Capítulo 66: A Arte da Luta, A Arte da Dor
Avançando de forma penetrante, um punho lacerou o vento com uma sequência absurda. Os punhos treinados eram qualitativos e sua precisão era tremenda e perfeita. Kim, apenas com uma espada de madeira, tentou defender-se dos socos de Bellatrix.
Golpe após golpe, a mulher tática claramente tinha a vantagem. Kim mal se mantinha em pé e conseguia defender, porém, seus ossos gritavam com cada defesa. A mulher nem mesmo sentia-se oprimida, controlando a luta a todo momento.
Um golpe de direita, um gancho de esquerda, um chute, um cruzado, segura a espada, lança para o lado, um chute na barriga e um punho direto na cara. A mulher conseguiu passar da defesa de Kim e derrubá-lo.
— Você fica muito na teoria, deve entender a luta, entenda o que seu oponente quer fazer e controle a briga.
A mulher andou a passos firmes até sua posição inicial, onde estava uma lança de madeira, ela pegou a arma que tinha abandonado no começo da luta e avançou no garoto que acabará de levantar.
— Mantenha o foco. Você fica tenso quando alguém lhe oprime, controle.
— Isso é mais difícil do que parece.
— Não é não, você apenas está fazendo o básico, saia do básico.
Kim tentou um corte na horizontal, mas a mulher usou suas mãos e desarmou a espada de madeira do garoto, um soco na cara deixou Kim em maus lençóis. A mulher segurou o louro pelo colarinho e puxou para perto, de onde viria outro golpe.
Usando as mãos, defendeu o golpe, e desarmou o agarrão, Kim tentou um chute, porém em vão, onde defendido por um pé, levou a outro chute em sua barriga.
— Você não é totalmente amador, porém, está muito distante da segunda melhor do reino.
— Segunda…? Eu vejo…
Kim se sentiu fraco ao perceber que todo seu treino era em vão se comparar com seus últimos confrontos, porém, não queria desistir.
Kizimu e Pandora observavam tudo a certa distância, Aisha tinha ficado na mesa com Eleanor, a otaka. A dupla se mantinha atenta na luta, e sentiam cada golpe como se fossem neles. De repente apareceu duas pessoas…
O ataque cruzou os ares, os golpes cortaram os ventos e Kim se mantinha na desvantagem.
— O que eu preciso fazer para melhorar?
— Olhe para você garoto, luta na teoria, para de bancar o livro e se torne a história, lute como se sua vida dependesse disso, porque na hora H, vai ser. — um chute derrubando Kim definiu a luta naquele instante.
Na frente de Kizimu e Pandora, estavam dois jovens de aparência imponente e presença marcante.
O primeiro tinha cabelos dourados e bagunçados, como se dançassem com a luz do sol. Seus olhos eram de um azul cristalino, brilhantes como safiras, irradiando um carisma alegre e desarmado. Usava uma coroa dourada de espinhos — uma peça simbólica, bela e levemente ameaçadora — que repousava sobre sua cabeça com a naturalidade de um herdeiro nato. Seu manto dourado caía sobre os ombros como o abraço de uma divindade solar, adornado por um broche dourado em forma de flor flamejante. Seu sorriso era radiante, quase ingênuo, e contrastava com o ambiente tenso da luta, como se sua própria presença fosse um bálsamo de luz.
O segundo jovem era o oposto em postura. Com os cabelos loiros penteados de forma mais reta e ordenada, seu olhar era sério e determinado. Vestia uma armadura reluzente de prata com detalhes dourados e gemas azuis cintilantes, que se destacavam como estrelas em meio ao aço. Um manto azul-real descia de seus ombros, dando-lhe ares de um cavaleiro de elite ou de um príncipe guerreiro. Em suas mãos firmes estava uma espada majestosa, com o punho encrustado de joias, revelando não só seu status, mas também sua experiência em combate. Seu semblante transmitia disciplina e frieza calculada, como se estivesse sempre pronto para defender ou julgar.
Ambos pareciam nobres — talvez príncipes ou comandantes de alta patente — mas suas presenças divergiam como o dia e a noite: um irradiava esperança e juventude, o outro, força e responsabilidade.
Um tiro cruzou os céus e fora defendido pela espada de madeira, a bala de borracha com a pressão de mil canhões quebrou na espada. Amara assoprou o cano da pistola dela. A mesma trocou as balas para que não matasse o que estava em sua frente, mesmo assim, a pressão poderia deixar uma marca impossível que esquecer.
— Isso é a nova marca da guerra?
