Índice de Capítulo

    Duas semanas haviam se passado desde o incidente na montanha, e a vida na facção humana havia retomado seu curso. A criatura mitológica havia sido capturada com sucesso e levada para um centro de contenção especial, e tanto Hope quanto sua equipe estavam de volta à base, realizando suas missões diárias.

    Hope, no entanto, não conseguia parar de pensar em tudo o que havia acontecido. Elior tinha demonstrado uma calma e um controle inacreditáveis sobre a situação, além de um conhecimento impressionante sobre a criatura. Mesmo com a aparente normalidade ao redor, ela não podia deixar de sentir que algo estava mudando – principalmente dentro de si.

    Naquele dia específico, Hope estava na sala de treino com Aiden, realizando uma simulação de combate. A sala era ampla, com paredes reforçadas para suportar até os treinos mais intensos, e as ilusões mágicas criadas pelos dispositivos tornavam o ambiente perigosamente realista. As espadas ecoavam enquanto se chocavam, e faíscas de energia brilhavam no ar com cada ataque mágico.

    “Você está distraída,” Aiden comentou com um sorriso, desviando um golpe de Hope facilmente e girando para atacá-la de volta.

    Hope estreitou os olhos, colocando mais força no contra-ataque. “Só estou pensando em algumas coisas.” Sua voz carregava uma hesitação que Aiden rapidamente percebeu.

    Ele levantou uma sobrancelha e bloqueou o ataque, dando alguns passos para trás, mantendo a guarda. “Deixa eu adivinhar… Elior?”

    Hope parou por um momento, surpresa com a perspicácia dele, mas bufou em resposta, tentando disfarçar. “Não é sobre isso.”

    Aiden soltou uma gargalhada, abaixando sua espada de treino. “Ah, então o fato de você ter se recusado a olhar diretamente para ele nos últimos dias é pura coincidência?” Ele cruzou os braços, claramente aproveitando a chance de provocar.

    Ela parou, respirando fundo. “É complicado, Aiden. Não é… o que você está pensando.” Hope hesitou, os olhos castanhos profundos refletindo uma confusão. Elior era um enigma para ela. Não apenas pelo que aconteceu, mas pela sensação de familiaridade que ele trazia, algo que ela não conseguia entender completamente.

    Aiden relaxou, percebendo que, dessa vez, talvez não fosse apenas brincadeira. “Olha, Hope, eu não sou muito bom com conselhos emocionais e tal… mas eu acho que você precisa falar com ele. Algo aconteceu naquela noite e, mesmo que você não saiba o que é, ignorar não vai resolver.”

    Ela suspirou, encostando-se na parede da sala de treino e deixando a espada de lado. “Eu sei, Aiden. Eu só… não sei como começar.” As lembranças daquela noite eram vívidas em sua mente, especialmente o toque caloroso de Elior e a estranha, quase divina, sensação de beber seu sangue. Era diferente de qualquer outra experiência que ela já havia tido, e pensar nisso a deixava mais confusa do que nunca.

    “O que eu sinto por Elior… não é como você acha. Ele não é alguém que eu veja dessa forma. Ele é… diferente,” Hope comentou, olhando para o chão enquanto tentava encontrar as palavras certas.

    Aiden observou Hope por um momento, percebendo o quão perdida ela parecia estar. Ele coçou a cabeça, tentando encontrar a melhor maneira de abordar a situação. “Tudo bem, se você não o vê dessa forma, então qual é a verdadeira questão? Parece que algo te deixou desconfortável.”

    Hope balançou a cabeça lentamente. “É mais do que isso. Algo sobre ele… eu não sei explicar. Eu sinto que o conheço, como se ele fosse uma parte importante de mim, mas isso não faz sentido.”

    Aiden ficou em silêncio por um momento, processando as palavras dela. “Bom, talvez seja isso que você precisa descobrir. Se ele é tão importante, então vale a pena investigar o porquê.”

