Capítulo 160 — Criatura
A manhã estava fria e enevoada enquanto Hope, Elior e Aiden seguiam em direção à área que deveriam investigar. O silêncio era interrompido apenas pelos passos ritmados do trio e pelo som leve do vento que soprava pelas árvores. Hope ainda sentia um leve desconforto ao lado de Elior, mas aos poucos, o foco na missão fazia sua mente se distanciar da noite anterior.
“Então, qual é o plano de hoje?” Aiden quebrou o silêncio, com seu tom descontraído e habitual. “Vasculhar mais florestas e talvez encontrar algum sinal da criatura mitológica? Parece que estamos caçando fantasmas há dias.”
Hope, mais calma, olhou para ele e deu de ombros. “Precisamos seguir com as buscas. Algo entrou em nosso território, e se for uma ameaça, não podemos ignorar.”
Elior caminhava ao lado deles, mais quieto do que de costume, observando a paisagem com atenção. Desde que chegaram à montanha, haviam encontrado poucos vestígios da criatura — algumas marcas estranhas no solo e algumas árvores derrubadas que pareciam ter sido atingidas por algo muito poderoso. Contudo, não havia nenhuma evidência clara do que estavam enfrentando.
“Seja o que for, está se escondendo muito bem,” Elior comentou, com um tom mais sério. “Mas acredito que não vai ficar assim por muito tempo. Criaturas como essa, se realmente for mitológica, tendem a atacar quando se sentem encurraladas ou ameaçadas.”
Hope assentiu, tentando manter sua mente focada. Havia algo em Elior que sempre a fazia se sentir segura, mas, ao mesmo tempo, sua presença agora lhe causava um leve nervosismo que não existia antes. Preciso parar de pensar nisso, ela pensou, afastando os pensamentos do que aconteceu na noite anterior.
Os três caminharam por mais alguns minutos até chegarem a uma clareira, o local onde a última leitura de energia havia sido captada. Hope parou por um momento, observando o ambiente ao seu redor. A névoa que cobria o chão dava ao lugar uma aparência fantasmagórica, e o silêncio profundo fazia com que cada pequeno som parecesse amplificado.
“Tem algo diferente aqui,” Elior comentou, quebrando a concentração de Hope. Ele se ajoelhou, tocando o solo com a ponta dos dedos. “A energia é mais densa… como se a criatura tivesse passado recentemente.”
Aiden se aproximou, arqueando uma sobrancelha. “Então, finalmente estamos perto?”
“Possivelmente,” Elior respondeu, levantando-se e limpando as mãos na capa. “Mas isso também significa que temos que ter mais cuidado. Se ela estiver por perto, pode nos atacar a qualquer momento.”
Hope franziu o cenho, sentindo um leve arrepio percorrer sua espinha. Não era o frio da manhã, mas algo mais profundo, uma sensação de que estavam sendo observados. O tio Ethan nos alertou para não lutar, mas… será que conseguiremos evitar se algo aparecer?
“Vamos continuar por mais algumas horas,” disse Hope, tentando manter a calma. “Se não encontrarmos nada, voltamos e enviamos o relatório para Ethan.”
Aiden suspirou, embora com um sorriso no rosto. “Claro, líder. Sempre tão estratégica.”
Eles avançaram mais alguns metros pela clareira, quando um som baixo, quase um rosnado, ecoou pela área. Os três pararam imediatamente, trocando olhares de alerta.
“Elior…” Hope começou, mas antes que pudesse terminar, o chão sob seus pés tremeu levemente, como se algo gigantesco estivesse se aproximando.
De repente, uma sombra enorme surgiu do meio da névoa. Seus olhos se arregalaram ao ver o vulto monstruoso que avançava em sua direção — uma criatura imensa, com pele acinzentada e garras afiadas, que mais parecia uma mistura de lobo e dragão. Sua presença era opressiva, e o ar ao redor deles parecia se tornar mais pesado.
“É ela!” Elior exclamou, imediatamente entrando em posição defensiva. “Preparem-se!”
