Índice de Capítulo

    Nos ornamentados abobadados, no branco que contaminava o mundo, o palco infinito, a tela de onde o azul se manifestava, passos aconteciam. Olhando para as fendas das pedras perfeitas do chão, as linhas finíssimas em tom de safira, que desenhavam constelações.

    Talvez sua carne estivesse apodrecendo, pelo fato de sua mente estar tão agitada. Talvez seus ossos estivessem prestes a se quebrar por tão quente de sua pele estar. Talvez suas unhas ardessem de tanto que roeu na noite passada. Talvez perdido pelos corredores imensos, talvez a verdade era inacreditável.

    No decorrer da repetição, repetição, repetição, ele viu as coisas terminarem cruelmente, com a situação piorando a cada repetição, e agora, com a morte de Bellatrix, que mesmo sabendo do dia e a pessoa, nada pode fazer…

    Ele finalmente percebeu.

    Ninguém esperava nada de Kizimu. Nem mesmo ele.

    Não importa quantas vezes pessoas morressem, não conseguia se acostumar com o fato da morte, não era possível isso caber em seu peito. Não importa o quanto tentasse ser forte, o coração humano não era possível passar por tanta dor, e tonto ele ficava.

    O sangue fluía pelas suas veias, e conseguia sentir- se se entorpecer pelo sentimento de destruição, era o fundo do poço, por tudo aquilo que ele passou… ele se afundou no abismo, ele encontrou aquilo que ele mais temia — insuficiência.

    Quis salvar Hermione

    ela morreu.

    Se tornou amigo de Eleanor

    ela morreu

    Salvou o coração de Amara

    ela morreu.

    Ganhou a confiança de Bellatrix

    Ela… morreu.

    Não fazia mais sentido, não tinha mérito, não fez ser, não fazia ser, não conseguiu, não, não…

    Por que ele tinha que continuar tentando? Nada do que ele tinha feito até então tinha funcionado. Tudo que ele quis fazer deu errado, e no fim, falhou, falhou, e falhou.

    No fim, todos morreriam, tudo escorreria pelas suas mãos.

    — Eu…

    Vou me vingar? Como? Se ele não tem forças nem para vencer Guto, como poderia vencer alguém mais forte que Bellatrix.

    Não venceu Amara, Guto ou Bellatrix, e apenas venceu John Bento graças a carta Papa.

    Não venceu Tarotian, a carta Morte o matou….

    Não tinha conseguido fazer nada até agora, não tinha conseguido realizar nada até agora.

    Até Guto tinha desistido de acreditar nele. Bianca foi a primeira a acusar ele. Talia acusou ele. Brielle, ela provavelmente deve desistir dele eventualmente.

    DO QUE ADIANTAVA CONTINUAR?

    Não tinha nervos de aço, não tinha sangue-frio, não tinha um racional tão profundo, mais como antes, estava frágil, fraco, inútil.

    Passo rápidos, respiração ofegante, tonto estava, perdido estava, o coração álgido e o peito fumegante. O apertar mais profundo de sua respiração, sem ar ficava. Tonto, mais tonto, tudo girava.

    Mais passos.

    Como ele explicaria para Aisha que queria desistir? Logo sua irmã querida que tinha certeza de sua própria força. Ela que o ergueu uma vez. Como poderia dizer para ela que não aguentava mais e queria ir embora.

    Mais passos.

    Como ele explicaria para Kim que queria desistir? Logo seu cavaleiro, o qual disse que ajudaria a superar seu passado. Agora ele passava por outro momento um tanto traumatizante, não poderia ser perdoado como um senhor de casa.

    Mais passos.

    Como ele explicaria para Pandora que queria desistir…

    Logo sua empregada pessoal, aquela que, com todas as energias, uniu toda coragem e forças para salvar. Sim, ele conseguiu salvar ela… Por que o garoto que conseguiu salvar Pandora? Logo ele que conseguiu salvar aquela garota tão forte e linda. Por que agora ele se fazia tão inútil? Por que ele não poderia ser um grande senhor que resolvia os problemas de todos, com um estalar de dedos?

    Lágrimas jorravam de seu rosto, enquanto isso, seus pés desencadearam sua correria pelos corredores. 

    O labirinto em forma de castelo. 

    Ele passou pelas paredes, altas e perfeitas, chorava, chorava, chorava. Então, tropeçou, caiu, seu rosto pelo chão e seus braços esparramados mostrava o quão infrutífero era.

    Queria desistir — não, já tinha desistido. Queria fugir — sim, ele fugiria, fugiria para bem longe, iria fugir para longe e assim não precisaria sofrer tanto. Ele aprendeu, ele já tinha aprendido, ele não servia de nada.

    Nada do que ele fazia adiantou, então…

    Ele poderia fugir, não é?.

    Poderia, sim, ele poderia, tem certeza que poderia.

    — É melhor assim.

    Até porque, todas as mortes aconteceram por causa dele, todas eram pessoas que falaram com Kizimu antes de morrer. Com certeza essa era a solução, ele não precisava de mais uma resposta, aquilo era a resposta.

    Falhou, falhou, falhou.

    Suas lágrimas no chão eram tão ridículas quanto uma criança, supérflua e vazia. Sem nenhuma dignidade, ele derramava liquido de todos seus orifícios do rosto, ele estava perdido.

    Ele então se levantou quase sem forças e chegou até o fim, onde lá, viu o lugar irônico que tinha chegado. A grande alavanca de ponta vermelha. Ela debochava do fato que nunca veria Kizimu acionar ela.

    Então, só então, ouviu uma voz, um ecoar, algo que mudaria seu destino para todo sempre, então, essa voz chegou, e ela era…

    ✡︎—————✡︎—————✡︎

    Kim, Aisha e Pandora corriam, eles se separaram para seguir por mais lugares, assim poderiam cobrir mais áreas, pensamento inocente, mas eficaz.

    Kim estava estressado. Logo seu mestre estava em um estado tão catatônico. Ficou tantos dias para provar sua inocência, e não tinha achado nada. Os corredores silenciosos, apenas iluminados pelos passos apressados do garoto louro que corria.

    Sentindo aquela tensão em sua pele, Kim umedeceu os lábios ressecados com a língua, suas mãos suavam, e a agonia era palpável. Não estava em seu melhor momento, tanto Amara quanto Bellatrix eram primas dele. Primas que tanto brincou, tanto respeitou, tanto treinou.

    Elas não eram do seu grupo de treino, mas, tão eficazes, tão admiráveis, e agora, sua falha resultou não apenas nas suas mortes, quanto no acusar de seu mestre. E o que estava fazendo, relaxando mimadamente em sua cama.

    Ele chorava em frustração, enquanto passava por diversos corredores, mais e mais, falhos em sua procura. Como poderia ser tão inútil? Como poderia falhar em salvar a única pessoa que jurou proteger como cavaleiro pessoal?

    Ele tentava olhar por todos os cômodos que poderia jurar que seu senhor estaria, quarto, banheiro, jardim, e nada, nada, nada, sua falha não poderia ser mais do que pressuposta, ele era um péssimo cavaleiro, ele era horrível, então, caiu no chão.

    Com a mão sobre o chão, o piso tão brilhoso, e perfeito, conseguiu refletir seu semblante, embaçado, mas, era ele. As lágrimas caiam no chão, perdido, falho, inútil, como poderia ajudar seu senhor estando tão frágil assim.

    — Kim…?

    Logo ergueu sua cabeça com um fio de esperança, mas, era falho, era apenas seu irmão mais novo, que com um sorriso no rosto continuou.

    — Precisa de ajuda para se reerguer de novo? Pode contar comigo.

    Um sorriso tão singelo e inocente, lá estava, aquele que com certeza o seguiria até o fim dos tempos.

    Aisha, por sua vez, também correu por tudo que era sagrado. Avançou até a entrada, ela tinha certeza de que ele estaria lá, mas falhou em seu encontro. Correu para a cela, onde também pensou que ele se esconderia, correu, e correu para todo lugar onde achou que o encontraria, mas nada.

    Ela se culpava. Ela não pôde entrar em contato com Kizimu quando ele mais precisou. Quando Amara morreu, ela não pôde entrar na sua cela. Quando Bellatrix morreu, ela não pôde entrar. Ela não pôde ajudar ele, ela não pôde fazer nada, e no fim, nada fez.

    Ela queria estar com ele para o ajudar, mesmo assim foi falha. Por que seu arbítrio não funcionava? Por que quando funcionou pela primeira vez, foi apenas com Eleanor? E por que foi em um momento em que ela já estava morta? 

    Por que ela também não conseguia fazer nada? Frustrada, perdida, fraca, umedecida. Ela não conseguia acreditar o quão ridícula era.

    “A querida irmã de Kizimu.”

    O quão falho esse titulo era. Pois, logo quando ele mais precisou de apoio, ela não disse nada. Não conseguiu proteger ele. Não conseguiu defender ele. Como poderia dizer que iria protegê-lo, se nem conseguia realmente fazer isso.

    E sua promessa a Minne?

    E sua promessa a si mesma?

    E sua promessa ao Anastácio?

    E sua promessa ao Kizimu quando crianças?

    Tudo parecia falho, tudo parecia mentira agora, então, queria mais do que tudo achar seu irmão, queria mais do que tudo achar, até que se esbarrou em alguém. Mas ela era…

    — Tia Liz…

    Olhos suaves, porém atentos, cabelos longos e escuros como uma noite sem lua, agora soltos e ornamentados com um lindo arrumar perfeito. O vestido negro com detalhes florais dourados fazia sua presença ser tão digna de rainha com um ar nobre. Sua mais perfeita presença, havia graça e pureza — a alma do reino.

    — Minha pequena, como está? Sei que passaram por terríveis coisas.

    Aisha precisava achar Kizimu, não poderia perder tempo, então no passo que deu…

    — Quê?

    Ela caiu e a rainha a pegou, seus olhos enchidos de lágrimas não paravam de jorrar.

    — Seu corpo não aguenta tanta dor, não é errado descansar quando necessário.

    As palavras gentis, mas carregada de vigor, era como um tecido suave que envolvia Aisha como uma luva. Ornamentada e perfeita, aquela voz aveludada e tão digna da existência mais que perfeita.

    Aisha sabia que a mãe de Kim carregava tanta perfeição quanto o mesmo garoto, mas ver de perto novamente, deixava ela com uma tensão enorme. Ela precisava de descanso, não aguentava mais chorar, mesmo assim, queria chorar.

    Não tinha superado as mortes, se fazia de forte, mas não era forte. Então, nas mãos que pareciam tocar sua alma. Uma presença tão etérea, o coração que ardia em chamas, repousava com calma e calor.

    — Pode descansar em meus braços quanto tempo quiser, apenas relaxe, eu vou acalmar seu coração, minha pequena Aisha.

    — …! — chorou mais por ter ouvido aquilo.

    Ela chorou, e chorou, nos braços não de sua mãe, mas naquela que com poucas palavras poderiam comandar um reino. A grande rainha de Insurgia agora abraçava com todas suas forças. Abraçava a chama da esperança.

    Pandora agora avançava.

    Ela andou correndo o máximo que conseguia, ela estava determinada.

    Mesmo que ela não tinha palavras para refutar aqueles que estavam na mesa, pois sua mente estava focada em um sentimento.

    Provar para salvar.

    Ela definitivamente acharia o culpado, e assim, provaria sua inocência, então seu coração domado pelo desejo, que seria útil, ela andava firmemente.

    Ela precisava ser a asa de Kizimu, aquela que ajudaria ele a chegar o mais longe possível.

    Se Minne disse que ele seria aquele que salvaria a todos, ela seria a ferramenta para tal. Por isso, agora que precisaria salvar Insurgia, ela faria todo o necessário, para salvar Kizimu.

    Da própria escuridão que o cercava.

    Ela estava um pouco confusa, e se perdeu, mas tinha certeza de onde procurar, pois, sabia como o coração de Kizimu funcionava, ela mais do que ninguém poderia achar ele, porque…

    — Eu sou a empregada pessoal de Kizimu.

    Ela firmou sua determinação e passou pelos corredores tão ornamentados, até então chegar a um garoto de cabelos pretos bagunçados, olhos marejados e vermelhos, um doce pequeno jovem que mal conseguia se manter de pé.

    Então, Pandora determinada chegou, olhou para seu amado e caminhou solenemente, finalmente frente a frente, ela ressoou:

    — Estou aqui para você, meu senhor.

