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    O silêncio no corredor da facção era cortado apenas pelo som ritmado dos passos de Hope, Aiden e Elior. A tensão no ar era palpável, mas Aiden, como sempre, parecia decidido a dissipá-la com seu bom humor habitual.

    “Então, qual é o palpite desta vez?” perguntou ele, com um sorriso travesso. “Caçar um dragão? Defender uma árvore sagrada no meio do nada? Ou talvez convencer algum espírito ancestral a não nos amaldiçoar?”

    Hope soltou uma risada curta, mas sincera. “Duvido que o tio Ethan tenha algo tão simples em mente. Se ele está nos chamando, provavelmente é algo mais sério.”

    Elior, sempre atento e reservado, caminhava ao lado de Hope. Sua postura ereta e o olhar focado davam a entender que ele estava absorvendo cada palavra, mesmo que não participasse da conversa. A tranquilidade externa escondia a leve ansiedade que ele também sentia diante do desconhecido.

    Quando chegaram à porta do escritório de Ethan, Hope hesitou por um momento, respirando fundo antes de bater. O som ecoou pelo corredor vazio, e, após um breve silêncio, a voz grave de Ethan os convidou a entrar.

    O escritório era um espaço imponente, com prateleiras abarrotadas de tomos antigos que exalavam o cheiro característico de pergaminho envelhecido. A luz que entrava pelas altas janelas iluminava a enorme mesa de madeira, onde Ethan revisava documentos com atenção. Ele ergueu os olhos e sorriu ao ver sua sobrinha e seus companheiros.

    “Entrem, por favor,” disse ele, sua voz calorosa, mas marcada por um tom de urgência. “Tenho algo importante para discutir com vocês.”

    Hope trocou um olhar rápido com Aiden e Elior antes de avançar. Aiden assumiu uma postura menos descontraída, percebendo a gravidade da situação, enquanto Elior permanecia em silêncio, analisando cada detalhe.

    Ethan se levantou e caminhou até eles. “O que vou lhes pedir não é uma tarefa comum. Não se trata de reconhecimento ou patrulha. Vocês foram escolhidos para uma missão de escolta.”

    Hope franziu a testa, intrigada. “Escolta? Quem precisamos proteger?”

    “Mana,” respondeu Ethan, diretamente.

    O nome reverberou na mente de Hope como um sino. Mana. A irmã de Azrael. Uma figura de renome e importância incomparável no império demoníaco.

    “Mana?” Hope repetiu, tentando processar. “Ela está em perigo?”

    Ethan assentiu, seu semblante carregado. “Mana recebeu uma tarefa importante em Xatharis, um planeta conhecido por suas florestas densas e fauna selvagem. Normalmente, seus próprios cavaleiros cuidariam disso, mas devido a uma crise no império, todos foram deslocados para lidar com outros problemas. Isso nos deixa como responsáveis por sua segurança.”

    Aiden assobiou baixo. “Então, é isso. Proteger a princesa imperial de ser mastigada por uma fera selvagem. Parece divertido.”

    O olhar firme de Ethan recaiu sobre Aiden, cortando sua leveza como uma lâmina. “Isso é muito mais sério do que parece. Qualquer ameaça à vida de Mana pode ter repercussões devastadoras. A segurança dela é prioridade absoluta.”

    O peso da missão começou a se manifestar no ambiente. Hope sentiu a responsabilidade apertar seu peito, enquanto Elior, sempre ponderado, foi o primeiro a quebrar o silêncio.

    “Entendido, senhor. Garantiremos a segurança dela a qualquer custo.”

    Ethan assentiu, satisfeito. “Vocês devem encontrá-la aqui na facção no final da tarde. Após isso, partirão imediatamente para Xatharis. A viagem não será longa, mas o destino é traiçoeiro. Xatharis abriga criaturas selvagens, algumas comuns, outras… mais perigosas. Há relatos recentes de aparições de algo novo, algo que não conseguimos identificar. Fiquem atentos.”

    Hope apertou o envelope com os detalhes da missão que Ethan entregou. A sensação de responsabilidade parecia maior a cada palavra. “E se encontrarmos essas… anomalias? Como lidar com elas?”