    Hope assentiu, sabendo que ele estava certo, mas ainda sem ter ideia de como abordar Elior sobre isso. “Talvez… Eu só preciso de mais tempo.”


    Mais tarde naquele dia, Hope estava em uma sala na facção, observando o céu da janela. O sol estava começando a se pôr, tingindo o horizonte de tons alaranjados e vermelhos. Seus pensamentos estavam tão longe que ela não percebeu a presença de Elior até ouvir sua voz atrás dela.

    “Você está pensando de novo,” ele disse calmamente, a voz suave, mas carregada de compreensão.

    Hope se virou rapidamente, o coração acelerado por ter sido pega desprevenida. Elior estava parado à porta, os olhos penetrantes, mas gentis. Ele parecia ter vindo diretamente da sala de estratégia, ainda com o manto negro que ele costumava usar em reuniões importantes.

    “Elior,” ela murmurou, sentindo o calor subir em suas bochechas. Tudo o que ela tinha evitado nas últimas duas semanas estava agora à sua frente, e ela não sabia como lidar com isso.

    Ele se aproximou lentamente, parando a uma distância respeitosa. “Se você tem perguntas… pode me perguntar. Não precisa ter medo de nada.”

    Hope respirou fundo, sabendo que aquele momento era inevitável. “Eu… tenho pensado muito sobre o que aconteceu na montanha. Sobre o sangue… e sobre você.”

    Elior manteve o olhar firme, sem sinal de surpresa. “Eu sabia que isso estava te incomodando,” ele disse, a voz baixa e calma. “Foi a primeira vez que você provou sangue assim, não foi?”

    Ela assentiu, mordendo o lábio. “Foi… diferente. Muito diferente de qualquer coisa que já experimentei. Parecia… divino.” As palavras saíram mais facilmente do que ela esperava, mas era exatamente o que ela sentia.

    Elior a observou por um longo momento antes de dar um leve sorriso. “Não é incomum. O sangue de algumas linhagens… carrega um poder especial. Mas não precisa se preocupar, Hope. O que aconteceu foi necessário, e você está bem agora.”

    Hope olhou para ele, ainda cheia de perguntas, mas sem coragem de fazer todas elas. Ela sabia que ele tinha respostas, mas talvez algumas fossem pesadas demais para serem reveladas naquele momento.

    “Obrigada, Elior,” ela disse finalmente, sorrindo de volta. “Por tudo.”

    Elior apenas assentiu, o sorriso suave permanecendo em seus lábios. “Sempre que precisar, estarei aqui.”

    Com isso, ele se virou e saiu, deixando Hope sozinha com seus pensamentos, mas com um peso a menos em seu coração.

    Elior estava prestes a sair do quarto quando parou subitamente. Seus olhos, que geralmente refletiam serenidade, brilharam com uma intensidade enigmática. Ele sorriu de canto e murmurou, quase para si mesmo: “Chegou a hora.”

    Hope, ainda processando a conversa anterior, ouviu sua voz suave e virou-se em sua direção, confusa. “O quê?”

    Elior se voltou levemente para ela, mantendo o sorriso enigmático. “Suas perguntas estão prestes a ser respondidas, se tudo ocorrer como esperado.” Antes que Hope pudesse reagir ou perguntar o que ele queria dizer, uma notificação soou no dispositivo de comunicação ao lado. Ela ouviu a voz familiar de um oficial da base, convocando-a para a sala de reuniões.

    Ela se levantou rapidamente e, ao olhar para onde Elior estava, ele já não estava mais lá. Ele havia sumido sem deixar rastros, como era de costume. Hope suspirou, seu coração inquieto com o mistério que cercava tudo o que acontecera nas últimas semanas.

    Enquanto caminhava pelos corredores da base, suas botas ecoando no chão de mármore, Hope sentia uma tensão crescente no ar. Algo estava prestes a acontecer, algo grande, mas ela não tinha ideia do que esperar.