    ✡︎—————✡︎—————✡︎

    Ainda não tinha se dado conta totalmente do fato de sua empregada pessoal estar a sua frente. Sua fraqueza em seu coração era tamanha que ver alguém o encontrando lhe causava uma vergonha, talvez um temor muito alto.

    Perdido, ainda sem razão, precisou ter certeza do que viu, ou de quem viu.

    — Pandora…

    — Sim, sou eu, a sua Pandora.

    Kizimu assentado em pé. Imóvel ainda tremia, enquanto, Pandora, que caminhava bem a frente dele, estendeu a mão e tocou sua bochecha.

    — Desculpa não ter intervindo antes, mas aquelas perguntas e afirmações todas o deixaram muito cansado, não é?

    O espúrio1 coração de Kizimu ainda tentava se colocar no lugar, tentando encaixar novamente seus pensamentos, mas aquele aconchego no toque era tão perfeito que se sentiu mais leve, mais calmo, mais resolvido consigo mesmo.

    — Cansado…? Sim, eu estou cansado, muito, muuito cansado. Eu estou sem energia, desgastado. Sem forças, sem nada.

    Quando a mão de Pandora descansou em sua bochecha, ele lentamente levantou sua mão, pressionando-a contra a dela. O toque entre eles fez a garota erguer as sobrancelhas de surpresa, mas a voz abatida e a expressão de Kizimu a deixaram sem palavras. 

    Logo quando queria fugir, logo quando mais queria fugir de tudo, por que logo ela tinha que aparecer ali? Mas, ficar e não fazer nada era inútil, mesmo assim, se sentia tão confortável com seu toque, tão Idílico2, era um toque tão amável… mesmo que não tivesse a definição do significado no seu coração.

    Então, decisão mais que completa ressoou em sua mente, e no seu toque mais impulsivo, ele pensou em agir.

    Pandora parecia que estava tentando dizer algo, mas Kizimu nem mesmo olhou para ela; em vez disso, ele sentiu a presença firme e sólida de Pandora contra sua mão — como se se agarrasse a esse calor para impedi-lo de fugir.

    Correu como um leopardo. Passando pelos corredores ornamentados tudo se fazia parecer confuso, os corredores que sim, eram um labirinto, ali então se formava o pior de todos os corredores.

    Mas tinha certeza de para onde iria.

    Kizimu correu rapidamente, passando por diversos corredores que já tinham noção. Ele, a quem tinha aprendido com Bellatrix como chegar da entrada até aquela alavanca, saberia fazer o caminho inverso se necessário.

    Até aquele momento, sua mente estava assolada por um grande e desesperado caos. Sua mente estava esmigalhada e pronta para entrar em colapso. Ele não abrigou nada além de incertezas naqueles dias de angústia, mas agora tudo estava claro como o dia.

    Tinha certeza do que deveria fazer, para alcançar o futuro mais-que-perfeito, aquele em que finalmente toda dor em seu coração poderia acabar com apenas um piscar de olhos, aquilo que sumiria com todas suas dores, e incertezas.

    — Kizimu—

    Seu corpo se movendo em turbilhão, coração acelerado como um avião em propulsão, seus pés batendo contra o piso tão divino, mesmo assim, estava leve. Pois tinha aliviado o problema em seu coração. Kizimu não tinha mais medo de nada.

    — Kizimu, se acalma—

    Puxando o braço para frente, ele pode ver finalmente a porta de entrada, aquela porta enorme e maciça era realmente impressionante, nunca conseguiu notar o quão bela e perfeita era, talvez fosse a ansiedade de entrar e ver o castelo, mas era até um pecado não perceber uma porta tão bela.

    Foi naquela porta que conheceu Hermione, e isso deu uma pequena pontada em seu coração. A determinação não falhou por isso, ele correu, enquanto a sombra de várias estrelas cobriam o chão. O sol batia nas janelas esculpidas com constelações inteiras, e agora, elas cobriam aquela grande saída, dando um palco de fim de estadia.

    Todos que entravam e saiam tinham que passar por aquela porta, e era até estranho um local que era tão movimentado estar tão vazio. Mesmo quando veio com Bellatrix, estava cheio de empregadas, talvez não fosse o momento de limpar.

    Era apenas mais um passo e finalmente eles sairiam—

    — Kizimu!

    Depois de trazê-la até aqui, seus pés pararam rispidamente quando um forte puxão seu braço parou. A resistência inesperada fez o garoto olhar para trás. Quando Pandora ficou parada, seus olhos vacilaram com perplexidade. 

    Quando a empregada finalmente se viu liberta de seu aperto, ela pareceu se manter mais ativa, com seu peito ofegante e mais ereta, ela ergueu a voz:

    — Kizimu presta atenção! Antes de fazer qualquer coisa, deve sempre explicar antes, não posso deixar você tomar atitudes assim sem me explicar.

    Ela suplicou, mas foi direta ao ponto, sendo verdadeira, mas assertiva. Ao ouvir essas palavras, Kizimu aceitou que era certo que Pandora abrigasse duvidas. Aos olhos dela, Kizimu tomou uma decisão repentina e apenas começou a puxar seu corpo por todos os corredores, sem nenhuma explicação.

    — Ah, verdade, é que eu estava com pressa, minha cabeça estava em um turbilhão, mas você tem razão, você merece uma explicação.

    — Mais do que justo não? Eu sei que sou toda fofa, mas, precisa me explicar tudo direito.

    Pandora insatisfeita olhou com mais vigor, ela estava totalmente na ativa da situação, Kizimu achou que seria mais fácil, e também gostaria que tudo acaba-se logo.

    Sua determinação estava de pé, levando em conta que não se esbarraria em Kim ou Aisha, os quais, se visse, perderia totalmente seu resto de vigor que gerou naquele minúsculo período.

    Pandora ofegava, pois correram por diversos corredores sem pausa, aquele labirinto era verdadeiramente bem complicado, subir e descer escadas, correr em espiral, ir para outra ala, e finalmente descer mais escadas era um caminho longo ainda levando em consideração aos longos corredores que passaram.

    Ela, com as bochechas levemente avermelhadas, colocou a mão sobre os seios e tentou controlar a respiração. A garota então finalmente soltou um suspiro de alívio, pois, também, tinha ouvido na voz de Kizimu que ele havia se recuperando.

    A voz de Kizimu na mesa de jantar estava péssima, e a garota ficou realmente preocupada, mas, vê-lo agora falar tão animado, soltou um peso de suas costas.

    Percebendo o alívio de Pandora, se sentiu um lixo por não ter explicado nada antes, era claro que ele foi sem consideração alguma. Como ela não entendia o que se passava na mente dele, não entendeu o turbilhão de milhares de possibilidade que se passou, então, depois de tantos fracassos em sua mente, depois de pensar tanto em tantas e tantas possibilidades, ele enfim chegou a uma conclusão.

    Mas ela não sabia qual era sua decisão, ela não passou pelo caos dos milhares de pensamentos que passaram em sua mente. Por isso, foi realmente totalmente insensível.

    Mesmo que tudo isso era apenas para desviar os olhos da própria escuridão em seu coração. Ele falhou em salvar Hermione, disse que salvaria ela, mas no fim, apenas falhou. Ele falhou em evitar a morte de Eleanor, no qual nem imaginava que aquilo aconteceria de novo tão rápido. Ele falhou em proteger Amara, no qual juntos prometeram que iriam achar o culpado. E falhou em proteger Bellatrix, no qual tinha o dia e a informação de quem iria morrer. Falhou, falhou e falhou. Isso também se não levarmos em consideração que agora todos de Insurgia acusavam ele das mortes que ocorreram e quando precisava se defender fugiu vergonhosamente.

    Do ponto de vista de Pandora, ele estava apenas sofrendo sobre suas mortes, mas era muito mais complexo. 

    Sua mente um turbilhão, em caos, pensou todas as possibilidades, tudo que poderia fazer para evitar a próxima morte, mas, tudo falho, tudo em vão, tudo aquilo que não poderia ser evitado. 

    Mesmo depois de pensar tanto na noite passada, não conseguia achar a solução, mesmo depois de tantas, tantas, tantas, dores, não achou a solução, e tudo que enxergou, estava logo a sua frente. A salvação, a solução.

    Então, como achando uma resolução mágica, ela ainda não sabia qual era esse tal escolha.

    — Desculpa por não ter explicado nada, era que eu fiquei pensando tanto em tudo, então, depois que eu tive a certeza do que fazer, eu apenas fui e vush, resolvi agir.

    Ele falava de maneira leve e brincalhona, era risadonho e totalmente inocente, tal como sempre foi. Aquilo não era atuação, realmente estava mais calmo. Estar decidido era assustador. Era como um relâmpago que apenas aparece e some, era algo inédito.

    — Não tem problema, contanto que explique agora, eu fico feliz em ouvir, lembre, eu sou sua empregada pessoal, pode contar comigo.

    O sorriso confortável no rosto dela, lembrava que era a realmente sua maior conquista. Conseguir salvar ela foi algo que realmente salvou seu coração, então, seu sorriso mais do que perfeito, aquele semblante sereno, mas decidido. Pandora tinha se tornado uma mulher muito forte.

    Kizimu falava com olhos gentis e animados, e Pandora com vivacidade, ela não escondia o prazer claro de poder conversar com Kizimu daquele jeito tão bem resolvido. 

    Ver seu rosto assim deu ainda mais certeza, era aquilo que era necessário, aquela certeza que mais tinha sobre o que deveria fazer. Não entendia completamente o sentimento, mas, com certeza, era um sentimento caloroso que jazia em seu coração.

    Então timidamente sorriu, e acenou com a cabeça para a pergunta fez.

    — Olha, depois de tanto caos que aconteceu eu percebi que realmente causei muitos problemas vindo, mas também não é certo apenas dizer que causei ao pessoal de Insurgia, eu realmente causei muitos problemas a Aisha e Kim também, tudo culpa por que eu não sei quando parar e fico tentando de novo e de novo, metendo meu nariz onde não sou chamado.

    — Eu acho essa sua atitude egoísta um dom seu.

    Kizimu sorriu sem forças diante da resposta suave de Pandora.

    — Pandora eu decidi.

    Ela estava perto o suficiente para estender sua mão, poderia tocar nela, poderia sentir e abraçar, ao qual tinha, de alguma maneira, uma vontade muito grande. Com seus olhos azuis-escuros, olhou através das pupilas pretas de boneca da garota à frente.

    Seus cabelos tão longos que quase beijavam o chão, com apenas um detalhe, o fato de suas pontas serem azuis, uma beleza que tornava ela única. Tais cabelos começaram a balançar pelos ventos que passavam pelas enormes janelas, aos quais, algumas permaneciam abertas.

    A blusa manga longa bege, um toque folgado era encantador, com pequenos e bem colocados detalhes florais bordado no tecido. A gola delicadamente aberta, e sua saia azul-marinho que ia até os joelhos. Tudo era encantador naquele porte tão presente nos seus primeiros dias de vida.

    — Sim, Kizimu…

    Seu toque perfeito, das palavras tão belas, ela olhou com gentileza, e sua perfeição penetrou Kizimu. Naquele local tão sagrado, o eco da voz dela, cheio de afeto, o encantou; ela estava totalmente atenta ao que diria.

    Os olhos que se entreolhavam com animação e determinação, e então, a olhou de maneira séria, talvez por um momento até um pouco nobre e firme, mas não durou quase nenhum segundo, ele começou a falar totalmente abobadamente, soltando sua expressão para uma totalmente inocente e infantil, ao qual combinava mais consigo.

    — Bem, eu ainda não sei muito sobre conduzir uma casa, mas tenho conhecimentos práticos bem úteis, além do fato que aprendo rápido. Aprendi coisas com Cassian e Esme, e seus conhecimentos também vão ajudar.

    Uma certa confusão passou por Pandora que não conseguiu conectar direito com o que ele queria dizer. Mas Kizimu fingiu não notar as dúvidas e continuou seu breve monólogo.

    — Bem, Aisha me deu um cartão com bastante dinheiro, mas eu sei que o dinheiro não é infinito, então teremos que achar um trabalho. Talvez com Kuzimu eu possa aprender a fazer alguma coisa, tem muita coisa que não sei sobre o mundo. Mas tenho certeza que aprenderei rápido, e como você trabalha lá em casa como empregada, eu apenas pediria para cuidar de nossa nova casa com um grande cuidado.