    Ethan suspirou, passando a mão pelos cabelos. “Se forem hostis, neutralizem a ameaça. Se não puderem lutar, priorizem a segurança de Mana. A missão é escoltá-la com vida e sem ferimentos. Nada menos será aceitável.”

    “Entendido,” disse Hope, a voz firme.

    Aiden, percebendo a seriedade de todos, tentou descontrair novamente. “Bem, pelo menos vamos explorar um planeta novo. Espero que as criaturas de Xatharis sejam mais bonitas do que mortais.”

    Hope lançou um olhar reprovador, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso. Era difícil ficar irritada com Aiden por muito tempo.

    Ethan encerrou a conversa com uma última recomendação. “Preparem-se. Vocês têm algumas horas. Certifiquem-se de estar prontos. Não haverá margem para erros.”

    Enquanto deixavam o escritório, Hope sentiu um turbilhão de emoções: a ansiedade pela missão, a curiosidade em conhecer melhor Mana e a determinação de fazer o possível para não falhar. Ao seu lado, Aiden ainda fazia piadas ocasionais, e Elior já parecia planejar estratégias mentalmente.

    Hope sabia que, por mais descontraído que Aiden pudesse ser e por mais calmo que Elior aparentasse, todos estavam cientes do peso daquela missão.

    “Uma princesa imperial, hein? Isso é quase como aquelas missões clássicas de escolta dos livros,” comentou Aiden, um sorriso travesso surgindo em seus lábios. “O herói salva a princesa e depois…”

    “Nem termine essa frase,” Hope o cortou, balançando a cabeça, mas não pôde evitar sorrir. Mesmo com a seriedade da missão, era difícil resistir às piadas de Aiden.

    Elior, como sempre, manteve sua postura silenciosa, mas observadora. Ele apenas ergueu um sorriso discreto, enquanto sua mente já começava a calcular possíveis variáveis e cenários que poderiam surgir.

    O sol começava a se inclinar no céu quando o grupo chegou ao ponto de encontro na facção. O local estava estranhamente tranquilo, o que só aumentava a sensação de gravidade da missão. Guardas passavam, ocasionalmente, seus olhares vigilantes, combinando com o ambiente austero das paredes robustas e torres de observação.

    Não demorou muito até que Mana surgisse à distância, caminhando com a graça e imponência que só uma princesa imperial poderia carregar. Seu longo cabelo negro brilhava à luz do fim de tarde, e suas vestes eram uma combinação elegante de tecidos tradicionais demoníacos e elementos práticos para mobilidade. Seus olhos, afiados e observadores, pareciam analisar cada detalhe ao seu redor, como se nada pudesse escapar de sua atenção.

    Hope se adiantou, inclinando-se levemente em um gesto de respeito. “Princesa Mana, é um prazer reencontrá-la. Estes são os membros da minha equipe.”

    Ela gesticulou para os dois companheiros. “Este é Aiden. Ele é nosso responsável por transporte e… outras habilidades úteis.”

    Aiden, sempre relaxado, fez uma saudação casual. “Prazer, princesa. Espero que aprecie viagens rápidas e sem percalços.”

    Hope suspirou, contendo um sorriso, antes de continuar. “E este aqui é Elior—”

    Antes que pudesse completar a apresentação, Mana avançou um passo, seus olhos fixando-se em Elior com uma intensidade inesperada. A expressão serena da princesa foi momentaneamente substituída por algo próximo à surpresa.

    “Você?” disse Mana, sua voz marcada por uma incredulidade sutil.

    Hope franziu o cenho, alternando o olhar entre os dois. “Você conhece o Elior, tia?”

    Mana hesitou por um instante, o olhar ainda preso no garoto. Era como se estivesse tentando desvendar algo ou confirmar uma suspeita. Então, quase de forma abrupta, ela recuou, recobrando sua postura impecável. “Não,” respondeu ela. “Eu me confundi.”

    O tom controlado de Mana só aumentou a curiosidade de Hope, mas antes que pudesse questionar, Aiden entrou na conversa com seu jeito típico de quebrar o gelo.

    “Ufa, por um momento achei que o nosso Elior já estivesse ganhando o coração de uma princesa tão bonita. Ainda bem que foi só um engano, né?” Ele riu, piscando para o companheiro.