“Mas Ethan disse para não lutarmos!” Hope lembrou, recuando instintivamente.
“Se ela nos atacar, não teremos escolha,” Elior respondeu, sério. “Nossa prioridade é sobreviver.”
A criatura avançava lentamente, como se estivesse analisando suas presas antes de decidir atacar. Suas garras arranhavam o solo, deixando marcas profundas enquanto seu olhar predatório se fixava no grupo.
Hope sentiu o coração acelerar, mas tentou manter a calma. Não era a primeira vez que enfrentava algo assim, mas havia uma tensão diferente desta vez, como se algo muito maior estivesse em jogo. Aiden, por outro lado, parecia mais animado do que preocupado, como se estivesse pronto para testar suas habilidades.
“Elior, qual é o plano?” Hope perguntou, tentando não demonstrar medo.
Elior estreitou os olhos, avaliando a situação. “Apenas se defendam e mantenham distância. Se conseguirmos recuar, talvez possamos evitar um confronto direto.”
Aiden sorriu, esticando os braços e flexionando os dedos. “Recuar? Onde está a diversão nisso?”
“Aiden…” Hope o repreendeu, mas não pôde deixar de sentir uma leve tensão aliviada pelo comentário. Mesmo em situações perigosas, ele conseguia quebrar o clima com suas piadas.
A criatura rugiu, fazendo o solo tremer novamente, e, em um movimento rápido e brutal, avançou com as garras estendidas.
“Agora!” Elior gritou, puxando Hope para trás no último segundo, enquanto Aiden se teleportava para longe do ataque.
O monstro golpeou o chão onde estavam segundos antes, levantando poeira e pedras. Mesmo com o caos ao redor, Hope conseguiu se concentrar o suficiente, movendo-se para uma distância segura.
Ela sentiu o pânico ameaçar tomá-la, mas, ao olhar para Elior e Aiden, algo dentro dela acalmou. Sabia que, juntos, tinham uma chance.
Hope recuou rapidamente, seus olhos fixos na criatura que os observava com uma malícia primitiva. O monstro era mais aterrorizante do que qualquer coisa que ela já tivesse enfrentado antes, e sua presença parecia fazer o ar ao redor deles vibrar de pura agressividade. O rosnado baixo e ameaçador ecoava pela clareira, enquanto a criatura começava a circular lentamente, como um predador que brincava com suas presas.
“Elior, tem certeza de que vamos conseguir sair daqui sem lutar?” Hope sussurrou, seu coração batendo forte no peito.
“Precisamos tentar,” Elior respondeu com firmeza, os olhos estreitados em concentração. “Se lutarmos, corremos o risco de atrair mais atenção… e isso é algo que não podemos permitir agora.”
Aiden, por outro lado, parecia estar gostando da adrenalina. Ele deu um passo à frente, girando nos calcanhares para encarar a criatura. “Sabe, eu acho que ela gosta de mim,” disse com um sorriso torto, que rapidamente se transformou em um olhar de foco. “Mas se for pra lutar, eu sou mais ela.”
“Não, Aiden!” Hope advertiu, mas sua voz foi cortada por um rugido ensurdecedor da criatura. Ela avançou repentinamente, seus músculos ondulando com uma força incrível, cada passo fazendo o chão tremer.
Com uma velocidade impressionante, Aiden desapareceu em uma explosão de energia, reaparecendo atrás da criatura antes que ela pudesse atacá-lo. Ele soltou uma risada rápida enquanto provocava: “Ah, você vai ter que ser mais rápida que isso, grandona!”
Elior observava cada movimento com cuidado, os olhos brilhando em uma cor intensa, como se estivesse calculando todas as opções possíveis. Hope sentiu o peso do momento. Eles estavam numa situação crítica e não podiam continuar dessa maneira por muito tempo. Tem que haver outra saída, ela pensou.
