Prólogo: Outro teto
Eu não reconheço esse teto.
Ao abrir os olhos, só pôde observar um teto. Não sabia onde estava, nem o que havia feito no dia anterior. Em destaque, uma luminária com adornos em forma de estrelas de Davi projetava sombras encantadoras no teto, criando uma dança silenciosa de luz e escuridão.
Essas estrelas… algo nelas puxava sua memória. Um sentimento estranho, inexplicavelmente real, latejava em seu peito.
— Você finalmente acordou.
Eu não reconheço essa voz.
Uma voz doce e feminina, meio sarcástica, mas cheia de preocupação, disse algo que o jovem deitado não entendeu bem. A voz era como um sino em sua alma… um sino que estava se tornando estranhamente real.
— Estava esperando você acordar, �����U.
O garoto de cabelos pretos não conseguia olhar para quem estava tendo essa conversa unilateral. Não escutou o nome que a voz disse — toda a sua mente estava abafada por sinos.
Um corte na linha do tempo.
Eu não reconheço esse teto.
Diferente do teto que viu segundos atrás, esse não tinha nada. Literalmente nada — um teto vazio, branco e puro.
— Olha, ele acordou, logo agora que ela foi embora.
O garoto escutou a voz cansada de um homem, provavelmente um jovem adulto. A confusão sobre os acontecimentos o deixava sufocado. Por que não conseguia se mover? Apenas podia ouvir a conversa.
— Senhor Lins, o paciente não parece estar ciente de onde se encontra.
Uma segunda voz falou. Era uma voz feminina muito infantil. Mas não era a voz de uma criança, só que não era de uma adulta… talvez fosse apenas impressão.
A palavra “paciente” trouxe um questionamento à sua mente. Seria condizente pensar que eles eram médicos, mas, pelo modo como conversavam, talvez o jovem fosse o médico e a moça, a enfermeira.
— Sim, é normal. O coma dele não foi muito estável — disse Lins, o possível médico.
Coma?
— Os exames mostraram que seu corpo cresceu como o de uma pessoa saudável e aparentemente consciente. Seu corpo continuou trabalhando e se transformando como se ele estivesse acordado e andando. Um fato muito curioso, eu diria — Lins explicou para sua colega.
Por que meu corpo não se move?
— Dona Minne não se encontra mais aqui. Como esse paciente irá reagir? K����� deveria ver ela, certo? — disse a enfermeira, preocupada. Mas apenas sinos foram escutados por ele.
Um corte na linha do tempo.
Eu não reconheço esse teto.
Era o terceiro teto que ele via em um período de dois minutos (segundo sua percepção). O garoto não entendia direito o que havia acontecido. Sua mente parecia ter sido atropelada por um caminhão — uma confusão total.
Ele não se movia. Não via nada além do teto. Até agora, só podia ouvir as vozes.
Esse novo teto trouxe algo incomum: silêncio. Quando foi a última vez que ouvira um silêncio tão bom?
Meu corpo finalmente se mexeu
Os dedos da mão foram os primeiros a dar sinal; seu pescoço havia virado para o lado.
Que intrigante — uma cadeira estranha, nunca tinha visto algo tão simples de forma tão moderna.
Não era como se lembrasse de alguma coisa. Focando nisso, tentou se mover. Seu joelho esquerdo conseguiu levantar. Ele conseguiu moveu o tronco e conseguiu se sentar. Ao olhar para frente, viu uma porta. Foi a primeira coisa que viu ao se sentar pela primeira vez, conseguindo se mover.
Um espelho… eu quero ver aquele espelho
Era um espelho com borda de madeira, perto da porta.
Movendo seu corpo, um sentimento incomum, era algo novo?
Ele sente-se estranho andando, naturalmente ele deveria ter dificuldade para andar, certo? Contudo, não foi isso que ele sentiu.
Quando foi a última vez que ele andou?
Quando foi que ele parou de andar?
Quando ele entrou naquele quarto?
Eu não reconheço esse jovem.
Ele não reconhecia o próprio rosto, embora parecesse com o que lembrava. O rosto do jovem que recordava… Pensando bem, será que conseguia se ver naquele espelho antes? Estava mais alto do que lembrava. Mesmo sem entender, não pareceu abalado. Na verdade, não expressava nenhum sentimento. Ele estava morto? Ou apenas os seus olhos que estavam?
Eu tenho que sair desse quarto.
Ao colocar a mão direita sobre a maçaneta, ele travou por um segundo. No dorso da mão, havia uma inscrição feita com tinta. O que estava escrito era justamente o que ele mais queria saber:
“Qual o seu nome?”
— Eu… Não sei.
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