    Mana arqueou uma sobrancelha, mas um leve sorriso curvou seus lábios. “Para me conquistar, o mínimo seria ser tão forte quanto meu irmão,” respondeu, sua voz tingida de humor, mas com um toque de desafio.

    “Ah, bom, isso a gente pode providenciar,” comentou Aiden, mantendo o tom leve. Então, parou abruptamente, como se tivesse caído a ficha. “Espera aí… se você é a princesa do império demoníaco, isso significa que seu irmão é…”

    “Azrael,” completou Mana, sua voz agora firme. “Meu irmão é o Imperador do Mundo Demoníaco.”

    O nome trouxe um silêncio momentâneo ao grupo. Até mesmo Aiden, que parecia imune a qualquer solenidade, parou para processar. “Então, o cara mais poderoso do império demoníaco é seu irmão?” Ele olhou para Elior, que permanecia impassível. “E você, Elior, acha que é tão forte quanto ele?”

    Elior não respondeu de imediato, seus olhos ainda presos nos de Mana. Havia algo naquela troca silenciosa entre os dois, algo que Aiden e Hope não conseguiam decifrar. O silêncio ficou pesado, até que Aiden deu de ombros, sorrindo. “Bom, ninguém quer responder agora, mas estou de olho em vocês dois!”

    Hope revirou os olhos, mas o canto de seus lábios se curvou em um sorriso discreto. “Vamos nos concentrar no que importa. O portal já está sendo ativado, e temos que garantir que tudo esteja pronto para a partida.”

    O grupo seguiu em direção ao setor de transporte, onde o portal de teleporte os aguardava. A estrutura imponente de pedra antiga estava marcada por runas que pulsavam em um tom azul brilhante, emanando uma energia vibrante e constante.

    Mana caminhava à frente com confiança, mas, de vez em quando, seu olhar voltava para Elior. Algo parecia incomodá-la, mas ela mantinha a compostura. Hope percebeu a troca, mas decidiu guardar suas perguntas para um momento mais oportuno.

    Ethan os aguardava na entrada do portal, seu semblante sério reforçando a importância da missão. “Vocês sabem o que fazer. A segurança de Mana é prioridade. Não falhem.”

    Hope assentiu, com determinação no olhar. “Pode deixar. Vamos garantir que ela chegue ao destino em segurança.”

    Aiden, como sempre, tentou aliviar a tensão. “Comigo aqui, nada vai acontecer. Voltaremos inteiros e com histórias para contar.”

    Ethan ignorou o comentário, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso de canto. “Boa sorte.”

    Quando o portal foi ativado, as runas brilharam intensamente, e uma energia quase palpável os envolveu. Um a um, eles atravessaram, deixando para trás a segurança da facção e entrando no desconhecido.


    Assim que chegaram a Xatharis, a mudança foi imediata. O ar era denso e úmido, carregado com o cheiro de terra molhada e vegetação. A floresta ao redor parecia viva, suas árvores imensas e as copas tão densas que quase bloqueavam a luz. Havia um silêncio inquietante, interrompido apenas por ruídos ocasionais de criaturas distantes.

    Mana liderava o grupo, sua postura firme e olhar atento deixando claro que sabia o caminho. Hope seguia logo atrás, seus sentidos em alerta, enquanto Aiden e Elior traziam a retaguarda, com o primeiro ocasionalmente murmurando algo sobre o clima opressor e o segundo completamente focado no ambiente.

    Apesar de estarem em um planeta desconhecido, um novo mistério parecia estar crescendo entre eles, e Hope não pôde deixar de pensar que o vínculo silencioso entre Mana e Elior poderia ser tão importante quanto a missão que tinham pela frente.

    A caminhada prosseguiu em silêncio por vários minutos, o som abafado dos passos sobre folhas caídas e terra úmida preenchendo o ar. Aiden, sempre curioso e incapaz de conter sua natureza falante, quebrou o silêncio. Aproximou-se de Mana, tentando soar casual, embora sua curiosidade fosse evidente.

    “Ei, Mana,” começou ele, os olhos varrendo a floresta ao redor, “não me leve a mal, mas… por que exatamente estamos aqui para escoltar você? Quero dizer, você é uma princesa demoníaca, certo? Imagino que seja muito mais forte do que todos nós juntos.”