    Quando finalmente chegou à sala de reuniões, foi recebida por rostos familiares. Eriel, sua mãe, estava sentada à cabeceira da mesa, com sua postura imponente e olhar severo, ainda trajando sua armadura de batalha. Ao lado dela, sua tia Alice, com seu sorriso tranquilo, embora seus olhos refletissem preocupação. Naara, estava mais séria do que de costume, seu cansaço visível, e Sien, a irmã mais velha de Hope, estava em pé ao lado de Naara, cruzando os braços com uma expressão tensa. Aiden também estava presente, mas diferente de seu habitual jeito brincalhão, ele parecia estranhamente calado.

    Hope trocou cumprimentos breves com sua mãe, sua tia e sua irmã, sentindo a atmosfera pesada no ar. Após se sentar, ela olhou ao redor, esperando que alguém explicasse a razão de todos estarem ali.

    Foi então que Ethan, o líder da facção humana e tio de Hope, entrou na sala. Seu rosto estava sério, mais do que o normal. Ele foi direto ao ponto, sem rodeios. “Uma nova ameaça chegou ao planeta há alguns minutos.”

    As palavras pairaram no ar, criando um silêncio inquietante. Hope endireitou-se na cadeira, enquanto todos na sala se concentravam nas palavras de Ethan.

    Ele continuou: “Detectamos essas entidades enquanto ainda estavam a caminho da Terra, mas a verdade é que eles já estavam viajando por muito tempo. Apenas agora, quando se aproximaram de Marte, conseguimos rastreá-los.”

    O coração de Hope disparou. Quem eram esses seres? E por que estavam vindo para a Terra?

    Ethan deu uma olhada em todos na sala, como se pesasse cuidadosamente suas próximas palavras. Naara, visivelmente exausta, levantou uma sobrancelha, perguntando com um toque de frustração na voz: “E por que precisamos estar aqui, agora? Acabamos de voltar de uma missão.”

    A sala ficou em silêncio novamente. Ethan não respondeu imediatamente, apenas observou Naara por um momento, até que finalmente respondeu, com um tom grave: “Porque o que estamos enfrentando não é algo comum. Precisamos de todos vocês.” Ele fez uma pausa, como se pesasse o impacto do que estava prestes a dizer. “Os indivíduos que chegaram ao planeta são Baal e Zariel.”

    O silêncio na sala se tornou ainda mais palpável. A tensão parecia vibrar no ar, como uma corda prestes a se partir. Hope sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir aqueles nomes.

    Baal. O nome ressoou como uma ameaça antiga e poderosa. Um dos demônios mais temidos, com uma força imensurável e um histórico de batalhas devastadoras.

    Zariel. Um nome associado à lenda de um caído que havia desafiado o próprio céu. Seu poder era incomensurável, e ele tinha a fama de ser implacável.

    Hope olhou ao redor, vendo que todos pareciam estar igualmente surpresos e tensos. Eriel se manteve firme, mas sua expressão severa indicava que, mesmo ela, sabia que isso seria um desafio sem precedentes. Aiden, ao lado de Hope, estava com os punhos cerrados, claramente ciente do que esses nomes significavam.

    Ethan continuou, sem dar espaço para o choque tomar conta por muito tempo. “Eles estão a caminho da Terra, e nossa missão agora é simples: descobrir por que estão aqui e impedir qualquer possível ameaça antes que causem estragos.”

    Naara, ainda com o cansaço aparente, questionou: “E você acredita que isso é algo que apenas nós podemos resolver?”

    Ethan assentiu. “Não se trata apenas de força, mas de experiência e conhecimento. Eriel, Alice, Sien, vocês têm enfrentado adversários como esses antes. Sua presença é essencial. E, Hope…” Ele olhou diretamente para a sobrinha. “Você tem um papel fundamental aqui também.”

    Hope sentiu uma pressão se formar em seus ombros, mas ela assentiu, sabendo que qualquer objeção seria inútil. Algo dentro dela já havia aceitado que estava destinada a enfrentar o desconhecido.

