Índice de Capítulo

    Assim que Hope estabilizou a conexão mágica, a imagem começou a tomar forma, revelando um salão imponente e opressor. Paredes de mármore negro adornadas com símbolos dourados brilhavam sob a luz de tochas mágicas, enquanto imensas colunas sustentavam o teto de um espaço que exalava poder e soberania. No centro de tudo, um trono colossal se erguia, forjado em um metal prateado reluzente, com detalhes que lembravam espinhos e correntes.

    Azrael estava sentado ali, com uma postura relaxada, mas carregado de uma autoridade inquestionável. Seus cabelos prateados caíam como uma cascata impecável sobre os ombros largos, e seus olhos vermelhos brilhavam como brasas, transmitindo uma intensidade que fazia o ar ao seu redor parecer mais pesado. Ele não parecia um homem, mas uma monarca absoluta, um soberano que governava com mão de ferro e sem espaço para fragilidade.

    Hope, apesar de estar preparada para aquilo, sente suas pernas vacilarem ao encarar a figura imponente de seu pai. Ele conversou com um grupo de subordinados ajoelhados diante dele, suas vozes tremendas ao responder suas ordens curtas e afiadas. Cada palavra de Azrael parecia carregar um peso que esmagava qualquer resistência, e os servos mal ousavam erguer os olhos para encará-lo.

    Quando ele viu a presença de Hope na projeção, interrompeu-se abruptamente. Um silêncio aterrorizante tomou conta da sala. Seus olhos vermelhos se fixaram nela como garras invisíveis, despindo-a de qualquer tentativa de disfarce ou coragem. “Saiam,” ele tentou aos servos, com uma voz baixa e cortante. Eles não hesitaram. Em um instante, o salão ficou vazio, e Hope ficou sozinha diante da força avassaladora de Azrael.

    “Quem ousa invadiu meu espaço?” Sua voz ecoou pelo salão, fria como gelo, com um tom que parecia desafiar qualquer resposta que não fosse absoluta submissão.

    A esperança engoliu em seco, lutando contra o medo que ameaçava sufocar. “Eu… meu nome é Hope”, disse, sua voz falhando enquanto tentava manter a postura. “Eu sou sua filha.”

    Azrael inclinou-se para frente, os olhos estreitos indo-se levemente. “Minha filha?” Ele pronunciou as palavras com desdém, como se fosse uma piada de mau gosto. “E o que exatamente você quer de mim, Hope?”

    Ela hesitou, sentindo o peso do olhar dele. “Eu só… eu só queria entender por que você nos abandonou. Por que deixou minha mãe… sozinha.”

    Um sorriso cruel curvou os lábios de Azrael, mas não havia calor nele. “Você veio até mim por isso? Para falar de Eriel?” Sua voz carregava um desprezo gelado. “Ela fez a escolha dela. Escolheu ser fraca, escolheria de novo, e isso nunca me interessou.”

    “Fracca?!” Hope sentiu sua raiva emergir diante da indiferença esmagadora de Azrael. “Ela te amava! Ela esperava por você! E você simplesmente virou as costas para nós, para mim!”

    Azrael riu, mas o som era vazio, sem humor. “Amor? Esperança? Palavras inúteis. O que você espera conseguir com essa encenação patética? Minha atenção? Minha compaixão?” Ele se inclinou para trás, cruzando os braços. “Você não passa de uma criança ingênua, tentando entender algo que está além do seu alcance.”

    Hope manteve as lágrimas, mas não conseguiu. “Você realmente não se importa? Nem um pouco?”

    “Não.” A palavra foi dita com tanta certeza que parecia definitiva, esmagando qualquer vestígio de esperança.

    A dor se transformou em fúria. Hope deu um passo à frente, seu olhar fixando-se no pai com uma intensidade que quase igualava a dele. “E quanto a Naara? E Alice? Sien? Noir? Mamãe?!” Ela listou os nomes que queriam atravessar a indiferença dele à força.

    Por um breve momento, os olhos de Azrael vacilaram. Foi rápido, mas Hope viu—uma fagulha de algo: dúvida, culpa, talvez lamentável. Mas ele mascarou isso com uma eficiência assustadora, voltando à sua expressão gélida.

    “Isso não é da sua conta”, declarou ele, com sua voz persistindo.

    “Você é um monstro”, ela disparou, com a voz embargada, mas firme.

    Azrael inclinou-se novamente, os olhos vermelhos brilhando como brasas prestes a consumir tudo. “Se você ousar me desafiar novamente, ou usar essa magia para me contatar sem permissão…” Ele fez uma pausa, cada palavra sua contida de uma ameaça aterradora. “Eu mesmo cuidarei para que você nunca mais o faça.”

