Índice de Capítulo

    — Aisha que jogo é esse que está jogando?

    — Ah, sim, hehe. Esse é o Doki Doki Literature Club!, esse é o meu jogo favorito! Olha, é uma visual novel, onde você faz escolhas e muda a história do jogo. Eu já zerei milhares de vezes, porque eu amo refazer tudo! Sempre acabo caindo nos mesmos plots!

    — Entendi…

    A forma acelerada e super animada que Aisha falou tudo provava seu amor pela obra, ela exalava e brilhava enquanto contava diversas coisas, sempre se contendo nos spoilers, Kizmu ficou super ansioso para jogar o jogo e a mesma deu o celular para ele, no começo do jogo.

    — Essa aqui é a Sayori. É a minha favorita… o que é irônico.

    — O que quer dizer com isso?

    — Hehe. Enfim, joga e me diz no fim o que achou.

    — Certo.

    Kizimu prestou atenção. Sayori… era a mesma garota do pôster no quarto da Aisha.

    De repente, Pandora, que estava na cadeira de trás, se esgueirou para frente com uma expressão enciumada.

    — Aisha, não é justo, eu também quero ficar com o Kizimu.

    — Não, meu irmãozão é meu.

    Aisha imediatamente se prendeu ao braço de Kizimu e mostrou a língua para Pandora de forma travessa. Pandora inflou as bochechas, indignada com a injustiça, e se jogou de volta na cadeira, bufando.

    Apesar dos pesares, a viagem ocorreu completamente bem, Aisha permitiu que Pandora ficasse com seu irmão na outra metade da viagem, porém, o mesmo concentrado no jogo pouco deu atenção a ela. Foi uma viagem de oito horas e agora finalmente eles chegaram.

    Com Pandora deitada, sua cabeça no ombro de Kizimu e o mesmo jogando o jogo que Aisha recomendou. Com essa viagem completa, ele conseguiu chegar no final do jogo e ficou muito triste e frustrado por não conseguir salvar nenhuma das garotas.

    — Kizimu você está bem?

    — Sim, só tô meio abalado com o jogo de Aisha.

    — Não gostou do jogo?

    — Não é isso, eu acho que gostei apesar de tudo, mas, eu queria tanto salvar elas — choramingou.

    — Esse seu lado é tão fofo.

    Pandora estava olhando apaixonada para seus olhos, o mesmo apenas estava feliz em observar sua felicidade. Ambos estavam sendo agradados por motivos opostos, porém com o resultado sendo praticamente o mesmo.

    — Irmãozão, chegamos no local de desembarque, agora vamos passar para o outro ônibus.

    — Serio? Eu não quero não, podemos esticar as pernas?

    — Claro! Podemos passear um pouco antes de pegar o ônibus, vamos, vamos.

    Aisha puxou Kizimu e Pandora pelos braços, os entrelaçando-os. Mais atrás, Kim caminhava em silêncio. Inquieto. Kim transparecia uma insegurança que não conseguia transparecer a falsa sensação de sorriso falso. Kizimu o observou, porém, com Aisha o puxando não pode falar com Kim.

    Kizimu enquanto caminhava com Aisha notou algo estranho: as pessoas ao redor começaram a olhar para o grupo com certo receio. Era um medo contido, disfarçado, mas ainda assim visível. Como se tivessem visto algo que não conseguiam explicar — algo que os apavorava. Ele ainda não conseguia entender o motivo, mas decidiu ignorar.

    Eles seguiram andando, explorando o reino. Ao contrário da cidade onde moravam, ali não havia asfalto, mas tudo era muito bem cuidado. Várias barracas se alinhavam pelas ruas, exibindo um comércio vibrante e colorido. Os olhos de Aisha e Pandora brilhavam com cada novidade, e Kizimu se via constantemente encantado com a alegria delas.

    Em uma barraca em especial, um item chamou a atenção de Kizimu.

    — Aisha, o que acha deste colar?

    Era um colar de prata, com um símbolo de estrela negra ao centro. Dentro da estrela, uma pedra translúcida com linhas azuis pulsantes que parecia um diamante negro.

    — Aiii, eu amo estrelas. Tanto por isso eu tenho um poster do garoto que morre e volta no tempo. Foi meu primeiro anime, e até o hoje o meu favorito. Amo estrelas, amo, amo, amo, amo, amo.

    — Que bom, então, que tal comprarmos para você, já que ama tanto?

