Capítulo 10 — Baal
Na densa floresta, o encontro entre luz e escuridão parecia uma ironia do destino. Eles eram da mesma raça, mas seus mundos não poderiam ser mais diferentes. O ser de luz vivia isolado, longe da vila principal, cercado pela natureza vibrante que parecia refletir sua própria essência. Já o ser de escuridão, envolto em sombras, carregava consigo o mistério e o peso de terras distantes.
A quietude daquele dia foi quebrada de forma inesperada quando o ser de luz avistou uma figura emergindo das árvores, envolta em escuridão. Curiosa, ela se perguntou por que alguém como ele estaria ali, em um local tão isolado. Mas, antes que pudesse dizer algo, o ser de escuridão se preparou para partir, talvez para evitar causar incômodo.
Observando-o se afastar, o ser de luz finalmente tomou coragem e falou, sua voz soando como uma melodia suave que ecoou pela clareira.
“Você está perdido?”
A pergunta fez o ser de escuridão parar. Um sorriso ligeiro curvou seus lábios. Ele não estava realmente perdido, mas decidiu entrar no jogo daquela inocente curiosidade.
“Sim, você sabe onde estou?”
Os olhos do ser de luz brilharam de emoção com a resposta. Nunca havia falado com outro de sua raça além de seus pais. A sensação de falar com o ser de escuridão era estranha, mas, ao mesmo tempo, fascinante.
“Eu diria que você está um pouco longe da vila principal,” respondeu, olhando para a direção de onde ele veio.
“Se você voltar por esse caminho, encontrará um grande muro. Vai ser difícil contornar, pois é o palácio, e os guardas podem te prender.”
O ser de luz recordou-se das advertências de seus pais sobre nunca ultrapassar os limites da floresta ou se aproximar do palácio. Mas, ali, com o ser de escuridão, tudo parecia diferente.
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O ser de escuridão olhou ao redor, com uma curiosidade renovada.
“E você, garota? Está bem? Esse lugar parece bem afastado da vila principal.”
A preocupação em sua voz era inesperada. O ser de luz sorriu timidamente, tocada pela inusitada demonstração de cuidado de alguém tão distante de sua realidade.
“Estou bem…” murmurou.
Antes que pudesse processar completamente, o ser de escuridão deu um passo para partir. No entanto, num impulso que surpreendeu até a si mesma, o ser de luz estendeu a mão e segurou a roupa dele. Olhou para ele em desespero, seu rosto corando em constrangimento. Ela não entendia o porquê de suas mãos se moverem por conta própria, mas, de alguma forma, não queria que ele fosse embora.
“… Você… Está com fome?”
O ser de escuridão hesitou. Não estava faminto, havia comido algo antes de chegar ali. No entanto, o brilho nos olhos da jovem de luz fez com que ele reconsiderasse.
“S-Sim…” respondeu com um leve sorriso.
“Me acompanhe.”
O ser de luz pegou a mão dele e o conduziu pela floresta, como se estivesse determinado a não deixá-lo partir tão cedo. Atravessaram a densa vegetação até chegarem a uma casa escondida entre as árvores. Ao redor, havia flores de todas as cores, criando uma aura quase mágica ao redor da moradia.
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Enquanto caminhavam, o ser de escuridão observou a jovem de luz pegar algumas flores delicadamente, quase como se fosse uma rotina para ela.
“Isso me lembrou… Qual é o seu nome?” perguntou ele, repentinamente curioso.
A jovem de luz parou por um instante, surpresa pela pergunta. Com um sorriso que era tão belo quanto as flores ao seu redor, ela respondeu, sua voz ressoando como uma melodia doce e tranquilizadora.
“Meu nome? Ah, é verdade… Eu não me apresentei. Meu nome é ****.”
Aquela simples troca de nomes marcava o início de algo que ambos jamais poderiam imaginar.
…
“Az!”
Noir chamou, trazendo Azrael de volta à realidade. Ele virou o rosto em sua direção e viu os farelos de bolo no canto da boca da garota, lembrando-o da refeição que haviam compartilhado momentos antes.
“Desculpe, estava distraído,” disse ele, enquanto limpava cuidadosamente o rosto dela.