— É isso aí, tô vendo que tu tá surpreso, hein, garoto que chegou atrasado…
— Eu não vou perder para a nova tecnologia.
Kim avançou e cortou os ares, mirando na mulher, e a pistoleira arqueou o corpo, onde a arma passou por cima dela, ela aplicou uma finta onde quebrou a guarda de Kim e derrubou o garoto.
Derrubado, girou e levantou rapidamente, o garoto avançou e a mulher girou o tambor e deu três tiros sequenciados, Kim, com muita dificuldade, defendeu os três golpes. A mulher sorriu e as balas soltaram uma fumaça espessa e marrom, atrapalhando a visão do garoto.
Diversos golpes vieram de dentro do nada, a fumaça atrapalhava a visão e deixava Kim sem ação. O garoto tentou de diversas formas contra-atacar, porém, estava sem ação. A mulher estava dentro do próprio território.
Notando com mais atenção, a cortina de fumaça, na verdade, era areia, e isso entrava em seu nariz, o atrapalhando, aos poucos a cortina de areia sumiu e 3 tiros vieram, acertando a barriga do garoto em cheio.[
A dor aguda gritou, Kim sentiu o estomago se dobrar, a dor não poderia ser descrita normalmente. Como aquilo não atravessou seu corpo, era um mistério, porém, era como receber um avião inteiro no tamanho de alguns centímetros de diâmetro na barriga.
Kim tossiu saliva e recebeu um chute que cruzou seu corpo para longe. O mesmo ficou no chão sentindo a dor da bala em sua barriga.
— Kakakaka! Então esse é o tal moleque psicopata que andam comentando por aí? Esperava bem mais, viu.
— Eu apenas treinei sozinho desde então… pelo visto eu não evolui muito.
— Não vou te botar pra baixo, não, moleque. Pra quem tá começando, até que tu se garante. Mas eu e a Bellatrix… nós é cabra braba mesmo, kakaka.
Kim fracamente se levantou, ele não queria perder, mesmo assim, a dor não desaparecia.
— Agora, serei eu a lutar contigo.
— Quer me humilhar aqui também? Ernesto.
O homem esguio de presença imponente não estava olhando com nojo, e sim com respeito.
— A tua espada revela muito treino, sem dúvida. Mas ainda há muito que podes aperfeiçoar. Permite-me transmitir-te o que o meu mestre não chegou a ensinar.
Ernesto se curvou, um pedido sincero, Kim ficou muito surpreso, nunca imaginou ver Ernesto se curvando.
— Não precisa se curvar, eu aceito de bom grado a ajuda.
— Muito bem. Posição número um. — O homem instantaneamente se posturou e Kim, imitou sua postura.
Kizimu notou uma grande semelhança daqueles garotos com Kim, onde o seu amigo seria uma pintura de um quadro, ambos seriam peças muito requintadas.
— Bem vindos ao castelo estrela branca. — disse o garoto loiro menor, que tinha um grande sorriso. — Vocês são as novas visitas, certo?
— Somos, é um prazer em conhecê-los. — Kizimu estava nervoso, não sabia como prosseguir.
— Olha, muito obrigado por cuidar do nosso irmão. Meu pai me contou que você é o senhor da casa Kuokoa.
Kizimu ficou impressionado com o garoto o elogiando. Ele parecia ser menor que ele, e menor que Aisha também. Talvez ele tenha algo entorno de 13 ou 14 anos. A falta de precisão de suas informações eram estranhas. Diante a isso, o garoto ao seu lado, tinha certeza que tinha 20 anos.
Uma certeza que vinha diretamente de sua maldição.
— Como um adolescente como você pode ser um senhor de uma casa? Não tinham ninguém melhor? — indagou o mais velho.
— Desculpa, ignora meu irmão. Olha meu nome é Absalom Umbral e meu irmão se chama Leonardo Umbral.
O contraste do sorriso do garoto e da seriedade do outro era impressionante, era verdadeiramente como ver o sol e a lua.
— Meu irmão não tem técnica alguma, é apenas um idiota que segue a risca, as regras, ele não tem paixão.
Kizimu ficou irritado, mas manteve a calma.
— Ele sempre treinou sozinho, não tinha alguém para ensinar ele.
— Isso não é desculpa.
— Leo, vamos lá, Ernesto vai ensinar ele, com certeza ele vai ficar muito forte.
— …
A luta entre Ernesto e Kim já havia começado, e o resultado era claro. Cada golpe, movimento e corte tinha uma precisão de uma centelha que corta os céus e implica com a terra. A precisão cirúrgica era perfeita e seus golpes eram cem porcentos qualitativos. Ernesto era um verdadeiro mestre na esgrima.