    — Sério?! Ai eu amo estrelas, também por isso eu amo o nome de Minne.

    — O que Minne tem a ver com…

    — Irmãozão, compra, eu quero.

    Kizimu tinha recebido antes da viagem um cartão com uma quantia, Aisha disse que essa quantia assim que acabasse só iria voltar no mês seguinte, então, ele não deveria gastar com tudo que lhe desse na telha, porém, isso era um presente, ele poderia gastar.

    Aisha girou e balançou a saia de estudante dela, estufando o peito e triunfando para si seu presente. Ela estava agitada, brincando, brilhando e saltitando, exibindo o colar como se tivesse ganhado uma joia de mil reinos.

    Momentos seguintes em que Aisha se maravilhava, Pandora chegou com uma bandeja com milk-shakes. Aisha vendo isso começou a babar e lacrimejar.

    — Ai, não me mostra milk-shake não, por favor, eu estou com trauma.

    — Trauma?

    — Eu vi recentemente um capítulo de The Endless. Eu tô muito traumatizada com isso.

    Se bem se lembra, ela tinha um poster do protagonista de The Endless no quarto de Aisha. Seus gostos eram bem específicos, mas, tudo provava que ela realmente amava as obras.

    Aisha pegou para si seu próprio milk-shake e começou a se deliciar. Kizimu também pegou o seu.

    — Senhor Kim, peguei um pra você também — disse Pandora, estendendo um copo para ele.

    — O-obrigado.

    Kizimu notou algo. Pandora tentava disfarçar, mas estava tremendo. Aisha, sem perceber, estava cada vez mais distante de Kim. E ao redor… as pessoas também. O medo se espalhava sutilmente, como um sussurro invisível.

    Talvez… todos ali soubessem da maldição de Kim.

    Kizimu pensando sobre isso, lembrou que desde o dia anterior estava com Kuzimu selado por conta do anel. Kizimu retira o anel e inicia um diálogo com seu eu interno.

    Kuzimu — Argh… — gemeu baixo por causa dos sinos.

    — Irmãozão, está bem?

    — Sim…

    Ô babaca, me diz uma coisa, por que Kim… por que as pessoas têm medo de Kim?

    “A maldição de Kim é ativa com os sentimentos negativos. O garoto já soltou tudo que tinha na casa, mesmo que ela fluia. Porém, mesmo que ninguém será afetado pela maldição dele, todos vão sentir medo. Como formigas diante um dragão.”

    Então, todos são afetados por um medo irracional? Isso se aplica a Aisha e Pandora também?

    “Exatamente. Todos vão sentir medo, isso não te afeta por que a Peste não te afeta mais.”

    Neste caso, eu consigo fazer Pandora e Aisha ficarem sem sentir os efeitos da Peste?

    “Toque nelas e flua o ritual de resistência a peste.”

    Como eu faço isso?

    “Apenas flua o que está dentro de si para fora.”

    — Irmãozão? Está bem?

    Kizimu ficou de frente para Aisha e pediu para ela não se mover, a mesma aceitou um pouco insegura, já que seu considerado irmão, do nada, começou a ficar tenso e parar olhando para o nada. Kizimu fechou seus olhos e colocou sua mão sobre os seios magros de Aisha.

    Ômega.

    Fim.

    Fluir.

    Passar.

    Quando passava energia pela sua mão, trocava sua energia corporal, dando um fim para fora do corpo. Quando usou as chamas, usou os gases dentro de si para formar falsos gases inexistentes em si. A anestesia era apenas forçar o corpo a produzir endorfinas, substâncias naturais com efeito parecido com o da morfina.

    Agora, o bloqueio da peste não era algo lógico, nem mesmo para si. Era um bloqueador natural sua existência, como se entendesse o que deveria ser feito, porém, não conseguia fluir uma lógica. Mesmo assim, aquilo que estava dentro de si, era possível fluir para fora.

    O fim.

    O fluir.

    O passar.

    Independe de saber ou compreender, se algo está dentro de sua alma, a fluides se torna algo praticamente certo.

    Aisha não notou de primeira, porém, Kizimu sentiu que deu certo.

    — Aisha, vem comigo.

    — C-certo.

    A mesma ficou insegura quando o Kizimu tocou na parte magra de seus seios, não tocou de forma indecente nem nada, foi apenas acima, porém, a mesma ficou sem graça. Ela entendeu que Kizimu queria fazer algo importante e não o parou.