Eles estavam em uma cafeteria simples, localizada em uma área afastada da cidade. Azrael havia escolhido aquele local por precaução. O ser com quem ele estava prestes a se encontrar havia desaparecido há muitos anos e agora, de forma inesperada, havia feito contato. Ele não sabia quais eram as intenções dessa pessoa, e por isso decidiu ser cauteloso.
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Como medida de segurança, Azrael comprara a cafeteria temporariamente e dispensara todos os funcionários. Era uma ação emergencial, talvez não a ideal, mas aceitável considerando o pouco tempo que tivera para planejar.
“Como eu estava dizendo… Você realmente precisava mandar os funcionários embora?” perguntou Noir, franzindo as sobrancelhas.
“Você sabe quem estamos prestes a encontrar, certo?” respondeu Azrael, sério. Noir assentiu em silêncio, e ele continuou. “Então essa foi a melhor opção. Lembra-se do que eu te disse antes… Não acredito que ele veio aqui apenas para conversar.”
Noir ponderou suas palavras por um momento, seus olhos, normalmente doces, assumindo um tom de seriedade incomum. “Você foi tolo no passado, não seria surpreendente se ele quisesse te matar agora.”
Vindo de uma garota que parecia tão inocente, aquelas palavras pareciam deslocadas, mas Azrael sabia bem a verdadeira natureza de Noir. Ela era mais do que aparentava, e sua franqueza não o surpreendia.
“Verdade…” ele concordou, com um suspiro. Havia muitos momentos em sua vida que ele gostaria de ter feito de forma diferente. Decisões que ele lamentava profundamente, mas não havia como desfazê-las. Tudo o que podia fazer era aceitar o peso de seus erros e continuar vivendo com eles, mesmo que às vezes isso o corroesse por dentro.
De repente, Noir o interrompeu. “Você sentiu isso?”
“Sim…” respondeu Azrael, o corpo tenso.
Duas presenças poderosas aproximavam-se. A primeira emanava uma aura de escuridão, o tipo de poder característico de um demônio de alta classe. A segunda, no entanto, era diferente. Emanava uma aura divina, algo que se assemelhava à de Noir, mas de uma magnitude distinta.
A porta da cafeteria se abriu, e passos leves ecoaram pelo ambiente silencioso. Azrael, por um momento, manteve os olhos fixos na mesa à sua frente. Talvez fosse o medo ou a vergonha que o impediam de encarar diretamente aqueles que acabavam de entrar.
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Os dois seres se aproximaram e se sentaram em silêncio à mesa. Azrael finalmente reuniu coragem para levantar o olhar e observar seus rostos.
O primeiro a quem olhou foi um jovem que aparentava ter cerca de 17 anos, se fosse julgado pela idade humana. Seus olhos castanhos eram familiares, lembrando os de sua mãe. Sob o capuz negro que cobria parte de seu rosto, algumas mechas negras de cabelo escapavam, revelando sua identidade. A quantidade de mana que emanava de seu corpo superava a de Azrael, e sua postura revelava um guerreiro experiente, alguém que havia evoluído para um oponente formidável. Em seu estado atual, Azrael sabia que aquele jovem poderia ser um grande desafio.
A mulher ao lado de Baal parecia ter cerca de 23 anos. Seus longos cabelos, em tons que lembravam um arco-íris, caíam sobre os ombros, enquanto seus olhos de jade estavam fixos em Noir. A aura divina que ela emanava era semelhante à de Sonne, transmitindo uma pressão intensa.
Uma divindade?, ponderou Azrael, franzindo ligeiramente o cenho.
Ele a observava atentamente, mas não conseguia identificá-la. Sua presença estava além de qualquer ser divino que ele conhecia. Azrael havia encontrado deuses de várias culturas ao longo de sua vida, porém a mulher à sua frente não parecia com nenhum deles.
Sua aura divina não era a de um deus, mas lhe parecia familiar. Algo em sua essência era semelhante a certos seres que ele havia conhecido no passado, aqueles que acompanhavam o Deus Criador.
Um anjo…, concluiu mentalmente, enquanto tentava desvendar o mistério.
O jovem ao lado da mulher notou a surpresa de Azrael e esboçou um sorriso, como se estivesse se divertindo com a confusão em seu rosto. Com um movimento tranquilo, ele colocou a mão na cabeça da mulher, e imediatamente a aura divina desapareceu.