    O mundo de Hope parecia desmoronar. Seu corpo tremia, e as lágrimas escoriam livremente, mas algo dentro dela não se cortejava. Ela manteve os olhos fixos nos dele, recusando-se a ceder completamente ao medo.

    “Você pode me odiar”, ela sussurrou, a voz trêmula, mas cheia de determinação. “Mas eu não vou deixar minha mãe carregar esse peso sozinha. E algum dia, Azrael, você vai se arrepender.”

    A conexão mágica oscilou violentamente, como se refletisse a intensidade das palavras de Esperança, antes de se desfazer completamente. A imagem de Azrael desvaneceu-se em um lampejo de energia instável, deixando Hope sozinha no silêncio opressivo do salão. Suas pernas cederam sob o peso esmagador da conversa, e ela caiu de joelhos, o eco de sua respiração ofegante reverberando nas paredes frias.

    Aquele homem — aquele monstro — era seu pai. O sangue que corria em suas veias também era dele, e essa verdade a dilacerava por dentro. Mas em meio à dor e à indignação, uma fagulha de determinação queimava. Hope prometeu a si mesma, com a mesma ferocidade que sua voz carregara momentos antes, que jamais se submeteria à crueldade de Azrael.

    Ela olhava ao redor, os olhos turvos de lágrimas, enquanto tentava se orientar no vazio ao seu redor. O peso do silêncio parecia dobrado sobre ela, cada segundo arrastando-se como uma eternidade sufocante. Quando seus olhos finalmente encontraram Aiden, ele estava ali, parado próximo a ela. A luz fraca delineava sua figura imponente, mas era uma expressão em seu rosto que chamava a atenção de Hope: preocupação e algo mais — um protetor de calor que parecia alcançar seu coração partido.

    Aiden não disse nada. Ele apenas caminhou até ela, cada passo carregado de propósito, e a segurança para um abraço firme e acolhedor. O choque inicial deu lugar ao colapso, e Hope desabou, enterrando o rosto no ombro dele, enquanto seu corpo tremia com soluções incontroláveis.

    “Está tudo bem,” Aiden murmurou, sua voz baixa e tranquilizadora. Suas mãos se moveram suavemente por seus cabelos, oferecendo um conforto silencioso. “Você não precisa enfrentar isso sozinho. Eu estou aqui.”

    As palavras dele atravessaram a tempestade de emoções de Hope, ancorando-a no momento presente. O toque dele era um contraste marcante à frieza cortante das palavras de Azrael. Pela primeira vez desde que a conexão mágica se formou, ela se permitiu baixar as defesas, chorando abertamente enquanto o calor de Aiden a envolvia como um escudo contra a escuridão.

    O salão, antes tão vazio e frio, parecia menos opressor na presença dele. Mesmo com as palavras de Azrael ecoando em sua mente, Hope encontrou naquele abraço uma pequena ilha de estabilidade, uma prova de que nem tudo estava perdido.

    Quando suas soluções finalmente diminuíram, ela avançou gradualmente, enxugando as lágrimas com as costas da mão. Aiden a observava atentamente, sem dizer uma palavra, mas a intensidade em seus olhos dizia mais do que qualquer coisa.

    “Eu preciso de um tempo sozinha”, ela murmurou, uma voz ainda fraca, mas firme.

    Ele hesitou, claramente relutante em deixar-la naquele estado, mas assentiu. “Se precisar de mim, estarei aqui.” Suas palavras eram simples, mas transmitidas de um peso que Hope não podia ignorar.

    Enquanto ele se afastava, deixando-a sozinha no salão, Hope respirava fundo, tentando recuperar o controle. A dor ainda estava lá, cravada profundamente, mas ela sabia que não poderia suportar aquele desespero.

    Com os punhos cerrados, ela se levantou, cambaleando progressivamente antes de encontrar seu equilíbrio. Sua mãe precisa saber. Ela deu respostas. Azrael poderia ter sido cruel e impiedoso, mas o que ele dissera não mudou o fato de que Eriel ainda carregava o peso de amar um homem tão monstruoso.

    Determinação renovada, Hope avançou pelos corredores em direção à sala de pesquisa, onde sabia que sua mãe estaria. As emoções fervilhavam em seu peito — raiva, dor e uma confusão de incertezas. Contudo, ela respirava fundo, obrigando-se a conter o turbilhão. Havia perguntas que precisava de respostas, e Eriel seria a única pessoa capaz de oferecê-las.

