Capítulo 143 — Por trás do palco
Hope correu pelo campo de batalha devastado, a poeira da luta ainda pairava no ar, e as marcas da destruição que Elior causara eram visíveis em todo o cenário. O som da vitória ainda ecoava, mas tudo o que importava para ela naquele momento era confrontar o garoto que parecia ser o verdadeiro centro de tudo. Aiden, sempre fiel e sorridente, a seguia logo atrás, mas seus pensamentos estavam fixos no mesmo destino: Elior.
“Elior!” Hope gritou, sua voz reverberando no campo vazio, quebrando o silêncio momentâneo da vitória.
Elior se virou lentamente, a bandeira ainda em sua mão, sua postura impenetrável como sempre. Seu rosto estava sereno, quase inexpressivo, com aqueles olhos afiados que sempre pareciam enxergar além do que qualquer um podia ver. Ele suspirou, não de cansaço, mas de uma paciência longa e inabalável. Era óbvio que ele não estava interessado em conversas no momento, mas Hope, determinada como sempre, não deixaria a oportunidade escapar.
Ela se aproximou, hesitante, mas com um brilho de curiosidade nos olhos. O ar ao redor deles era pesado, ainda impregnado da batalha anterior. O céu acima começava a se abrir novamente, permitindo que a luz passasse pelas nuvens de poeira.
“Podemos conversar em particular?” Hope perguntou, sua voz baixa, mas firme. Ela apontou para uma área tranquila, um canto da arena onde ninguém poderia ouvi-los. “Apenas os membros da equipe.”
Elior olhou para a área que ela indicava. Por um breve momento, ele parecia ponderar se deveria ou não se incomodar com essa conversa. Mas, com outro leve suspiro, ele os seguiu, caminhando tranquilamente, como sempre. Cada passo seu era meticuloso, quase como se ele soubesse exatamente o que viria a seguir.
Quando finalmente chegaram à área isolada, Hope parou e virou-se para ele, seu olhar era sério, muito diferente de seu comportamento casual de antes. O silêncio entre eles era carregado de tensão não dita.
“O quanto você está escondendo?” Hope perguntou, sua voz baixa, mas o peso de suas palavras era evidente. A pergunta pairou no ar, e por um breve momento, Elior apenas a encarou, antes de deixar escapar um sorriso quase imperceptível, algo raro em sua expressão geralmente fria.
Elior, sempre o enigma, deu um passo à frente, cruzando os braços enquanto observava tanto Hope quanto Aiden. “Existem gênios que nascem uma vez a cada dez anos… outros que surgem uma vez a cada milênio. E então, existem os mais raros… aqueles que aparecem uma vez a cada dez mil anos.”
Hope franziu o cenho, sentindo que a resposta de Elior era vaga, mas de alguma forma reveladora. Seus olhos o analisavam, tentando ver além da fachada impenetrável que ele sempre apresentava.
Aiden, sendo ele mesmo, quebrou o silêncio com seu habitual tom brincalhão. “E você é o último, então?” Ele sorriu, tentando aliviar a atmosfera.
Elior voltou seu olhar para Aiden, mas o brilho de humor em seus olhos era inexistente. “Não…” Ele começou, sua voz baixa e cheia de uma confiança inabalável. “Eu sou o tipo de gênio que nasce apenas uma vez em toda a existência.”
As palavras dele caíram pesadas no ar, e por um momento, nem Hope, nem Aiden souberam o que dizer. Aiden piscou, sua expressão se suavizou enquanto tentava processar o que acabara de ouvir.
Hope, por sua vez, não se deixou intimidar. Ela o olhou fixamente, seus olhos buscando alguma verdade por trás daquelas palavras. “Então, isso significa que você é muito mais forte do que demonstrou até agora?”
Elior manteve o silêncio, seus olhos apenas confirmando o que ela já começava a entender. Ele era uma força muito além do que qualquer um poderia imaginar. Durante toda a competição, ele havia suprimido seu verdadeiro poder, sua verdadeira natureza.
“Por que esconder tudo isso?” Hope perguntou, sua voz agora carregada de curiosidade e preocupação.
Elior olhou para o céu por um momento, como se refletisse sobre a própria existência. “Há sempre uma razão para tudo, Hope. Às vezes, mostrar poder demais é tão perigoso quanto não ter poder algum.” Ele deu de ombros de maneira despreocupada, mas seus olhos traíam a profundidade do que ele estava dizendo.