Ela estendeu a mão, sentindo a familiaridade de sua magia fluir por seus dedos. Se eu puder apenas distrair a criatura tempo suficiente…
“Elior, temos que atraí-la para fora da clareira!” Hope gritou, já concentrando sua mana para criar uma pequena distorção no espaço, algo que pudesse confundir a criatura. “Precisamos tirá-la de perto de nós e recuar!”
Elior assentiu, entendendo imediatamente o plano. “Certo! Aiden, mantenha a criatura ocupada enquanto Hope faz a abertura.”
“Já estou no caso!” Aiden gritou de volta, desaparecendo e reaparecendo ao redor da criatura, como um raio que não podia ser alcançado.
Hope fechou os olhos por um segundo, concentrando-se profundamente. Tenho que manter o controle… só um pouco mais… Ela visualizou o espaço ao redor, dobrando a realidade de forma que a criatura se visse presa numa ilusão momentânea.
Um som profundo e pulsante preencheu a clareira quando a magia de Hope começou a distorcer o ar ao redor da criatura. A besta parou, confusa, balançando a cabeça em todas as direções enquanto tentava entender o que estava acontecendo.
“Elior, agora!” Hope gritou, sentindo a pressão da magia pesar em sua mente.
Elior não hesitou. Ele avançou com uma agilidade impressionante para alguém de sua aparência, puxando Hope pela mão enquanto corriam na direção oposta. Aiden seguiu logo atrás, teleportando-se para se juntar a eles.
Mas a criatura, ainda confusa pela distorção, soltou um rugido ensurdecedor. Ela não ficaria presa por muito tempo.
“Não temos muito tempo,” Hope ofegou, o suor escorrendo por sua testa. “Se ela escapar da distorção, teremos que lutar para valer.”
“Então, precisamos de um plano melhor,” Elior murmurou, os olhos fixos na floresta densa à frente.
Aiden correu ao lado deles, ainda com um sorriso, mas agora com um brilho sério nos olhos. “Então o que vamos fazer, chefe? Porque essa coisa não parece querer conversar.”
Hope respirou fundo, pensando rápido. “Vamos recuar para a colina. De lá, podemos ganhar vantagem de terreno e talvez atraí-la para uma área mais segura.”
Eles seguiram em direção à colina próxima, o peso da urgência pairando sobre eles como uma sombra. A clareira começava a desaparecer atrás deles, e a criatura, ainda enfurecida, soltou um uivo que reverberou na montanha.
Hope olhou para os dois ao seu lado. Posso não entender completamente o que sinto por eles, mas não importa. Eles são minha família, e eu não vou deixar que nada os machuque.
Com a determinação renovada, encontrariam uma forma de enfrentar a criatura — ou ao menos, sobreviver a ela.
Enquanto corriam pela densa floresta, o som dos galhos se partindo e a respiração acelerada de todos ecoava ao redor. Hope sentia seu coração batendo freneticamente no peito, mas sua mente já estava trabalhando a toda velocidade, traçando um plano para a próxima fase da batalha. Eles ainda tinham uma chance, mas precisavam agir rápido.
A criatura logo se libertaria da distorção espacial que Hope havia criado. Era uma solução temporária, e ela sabia que a resistência da criatura à magia era maior do que o esperado. Os resquícios de poder que emanavam dela, mesmo à distância, deixavam claro que estavam lidando com algo antigo e poderosamente místico.
Quando chegaram à colina, Elior parou abruptamente, seus olhos escaneando a área ao redor. “Aqui,” ele disse, apontando para uma área elevada entre as rochas. “Esse lugar nos dá uma vantagem. Se conseguirmos posicionar a criatura de maneira estratégica, poderemos prender seus movimentos.”
Aiden se aproximou, limpando o suor da testa com um sorriso, mas desta vez com uma seriedade nova em seus olhos. “Isso é se ela não nos pegar antes.”
Hope assentiu, ainda um pouco envergonhada ao lembrar-se da noite anterior, mas concentrada na missão. Ela olhou para Elior, que parecia calmo, com seus olhos ainda brilhando de forma serena. Aquele sorriso inocente que ele lhe deu na noite passada voltou à sua mente, e seu coração se acalmou um pouco.