    Hope lançou a Aiden um olhar ligeiramente preocupado, antecipando essa pergunta inevitável. Elior, por outro lado, manteve sua expressão serena, mas o brilho em seus olhos demonstrava interesse na resposta de Mana.

    Mana parou brevemente, seus olhos fixos na trilha à frente. Ela não pareceu incomodada com a pergunta, refletindo por um instante antes de responder. Quando falou, sua voz era calma, mas havia uma gravidade inegável em suas palavras.

    “Você tem razão, Aiden. Como demônio, meu poder deveria superar o de vocês.” Ela desviou o olhar, observando Hope como se quisesse incluí-la em sua explicação. “Mas o que talvez vocês não saibam é que estive em um sono profundo por quase quinhentos anos. Esse tempo me privou da chance de desenvolver minhas habilidades, fortalecer minha magia ou mesmo treinar minha resistência física.”

    Os olhos de Hope se arregalaram com a revelação. Quinhentos anos? Embora soubesse que demônios viviam muito tempo, imaginar alguém adormecido por séculos era quase inimaginável.

    Mana continuou, o olhar fixo no horizonte. “Meu corpo precisou de tempo para se readaptar ao mundo desperto. Hoje, a única magia que posso usar com perfeição é minha habilidade nascente: Mana Infinita.”

    “Mana Infinita?” Aiden repetiu, franzindo o cenho. “Isso soa… incrível.”

    O sorriso de Mana foi pequeno e desprovido de orgulho. “É uma habilidade valiosa, sim, mas também tem suas limitações. Posso canalizar mana indefinidamente, sem me cansar. No entanto, isso não significa que eu controle todas as magias com perfeição. Controle exige prática, e eu não tive tempo para refiná-lo. Além disso, a única outra habilidade que domino é o acesso aos Registros Akáshicos.”

    Hope inclinou a cabeça, sua curiosidade evidente. “Registros Akáshicos? Já ouvi falar… Não é algo como um repositório universal que contém tudo o que já aconteceu e o que pode acontecer?”

    Mana assentiu levemente. “Exatamente. Eles guardam a história do universo, o conhecimento de todas as formas de vida, o que foi e o que será. Mas…” Ela hesitou, e sua expressão escureceu. “O custo mental é enorme. Usá-los consome muita sanidade. Por isso, só recorro a eles em situações extremas.”

    Aiden assobiou baixinho, balançando a cabeça. “Pesado. Mas, pelo menos, faz sentido agora por que você precisa de escolta. Seu corpo ainda está se adaptando.”

    Mana assentiu, seu semblante relaxando levemente. “Sim. Apesar do meu potencial, ainda não consigo enfrentar sozinha os desafios que me aguardam. É por isso que vocês estão aqui — para me proteger enquanto realizo minha missão neste planeta.”

    O grupo retomou a caminhada, e Aiden, com sua descontração habitual, tentou aliviar o clima. “Bem, não se preocupe. Com a gente aqui, você nem vai precisar se esforçar. Vamos cuidar de tudo.”

    Mana ofereceu um raro sorriso, suave e sincero, antes de se voltar novamente para o caminho à frente. “Espero que estejam prontos. Este planeta guarda mais perigos do que aparenta.”

    O silêncio voltou a dominar enquanto avançavam pela floresta, a vegetação se tornando mais densa a cada passo. Uma sensação crescente de serem observados pairava no ar, mas ninguém mencionou isso em voz alta.

    Hope se mantinha alerta, os olhos examinando o ambiente ao seu redor. A responsabilidade pesava sobre seus ombros: proteger não apenas sua tia, mas também seus companheiros. Elior, como sempre, parecia calmo, caminhando ao lado de Aiden, que mantinha a mão discretamente perto de sua arma, preparado para qualquer eventualidade.

    Finalmente, Mana os conduziu a uma clareira onde o vento balançava suavemente as copas das árvores. “Vamos montar acampamento aqui,” disse ela, sua voz tranquila, mas firme. “A noite pode trazer mais perigos, e será melhor estarmos preparados.”

    Sem hesitar, o grupo começou a trabalhar. Hope lançou um último olhar à floresta ao redor, a sensação de algo espreitando ainda presente, mas abafada pela confiança em sua equipe. Não importava o que o planeta Xatharis reservasse — eles estariam prontos.

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