    Kizimu levou Aisha para perto de Kim. A mesma deu um passo para trás, já que estava sendo puxada por Kizimu, e, ela notou.

    — Eu não sinto…

    — Deu certo! Pandora, vem cá.

    Aisha se aproximou de Kim.

    — Eu não sinto medo de você.

    — Não? Mas, como?

    — Kizimu fez algo, eu não sei dizer.

    Aisha havia tentando se aproximar de Kim, mas, mesmo com a casa diminuindo a maldição, todos ainda sentiam um certo medo dele. Aisha tentou se aproximar dele, porém, o medo era algo incontrolável.

    Pandora logo foi puxada para perto também.

    — Ué? — Pandora notou a mesma confusa momentânea.

    Kizimu ficou feliz com o resultado e triunfou para seu amigo.

    — Kim, eu disse que não precisava ficar inseguro comigo. Eu vou trazer o seu novo recomeço.

    Kim ficou surpreso, sua expressão era um misto de alegria e surpresa. Ele soltou um sorriso amarelo e lagrimejou.

    — Obrigado.

    O momento era genuíno, lindo. Mas então, Kim congelou. Seu olhar se fixou em algo à distância.

    Ou melhor… em alguém

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    Kim paralisou, o sorriso vacilando em seu rosto. Seus olhos se fixaram em um ponto atrás de Kizimu. Seu corpo enrijeceu, e as lágrimas que antes escorriam em alívio agora cessaram num instante, como se jamais tivessem existido.

    — Não… pode ser…

    Kizimu se virou devagar, sentindo um arrepio correr por sua espinha. Pandora e Aisha também olharam para trás, o mundo ao redor parecia desacelerar.

    Uma figura encapuzada, jogada no chão, entre as pessoas da multidão, mas, ao mesmo tempo, completamente isolado. Ninguém o via — ou fingiam não ver. Seu manto negro cobria o corpo como um véu de sombra, e mesmo com o capuz escondendo seu rosto, a sensação de estar sendo observados por olhos antigos e famintos era inegável.

    Em seu olhar um sentimento inegável de sede e desejo fluia.

    No centro do peito do manto… uma estrela negra com linhas azuis pulsantes. Exatamente igual ao colar que Aisha usava.

    Kim deu um passo para trás. Seu corpo tremia, não pela peste… mas por algo, além disso.

    — Não pode ser… Pedro?

    — Quem…? — Pandora sussurrou.

    A figura permaneceu imóvel. Kim avançou, hesitante, até que pôde ver melhor.

    O cheiro era insuportável. Um fedor forte e azedo de suor seco, sangue velho e pó. O homem estava coberto por uma substância esbranquiçada, escorrida por suas roupas. A barba crescida, os olhos fundos, a pele pálida — ele parecia uma casca, um resto do que um dia fora.

    — Pedro, fala comigo.

    O homem ergueu o rosto devagar, o pescoço trêmulo. Seus olhos estavam vermelhos, dilatados. Um sorriso torto brotou em seus lábios, sem nenhuma alegria.

    — Aaah… haha… é o garotinho… o baixinho loirinho… — a voz era arrastada, bêbada, desconexa. — Kim… Kim… Kim…

    — O que aconteceu com você?

    — Sabe… o que aconteceu? Eu… eu conheci o paraíso… — ele riu, uma risada vazia, quase infantil. — Quer conhecer o paraíso também?

    Pedro balançava o corpo, os ombros descoordenados. Em seguida, levou a mão a um saquinho vazio preso à cintura.

    — Acabou… — murmurou. Depois, mais alto: — Acabou! Acabou! NÃO! EU QUERO MAIS! ME DÁ! — Ele avançou de súbito, agarrando o colarinho de Kim. — Por favor, eu preciso… me dá dinheiro! Eu preciso de mais… só mais… só mais um pouco! Maaaaais!

    Kim empurrou o homem para longe, o coração disparado. O desespero no olhar de Pedro era insano. Suas mãos tremiam. A saliva escorria pelo canto da boca.

    Aisha e Pandora se mantinham perto, tensas, sem saber o que fazer.

    Kim encarou aquele homem convulsionando aos seus pés. E, por um momento, não sentiu medo, nem nojo. Apenas pena.

    Pedro fora um guarda do reino de Insurgia. Um homem leal, forte. Um dos poucos que serviam diretamente ao rei. E agora… agora ele era só um eco quebrado de si mesmo.

    — Pedro… o que foi que você se tornou?

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