Aiden, ainda tentando processar a magnitude de tudo aquilo, soltou uma risada curta. “Você é realmente algo, hein? Pensei que eu era bom por ter um ou dois truques na manga, mas você…” Ele balançou a cabeça em descrença.
Elior apenas sorriu de canto. “Você não é tão ruim, Aiden.”
O ambiente ficou mais leve por um momento, mas Hope sabia que havia muito mais a ser dito. Suas mãos estavam fechadas ao lado do corpo, e ela se aproximou mais de Elior, determinada a obter mais respostas.
“Você fala como se soubesse de algo que nós não sabemos… Algo além desta competição.” Hope franziu a testa, tentando compreender a extensão do que ele insinuava.
Elior desviou o olhar por um segundo, mas logo voltou a encará-la. “Existem forças maiores do que a própria competição.” Ele fez uma pausa. “Forças que estão se movendo além do que vocês podem ver. O que aconteceu hoje foi só o começo.”
Hope o encarou por um longo momento, suas palavras ressoando em sua mente como um eco distante. Forças maiores… algo além da competição… só o começo… Ela sentia que havia algo profundamente enraizado nas palavras de Elior, algo que ela ainda não conseguia entender completamente. Mas ele sabia mais do que todos eles, isso era evidente.
“Como assim, só o começo?” Hope franziu a testa, tentando entender a extensão do que ele insinuava e não querendo deixar que ele escapasse com respostas vagas.
Elior, como sempre, manteve sua expressão serena, seus olhos penetrantes fixos nos dela por alguns segundos. Ele não estava tentando intimidá-la, mas a intensidade que emanava de seu olhar era impossível de ignorar.
“Vocês são fortes, Hope. Vocês têm potencial.” Ele começou, dando um passo em direção a ela e a Aiden. “Mas vocês não estão nem perto de atingir o verdadeiro limite desse potencial. Até ayogora, vocês têm se limitado ao básico, às regras estabelecidas.”
Hope piscou, surpresa pela sinceridade dele. “O que quer dizer com isso?”
Elior respirou fundo, sua postura agora é mais séria do que antes. “Eu vou treiná-los pessoalmente. Vocês precisam de alguém que os leve além desses limites artificiais que vocês mesmos colocaram. Eu não posso continuar observando vocês desperdiçarem o que têm.”
Aiden, que até então estava ouvindo atentamente, sorriu de forma despreocupada. “Ah, então o grande Elior vai ser nosso treinador agora? Que honra.” Sua voz tinha um tom leve e irônico, mas Hope sabia que Aiden estava considerando a oferta seriamente.
Hope hesitou por um momento, seu coração acelerado pela proposta repentina. Elior, treiná-los? Ela sabia que ele era incrivelmente forte, talvez mais do que qualquer um que ela já tivesse visto, mas a ideia de ser treinada por alguém tão poderoso a deixava desconfortável. Ainda assim, havia algo dentro dela que sabia que ele estava certo — eles precisavam de algo mais. Precisavam de alguém que os levasse a outro nível.
“Por que você faria isso?” Hope perguntou finalmente, seus olhos procurando algum indício de qual era a verdadeira motivação dele.
Elior a observou por um momento antes de responder. “Porque eu vejo o que vocês podem se tornar. E… se vocês não estiverem prontos quando as verdadeiras forças começarem a se mover, não haverá segunda chance.” Ele disse, sua voz soando quase profética, cheia de um peso que Hope não podia ignorar.
Ela mordeu o lábio, pensando profundamente. Algo dentro dela dizia que ele estava certo. Ela precisava ser mais forte — não só por ela, mas por todos ao seu redor. Então, após alguns segundos, ela assentiu lentamente. “Tudo bem. Estou dentro.”
Aiden deu de ombros, ainda com aquele sorriso travesso no rosto. “Eu não sou de recusar uma boa chance de me divertir. Vamos ver o que você tem reservado, gênio.”
Elior pareceu satisfeito com a aceitação deles. Não sorriu, mas seus olhos brilharam brevemente, como se estivesse aliviado por eles entenderem a seriedade da situação. “Ótimo. Nós começamos assim que possível.”
Antes que Hope pudesse responder, o som de uma trombeta ecoou pelo campo, chamando a atenção de todos. O fim oficial da competição estava próximo, e os alto-falantes ao redor começaram a transmitir as últimas palavras do evento.