    — Eh… Kizimu?

    — Oh desculpa, fiquei muito imerso na minha imaginação, você não entendeu algo?

    Percebendo que descambaleou ao falar totalmente sem pensar, notou realmente as grandes interrogações que tinham na cabeça de sua empregada pessoal. Kizimu sorriu gentilmente enquanto olhava para Pandora. Então, ela começou a rir levemente e olhou-o nos olhos.

    — Eu não entendi nada, vai ter que me explicar melhor.

    Kizimu riu pelo fato que era tão imprudente no que queria fazer. E como tirou essa pequena ideia do anime que viu naquela mesma noite, percebeu o quão parecido estava sendo com seu protagonista.

    — Ah, desculpa, eu realmente não percebi, eu acabei falando tudo, mas não explicando nada. Verdade, desculpa, desculpa.

    Kizimu então se alongou um pouco, e tocou de leve no ombro de sua empregada, onde ela sorridente esperava ansiosa entender o grande plano de seu mestre.

    — Eu passei uma noite inteira e meia manhã para chegar nessa conclusão, mas agora, mais do que tudo, acho que isso é a escolha certa. Demorei demais e pensei demais para uma resposta tão simples. Talvez foi um anime que me fez enxergar o que eu deveria saber, mesmo que eu esteja apenas escolhendo a escolha mais preguiçosa dele, por que eu nunca conseguiria levar tudo como ele levou… além disso, eu quero muito saber a continuação, temos que conseguir uma televisão e—

    — Se perdeu de novo.

    — Ah claro!

    Rindo, Kizimu percebeu o quão acelerado estava, sua mente um turbilhão e seus pensamentos não seguiam uma linha, ficando cada vez mais bagunçados, como uma árvore de pensamentos que focava em se distanciar e aumentar cada vez mais.

    Por toda noite pensou, e apenas quando caiu no chão nessa manhã conseguiu achar a resposta mais direta do que deveria fazer, ele já tinha visto muita gente morrer e percebeu que o destino era cruel e sem escrúpulos. Não tinha como vencer o assassino e nem mesmo encontrá-lo. Então achou a única possibilidade possível de alcançar com suas mãos.

    — Pandora…

    Imitando o personagem que tinha visto com tanta animação, mesmo com tanta dor no peito. Ele lentamente estendeu a mão na direção dela, e Pandora observou com um novo ponto de interrogação na cabeça. Ele colocou todos os sentimentos que passavam em sua alma naquele momento, e então ressoou.

    — Vamos fugir, juntos, eu e você. Para bem longe desse assassinato.

    Ele ali assinou sua carta de derrota.

    ✡︎—————✡︎—————✡︎

    — …Hã? Calma, quê?

    Pandora, ao qual com todo seu significado não tinha entendido verdadeiramente, os intuitos daquelas palavras, deixou escapar um exclamar de dúvida, ela sentiu como se tivesse ouvido errado e simplesmente tentou limpar seus ouvidos.

    Kizimu, sem nenhuma surpresa, continuou: — Vamos pegar um ônibus e voltar para salvador. Na verdade, não sei dizer se salvador é o melhor lugar. Porque seria perto de minha residência, então talvez devêssemos pegar o caminho contrario, saindo de Insurgia, mas sem voltar.

    — Er, calma, pera, não-

    — Realmente será uma jornada difícil pela minha falta de conhecimento, então vou contar com você muito nessa viagem, mas vai ser tão animado, vou conhecer tantas coisas novas, e tantos lugares diferentes, realmente será algo incrível a se pensar e acontecer.

    Realmente seria Pandora quem iria cuidar de muita coisa, mas ele cofiava nela o suficiente para isso. Usaria muito de sua maldição para resolver diversos problemas, mas no fim, tudo daria certo, contanto que estivesse com ela, tinha certeza que poderia dar.

    — Espera, espera! Paro, paro! Tempo, tempo!

    Kizimu estava no meio de seu pensamento quando Pandora fez sinal com a mão de tempo para o garoto focar totalmente nela, ele riu com a cena e voltou sua atenção a ela. A garota começou a juntar o que ele estava dizendo, mas diversas informações foram jogadas nela, apenas voltou a questionar.

    — O que significa “fugir”? Do jeito que você está falando parece que você quer fugir de todo esse assassinato saindo do reino, isso é…

    O olhar dela pareceu confuso, mas tentava compreender o que estava acontecendo. Ela tinha se tornado muito forte, então se manteve a mesma maneira. Ela, refletindo, chegou a uma conclusão bem breve. Batendo o punho fechado na mão.

    — Ah, finalmente compreendi! Você teve alguma ideia maluca, que vai ajudar Kim e todo castelo de Insurgia, então, quando você diz fugir, é para achar algo que junto a sua maldição você achou a solução, isso deve ser bem complexo para você ter pensado tanto sobre isso.

    Pandora riu como se tivesse compreendido finalmente o que Kizimu disse, o garoto ouviu calado, e olhou serio para ela, então, virando levemente a cabeça, disse direto e seco:

    — Não é nada disso, Pandora.

    — Hein?

    Ela, que tinha achado a melhor das respostas, ficou confusa por ter falhado em sua compreensão. Mas na frente da garota que tanto acreditava com muito orgulho, Kizimu sentiu nojo de sua decisão tão amarga.

    Isso estava encaminhando igual à cena que assistiu, pensou ele.

    — Eu estou dizendo Pandora, vamos fugir. Se ficarmos aqui não vai mudar nada. Nada do que eu fiz até agora adiantou. Na verdade, acho que as vítimas apenas foram escolhidas por que elas tiveram contato comigo. Eu ficar aqui não muda em nada, os assassinatos apenas vão continuar, e… eu não sou capaz de fazer nada.

    Sua impotência era clara, mais do que verdadeiramente, ele aprendeu que era impossível mudar algo. Viu as marcas do combate que ocorreu. Ele não tinha forças para enfrentar aquilo. O vazio sobre seu coração pesava, pelas mortes que já passaram, queria voltar e resolver tudo, mesmo sabendo que as pessoas que confiavam nele estavam lá, esperando e procurando por ele, mas, não adiantava.

    Tudo isso pesava muito para Kizimu, que por mais que tentava negar, as falhas nunca o abandonariam. Contudo, seu coração estava mais leve agora que abandonariam tudo. Não precisava mais pensar em nada. Agora, Kizimu estava livre dos problemas que enfrentou, quase como se eles nunca tivessem existido.

    — Então vamos fugir, Pandora. Cada pessoa daqui me fez enxergar que não confiam mais em mim, eles já disseram que eu sou o culpado, quando eu for embora, eles virão eventualmente que eu não sou o culpado, então até minha culpa vai desaparecer. Eu queria dizer que iria salvar todo mundo, mas… isso é arrogância demais.

    Querer salvar todos de Insurgia, estava muito longe disso. E pensando mais profundamente, se ele nem conseguiria resolver essa situação, se ele nem poderia resolver o problema de Insurgia, como poderia salvar a todos em sua própria casa. Não poderia simplesmente fugir para residência, porque como o destino que o aguardava, teria que salvar a todos.

    Sua vergonha de não conseguir salvar Kim não sumiria, e nunca se perdoaria, então, o melhor a fazer era nunca mais voltar para lá, nunca mais tocar seus pés em sua residência.

    Achava realmente que poderia salvar a todos. Acreditou por ser o primeiro pedido que teve, que realmente poderia fazer a diferença, mas o mundo jogou na sua cara que não. Era fraco, falho, burro, e muito, muito inútil.

    — Eles não…

    — Você estava lá, você ouviu eles dizerem que eu sou o culpado, não tem como mudar isso.

    Nem mesmo Guto, que estava o treinando, acreditou nele. Ou mesmo Talia, que tinha antes dado um voto de confiança para Kizimu e Pandora. Bianca, a quem parecia tão feliz e brincalhona, o acusou a torto e a direita. A única que não abriu a boca foi Brielle, mas, mesmo que soubesse que ela não fugiria muito de desistir dele também.

    Falhou em proteger 4 pessoas.

    Falhou em proteger Hermione, viu-a morta em seu próprio quarto com um punhal em seu peito.

    Falhou em proteger Eloeanor, viu-a morta em seu próprio quarto pendurada sobre o pescoço e com diversos cortes do fio de aço.

    Falhou em proteger, Amara, viu-a morta em seu próprio quarto com um tiro de sua própria arma.

    Falhou em proteger, Bellatrix, viu-a morta na mesa de jantar…

    Parando para pensar, a morte de Bellatrix foi a morte mais diferente até então, mas, não era o pior. Agora, TODOS, de Insugia o acusavam, e tinha fugido sem provar sua inocência, era tarde demais.

    — Kha-ha-ha!

    Quando ele refletiu levemente sobre suas próprias falhas, ficou claro que era um inútil e não era capaz de nada, nunca foi capaz de nada. Ele queria ajudar a todos e no fim todos apenas morriam, e morriam.

    Ele achava que poderia fazer algo? Quão arrogante era? Sim, que arrogância horrível. Quanta falta de consideração. Apenas o aproximar de Kizimu fez com que elas fossem escolhidas para serem mortas.

    Tinha certeza que esse assassinato nem teria começado se ele não tivesse vindo para o reino de Insurgia. Talvez não, pensando um pouco, talvez o assassino esteja sendo mais cauteloso com ele ali. Tinha certeza que mais pessoas morreriam com sua decisão de agora, talvez fosse o fim do castelo de Insurgia.

    Mas, fugindo, ele poderia apenas salvar alguém que ele tanto admirava. Não poderia levar Kim, pois teria vergonha de encará-lo. Não poderia levar Aisha, porque conhecendo ela, com certeza faria a mesma ação da heroína da história que viu, Aisha nunca deixaria Kizimu desistir.

    Então, no mínimo ela, a garota que jurou fazer de tudo para si. Que jurou ser dele como o que ele quer que ela seja, a pessoa perfeita que tanto se dedicava a ele. Seu coração sempre estava confortável com seu sorriso, sim, se pudesse proteger ela, pudesse levar ela, pudesse proteger aquele fio de esperança, então…

    Não tinha ninguém tão sem forças, mais inviável ou mais miserável do que ele para resolver o problema de insurgia, então, por que ele estava ali ainda? Se todos vissem os esforços dele, e como falhou em todos, poderiam até rir dele. Isso era chamado de quê? Palhaço? Como tinha lembranças do que era um palhaço se nem tinha memorias? Não poderia responder essa dúvida agora. Kizimu era o palhaço que todos estariam apontando e rindo, ele merecia esse titulo.

    Ele era o palhaço inútil que não era capaz de fazer nada.

    — Então eu decidi fugir. Eu sei que é a melhor escolha. Se eu me envolver mais, apenas forjarei a próxima morte. E logo mais outra, e mais outra.

    Cadáveres. Cadáveres. Cadáveres. Cadáveres. Cadáveres.

    Eles eram estranhos, mas conhecidos. Se fosse pensar um pouco, conhecia eles há uma semana, mas seus verdadeiros amigos só conhecia há duas semanas e um pouco. Não tinha memorias, não tinha lembranças do passado, apenas estava em um estado péssimo. Então, isso era realmente um fato engraçado.

    Mas… por que tinham que morrer? Kizimu merecia passar por toda essa dor? Ele não merecia nenhuma recompensa? Ele se esforçou tanto, por que não conseguia fazer nada? Não era possível que o mundo olhasse para ele e visse um humano que merecesse uma mera recompensa.

    Isso nunca aconteceria.

    — Pandora, por favor, vamos fugir. Eu e você não devemos ficar mais nesse reino.

    Tendo desistido de tudo, de todos, até mesmo dos seus amigos mais íntimos. Ele decidiu, por mero impulso do destino, levar com ele apenas uma flor — Pandora, a garota que estava diante dele.

    Ele não conseguiu abandonar a todos por completo como pensou ao cair no chão, naquele mundo incerto que nada conhecia, fugia de suas memórias, precisava de um guia, alguém que pudesse segurar sua mão e o fazer enxergar luz.

    Ele tinha pavor de ficar sozinho, medo, mesmo que curiosidade de sobra. Se aquele reino já era tão assustador, o que aguardava ele no mundo? Quantos animes poderia assistir? Quantos jogos poderia jogar? Quais seriam suas refeições mais aguardadas? Qual seria a aparência de sua nova casa? Tudo ele tinha curiosidade em ver.