“Ziz, não precisa intimidar os mais fracos.”
“Intimidar?” Azrael questionou, sentindo-se desconcertado pela escolha de palavras. Ele não se considerava intimidado, embora algo na situação o incomodasse.
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Sua atenção voltou-se para Noir, que tremia levemente ao seu lado. Através da ligação que compartilhavam, ele percebeu a inquietação crescente em sua companheira. Não era exatamente medo; era algo mais profundo, mais perturbador.
O que está acontecendo, Noir?, ele a questionou mentalmente, a preocupação se intensificando.
{Ela… Ela é o meu nêmesis.}
A revelação de Noir trouxe uma onda de desconforto para Azrael. Ele conseguiu sentir o que Noir estava sentindo: a repulsa, o desconforto diante da presença de Ziz. Era uma sensação esmagadora. O olhar normalmente gentil de Noir, sempre tão firme e distante, havia sido substituído pela expressão vulnerável de uma pequena garota que não compreendia seus próprios sentimentos.
As duas, Ziz e Noir, eram opostas em todos os sentidos, mas de alguma forma pareciam iguais.
“Ziz?”
Finalmente, a memória de Azrael clareou. Ele já havia ouvido esse nome antes. E, com isso, tudo fez sentido.
“Uma das seis armas lendárias criadas pelo Deus Supremo…”
O jovem à sua frente não parecia surpreso com essa revelação. Na verdade, ele parecia esperar por isso.
“Exatamente”, respondeu calmamente.
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“Baal…”
Uma arma lendária, capaz de mudar o curso de uma guerra, estava nas mãos de um jovem.
“Não me olhe assim”, disse Baal, percebendo o desconforto no olhar de Azrael.
O desconforto de Noir só fazia aumentar a tensão no ambiente. A simples presença de Ziz estava deixando Noir em um estado de inquietação, algo que Azrael não conseguia ignorar. Ele sabia que isso era culpa sua. Noir estava fraca devido ao selo que limitava seu próprio poder. A ligação de alma entre eles afetava ambos, física e mentalmente. Se ele estivesse fraco, Noir também sofreria.
“Vir até este planeta não estava em meus planos”, continuou Baal, sua voz assumindo um tom quase despreocupado. “Foi um impulso. Eu só queria olhar bem nos seus olhos.”
Azrael colocou a mão na cabeça de Noir, tentando acalmá-la. O simples gesto trouxe algum alívio para ela, como sempre acontecia.
“Devemos conversar… há muito o que eu quero te contar”, disse Azrael, tentando suavizar a tensão crescente.
Mas suas palavras não pareciam surtir efeito. A aura assassina de Baal e Ziz continuava a encher o ambiente, sufocando tudo ao redor. Por um breve momento, Azrael se sentiu aliviado por mandar os funcionários da cafeteria embora. Se houvesse algum humano comum no local, teria certamente desmaiado pela pressão esmagadora da presença deles.
“Azrael, eu te odeio”, declarou Baal, sem rodeios.
Assim como ele, Ziz liberou sua própria aura assassina, direcionando-a diretamente para Azrael. Seus olhos se encontraram, e por um instante, Azrael sentiu como se estivesse sendo perfurado por mil agulhas.
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“Então… Ziz também odeia o Azrael”, disse Ziz, um sorriso sádico se formando em seu rosto.
A ligação entre Baal e Ziz não era exatamente como a que Azrael tinha com Noir e Sonne, mas havia algo semelhante na maneira como eles interagiam.
“Sabe, Azrael…”, começou Baal, sua voz ganhando um tom mais sombrio. “Passei anos pensando em como te matar, entende? Mas eu simplesmente não tinha o poder para isso… Até que me juntei à Aliança. Agora, tudo ficou mais fácil.”
Por um breve segundo, Baal demonstrou algo que Azrael não esperava: medo. Ziz, que até então parecia inabalável, também hesitou. E, por sua vez, Noir estremeceu.
Azrael sentiu sua própria energia fluir descontroladamente. Seus olhos ficaram vermelhos, seus cabelos tornaram-se brancos, e sua verdadeira aparência foi revelada. Ele não conseguia mais manter sua forma oculta, devido ao súbito descontrole de sua magia. Mas isso não importava. Todos ali já conheciam sua verdadeira natureza.