***
A noite estava profunda, e o silêncio era quase absoluto na vasta mansão onde Damien se encontrava. O edifício, imponente e de arquitetura antiga, erguia-se como um monumento de poder e riqueza. As paredes de mármore escuro refletiam o brilho fraco das poucas lâmpadas que iluminavam o vasto corredor. Damien caminhava em passos calculados, cada um ressoando pelo chão liso e frio, enquanto seu coração batia descompassado com a antecipação de uma conversa que ele não queria ter.
Finalmente, ele chegou a uma grande sala de estar, decorada com móveis luxuosos e antigas tapeçarias que pendiam das paredes, cada detalhe transbordando riqueza e poder. No centro, em uma poltrona imponente de couro escuro, estava sentado o homem que esperava por ele. A silhueta rígida e o ar de superioridade transbordavam da figura sentada, apesar da escuridão parcial do aposento.
O homem aparentava ter pouco mais de cinquenta anos, mas os traços severos de seu rosto e o olhar gélido o faziam parecer mais velho. A pele pálida estava marcada por cicatrizes antigas, e sua postura indicava uma vida de batalhas, tanto físicas quanto políticas. Seu braço direito estava ausente, deixando um vazio onde o membro deveria estar. Vestia um manto pesado, bordado com símbolos arcanos e antigos, como se a própria roupa proclamasse sua arrogância e ambição desmedida. O brilho nos olhos azuis transmitia desprezo e crueldade, traços de alguém acostumado a controlar os outros, a obter tudo o que desejava, não importando o custo.
“Damien.” A voz grave do homem ecoou pelo salão, cortando o silêncio. Ele nem sequer se virou para olhar Damien diretamente, sua atenção aparentemente presa ao copo de cristal que girava em sua mão, refletindo a luz suave das lâmpadas. “Então, como foi o torneio? Imagino que Hope tenha sido humilhada como planejado?”
Damien engoliu em seco, sentindo o peso da decepção iminente antes mesmo de responder. “Não exatamente, senhor.” Sua voz falhou levemente, mas ele a recompôs rapidamente. “Os planos foram frustrados… por Elior. Ele acabou dominando toda a competição, e—”
O homem girou a cabeça lentamente, seus olhos afiados como lâminas focando em Damien. A raiva latente em seu olhar era clara, uma chama de ódio que não precisou de palavras para ser compreendida. “Elior? Esse pirralho de novo? Parece que ele está mais envolvido do que eu pensava.” Ele se levantou da poltrona com uma lentidão calculada, o copo de cristal tilintando levemente quando o colocou sobre a mesa ao lado. “Então, você deixou um garoto arruinar o plano que preparávamos há meses.”
Damien tentou manter a calma, mas era difícil na presença do homem. “Eu fiz o que pude, senhor. Elior é… muito mais forte do que aparenta. Ele virou a competição a favor da equipe de Hope.”
O homem deu um passo à frente, aproximando-se de Damien com uma frieza cortante. “Eu não me interesso por desculpas, Damien. Você deveria ter dado um jeito. Quero que Hope seja destruída, publicamente humilhada. Se não aconteceu hoje, vai acontecer na próxima vez.”
Damien hesitou por um momento, sabendo que o que viria a seguir não seria bem recebido. “Eu… não posso, senhor.” Ele respondeu, a voz pesada com relutância. “Fiz uma aposta com Elior… e perdi. Ele me forçou a deixar a facção humana.”
O homem parou abruptamente, o choque e a raiva claros em seu rosto. O silêncio que se seguiu foi tenso, como o ar antes de uma tempestade. “Você perdeu uma aposta… com um garoto?” O tom de sua voz era baixo, carregado de desprezo. “E agora vai simplesmente aceitar isso? Vai deixar que uma aposta idiota dite seu futuro?”
Damien, sentindo o peso da pressão, olhou para o chão, tentando encontrar as palavras certas. “Não é tão simples. Ethan estava lá. Ele ouviu a aposta. Não há como voltar atrás com ele vigiando.”
Os olhos do homem estreitaram-se ainda mais, suas mãos cerradas em punhos, o que restava de sua paciência esvaindo-se rapidamente. “Ethan…” Ele cuspiu o nome como se fosse veneno. “Aquele idealista intrometido. Sempre metendo o nariz onde não é chamado.” Ele começou a andar em círculos pela sala, o som de suas botas ressoando no piso de mármore. “Você é realmente tão patético, Damien? Vai deixar um garoto te humilhar e depois fugir com o rabo entre as pernas?”