    Aquela que jurou lealdade e ficar com ele para sempre, aquela que jurou viver por ele, viver por um garoto tão chulo, mas, jurou que viveria para ele. Tentou afastar ela por medo dela morrer, e realmente essa deve ter sido a escolha certa com base nas últimas mortes. Mas agora, carregaria ela até o fim dos tempos, não iria soltar mais ela, nunca mais.

    Ouvindo tudo isso, a garota mais bela do mundo naquele momento, riu um pouco. Ela nervosamente percebeu o quão grandioso era seu pedido, e ela ficou realmente encantada com isso. Ela olhou para cima, por singelos segundos, mas foi o necessário.

    — Você está dizendo tudo isso do nada, haha, isso é até vergonhoso de se pensar.

    Pandora sorriu para o garoto a sua frente, ela que era tão decidida, uma personalidade que tinha se construído tão rápido, mas decidiu com tanto vigor que seria a garota mais forte que poderia ser.

    A asa de Kizimu, ela seria.

    Ela fraquejou seu impulso, onde leves lágrimas soltaram em seus olhos, ela limpou com seus pulsos, e continuou sorrindo, olhando para ele emocionada com aquela proposta, algo tão perfeito, ela nunca poderia pensar em algo tão incrível quanto essa possibilidade.

    Mas Pandora não poderia decidir tão rápido, Kizimu explicou muito pouco suas motivações que levaram ele a esse ponto de escolha.

    Kizimu entendeu a irracionalidade disso, só que, não tinha tempo a perder, logo Aisha ou Kim acharia eles e tudo iria por água abaixo, não tinha tempo para explicar, então, ele poderia no caminho falar mais, contudo, precisava retirar ela daquele castelo naquele instante.

    Pensou tanto em tudo.

    Sofreu tanto pensando em tudo.

    A única solução.

    Ele não tinha mais nada que poderia dizer.

    — Não temos tempo a perder. Me desculpa mesmo que não tenhamos tempo. Realmente eu sinto do fundo da minha alma… — Kizimu estava olhando para sua própria mão, então, olhou nos olhos gentis que o observavam. — Por favor, me escolha

    — Escolher… ?

    — Eu ou todos… exceto eu… por favor, escolha!

    Bradou sua determinação. Era uma criança pedido animadamente para que ouvissem ele. Um pedido sincero e direto, com tudo que sua alma aguentava. Kizimu até sentiu-se mais da situação que fez ela escolher, era egoísta demais, era tão pouca informação que ofereceu, mesmo assim, acreditava que conseguiria, estava certo disso.

    Não poderia deixar de pensar no fato que tudo era em benéfico próprio, como isso seria útil a Pandora, ele não sabia, mas, acharia uma resposta no caminho. E enquanto ele implorava com os olhos determinados, ele sentiu que tinha uma chance de vencer.

    Talvez vencer não fosse a palavra certa, ele fez o máximo de seus esforços para isso. Ele confiava no fator de que Pandora sentia algo sobre si. Não entendia quais eram esses sentimentos, mas, depois de ver tantos episódios daquele anime, estava entendendo um pouco o que significava gostar de alguém, então, mesmo que estava usufruindo desse sentimento dela, era podre, mas era tudo que tinha.

    — Vamos pegar o ônibus, fugir para longe de Insurgia e salvador. Comprar uma casa, conseguir empregos, conseguir dinheiro, e viver uma vida felizes, juntos.

    Como um tiro bem executado, ele jogou as decisões nas mãos daquela que mais queria, ele sabia que ela queria, uma certeza absoluta, por sua incrível inteligência, que não era dele, era algo além dele.

    Pensando um pouco sobre, Kuzimu estava calado tinha um bom tempo, não? Voltando ao foco, pois sua mente pensava em coisas completamente diferentes do nada. Voltou a atirar diretamente.

    — Bem, eu vou usar o dinheiro que Aisha me deu, eu vou ficar um pouco triste por usar para algo tão péssimo, uma decisão bem chata, mas, precisamos de fundos para iniciar. Eu posso até devolver no futuro, mas primeiro eu preciso de um emprego… bem, eu nunca trabalhei antes, mas imagino que seja muito divertido.

    Ele era um pirralho que tinha acordado sem memórias, não tinham nem três semanas, eram duas semanas e cinco dias, então, mesmo sem memórias, passou por tantas coisas.

    Era de se admirar que estava tão animado naquele momento depois de tanta tragédia. Era uma criança mentalmente, mas ninguém que fosse o contratar precisava saber disso, daria seu melhor em qualquer trabalho.

    Quanto mais pensava nisso, mais animado ficava, pois, era um futuro desconhecido, com tantas variantes, tantas possibilidades, ficava encantado com isso.

    — Mesmo que seja complicado de aprender no começo, tenho certeza que se eu chegar em casa e você estiver lá, e puder cuidar de mim, com um sorriso no rosto, eu tenho certeza que… tenho certeza que poderei seguir em frente….

    Kizimu estava olhando para as sapatilhas pretas de bico arredondada que ela vestia, simples, mas elegantes. Ele então olhou através de Pandora, olhou sua alma. E ela sentiu tamanha determinação, ela sentiu o olhar mais profundo até agora.

    — Por favor… ME ESCOLHA!

    Kizimu novamente estendeu a mão para fazer a petição, como um último brandar para retirar um sim dela. Sim, as palavras do seu protagonista poderia ser a resposta que procurava, pois diferente dele, ele não tinha decidido rir do futuro, ou, prometeu ser um herói para ela, ele apenas era Kizimu, o garoto que tinha acabado de acordar de um coma.

    Usou mais palavras dele.

    — Se você me escolher, darei a você tudo o que tenho. Cada parte da minha vida será sua. Vou passar minha vida por você. Vou viver por você… então, por favor.

    Inverteu os papeis. Na primeira vez, ele pediu para ela viver por ele, mas, agora ele disse que viveria por ela, ele jogaria tudo para fazer tudo por ela. Era o ápice de seu pedido até então, era sua melhor jogada para fisgar um sim.

    Kizimu com tantas vezes pedindo, não conseguia se manter mais animado, estava nervoso com a falha, não poderia falhar, não poderia fraquejar, tinha que conseguir. Estendendo a mão, seu rosto virava para baixo, então, sem conseguir olhar a expressão que ela fazia, sentiu mais insegurança ainda.

    Deu tudo de si, estava dando tudo de si nesse pedido, entregou tudo de si nesse pedido, entregou sua vida, sua alma, seu futuro, ele entregou tudo a ela, ele fez a maior aposta de sua vida.

    — Fuja comigo, viva por mim, e eu viverei por você, por favor.

    Pelo menos, deixe-o impedir dela morrer. Com certeza, se ela ficasse, ela poderia morrer por estar tão envolvida com Kizimu, depois de tudo isso, ela com certeza seria a próxima.

    Implorou para fugir com ele do fundo de seu coração.

    Colocou toda sua voz, falou tanto, sua boca logo ficou ressecada, ficou sem saliva para conseguir engolir direito, estava com seu coração acelerado. Era um grande apostar, era um grande jogar de fichas, e sua exaustão de tanto pensar na noite anterior chegou, atingiu ele com tanta força que parecia quebrar, já estava sem forças, tanto fisicamente quanto mentalmente.

    Pandora não respondeu, tampouco soube sua expressão. O tempo passava e logo Aisha ou Kim não seria mais o problema, as empregadas ou até mesmo o pessoal de Insurgia apareceria lá e deixaria tudo mais complicado ainda.

    Naquele momento, Pandora era tudo para ele, decidiu isso, apostou isso, mesmo que seja apenas um impulso de uma criança, mesmo que no fundo, ele não entenda completamente tudo que acontecia ali, ele queria que fosse real.

    Incapaz de suportar o silêncio, Kizimu finalmente abriu os olhos para espiar a expressão que Pandora fazia diante dele, o tempo que passou o fez pensar se o assassino não apenas veio e a matou logo ali.

    — …

    Ela estava olhando para ele, com um sorriso fraco no rosto. Ela ouviu tudo a sua maneira, e estava olhando para baixo também, tampouco percebeu que o garoto olhava para seu rosto. Ela tentou manter um sorriso, mas a vontade emocional de chorar fazia fraquejar de seus lábios.

    Kizimu ficou extremamente inseguro com uma expressão tão ilegível, tão fora de seus pensamentos, tão… humana. Várias coisas cessaram em seu coração que palpitava tanto, mas tanto que o sino na alma que tinha de Kuzimu poderia dizer que era fraco em compensação.

    A longa batalha pareceu uma eternidade. A mente de Kizimu que já estava no limite de manter-se bem, a sensação de fraqueza, a dor que queimava em seu peito, os ossos que rangiam, o suar frio, a incerteza, e então, finalmente, o tempo chegou até nove horas.

    Um belo relógio ecoou por todo castelo, um som etéreo e divino ecoou como um sino tão pulcro que lembrou de algo, esse mesmo sino que escutava todos os dias, as nove, as doze, as quinze e as dezoito, esse mesmo sino era o que ecoava na sua alma toda vez que Kuzimu barrava sua mente.

    Então, com esse mesmo ecoar, uma doce voz ressoou.

    — Kizimu.

    Engoliu a seco.

    As palavras que o atingiram com afinco e afeto, no instante que Kizimu ouviu o tom, ele tinha certeza que ela aceitara ele, ele tinha certeza que tudo tinha dado certo, então, ele sentiu um leve alívio.

    Pandora envolveu Kizimu com a escolha de ter tido Kizimu em seu mundo. Sentiu se abençoado pelo mundo. Se isso eram as bênçãos dos anjos, ficou feliz em então receber. Ela perdoou o fraco Kizimu que não conseguia fazer nada e escolheu ele.

    Uma onda de emoções brotou dentro de si, então, lembrou do anime…. Ele travou e olhou para frente, fixou no rosto dela.

    — Kizimu… eu não posso fugir com você…

    Com o sorriso mais belo do mundo, ela destruiu as esperanças de Kizimu.

    — Afinal…

    — …

    — Assim como você me salvou, você precisa salvar Kim.

    Ela definiu o que deveria ser a prioridade de Kizimu com uma determinação inabalável. Ele olhou incrédulo, e ela colocou os punhos na cintura.

    — Não pense que vou deixar você fugir de sua responsabilidade tão facilmente assim.

    E assim sua maior aposta foi decidida com um grande sorriso.

    ✡︎—————✡︎—————✡︎

    Kizimu apostou todas suas fichas, e no fim, ele perdeu.

    Pandora, com suas palavras determinadas, apenas sorriu orgulhosa.

    Kizimu estava acabado, aquilo tinha sido demais para seu coração. Ele tinha certeza absoluta, mesmo que a certeza já fosse absoluta, ele tinha. Ele tinha pela forte determinação diante o fato de que ela já tinha dito que viveria por ele. Acreditou que no fim de tudo, ela poderia escolhê-lo com certeza, mas…

    Foi apenas um efêmero sonho que nunca se realizaria, mesmo assim, ele não foi capaz de pensar em uma resposta adequada para aquela flecha que o atingiu.

    — E-eu… eu posso-posso…, sim, eu posso no futuro voltar. Quando eu for mais inteligente, e mais sábio, eu posso voltar e resolver esse problema, eu posso voltar quando eu realmente for forte, quando eu puder verdadeiramente enfrentar o assassino.

    — Kizimu.

    — Eu posso, sim, mesmo que ele mate todos agora, podemos voltar nós vingar no futuro, podemos viver para nos vingar, podemos fazer de tudo para ficar mais forte, apender mais sobre minha maldição…

    Tentou os poucos argumentos que encontrava no seu coração, lembrou o quão difícil foi para o protagonista que tanto sentia empatia agora, conseguia entender toda sua frustração, a dor no peito, a vergonha, a fraqueza.

    Estava sem ideias do que poderia falar, queria dar mais assuntos convincentes para tentar convencer, mas já sabia o resultado, se tivesse apenas um centímetro de esperança que pudesse convencê-la, tentaria.

    Pandora apenas ria de leve, e toda sem jeito com a ideia maluca.

    — Não acho que viver por vingança seja algo tão legal, parece com alguns animes que Aisha tentava me empurrar guela baixo. Mas… vou dizer uma coisa, sua ideia não é de todo ruim.

    Kizimu resfolegou quando viu o fio da esperança.