— Controla a respiração. Um verdadeiro espadachim começa por aí. Expirar com precisão mantém o ritmo e poupa energia.
— Certo!
— Lê os meus movimentos. Antecipar os ataques é crucial. Repara bem nos ombros, nas ancas e nos pés.
Kim passou a se ater a isso, já lia sobre isso, e sempre mantinha atento a espada, aos braços, porém, manter-se atento a postura seria um novo desafio. Com certa dificuldade, começou a entender, os ataques seguiam um padrão.
Se o ombro tensiona, pode vir um ataque, se o quadril move, seu corpo está fazendo arcos ou fazendo estocadas. Tudo era bem difícil de entender, mas, era logico.
— Estuda bem a tua distância. Saber até onde a tua lâmina alcança, e onde te deves colocar, é uma arte. Ataca-me no instante certo. Diversifica os teus golpes; cortes horizontais, verticais, estocadas, combinações, fintas… Não te repitas.
Kim tentava usar cada centímetro do próprio corpo, tentava suprir sua falta de compreensão da luta com seu conhecer. Cada golpe que dava o fazia lembrar de cada corte que deu no luar. Os ventos, a força, a fúria.
Cada dia que estudou, cada força que manteve nos seus treinos incensáveis, nunca parou, nunca iria parar, e agora, lutava com todas suas forças. Com dores incompreensíveis, mas com uma ferocidade nunca antes vista.
— Usa o ambiente a teu favor. Repara em como o que te rodeia pode ser uma vantagem. Supre as tuas fraquezas com inteligência. Percebe, adapta-te, evolui — e rompe a guarda do teu adversário.
Kim tentou, pulou de um lado para o outro, atacando de lugar novos, tentava usar o chão desnivelado, tentava jogar seu novo mestre para locais que ele não poderia imaginar, mesmo assim, não adiantava, o homem não era detido.
O abismo de nível entre os dois parecia diminuir, mesmo assim, era um abismo enorme.
— Adapta-te ao estilo do teu oponente. Nunca lutes sempre da mesma forma. Um bom espadachim molda-se ao inimigo. Observa-me. Eu sei que és capaz.
Kim observou com todas suas forças, uma leitura perfeita, um jogo de cores diante do inevitável. Sua espada poderia ser de madeira, mas não seria falha. Os cortes cruzavam os céus, e pulavam para todos os lados.
De repente, a luta que parecia ser definida para apenas um lado, começou a ganhar cor, os dois espadachins iniciaram uma bela dança, onde cruzavam belamente suas espadas. A espada perfeita, era refletida diante a espada que tentava alcançar a perfeição.
A luta abrasadora jazia um quadro belo que pairava diante a todos os observadores. Bellatrix e Amara ficaram animadas. Kizimu e Pandora orgulhosos. Absalom feliz e Leonardo surpreso, fazia o contraste sempre parecer o certo a ocorrer e um observador distante era Guto. O mesmo estava dormindo diante toda a situação, mas, conforme Kim evoluia, o garoto passou a prestar mais atenção, e cada vez mais atenção.
A luta acendeu uma chama em Guto que o fez levantar. Ele queria essa luta, ele anseios por essa luta, e agora, o garoto que parecia mais fraco que ele, estava alcançando sua própria espada, talvez, tenha até te superado.
Guto ficou muito, muito ansioso, e cheio de energia, ele deveria entrar nessa briga. O mesmo andou até a arquibancada, saindo de baixo das escadas.
Os cortes cruzam o ar como se a madeira fosse parte do mundo, os cortes tão precisos e com uma força que poderia cortar, mesmo sem um fio na lâmina. Tudo dançava, tudo trazia calor, tudo trazia um mundo de possibilidades, e assim, o combate foi decidido.
A espada de Kim voou, e a de Ernesto, cruzada em uma pose direta de ataque contido, pendurava na frente do pescoço do garoto loiro.
— Parabéns. Contínua nesse caminho.
Leonardo não pode deixar de soltar o ar.
— Impressionante
— Eu não disse, sabia que meu irmão mais velho iria surpreender.
Absalom ria gentilmente, com uma felicidade genuína.
— Não se esqueça que eu também sou seu irmão mais velho.
— Onde está indo?
— Eu vou pedir um duelo.
No instante em que Leonardo estava descendo, notou algo.
— Kim Umbral, eu desafio você para um duelo.
Um pedido formal fora executado, não foi escutado errado. Na frente de Kim, Guto estava pronto para solicitar seu confronto.
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