou fazer o que Kim falou. Visualizou seu nêmeses, John Bento e tentou atingi-lo. Visualizou Samuel e tentou trucidá-lo. Os ataques começavam a fazer mais sentido, mas não sentia uma evolução, apenas eram ataques que claramente não atingiriam o alvo. Imaginar um alvo era fácil, mas imaginar o que o alvo faria é algo bem difícil.

    Se fosse em uma luta real, ele consegue visualizar tudo, sabe onde o inimigo estaria, consegue prever sua movimentação. Mas nada adiantava. Quando usou a carta papa, sua inteligência de combate foi algo irreal. A sensação de saber onde deveria atacar, atingir, lutar, brandir. A luta intensa quebrou cada músculo do garoto, e ainda assim quase não foi o suficiente.

    — Treinar é difícil.

    — Mas é necessário. Se nos acharmos fracos, é porque não usamos tudo que temos, significa que não estamos fortes o suficiente.

    — Certo, vamos treinar, então.

    Kizimu retirou a camisa, seu corpo era magro, mas definido. Não tinha músculos, mas era belo. Kizimu e Kim atacaram o ar, e atingiram aqueles que mais desejavam matar.

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