    — Realmente poderíamos pegar um ônibus e talvez ir para fora do Brasil. Eu tenho bastante dinheiro acumulado dos meus dias trabalhando que pouco gastei, então, seria realmente uma grande ajuda.

    Pandora pegou na mão que Kizimu abobadamente deixou-o pendurado. Ela puxou para perto e começou a imaginar.

    — Eu conheço umas pessoas bem interessantes, então poderia falsificar alguns passaportes para a gente, e talvez poderíamos ir para fora do país, Portugal, Estados Unidos, ou talvez mais longe, de tanto Aisha falar, gostaria de conhecer o japão.

    O doce riso de Pandora era tão hipnotizante, e ela olhando para o horizonte enquanto sonhava era tão lindo, Kizimu ficou encantado, não conhecia esse sentimento.

    — Uma vez estabelecidos em outro país, teríamos que aprender a língua local, com certeza com Kuzimu poderia aprender fácil, e me ensinaria com sua incrível inteligência. Eu sei que empregadas ganham muito bem lá fora do país, ganham realmente bem… então, não acredito que você consiga um trabalho tão fácil, mas com certeza eu conseguiria.

    Ela se divertia com sua idealização pura e perfeita.

    — Talvez com a grande inteligência de Kuzimu, talvez você possa se tornar um inventor? Não cheguei a conhecer seu pai, mas ver as bugigangas de Ronan, me faz pensar que você poderia criar coisas parecidas, e começar a vender, ou apenas, criar ideias revolucionarias.

    — É…

    Kizimu se divertia junto as idealizações de sua empregada pessoal, um futuro tão perfeito, tão belo, tão magico. Um país entrava em sua mente, ele aprendia, aprendia muito, sim, ele poderia aprender tudo.

    — Assim que conseguirmos trabalho poderíamos finalmente ter uma casa mais decente, claro ainda dando tempo para o trabalho e os estudos de outra língua.

    Tudo parecia muito magico, imaginar tudo junto a ela era tão incrível, ele era como uma criança vendo tudo que ela poderia proporcionar, tudo que ela poderia lhe fazer amar. Tudo que ele aprenderia, ganharia, tudo tão pacifico.

    Sem morte, sem precisar se preocupar, sem destino envolvido.

    — Com a estabilidade, o tempo, e o esforço, poderíamos ter dinheiro para comprar uma casa talvez? Acho que sim, lá fora seria muito mais fácil do que no Brasil.

    Ela deu de ombros rindo, até que então, ele pensou já ter ouvido algo um pouco parecido, isso lembrava ele de um roteiro do anime que estava com medo que acontecesse, mas… ele queria tanto aproveitar esse imaginar. Lágrimas começaram a gerar, como se não quisesse se desprender desse futuro.

    — Claro, tenho certeza que você me daria muitos problemas, já que você não sabe de nada, mas eu me divertiria te ensinado tudo, seria incrível, eu até já idealizo futuros problemas.

    Seus risos tão doces e divertidos, uma alegria genuína tão fofa, uma perfeição tão excêntrica, era impossível, um sentimento tão impossível de compreender apossava seu corpo por completo.

    — Bem… com tantas coisas acontecendo, sei que sua idade passaria, e logo chegaria a sua adulteza mental, então, talvez já tenha maturidade para… — enrubesceu. — ter filhos comigo…

    — Filhos? — ficou confuso, e Kuzimu nunca daria essa informação para ele.

    — Você ainda é novo para entender, mas eu esperarei com gosto. Como eu e você temos maldição, talvez nosso filho nasça amaldiçoado, o que traria problemas para ele, mas tenho certeza que com sua inteligência poderíamos salvar de seu futuro tortuoso.

    As bochechas de Pandora ficaram vermelhas, e vendo corar tão lindamente, algo estava na sua alma, ardendo, levemente corava também.

    — Cuidar de uma criança seria novidade até para mim, então, sei que teríamos muito trabalho, e duvido que uma mera maldição tenha as respostas para educar filhos da melhor maneira possível.

    Ela debochou, e riu junto a Kizimu.

    — Você tem razão.

    Ambos se olhavam com carinho, um carinho quase palpável. Mas a tristeza não queria sumir, pois, se ela pensava tanto sobre tudo isso, por que eles não simplesmente não poderiam…?

    — Pandora—

    — Acredito que mesmo que as crianças deem trabalhos ou fiquem na fase da “aborrecencia”, vai ser tão divertido, apenas por eu estar ao seu lado.

    — Pandora—

    — Depois de passar anos juntos, ficar velhos juntos, aposentar, ter netos…

    — Me escuta, Pandora!

    Kizimu segurou os ombros da garota que se divertia sozinha, ela então olhou de volta para ele, e continuou.

    — Eu consigo imaginar o futuro perfeito com você, é algo lindo, maravilhoso, é o que eu mais quero na minha vida.

    Kizimu chorava, sem conseguir entender, então ela finalmente falou algo tão profundo que ele travou.

    — Kizimu, eu te conheço melhor do que ninguém, você nunca, nunca iria se perdoar por abandonar tudo. É apenas uma ideia impulsiva, algo de uma hora para outra, e eu digo isso, porque eu sou idêntica a você. Eu cometia os mesmo erros, agia de maneira impulsiva e achava que poderia mudar tudo, mas, no fim, eu apenas voltava e afundava na minha dor…

    Ela olhou nos olhos marejados e limpou eles.

    — Se você fugir dos problemas, eles apenas vão voltar para você eventualmente, então, se quer mudar, se quer realmente se sentir melhor…

    Pandora beijou Kizimu, um beijo tão profundo que interligou suas almas, Kizimu no seu maior êxtase sentiu-se tonto, ele que apenas tinha total consciência de como beijava, estava sendo levado pela língua travessa de Pandora, que logo voltou e respirou de maneira leve.

    — Se quer realmente se sentir melhor, vai ter que encarar esse problema com raça, e não pode fugir, eu digo, eu estarei aqui para você, eu vou fazer tudo que for necessário para resolvermos juntos.

    Estupefato, Kizimu olhou para aquele pequeno e doloroso sorriso quando finalmente entendeu. Não importava o quanto ele se agarrava à esperança, ele não conseguia fazer.

    Havia realmente perdido toda a chance que tinha de convencer ela. Quando foi que deixou sua Pandora tão forte e decidida assim? Era tão assustador que o aperto no peito não desaparecia.

    A sensação de cansaço o pegou tão frívolo quanto um raio de luz. E sua mente entrou em uma Temperança fria e monótona. Ele não tinha conseguido convencer ela, então, ele tinha falhado em salvar ela também.

    Já que era impossível proteger ela do assassino. Eventualmente, o assassino, que já deveria estar vendo essa cena, apenas esperaria ela ficar sozinha, para dar o fim mais cruel que poderia imaginar. Tinha entrado em um beco sem saída. O impiedoso e cruel destino.

    Talvez devesse voltar a sua ideia inicial e fugir sozinho? Mas, ele nunca poderia escapar da tristeza, e ela estava certa, nunca se perdoaria por abandonar tudo. Sua mente, por estar fraca e sem energia, começou a bombear ele novamente com diversos pensamentos negativos.

    Ideias surreais de falhas de tantas ideias que pensava que poderia bastar, mas tudo no fim, só via falha, falha, falha. Queria rasgar seus olhos, seus ouvidos, queria parar de pensar, aquilo pesava seu coração, era um sentimento horrível.

    Queria lhe poupar da própria realidade.

    — Me escolher para fugir com você… eu amaria do fundo da minha alma, amaria, mesmo, você não tem ideia, mas, isso nunca daria certo.

    Ele já ouviu isso antes, ouviu isso, tinha certeza que tinha ouvido. A falha mais do que a verdade do que estava por vir. Achava que não tinha como ela pensar nessa possibilidade. Mas o quão parecido seu destino era com aquele anime tão cruel.

    Aquele anime que o fez chorar tanto, vociferar, odiar, amar, tudo naquilo era perfeito, cada vez mais se identificava com seu protagonista, e como se não pudesse mais fugir do seu destino, finalmente ela finalizou.

    — Se fugir é sua escolha, saiba que é uma falha total, não combina nem um pouco com o egoísta Kizimu que eu jurei viver por… até porque, ele é egoísta e se mete na vida dos outros sem nem a pessoa pedir. Esse é o Kizimu que eu amo!

    Sorriu misticamente.

    Aquelas palavras acertavam o peito que agora chorava sangue pela exaustão, agora que sua mente voltou a palpitar como chamas do inferno. Agora que milhões de pensamentos cruzavam todos pulando de um a outro. Agora que aquilo que mais odiava, a si mesmo, estava atingindo seu ápice.

    Aquela flecha atingiu seu coração. Amor, a mesma palavra que viu no anime, a mesma palavra que aprendeu alguns dias, a mesma palavra tão incompreensível que formava as peças, e então se concretizou.

    Amar é estar com alguém sem nunca querer se separar, estar junto, estar com essa pessoa, e Kizimu finalmente entendeu, ele queria estar com Pandora, queria estar ao lado dela, amava ela, sentia o maior dos seus amores por ela. Só agora e apenas agora conseguiu chegar na conclusão mais perfeita.

    Mas era tarde demais, as nuvens de chuva haviam voltado, e seus sentimentos mais negativos o quebravam. Seu peito apertou como marteladas pulsantes e ferventes, uma dor de deixar ele tonto.

    Queria desvencilhar de si mesmo, queria morrer, queria parar de pensar, pois eram seus próprios pensamentos que tanto o machucavam. Ideias, ideais, e mais ideias péssimas, falhas, miseráveis.

    Tantas ideias que pensava sobre capturar o culpado.

    Falha.

    Falha.

    Falha.

    Sobre salvar Pandora.

    Falha.

    Falha.

    Falha.

    Salvar Kim.

    Falha

    Falha

    Falha.

    Se tivesse que realmente voltar para o castelo e salvar a todos, aquilo seria algo tão impossível, algo que sua mente pequena não conseguia elaborar, porque tudo levava falha.

    — Kizimu, vamos pensar em um plano juntos.

    Não, aquilo não iria adiantar, mesmo que achasse um plano falharia, foi assim com Amara, foi assim com Dalia, tudo que planejava tinha uma fraqueza.

    Não era mais rápido que o assassino.

    Não era mais forte que o assassino.

    Como poderia fazer algo? Como? Se ela disesse esse como, ele poderia no fim agarrar, mas eram apenas palavras de consolo. Efêmero.

    Ele balançou a cabeça, pois no fim, Pandora morreria.

    — Por favor, dessa vez eu peço, confie em mim, eu vou proteger você, eu vou proteger quem quiser proteger, dessa vez, vamos juntos resolver esse problema. Vamos pensar com calma, vamos formular um plano, juntos.

    Kizimu tinha Kuzimu e não era o suficiente, nem para pensar em um plano, nem para achar o culpado, nem para vencer uma mísera luta. Não venceu ninguém até agora.

    Se nem a coisa mais inteligente que conhecia não achava uma solução, o que Pandora poderia fazer? Todos apenas morreriam.

    — Pandora… eu já… pensei, eu pensei em tudo, eu pensei em todas as possibilidades. Todas. Todas. Todas. Não tem uma peça que possa ser movida nesse tabuleiro, estamos em posição de cheque. Nem mesmo Bellatrix achou, o que eu seria capaz…

    Chorou, muito.

    Pandora não conseguia entender que Kizimu já tentou de tudo, todas as ideias que tinha, todas as ideias que formulou, e tantas milhões de ideias que passou pela mente dele na hora de dormir, tentou, tentou, tentou, sua falha era tamanha, que nunca poderia achar o resultado.

    Mesmo que ele já tivesse tentado tudo que poderia ver.

    Ela ignorou, viu, além disso, e sentiu a própria fraqueza de Kizimu, todo o desgaste de Kizimu, todo o amargor.

    — Kizimu… eu aprendi com Aisha uma coisa. Se está em um jogo muito difícil, e não consegue passar de uma fase… desistir é a opção mais fácil.

    Mesmo que não idêntico, foi o mesmo teor do que já tinha ouvido. E da mesma forma, sua alma gritou. A cólera descomunal passou por ele, da mesma maneira que passou pelo seu protagonista agora preferido. Entendia seus sentimentos como uma luva, ideias diferentes, formas de pensar diferentes, problemas diferentes, mas, a mesma fala tão tola, e mesmo que sentisse raiva, entendia o que ela queria dizer com isso, mas sua impulsividade não lhe permitiu não falar nada.