“Vamos nos preparar,” Hope disse, com a voz determinada. “Aiden, vou precisar de você para manter a criatura distraída quando ela chegar. Elior, você e eu vamos tentar criar uma barreira temporária para prendê-la na área das pedras. Se conseguirmos fazer isso, teremos tempo suficiente para pensar no próximo passo.”
Aiden assentiu com entusiasmo. “Distração é o meu nome do meio, você sabe disso.” Ele piscou um olho para Hope, fazendo uma careta provocadora. Hope revirou os olhos, mas sorriu. O sarcasmo e a confiança de Aiden, por mais que às vezes fossem inoportunos, eram reconfortantes.
Elior, por sua vez, estava sério. Ele analisava cada detalhe ao redor, como se estivesse calculando todas as possíveis saídas e movimentos da criatura. “Precisamos atrair a criatura para o centro do círculo de pedras,” ele disse, sua voz baixa e controlada. “Se ela ficar presa, mesmo que por alguns minutos, será o suficiente para que possamos escapar.”
Hope assentiu. “Vamos fazer isso.”
O vento gélido da montanha soprava forte, balançando as árvores ao redor. A tensão no ar era palpável. De repente, o som de um rugido ao longe alertou o grupo de que a criatura havia se libertado da distorção de Hope. O monstro estava voltando, e desta vez, mais furioso do que nunca.
“Ela está vindo,” Hope murmurou, fechando os punhos com força, sentindo a mana fluir por seu corpo.
Aiden sorriu, desaparecendo em um clarão e reaparecendo alguns metros adiante, pronto para agir. “Vou fazer ela dançar. Vocês se preparem!”
A criatura apareceu entre as árvores, seus olhos brilhando de fúria, com uma aura escura que pulsava ao redor dela. Era gigantesca, com garras que pareciam cortar o ar com um simples movimento, e dentes que brilhavam sob a luz. Ela rugiu novamente, avançando em direção a eles com uma velocidade surpreendente.
“Agora, Aiden!” Hope gritou.
Aiden teleportou-se imediatamente, surgindo na frente da criatura, fazendo movimentos ágeis para atrair sua atenção. A criatura tentou atacá-lo várias vezes, mas Aiden era rápido demais, desaparecendo e reaparecendo em diferentes pontos. Cada golpe que a criatura desferia, atingia apenas o vazio.
“Hope, concentre-se!” Elior disse com urgência. Ele estava ao lado dela, já canalizando sua energia para criar a barreira ao redor da área das pedras. Hope fechou os olhos por um momento, concentrando toda sua força em conjurar a barreira mais forte que podia. Preciso manter o foco.
O chão sob seus pés começou a vibrar enquanto a magia de Hope e Elior se entrelaçava, formando uma cúpula invisível ao redor da área designada. “Está quase pronto!” Hope avisou.
A criatura, percebendo que Aiden a estava distraindo, soltou um rugido de frustração e, com um movimento rápido, conseguiu atingi-lo de raspão com uma de suas garras. Aiden cambaleou para trás, seu corpo sumindo e reaparecendo a uma distância segura, mas ele soltou um gemido de dor ao segurar o braço ferido.
“Consegui prender a atenção dela, mas preciso de um descanso!” Aiden gritou, se teleportando de volta para perto de Hope e Elior.
Hope olhou para ele com preocupação, mas sabia que não havia tempo para hesitação. “Está tudo bem! Nós conseguimos!” Ela gritou, enquanto as últimas pedras brilhavam com a energia da barreira conjurada.
A criatura, agora mais furiosa, avançou em direção ao círculo de pedras onde Hope e Elior haviam erguido a armadilha. Quando ela cruzou a linha mágica, houve uma explosão de luz, e a barreira se solidificou, prendendo-a temporariamente.
A criatura rugiu, furiosa, golpeando as paredes invisíveis da barreira, mas por enquanto, estava contida.