    Ao alcançar a porta entreaberta, Hope hesitou. Lá dentro, sua mãe estava mergulhada no trabalho, cercada por antigos pergaminhos, cristais arcanos e ferramentas que brilhavam fracamente sob a luz. Por um instante, Hope quis se virar e fugir, mas algo mais forte dentro dela a impeliu a continuar.

    “Hope?” A voz de Eriel trouxe de volta ao presente. A mulher desviou o olhar do pergaminho que lia, franzindo o cenho ao perceber a expressão da filha. “O que aconteceu?” Sua pergunta carregava um tom de preocupação imediato.

    Hope tentou forçar um sorriso, mas ele morreu antes de sequer se formar. “Não é nada, mamãe. Eu só…” Sua voz falhou e ela desviou o olhar, sentindo as lágrimas brotarem apesar de seu esforço para contê-las.

    Eriel se moveu rapidamente, cruzando o espaço que as separava em poucos passos. “Hope, querida, o que foi?” Ela disse com um misto de urgência e ternura, colocando as mãos nos ombros da filha.

    Hope balançou a cabeça, incapaz de manter a fachada. As palavras finalmente escaparam em um sussurro quebrado: “Eu falei com ele, mamãe… com o papai.”

    Por um instante, o tempo parece congelar. O impacto das palavras fez Eriel recuar progressivamente, seus olhos arregalados. “Você falou… com Azrael?” A incredulidade em sua voz era palpável.

    Hope assentiu, os soluços começaram a escapar enquanto as lágrimas escoriam sem controle. “Sim. E ele… ele me ameaçou. Disse que me mataria se eu falasse com ele de novo.” Sua voz tremeu. “Ele disse que não se importa comigo, nem com você… com ninguém.”

    Eriel piscou, lutando para processar o que acabara de ouvir. Suas mãos apertaram os ombros de Hope com mais força, como se quisessem protegê-la de uma dor que sabia ser impossível evitar. “Não… isso não pode ser verdade. Azrael… ele ama você. Sempre amou.”

    “Não!” Hope disse, afastando-se bruscamente. “Ele não ama ninguém! Eu vi a frieza nos olhos dele, mamãe! Como você pode dizer isso depois do que ele fez? Ele é um monstro!”

    Eriel engoliu em seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. Mesmo assim, ela se aproximou novamente, sua voz mais baixa, mas firme. “Hope, Azrael fez escolhas. Ele tentou proteger você do jeito errado, afastando-se… mas tudo o que ele fez foi para garantir que você estivesse segura. Ele acredita que essa é a única maneira de fazer isso.”

    Hope sacudiu a cabeça, furiosa. “Proteger? Isso é proteger? Me ameaçar de morte? Eu odeio ele! Odeio tanto que nem vou tocar nos presentes que ele deixou para mim!”

    Eriel respirou fundo, tentando conter a própria frustração. Ela sabia que a filha precisava de tempo para processar tudo, mas não podia deixar a raiva de Hope dominá-la completamente.

    “Eu entendo sua raiva, Hope,” ela começou, sua voz suave, mas determinada. “Você tem todo o direito de sentir o que está sentindo. Mas não deixe essa raiva te consumir. Não deixe que ela te controle. Azrael pode ter falhado em ser o pai que você merece, mas ele deixou aqueles presentes por uma razão. Ele acredita em sua força.”

    Hope bufou, ainda tremenda de indignação. “Eu não preciso deles. Não quero nada vindo dele.”

    “Se é assim que se sente”, disse Eriel, agora encarando-a com intensidade, “então use esses presentes para provar que está certo. Treine com os espíritos que ele deixou para você. Mostre a ele que você cresceu, que você é mais forte do que ele jamais imaginou. Mostre que você não é mais uma criança indefesa.”

    As palavras de Eriel atingiram Hope como uma chama ardente. A raiva, que antes a consumia, começou a se moldar em algo novo. Ela abriu os punhos, sentindo a mudança em seu coração.

    “Eu vou fazer isso”, ela murmurou, sua voz agora carregada de autoridade. “Vou treinar. Vou dominar essas bestas espirituais. E quando ele aparecer de novo…” Ela levantou o olhar, seu rosto transbordando força. “Vou derrotá-lo.”

    Eriel observou, um pequeno sorriso triste surgindo em seus lábios. Ela sabia que esse momento marcava uma virada na jornada de Hope. “Então faça isso, minha querida. E mostre a ele quem você realmente é.”

    Hope concordou e saiu da sala com passos firmes, cada movimento carregado de propósito.

    Eriel parou por um instante, observando a porta se fechar. Depois, voltou sua atenção aos objetos em sua mesa de pesquisa, mas sua mente estava longe. O encontro entre pai e filha foi doloroso. Mas agora, pelo menos, Hope estava preparada para enfrentá-lo.

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