    Toda sua exaustão, todo seu cansaço, tudo isso foi ferido como se uma anã vermelha perfurasse tudo que lhe existia.

    — É fácil… desistir? Calma, não, não, eu até entendo o que quer dizer, mas nunca diga isso de novo. Por que, não é nada fácil!

    — Kizimu…

    Vociferou com todo fervor de sua alma:

    — A culpa que meu coração sente, a dor apertando e esmagando e me moendo, os pensamentos que não paravam, a dor física de tanto pensar, a tristeza de que nunca poderia recuperar o que foi perdido, o sentimento de que está acabando e estou no limite…

    Era assim que Kizimu sentia-se da forma mais pura, a dor que ele sentiu em todos os últimos dias o assolavam da forma mais dolorosa e assunta possível, sua pele poderia rasgar pelo menos umas cem mil vezes pela quantidade de vezes que tentou de novo em seus pensamentos.

    Enquanto gritava, apertou o próprio peito e ardia em dor.

    — Estar no limite de sua própria mente, estar no limite das próprias opções, saber que posso acordar e Aisha, Kim ou você estarem mortos. Eu não consigo acordar direto sabendo que isso pode ser o resultado. Droga

    A garganta de Kizimu tremia com as emoções descontroladas da Temperança que corroíam seu ser, seu âmago. Surpreso com a explosão de raiva, finalmente a postura inabalável de Pandora pareceu ceder e ela levemente se encolheu.

    — Acha mesmo que eu não tentei tudo, de tudo? Eu tentei, eu pensei, eu procurei, eu juro que procurei, mas no fim era tudo vazio. As opções sempre escapam pelos meus dedos e no fim, todas elas dão em falha. Tudo que eu planejo tem todas as peças, todas as probabilidades, e no fim, alguém sempre morre, sempre no fim alguém morre, sempre no fim eu perco e falho, e sempre no fim… você morre.

    Kizimu entendia o que significa “desistir era o mais fácil”, sabia muito bem, pois assistiu naquela noite exatamente o que o destino ironicamente o fez viver tão vividamente.

    Mesmo assim, a fúria que ele sentiu, não era apenas entendido, era vivido, por formas totalmente diferentes. Kizimu percebeu o quão impotente aquele protagonista era, e ele percebeu o quão impotente era também.

    — Além de Kuzimu, o que realmente eu sou capaz de fazer? Qual é minhas habilidades? Sem Kuzimu eu não sou nada, e sinceramente, até com Kuzimu eu sou um inútil.

    Então, sem opções, a raiva o matando, ele finalizou fracamente.

    — Não me diga que desistir é a opção mais fácil!

    — …

    — Por favor… não me diga isso…

    Kizimu chorava lágrimas de sangue, tinha gritado o suficiente para rasgar sua garganta, provavelmente todos ouviram e agora logo chegariam, tinha passado tempo demais, era tarde demais. Ele agachou ficando em posição fetal, e aquela garota olhou e olhou, e respirou fundo.

    Por fim, Kizimu roubou mais uma vez a fala do seu herói.

    — Desistir não foi nada fácil… Pensar que você pode lutar, que você pode administrar de alguma forma, é muito mais fácil… Mas eu não consegui de alguma forma. Eu não tive escolha. Todos os caminhos foram bloqueados, exceto para desistir…

    Sim, todos foram. As últimas quatro mortes eram a prova.

    Um inimigo que usava truque de todos. Não pode ser localizado.

    Mais habilidoso do que todos ali. Não poderia ser vencido.

    Mais rápido que Kizimu em sua melhor técnica, não poderia ser alcançado.

    Velocidade, inteligencia, força e habilidade de combate. Se juntasse tudo, enfrentava o inimigo perfeito, algo que nunca seria capaz de vencer, algo que nunca seria capaz de alcançar.

    Não era mais sobre encontrar o assassino, era saber que mesmo se encontrasse, nunca venceria ele.

    — Se eu pudesse fazer qualquer coisa… eu… eu…!

    Queria do fundo da sua alma achar uma solução, uma fórmula magica, algo que pudesse cessar todas as suas dúvidas, mas o mundo não era tão perfeito assim.

    — Kizimu.

    Ele olhou para cima, e notou algo que não tinha notado até agora. O sorriso em Pandora, se permanecia imaculado, como se toda sua determinação continuasse, ela ainda acreditava. Isso o irritou profundamente.

    — Tá totalmente errado. Desistir é, sim, a opção mais fácil, e eu direi isso passando por todos seus sentimentos, assim como atravessou os meus no passado. A mente humana é muito odiosa e você não poderia ter gritado para a pessoa mais errada.

    Como se fosse dona de toda arrogância do mundo, ela sorriu em vitória.

    — Eu mesma já passei por todos os sentimentos que passou, lembre-se que a loira do banheiro me deixou com depressão por anos, então, tudo que você falou, eu senti na minha pele. Querer desistir de tudo, abandonar tudo, você mesmo já me viu fazer, não foi? Quando escolhi me matar com a corda… quando escolhi me matar com a faca… todas às vezes eu fracamente escolhi desistir não foi?

    Ela gritou de volta, como se todo o sentimento que tinha guardado fosse lançado como uma flecha. Kizimu conseguia, sim, compreender isso, mas do que adiantava, nada disso mudava o fato que o assassino mataria eles.

    — Quando eu digo que desistir é a opção mais fácil, foi por que, quando eu desisti, você estava lá e me estendeu a mão, me deu um proposito, me deu algo para me reerguer, se não, eu já teria morrido há duas semanas atrás.

    — Não é a mesma coisa… lá tinha solução, aqui…

    — Eu posso não entender a sua dor. Mas se você desistir tudo vai acabar, você é nossa única esperança. Apenas você pode salvar a todos, salvar esse reino, assim como você salvou a mim. Posso não entender quais são todos os futuros que viu, mas o futuro que eu vejo, é cheio de flores azuis e meu incrível senhor que salvou um reino inteiro de uma calamidade.

    — Você está errada.

    — O Kizimu que eu conheço se levantaria, faria o impossível se tornar realidade, faria com que todos sorriam no final de tudo, todos com um sorriso no rosto e uma grande frase de efeito.

    Para o garoto que afundou totalmente no próprio abismo, ele que tinha sua alma esfarelada por ser tão quebrada em trilhões de pedaços, ela jogou tudo para fora. Alguém muito incrível era visto por Pandora, alguém que não era Kizimu.

    — Eu tenho certeza disso.

    — …

    — Eu sei que você vai salvar a todos! Esse é o senhor que eu sirvo. O senhor que Minne disse que resolveria todos os problemas. O senhor que decidi servir por saber que realmente era capaz, quando resolveu o problema que convivo há tanto tempo.

    — …

    — Sei que nunca desistiu de verdade, e que nunca em um futuro onde foge comigo estaria verdadeiramente bem, pois, não é apenas fácil desistir, isso não combina com você.

    As qualidades incríveis que ela via nele, que por algum acaso Minne achou que seria existente, nunca existiram. Nunca, nunca, nunca.

    — Mesmo sendo somente uma criança, é um homem que não desiste do futuro.

    Pandora declarou isso com tanto vigor que Kizimu quase se deixava levar por esse sentimento, quase era contaminado, tentava, tentava, e no fim, quase cedia, mas as amarras da realidade os prendiam, a Temperança de sua depressão o acorrentava.

    Kizimu foi iluminado por algo quase divino, um amar profundo que poderia cegar. Ela bradava aquilo com tanto vigor que era impossível que Kizimu pudesse refutar, o que deveria ser isso. Afinal, Pandora estava errada sobre ele. Isso tava errado, era uma verdadeira farsa.

    Seus clamares eram altos demais para o verdadeiro Kizimu. Eram falas que supervalorizavam um ser humano chamado Kizimu de forma muito erronia. Ele não conseguia imaginar o quão alto no conceito de Pandora era o Kizimu da mente dela, mas o verdadeiro Kizimu não era tão perfeito assim.

    Jorrando fraqueza, esmagado pela adversidade, lamentando sua própria pequenez e miséria patética, derrotado e espancado com tanta força que estava fugindo — aquele era Kizimu Kuokoa.

    Nem merecia levar o nome Kuokoa, o qual, claro, era o sobrenome de Minne, então, deveria apenas vagar sem nome para não manchar algo tão honrado.

    — Você está errada. Esse não sou eu… eu não sou esse tipo de pessoa.

    — Não estou enganada. Aisha, Kim, Cassian, Masha, Esme, tenho certeza que todos pensam da mesma maneira. Sei que todos veem um Kizimu que é capaz de conquistar qualquer barreira. E eu sei que você não desistiu deles—

    — Sim! Eu desisto, eu desisto de todos eles! Eu não consigo salvar a todos. Não consigo nem mesmo salvar Kim!

    — Não, eu duvido disso, você—

    O quão aquele Kizimu era alto no conceito dela? Ela não poderia simplesmente enxergar o que estava na frente dela? Era tão irritante que finalmente lembrou do que nem passava pela sua mente, pois estava sendo iluminado por tamanhas expectativas.

    Era da mesma maneira.

    Explodiu finalmente com o destino, e quando iria falar, ela o interrompeu com uma risada.

    — Pensando muito depois de refletir sobre você, penso se realmente sua maldição é o Kuzimu, eu teorizo que ele não seja sua maldição, acho que ele é algo aparte em ti, por que de verdade, sua maldição seria o verdadeiro Salvar…, sim, a maldição do salvar, essa é a maldição que você t—

    — O QUÊ! Você! Acha que sabe sobre mim?!

    Tudo se repetia como já tinha assistido uma vez, ou melhor, era pior, pois era a realidade absoluta, mas, o pior, era que ela não entendia.

    Ele exalou as chamas que ardiam em seu peito em uma fúria incandescente. Kizimu gritou com raiva, batendo seu pé ao chão. Com um som forte que algo realmente deveria ter rachado.

    — Pandora, eu sou pequeno, entenda isso. Eu não sou o cara incrível que você enxerga em mim. Eu apenas acordei tem alguns dias, eu não sei verdadeiramente de nada. Eu não sei o que é esse Kizimu que você conhece, mas ele não é tão milagroso.

    Ele era um pequeno e estupido sem memórias, talvez se tivesse memorias, pudesse ser o ser tão incrível que Minne achou que ele seria. Mas era tão minusculo que no segundo obstaculo ele travou sem ter para onde ir, sem para onde voltar, sem objetivos, vazio

    — Eu penso em todas as possibilidades e sem nem mesmo tentar elas eu desisto por que morrer é o final, não tem segunda chance, não tem como recomeçar, então, quem morreu não pode ser recuperado. Penso em como posso evitar as mortes, e no fim, não acho a solução e sofro em dor, e minha mente simplesmente não para.

    A dor de tentar, pensar tantas vezes e nunca achar a solução, querer o resultado e não achar, não alcançar, nunca, nunca seria perfeito, nunca acharia a solução, por isso, todos morreriam, falho, era falho tudo.

    — Eu… me odeio

    Confrontado com a verdade de que sorria frivolamente na tentativa de esconder, tornando as coisas leves enquanto corria delas, nunca as encarando seriamente — pela primeira vez, Kizimu admitiu o que realmente sentia.

    Mais do que ninguém, Kizimu se odiava.

    Estava cem porcento conectado com seu protagonista agora favorito, ele e seu outro eu era uma metade perfeita.

    — Eu não faço nada além de falar e prometer. Estou cheio, estou cansado, eu não aguento mais. Eu prometi para Amelaaniwa que salvaria a todos da mansão, e estou aqui, falhando em salvar Kim. Prometi ao rei que ninguém mais morreria, e quantas morreram. Prometi que mais ninguém morreria tantas vezes. Promessas vazias, por alguém ainda mais vazio, e tudo que eu faço é apenas reclamar.

    Tudo se encaminhava para o caminho que mais tentou evitar, o caminho que presenciou no anime. Fugiu desse futuro porquê dessa vez, realmente, não tinha solução.

    Não era que nem em um anime que magicamente com palavras tudo seria resolvido, ali era a vida real.

    Não viu o episódio seguinte ao que seu destino tanto teimava em queimar em sua pele, então, se fosse para enfrentar o destino, se tornava com mais vontade de falar tudo que sentia.