Hope respirou fundo, sentindo o alívio lavar seu corpo. “Conseguimos… por enquanto.”
Elior, ainda focado, lançou um olhar rápido para a criatura antes de se virar para Hope e Aiden. “Não podemos relaxar. Precisamos de um plano definitivo antes que ela se liberte.”
Aiden, ainda com um sorriso no rosto, embora estivesse claramente cansado, assentiu. “Estou sempre pronto para o próximo round.”
Hope sorriu levemente, seu corpo ainda tremendo de adrenalina. Nós ainda estamos vivos, e isso já é uma vitória. Mas ela sabia que a batalha estava longe de terminar.
Elior então observou a criatura atentamente, com uma expressão de seriedade, antes de se virar para Hope e Aiden. “Voltem para a cabana,” ele disse calmamente. “Enviem um relatório completo para Ethan.”
Hope, ainda confusa, deu um passo à frente, notando o tom autoritário de Elior. “Mas… e a criatura? Você não pode lidar com isso sozinho.”
Ele a interrompeu com um olhar firme, porém gentil. “Eu sei o que estou fazendo, Hope. Já identifiquei a criatura. Trata-se de um Draknirium.”
Hope arregalou os olhos, surpresa. “Como você sabe disso?”
“Eu apenas sei,” respondeu Elior, sem dar mais detalhes. “Agora, vá e peça uma prisão de contenção especial para capturar essa criatura. O Ethan entenderá o que fazer quando receber o relatório.”
Hope hesitou, seu olhar alternando entre Elior e a criatura, sentindo a crescente responsabilidade de deixá-lo ali sozinho. “Mas e a barreira? E se ela falhar enquanto estamos fora?”
Elior deu um sorriso suave e confiante, como se estivesse tranquilizando uma criança. “Não se preocupe com isso. A partir daqui, posso cuidar de tudo. Vou reforçar a barreira e manter essa coisa contida até a equipe de resgate chegar.”
A preocupação ainda pesava no coração de Hope, mas a serenidade de Elior a fez finalmente ceder. “Tudo bem,” disse ela, com um suspiro. “Mas… cuide-se.”
Elior fez um gesto de aprovação e então olhou para Aiden. “Trate as feridas de Aiden enquanto esperam. Ele precisa estar em boas condições para quando a equipe chegar.”
Aiden, que até então tentava manter o tom descontraído, apenas assentiu, sentindo a gravidade da situação. Ele sabia que, apesar do humor usual de Elior, o garoto tinha plena consciência de tudo o que estava acontecendo.
Com uma última olhada para Elior, Hope assentiu, pegou Aiden pelo braço e começou a caminhar de volta para a cabana, ainda preocupada com o que poderia acontecer.
Quando eles finalmente estavam longe o suficiente, Elior suspirou e deixou a máscara de tranquilidade cair, um leve sorriso brincando em seus lábios. Ele então estalou os dedos, e a barreira que cercava a criatura brilhou intensamente, ficando dez vezes mais poderosa que antes, bloqueando qualquer tentativa de fuga.
Ele se aproximou da criatura, que ainda rosnava para ele, mas agora com menos agressividade. A criatura, que até pouco tempo parecia uma ameaça, agora se comportava como um animal acuado. Elior riu baixinho, como se achasse aquilo engraçado.
Elior observava a criatura com um olhar sereno, mas penetrante, como se estivesse estudando cada movimento, cada respiração da fera. A criatura, antes feroz e impiedosa, agora estava encolhida como um animal acuado, seus olhos fixos no garoto, temendo o poder que ele emanava. O sorriso de Elior era calmo, quase divertido, enquanto se acomodava no chão, cruzando as pernas com um ar descontraído.
“Engraçado, não é?” Ele murmurou para si mesmo. “Essas crianças… ficam com medo de qualquer coisa.” O tom em sua voz era leve, como se estivesse falando de uma travessura boba e não de uma criatura imensa que, há alguns minutos, quase havia tirado suas vidas.