Damien permaneceu em silêncio, ciente de que qualquer palavra dita nesse momento só pioraria as coisas.
O homem parou de repente, seus olhos focados em Damien novamente. Antes que pudesse falar, uma voz grave e imponente ecoou pela sala, como um trovão distante. “Você não aprendeu da última vez, não é?”
Ambos os homens congelaram. A aura na sala mudou drasticamente, o ar ficando pesado, como se uma força invisível tivesse assumido controle. Uma presença esmagadora permeou o ambiente, emanando poder bruto e incontestável. A figura de Elior se revelou lentamente das sombras, seu rosto inexpressivo, mas seus olhos emanavam um poder devastador.
“Elior.” A voz do homem mais velho tremulou por um momento, surpresa misturada com raiva. “O que uma criança como você está fazendo aqui?”
Elior não respondeu imediatamente. Ele deu um passo à frente, sua aura vazando de forma intensa, pressionando os dois homens na sala. Damien sentiu o corpo inteiro estremecer sob a força da presença de Elior. Aquele não era o mesmo garoto que havia enfrentado no torneio — era algo mais, algo perigoso. “Por que você está tentando humilhar sua própria neta, depois de tudo que já fez com a família?” Elior disse, sua voz baixa e ameaçadora.
O homem franziu o cenho, confuso e irritado. “Neta? O que você está insinuando, garoto?”
Elior cruzou os braços, seu olhar impassível. “Você sabe muito bem do que estou falando. Você causou estragos suficientes, e mesmo assim continua. Acha que o braço que você perdeu foi castigo suficiente?”
O homem instintivamente olhou para o vazio onde seu braço direito costumava estar, seus olhos se enchendo de raiva ao lembrar-se do passado. “Isso não é da sua conta.”
Elior deu mais um passo à frente, sua presença dominando o espaço. “Você não deveria nem estar respirando, mas por consideração a Eriel e Ethan, e por ser o avô de Hope, eu não vou acabar com você aqui e agora.” O tom de sua voz era frio, implacável.
Damien, já tomado pelo pavor, assistia em silêncio, sem ousar intervir. A tensão na sala era quase palpável, e, por um momento, parecia que Elior estava pronto para exterminar o homem ali mesmo.
O sorriso de Elior se alargou de forma sarcástica, e, à medida que ele avançava mais alguns passos, algo nele começou a mudar. A atmosfera ao seu redor se transformou de maneira sutil, mas poderosa, como se uma sombra encobrisse a luz da sala. Os olhos do homem mais velho se arregalaram, e a raiva que antes dominava seu semblante foi rapidamente resgatada por algo mais profundo — confusão e medo.
“ Você? ”Ele murmurou, a voz tremeu enquanto recuava instintivamente. Seu olhar se fixou em Elior, o reconhecimento tomando conta de suas feições envelhecidas, mas sem coragem para agir. Um calafrio percorreu sua espinha quando compreendeu quem — ou o que — estava diante dele. “ Mas… como? ”
Damien, ainda congelado ao lado, olhou entre Elior e o homem, incapaz de entender completamente o que estava acontecendo, mas ciente de que algo terrível havia mudado naquele instante. O respeito imposto e a soberba habitual do homem mais velho desmoronaram diante da presença de Elior, sua postura agora marcada pelo medo de quem sabia que estava em completa desvantagem.
Elior, mantendo seu sorriso de desdém, não se apressou em dar resposta. Ele apenas confirmou a ocorrência do homem, claramente satisfeito com a mistura de medo e submissão. Quando finalmente falou, sua voz soou como um trovão suave, mas com uma promessa de destruição iminente. “ Você pensou que poderia continuar jogando seus jogos impunemente? Que ninguém o deteria? ”Ele deu uma breve pausa, examinando o semblante aterrorizado à sua frente. “ Eu deixei você viver até agora porque achei que Ethan poderia lidar com você. Que ele resolveria tudo sozinho. Mas… parece que esse não foi o caso. ”
O homem franziu a testa, seu olhar ainda preso à figura de Elior, mas agora era de um desespero contido. Ele sabia que, naquele momento, não havia nada que pudesse fazer contra a força esmagadora que emanava daquele garoto — ou o que queria que Elior realmente fosse. Ele respirou fundo, tentando recuperar o controle da situação, mas cada tentativa parecia fútil diante da presença diante dele.
Elior se mudou, sua voz agora cheia de veneno controlado. “ Você não será mais um problema. Não depois desta noite. Eu garanto isso. ”
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