    — Eu realmente sou vazio, estou vazio, eu realmente fiz alguma coisa do que você tanto se orgulha de mim? Eu deixei John Bento te sequestrar. Foi você que realmente conseguiu matar ele, pois nem isso eu fiz. Deixei Aisha ser sequestrada. Deixei Kim ser selado. A luta contra Tarotian, apenas conseguimos fazer algo, pois Masha e você realmente se esforçaram para vencermos aquela luta, porque de mim não aconteceu nada.

    Pensando o mais profundamente sobre isso, até mesmo os feitos que Pandora tanto se orgulhava, o que Kizimu fez na mente dela, o que realmente fez em todo momento?

    — Apenas consegui te salvar, por que, convenientemente, a carta O Enfocado nos levou a sua mente, por que se não, eu nunca acharia uma solução para seu problema. Apenas derrotamos Tarotian por que ele usou a carta morte. Quase deixei Cassian morrer e apenas… eu apenas derrotei John Bento, porque Tarotian deu a carta papa para mim.

    Nenhum dos feitos que tanto poderia se orgulhar, nenhum dos feitos eram verdadeiramente dele.

    Ele apenas pegava o que era conveniente e apenas por questão de destino conseguiu as peças necessárias para vencer, até aquele momento nunca tinha feito nada até então, então, nos dias que ele acordou até agora, nenhum dos feitos dele, eram realmente dele.

    Se Kizimu era algo, era uma grande falácia.

    — Eu não fiz nada… eu não fiz nada todo esse tempo… como então eu poderia ser um salvador? Como eu posso salvar a todos?

    E ainda passou tanto tempo em coma, sem realmente nada poder fazer por ninguém, era um inútil completo… talvez fosse melhor ele nunca ter levantado.

    — Todas as ações me fizeram ser quem estou sendo hoje, e com mãos tão pequenas, não posso enfrentar oponentes tão grandes.

    Se sentia tão pequeno quanto seu protagonista favorito. Sentia toda a impotência de enfrentar um problema tão calamitoso, que nenhuma opção poderia ser usada. Se ninguém era capaz de enfrentar, era questão de tempo até… o reino sucumbir.

    — Sem Kuzimu eu não tenho nenhum talento e tudo isso, tudo isso, é por causa da minha fraqueza podre…! Eu quero alcançar algo quando eu não fiz nada antes. Queria me tornar um salvador, mesmo sem ser capaz de nada. Se Kuzimu estivesse em outro alguém, provavelmente seria um melhor usuário.

    Pensando sobre como era impotente, lembrou de que passou seus últimos dias treinando. Dia há após dia, treinou muito, chegou a limites que nunca alcançou antes. Seu melhor momento foi lutando contra Amara, mas, não sabia como alcançar aquele ápice de novo.

    — Eu treinava para não me manter parado. Para não dizer que não estava fazendo nada. Eu treinei. Eu tentei, eu tentei, eu tentei fortalecer essa casca inútil e vazia, mas… foi tudo em vão. Mesmo depois de tanto treinamento, eu não consigo alcançar o nível que desejo, eu sou mesmo um lixo.

    Treinou até seus ossos arderem, treinou até suas pupilas escurecerem, treinou até cada centímetro de folego existir. Aprendeu tanto, queria tanto usar esses conhecimentos para algo útil, mas, seu objetivo que queria alcançar e vencer uma Bellatrix que nem usou todo seu máximo.

    Não alcançou uma parte do poder que o assassino enfim venceu. Então, como poderia vencer isso? Como poderia? Jogar Kim? Aquele que perdeu para Bellatrix? Jogar Pandora? Ela começou a treinar semana passada, e ainda tinha tantos dias sem treinar. E mesmo assim, jogar seus amigos para lutar era algo tão impensado, por que, diferente da primeira vez, ele conhecia o nível do seu inimigo. Antes ele era imaturo, mas agora conhecia o quão pesado era a morte. Não era arrogante para achar que eram invencíveis, pois…

    — Ninguém é invencível.

    Depois de tanto sua alma gritar, sua mente enlouquecer, logo chegou o limite de sua energia, seus olhos vibravam e estava prestes a desmaiar.

    — Eu sou o pior… Eu… eu me odeio.

    Kizimu sem folego depois de dizer tudo que queria dizer ao mundo, toda sua insatisfação, de tudo que tinha pensado nas últimas noites. Toda dor, tudo que carregava, ele havia dito, sem um pingo de falta.

    Sua fraqueza era tão nojenta que faria qualquer pessoa vomitar. E além de Kizimu não se sentir melhor, conseguiu perceber com mais clareza o quão inútil e insignificante era. A vergonha fervendo dentro não conseguia transparecer no rosto apático que restou. Ali mesmo. E sua fraqueza em expor tanta sujeira, pensando em nada além de suas próprias preocupações, era a coisa mais estúpida de todas.

    Com Pandora ali mesmo, ainda acreditando nele, Kizimu tentou manchar e manchar a bela imagem na frente de seus olhos brilhantes, expondo-a como uma fraude. E agora, depois de tudo isso, ele estava mais preocupado com sua própria posição do que com ela.

    Foi isso em poucas palavras.

    Ter de reconhecer toda sua fraqueza, suas imperfeições, tudo que ele mais odiava, tudo, que ele sentia era tão profundo nojo que até mesmo o efêmero pensamento de suicídio passou pela sua cabeça.

    Talvez assim, talvez dessa forma, tudo acabaria, e não precisava pensar mais em nada. Assustador, isso era a Temperança? Não, isso era o ápice do sentimento de Kizimu, o tolo.

    O verdadeiro personagem de Kizimu não merecia piedade.

    E enquanto Kizimu afundava nas profundezas do abismo do seu ego imundo, ainda assim, aquela garota de longos cabelos pretos e pontas azuis sorria gentilmente.

    — Eu sei isso.

    — …!

    — Eu sei que mesmo que seja apenas um garoto sem muitas forças, mesmo com a escuridão mais impenetrável ao seu redor, e mesmo se o mundo se rachar, eu sei que você vai e vai salvar essa pessoa.

    Pandora nunca o abandonaria.

    — Sabe como eu sei disso…

    Seus cabelos se tornaram loiros, pele negra e cabelos de fogo.

    — Pois sou tanto Pandora, quanto Saci, quanto Curupira, quanto Loira do banheiro. Eu posso ver sua alma mais profundamente que possa meramente imaginar. Eu posso ver tudo, todo seu ser por completo. Mente, aura, alma, corpo, e sentimento. Nada pode ser escondido de mim.

    Os olhos em chama deixaram Kizimu perplexo, ela estava determinada, ela iluminaria o coração de Kizimu, mesmo que ele estivesse no umbra do abismo. Então, sorriu amargamente, pois, já sabia o que viria a seguir.

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    Tanto amor que lhe foi entregue, esse roteiro é tão risível, tão visível, por que tinha que passar por um roteiro que já conhecia? Um amor tão incalculável, uma confiança tão interrupta. Kizimu se sentia frustrado.

    Tendo provado tanto sobre sua própria fraqueza, tendo insultado tanto sobre seu próprio ser, ele amaldiçoou quem era, e afirmou com tudo que era inescrupuloso.

    Por que ela o olhava com um sorriso tão belo e singelo?

    — Desde que eu era pequena… eu tive que carregar o fato de ter visto minha mãe se matar… eu tinha minha mãe como a garota mais linda de todas…

    Como que indo contra o que imaginava, ela começou a falar um assunto totalmente diferente. Curioso, focou e ouviu.

    — Minha mãe era um símbolo, algo maravilhoso, e seu brilho era… tão perfeito.

    Os olhos de Pandora carregavam um amor muito forte. De repente Pandora começou a citar seu passado, indo contra tudo que achava que aconteceria agora. O roteiro saiu dos trilhos, descarrilhou, perdeu-se, e com um singelo sorriso, continuou.

    — Quando minha mãe disse que eu era uma aberração, eu não conseguir entender bem o que ela falava. Eu tinha medo. Muito medo. Ela falou que eu tinha que morrer, e como ela sempre era a mais inteligente, por um momento eu achei que ela estava certa.

    Seus olhos gentis carregavam uma dor profunda, de um passado doloroso, ela segurava seus braços com uma leve força nas mãos. Seu corpo começava a voltar ao normal, sem o loiro, sem o escurecer de pele, e sem os cabelos em chama.

    — Por muito tempo, eu odiei minha maldição. Passei por muuitos, muitos dias sozinha, até que Minne me encontrou e cuidou de mim. Lá nessa época, minha maldição já estava ativando fortemente. Aos poucos, eu me odiava também. Uma casca enorme se formou e eu me senti aprisionada.

    Kizimu sentia uma leve empatia pela história, mas isso não respondia nada.

    — Você de repente apareceu quando um homem louco me atacou e me sequestrou. Você parecia tão maluco e inocente, falava como se pudesse fazer tudo, e sim, me fez acreditar que poderia fazer tudo… mas, eu conseguia ver que não… eu não sou tão tola a ponto de mentir para mim mesma. Eu vejo quem você realmente é, Kizimu.

    Ela pegou nas bochechas dele com um toque tão suave quanto seda, sentiu-se hipnotizado por aqueles olhos de carvão, então, ela continuou.

    — Mesmo tão pequeno, mesmo tão fraco, conseguiu me guiar e juntos conseguiu me fazer ver uma luz, e vencemos John Bento. Porém, isso veio com a queda. Eu vi você morrer, antes de desmaiar. Eu perdi toda a luz que tinham entregue a mim. A única esperança. Então, como relembrando aquele sentimento de quando era criança, o fato de que minha mãe disse que eu deveria morrer, parecia ser a verdade.

    Kizimu sentia uma aversão horrível quando uma pessoa falava sobre suicídio. Mesmo que a pouco tempo tenha cogitado isso, ver outra pessoa pensando era doloroso demais em si mesmo. Mas não queria ouvir como ele salvou ela, não queria, porque Kizimu já sabia o final de tudo, já sabia como tudo acabaria.

    — Você me prometeu que resolveria meu problema… e quando na minha própria mente, eu morreria para o Saci, você apareceu lá e cumpriu sua promessa. Não foi algo que você fez com suas mãos, você apenas estava lá, no momento certo, na hora certa, mas… o fato que era você que mudou tudo. Eu nunca teria sido salva por outro se não fosse você, por que, mais egoísta que tudo, você sem nem se importar com o que eu me importava, disse que tudo se resolveria, se eu vivesse… por você.

    Sim, foi o pedido mais egoísta que fez. Mais sem sentido de todos, e mais arrogante que poderia, sentia vergonha de ter pedido algo tão rude. Achava que era um máximo, mas vendo agora com outros olhos, o quão rude foi uma criança achar que poderia ser o guia de vida de alguém.

    — Achei realmente uma loucura no começo, mas, aquele toque tão… singelo… aquilo esclareceu tudo para mim, foi então que percebi que não tinha acabado ainda. Quando novamente eu tinha desistido, você me fez enxergar que desistir não era a escolha certa, e estando ao meu lado, me fez entender que apenas persistindo, poderia vencer.

    — Mas agora é impossível vencer!

    Sua palma cortou o ar entre Pandora e Kizimu, fazendo eles se afastar.

    — Sabe, você disse que se odeia né?

    — Sim, eu me odeio!

    — Por que você é muito idiota, não?

    Kizimu ficou sem reação, não sabia o que dizer. Deveria confirmar. Ela voltou a rir.

    — Você é realmente muito corajoso, hein? Como se atreve dizer que odeia aquele que eu mais amo? Se vai dizer tudo que te faz ser odiável…

    Ventos fortes passaram por tudo, então, seus olhos se tornaram um caótico e intenso vazar, ela prendeu seu corpo contra o chão tão rápido que ele sentiu o peso do mundo se separar, aquilo era algo tão fora do que era imaginado que perdeu a noção do que era chão e ar.

    Seus olhos olhavam profundamente sua alma.

    — Eu amo como, mesmo dizendo que desistiu de tudo, vejo sentimento de negação. Mostrando que mesmo que diga ter desistido, você nunca desiste de ninguém.

    — …!

    — Eu amo como, mesmo que mesmo que diga que não fez nada, se você não tivesse acordado, todos nós estaríamos mortos, você é tão irrelevante que sua presença foi a chave para tudo ser solucionado.

    Por que ela olhou para Kizimu com olhos tão carinhosos?