A criatura soltou um rugido baixo, mas Elior, sem mudar a expressão, simplesmente a mandou calar-se com um gesto preguiçoso da mão. Sua aura, que antes estava contida, se expandiu por um momento, pressionando o ar ao redor. Era como um peso invisível e esmagador, que fez a fera se encolher ainda mais, com um gemido de medo.
“Shhh… quieta,” disse Elior calmamente. “Você já percebeu, não é? Se continuar se rebelando, só vai acabar pior pra você.” A criatura, agora totalmente submissa, deitou-se lentamente no chão, seus olhos fixos em Elior, como se estivesse implorando por misericórdia.
Elior suspirou e olhou para o céu, como se estivesse entediado com a situação. Ele não estava preocupado em manter a barreira. Para ele, aquilo era quase uma brincadeira, algo que poderia resolver com um simples estalar de dedos. “Bom, vamos apenas esperar que eles cheguem logo…” Ele sorriu, estalando os dedos casualmente.
A barreira ao redor da criatura, que já era poderosa, ficou ainda mais intensa. A magia densa e impenetrável que ele conjurava pulsava suavemente no ar, como se estivesse viva, mas para Elior, isso não demandava o menor esforço. Ele apenas observava a criatura de canto de olho, relaxado.
Enquanto isso, Hope caminhava ao lado de Aiden, que estava visivelmente exausto, mas ainda tentando manter o bom humor. Ela ainda estava inquieta com a ideia de deixar Elior sozinho com a criatura. Embora soubesse que Elior era incrivelmente forte, algo na expressão calma e despreocupada dele lhe causava um leve desconforto.
“Você acha que ele vai ficar bem?” Hope perguntou, a preocupação evidente em sua voz.
Aiden, mesmo com o braço ferido e o cansaço estampado em seu rosto, deu de ombros e sorriu. “Elior é uma caixinha de surpresas, Hope. Eu não ficaria surpreso se, quando voltarmos, a criatura estivesse pedindo desculpas a ele.”
Hope riu suavemente, mas seus pensamentos ainda estavam em Elior. Como ele sabia o nome daquela criatura? Isso ainda ecoava em sua mente. Ela não tinha conseguido nem identificar o tipo de criatura que estavam enfrentando, mas Elior parecia ter informações muito além do que todos esperavam.
Talvez eu esteja superestimando a situação, pensou Hope, tentando acalmar-se. Ele… ele sabe o que está fazendo.
Ao chegarem à cabana, Hope rapidamente preparou os suprimentos de primeiros socorros, cuidando da ferida de Aiden. Enquanto fazia isso, ela enviou uma mensagem para Ethan, como Elior havia pedido, descrevendo a situação e solicitando a prisão de contenção para a criatura. O toque frio do metal dos comunicadores em suas mãos era um lembrete do mundo em que viviam, onde criaturas monstruosas eram uma ameaça constante e a sobrevivência dependia de estratégias e cooperação.
Ethan respondeu rapidamente, confirmando que enviaria uma equipe de resgate com a prisão adequada para capturar a criatura. O alívio de Hope foi quase palpável, mas ainda assim, ela olhou pela janela, pensando em Elior e na tranquilidade quase assustadora que ele exibia.
De volta ao campo, Elior estava deitado na grama agora, com as mãos atrás da cabeça, observando a lua enquanto a criatura permanecia quieta dentro da barreira. Ele riu baixinho, como se estivesse lembrando de algo divertido. “É curioso,” ele murmurou para si mesmo, “como os mais poderosos muitas vezes acabam sendo os mais frágeis quando alguém mais forte aparece.”
A criatura, mesmo sem entender as palavras, parecia capturar o significado, mantendo-se completamente imóvel. O poder de Elior era avassalador, e ela sabia disso. Era uma lição silenciosa de hierarquia: não importa o quão feroz você seja, sempre haverá alguém mais forte.
Com o tempo passando, Elior não demonstrava nenhuma impaciência. Ele estava exatamente onde queria estar, esperando calmamente a chegada do grupo de resgate. Para ele, tudo estava sob controle.
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