    Naquele momento, todos na sala entenderam que o que estava por vir seria um teste como nenhum outro.

    As horas se passaram rapidamente enquanto todos se preparavam para a missão. Após o anúncio impactante de Ethan, a equipe não perdeu tempo em equipar-se e partir em direção ao local indicado. O cenário mudou drasticamente à medida que eles se aproximavam da área isolada, localizada no topo de uma vasta e imponente montanha. O ar ao redor parecia mais denso, carregado com a energia de algo antigo e perigoso. Hope, ao lado de Eriel, Sien, Naara e os demais, sentia o peso da tensão. O silêncio era absoluto, quebrado apenas pelo som de suas botas esmagando a vegetação seca sob seus pés.

    Quando estavam a poucos metros do topo, Hope foi a primeira a vislumbrar as duas figuras que aguardavam no local. Ela parou abruptamente, seu coração acelerando.

    A primeira figura que capturou sua atenção era de um jovem guerreiro. Ele aparentava pouco mais de 17 anos na idade humana, com cabelos negros que caíam desordenadamente sobre sua testa e olhos castanhos penetrantes, que pareciam enxergar através de qualquer defesa. Mesmo à distância, Hope conseguia sentir a aura poderosa que emanava dele. Seu corpo era esguio, mas sua postura revelava a experiência de alguém que já havia enfrentado inúmeras batalhas. Ele estava vestido com uma armadura leve e moderna, sua lâmina presa às costas brilhando com uma luz ameaçadora, como se estivessem ansiosas para serem desembainhadas.

    A beleza dele era quase sobrenatural, algo divino que contrastava com sua presença mortal e perigosa. Hope sentiu uma inquietação crescente enquanto o encarava. Esse… é Baal? Ela pensou, lembrando-se das descrições de Ethan. Baal, o demônio cujo nome estava associado à lenda de destruição e caos, parecia incrivelmente jovem, mas, ao mesmo tempo, inegavelmente letal.

    Então, seus olhos se moveram para a segunda figura. E foi nesse momento que o mundo de Hope pareceu parar.

    Ao lado de Baal, estava um homem de aparência imponente e beleza incomparável. Seus cabelos negros desciam pelos ombros em ondas suaves, e seus olhos, de um vermelho profundo, pareciam queimar com um fogo interior. Ele usava uma túnica escura, decorada com detalhes de prata, e uma espada de lâmina larga pendia ao seu lado, transmitindo uma sensação de poder absoluto. Cada movimento seu era controlado, gracioso, como se o ambiente ao seu redor respondesse à sua presença.

    Hope sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Havia algo estranho e perturbador sobre ele, algo que a fez lembrar instantaneamente de seu pai, Azrael. O homem tinha o mesmo porte imponente, o mesmo olhar intenso que Azrael parecia ter quando estava prestes a entrar em combate.

    Elior comentou que ele era um clone do meu pai… Hope pensou, sua mente girando com o peso dessa revelação. Zariel, o anjo caído que havia desafiado o próprio céu e os deuses, estava à sua frente. A semelhança entre ele e Azrael era inegável, e isso a perturbava de uma maneira que ela não conseguia explicar.

    Enquanto ela tentava processar tudo isso, sentiu uma mão firme tocar seu ombro. Era Eriel, que também observava as figuras à frente, sem dizer uma palavra. A tensão entre os dois lados era palpável, como uma corda esticada, prestes a se romper.

    Naquele momento, Hope soube que estava prestes a enfrentar algo além de tudo que já havia conhecido. Ela engoliu em seco, se preparando mentalmente para o que viria a seguir. Baal e Zariel, seres lendários de poder incomensurável, estavam diante dela — e suas vidas, assim como o destino da Terra, estavam prestes a ser decididos.

    Com um suspiro profundo, ela apertou os punhos e esperou a primeira palavra ser dita.

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