    — Eu adoro o fato que você se sente tão fraco e pequeno, mas todos o admiram como um grande senhor, adoro o fato que você se odeia e agora eu posso finalmente retribuir o que me fez. Isso é a coisa mais egoísta que eu poderia dizer, mas eu amo isso.

    Não eram palavras de amor como viu no anime, eram palavras egoístas de amares que tinha sobre Kizimu, um pesar tão cutucante, sobre cada ferida de Kizimu, um sentimento tão real que se passava.

    Ela era impiedosa, mas era totalmente sincera, não era uma garota meiga, era uma garota forte, com nervos de aço.

    — Amo como você é inocente e que vai me obrigar a ensiná-lo muitas coisas, amo como eu sempre posso estar ao seu lado, e como você gosta de mim, você cuida de mim. Eu amo como você busca o sorriso das pessoas, mesmo que conseguir um sorriso verdadeiro seja tão difícil.

    Com Kizimu em silêncio, Pandora começou a expressar algo inesperado em uma voz suave e tranquila.

    — Eu amo tudo em você. Seus cabelos pretos, sua voz gentil, mas que de repente fica animada como uma criança que fala de seus brinquedos favoritos, mas que de repente se transforma em uma voz firme e direta de ordem sobre demanda.

    Kizimu não disse nada enquanto Pandora continuava, regando-o com suas palavras.

    — Eu amo seus olhos, uma cor tão rara, não é um azul-claro, é um azul forte, escuro, tão profundo que eu me perco no mar de seu olhar…

    Olhos sobre olhos tão pertos que sentiriam suas respirações. O olhar de Pandora estava totalmente rabiscado, como se diversos riscos estivessem entrando em um círculo infinito com diversas formas.

    — Eu amo quando brinca com minhas outras partes, posso sentir o amor deles que tem sobre você. Eu amo quando protege seus amigos, eu posso sentir que todos sempre estarão no centro de seu amor e que eu nunca serei abandonada.

    — Pare.

    Não era a declaração de amor gentil que imaginava, era algo que era perto do terror, pela forma que era feita, ela falava com palavras tão gentis, mas, era como se seu fluxo estivesse entrando em um transe.

    — Eu amo seu corpo, amo sua boca quando encosta nos meus lábios, amo como me faz me sentir completa, e amo o fato de que eu posso sempre saber que estará lá para me salvar quando eu precisar

    — Socorro…

    Chorava por estava sendo jogado um amor tão doentio, algo que estava quase o absorvendo, olhos tão psicodélicos.

    — Eu amo você, amo muito, amo como me salvou, amo como é perfeito, amo, amo, amo, amo, amo, amo, amo, amo, amo, amo, amo…

    Ele não tinha forças para conseguir desvincilhar dos braços fortes que seguravam ela. Pandora não estava escurecida, loira, ou com cabelos de fogos, apenas seus olhos entravam em colapso frente a frente de seu rosto tão próximo.

    Por que, por que ainda depois de tudo ela ainda o amava? Droga, ela mesmo assim não conseguia entender?

    Até que tudo parou, os ventos cessaram. Ela levantou, e usando o ar misticamente, como se fosse uma extensão sua, ela levantou o corpo de Kizimu.

    — Eu proíbo você de insultar o Kizimu que eu amo, por isso, de o seu jeito, e trate de gostar do grande idiota e fraco que eu amo do fundo da minha alma. Sim, Kizimu, você é o egoísta que me salvou, e eu sou mais egoísta ainda. Por que agora, eu sou livre, e sou livre por uma causa… você sabe qual é?

    — Você vive… por mim.

    — Bingo.

    Ventos explodiram diante a resposta tão direta.

    — Todo esse amor é….

    — Doentio, pois então, você está fudido, pois é essa é a maluca que ama você.

    Ela triunfou, nunca esteve tão certa de algo.

    Ele riu, esse amor não fazia sentido algum, apenas por ele salvou ela, ela amava ele?

    — Errado.

    Ela conseguiu ler os pensamentos de Kizimu. Um estágio novo do saci tornou ali.

    — Eu te amo, porque você é meu herói.

    Ela andou, seus lábios voltaram a se conectar, aquele toque, não foi apenas um beijo. Pandora estava evoluindo, suas emoções tão intensas afloravam um nível de desejo para que o melhor fique ainda melhor.

    Se ela queria ser uma asa, ela precisaria também evoluir, não dava para ficar apenas na mesma, então, evoluindo por causa do seu amor, ela controlou o poder de ler sentimentos com a influência de ler pensamentos, ela adicionou o adentrar no corpo de Kizimu e tocou seus sentimentos.

    Ela moldou através do beijo, ela conseguiu entrar em sua mente, ela descobriu algo que mais motiva, o desejo de destruir a depressão de Kizimu pela raiz. Desde o começo sentiu algo errado, como algo que transfigurava os sentimentos de seu senhor até seu ápice.

    A Temperança.

    A carta Temperança foi usada duas vezes, e uma ligação profunda com os sentimentos de Kizimu foi adentrada, uma ligação tão emaranhada e ridícula, não permitiria isso.

    O beijo, que foi apenas um toque perfeito entre os dois, se tornou algo tão perfeito, por que, acima de tudo, destruiu a conexão da Temperança. Finalmente Kizimu se viu livre do demônio que lhe assombrava.

    Ainda existiam resquícios da carta, mas, o efeito verdadeiro, não existia mais, e como magica. A mágica mais perfeita de todas.

    — O que…

    A mente de Kizimu sentiu um alívio imediato… ainda sentia um leve desconforto, mas, sua racionalidade voltou como uma mare, estava finalmente conseguindo usar sua racionalidade novamente.

    Racional e Emocional estavam agora ajustados, ligados, profundos.

    Ele sentiu toda sua essência e conseguia compreender sua própria alma.

    Até que finalmente sua mente voltou ao ponto inicial.

    — Herói…?

    Quando aquelas palavras de confiança infinita e incondicional o atingiram, o coração de Kizimu estremeceu palpitantemente.

    Não importa as condições terríveis empilhadas um sobre o outro, não importa quais falhas ele possa ter, aquela frase foi infundida com a esperança de que ele viria correndo e afugentaria o mal. E tarde demais, finalmente Kizimu percebeu isso.

    Ele estava errado. Ele pensou errado. Ele estava tão, tão errado.

    Achou que era Aisha que não deixaria que ele desistisse, mas não era verdade. Pandora seria muito mais impetuosa quanto impedir que Kizimu desista, que não importava o quão fraco, patético e humilhado ele fosse, ela não perdoaria ele, ela na base da força o faria se reerguer.

    Na frente dele, com um sorriso impetuoso, quem não permitiu que Kizimu fosse fraco. Ela era a única que ficava dizendo, ficar de pé. Não desista. Salve a todos. Kizimu não era capaz de resolver nada, mas, ela ainda assim amava ele mais do que tudo.

    Kizimu tinha encantado ela de alguma forma tão assustadora, que ele mesmo temeu que tivesse mais alguma maldição, como Esme ou Dalia.

    Ele finalmente estava sentindo melhor, finalmente foi salvo de um sentimento tão pesado que carregava em seus ombros, mesmo que a sensação não desapareceu. Agora….

    Ainda faltava algo.

    — Mesmo que eu me sinta melhor, não muda o fato de que não conseguiremos salvar ninguém.

    — Eu estou aqui, aquela que você salvou, eu vou fazer você voar e se tornar o maior dos heróis, capaz de salvar a todos.

    — Eu não consegui fazer nada sozinho, nunca consegui realizar nada por contra própria.

    — Então me use, me use de ferramenta, de espada, bainha ou escudo, me use como arma, como ponto de descanso ou como uma barreira humana para seus planos maléficos, apenas me diga que vai arrogantemente alcançar os céus e então, eu farei você voar para muito, além disso.

    — Eu me odeio…

    — Eu te amo. E amarei tanto que em algum momento você vai precisar se amar.

    Ele havia tentado de tudo, todas morreram, ele aprendeu sobre tudo, os futuros que pensou, todos morreram, não tinha solução, a próxima morte aconteceria.

    — Se fosse outra pessoa salvando, tenho certeza que daria certo.

    — Não quero que seja outra pessoa, eu quero que você salve a todos. Esse é meu pedido egoísta.

    Mesmo que Kizimu não tivesse forças para vencer, ele poderia então lutar, tranquilo, sabendo que não poderia vencer?

    — Ah, você é deprimente, demorou tanto assim para tomar uma decisão? Mas, pelo sorriso, vejo que já se decidiu. Eu vou dizer uma última coisa, para finalizarmos essa resolução com um grande impacto.

    Kizimu ria secamente sobre sua fraqueza. Então, aquela mulher tão intensa, ela ressoou.

    — Kizimu, Erga-se! — gritou com o maior ímpeto que tinha, maior determinação que a aguardava, ela mostrou por que ela era a verdadeira asa de Kizimu Kuokoa. — Seja o mais forte, mesmo que não tenha a força necessária, mesmo que enfrente algo impossível, mesmo que caia, mesmo que queria desistir do fundo de sua alma, apenas tem algo que eu quero que nunca se esqueça.

    — …

    — Erga-se!

    O seu bradar abriu todas as janelas, algo proposital pelo poder da própria garota, mas, os pássaros que entraram, pombas brancas, deixando todo aquele castelo cheio de aves lindas.

    Ficou tão sem palavras que não sabia como prosseguir, mas, tinha certeza do que precisava fazer.

    — Pandora.

    — Diga.

    — Eu quero salvar a todos. Eu quero salvar todas as pessoas desse castelo e não quero ver mais nenhuma morte. Eu quero matar o assassino e não quero nem saber o fato que a morte é triste. Eu tô puto por vingança e quero muito ver o sangue do assassino escorrer. Quero que tudo seja virado de ponta cabeça e no fim… eu quero salvar Kim.

    Eram coisas demais que queria fazer, e o fato de que aquilo era impossível de alcançar sozinho, tornava ainda mais assustador, percebia o quão pequeno era para um sonho tão grande, percebia que não era capaz de conter tanto desejo e sentimento que era apenas sonhos.

    Se existia o sentimento racional e o emocional, o que seria esse sentimento?

    Querer.

    O sentimento mais profundo de todos.

    Por isso nunca conseguiria fugir com Pandora. Porque seu querer estava em ajudar a todos. Mesmo que fosse impossível, mesmo que não tivesse como. Ele queria isso.

    Talvez por isso se chama três núcleos da mente humana. Racional, emocional, e o querer.

    — São sonhos bem grandes para um fracote que não consegue fazer nada. Pelo visto vai deixar muitas coisas nas minhas costas e vai ser bem trabalhoso.

    Pandora deu de ombros em deboche, e rindo, olhou para seu amado.

    — Eu aceito de bom grado levar para esse futuro. Se for o futuro que meu herói tanto almeja, eu assim o farei.

    Entendia o calor que passava no seu personagem favorito, então, lembrou do pecado que o mesmo havia cometido. Ele entendia seu lado, mas ainda assim, arrancou uma raiva de Kizimu, pois então, corrigiria isso.

    — Pandora, eu tenho mais um desejo!

    Ele esticou a mão para ela, ela solenemente o pegou e soltou um pequeno “Ah” quando caiu sobre o peito do garoto.

    — Eu quero namorar com você.

    — …!

    Ela surpresa, sem conseguir entender os sentimentos complexos que haviam em si, então se viu quebrada, não era tão forte quanto pensava. Ela chorou levemente, ainda sobre um sorriso angelical.

    — É uma promessa, se você conseguir parar o pesadelo, eu juro que namorarei você.

    Sorriu e então roubou a frase do seu querido protagonista favorito.

    — Você vai ver o homem por que se apaixonou se tornar o herói mais incrível que já viu nesse mundo.

    Isso com certeza foi diferente do que esperava, mas, com certeza foi seu Do zero, então, ali e agora, a história de Kizimu, em um mundo onde acordou sem memórias, onde não conhecia ninguém e teve de conhecer aos poucos todos, onde não sabia de nada, recomeçava um novo mundo, com certeza começaria ali, onde ele finalmente iria se reerguer.

    1. Espúrio é um adjetivo que significa falsoilegítimoinautêntico ou adulterado. ↩︎
    2. Idílico é um adjetivo que descreve algo perfeito, sereno e idealizado, frequentemente associado a um cenário de paz, felicidade e simplicidade rústica ↩︎

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