O monstro dentro da alma de Azrael, aquele que ele sempre manteve acorrentado nas profundezas, estava começando a se libertar. Rasgando as paredes do controle que ele mantinha, alimentado pela raiva que transbordava. Um único deslize seria o suficiente para mergulhar tudo no caos. E naquele momento, sua fúria atingia o ápice.
“Você está com a Aliança?”, sua voz, carregada de uma tensão crescente, soou como um trovão prestes a estourar.
Antes que qualquer resposta pudesse ser dada, uma lâmina de tons iridescentes cortou o ar, rápida e letal, indo diretamente em direção ao seu pescoço. No entanto, Azrael a deteve com facilidade, agarrando a lâmina com a mão nua. Ele olhou para Ziz, que ainda segurava a espada, seus olhos frios, enquanto, com um simples aperto, a lâmina se partia em pedaços diante dela.
“Ponha-se no seu lugar.”, a voz de Azrael era baixa, mas cada palavra era como um martelo esmagando qualquer resquício de desafio.
Antes que pudesse reagir, Noir se levantou e o envolveu em um abraço firme. Seus braços delicados, envoltos ao redor do corpo de Azrael, pareciam ser a única âncora que o impedia de perder o controle.
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“Az… se acalme, eu estou aqui”, a voz dela era suave, quase um sussurro.
Azrael fechou os olhos e respirou fundo, tentando conter a tempestade interna. Não tenho motivos para me entregar à fúria… Ele apertou levemente os braços de Noir, como se aquele gesto simples pudesse trazer de volta sua sanidade.
“Obrigado, Noir”, murmurou, agora mais calmo.
Seus olhos se voltaram para Baal, o jovem diante dele. Por um momento, uma ideia sombria passou pela mente de Azrael: a melhor forma de protegê-lo talvez fosse matá-lo ali mesmo.
O que estou pensando?
“Eu não te contei toda a verdade, Baal…”
Baal, no entanto, interrompeu antes que ele pudesse terminar.
“Não precisa. Já sei a verdade. E é por isso que vou te matar!”, as palavras de Baal transbordavam ódio e ressentimento.
Azrael sentiu um profundo arrependimento brotar em seu coração, um arrependimento que era impossível de descrever em palavras.
“Baal—”
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“Já chega! Você acha que pode consertar tudo com palavras? Isso é impossível! Não tenho motivos para ouvir suas desculpas.”
Azrael sabia que suas palavras não alcançariam Baal. Não sou a pessoa certa para corrigir isso…
“Você viu Eriel?”, perguntou Azrael, tentando desviar o rumo da conversa.
Baal apertou os lábios, furioso, seu olhar repleto de desprezo.
“Não tenho motivos para vê-la. Ela não é…”
“Eu sei, mas—”
“Chega!”, Baal interrompeu, sua voz soando definitiva. “Estou indo embora. Só queria que você soubesse: estou com a Aliança. E nós vamos te encontrar. Se deseja proteger seus entes queridos, saia deste planeta. Porque não teremos misericórdia.”
As palavras de Baal ecoaram como um veredicto final. Azrael observou, impotente, enquanto o jovem se afastava, caminhando em direção à porta. Cada passo que Baal dava parecia o som de um martelo batendo em sua alma. Azrael tentou falar, mas as palavras não saíram.
“Nosso próximo encontro será no campo de batalha… pai.”
Baal saiu, sem olhar para trás, sem dar ao Azrael a chance de responder ou explicar. Azrael ficou parado, encarando o vazio onde o jovem havia desaparecido. Sou um tolo… O pensamento ressoou em sua mente como uma verdade amarga.
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“Az…”, Noir chamou, sua voz baixa, quase como se estivesse sentindo o peso esmagador da dor dele.
Ela sabia o que se passava dentro de Azrael. Sua conexão era tão profunda que podia sentir a agonia que ele guardava dentro de si — o ódio por si, o medo de perder mais pessoas, o terror de ser incapaz de proteger aqueles que amava. Todo esse turbilhão era evidente para ela.
“Vamos, Noir?”, Azrael finalmente disse, forçando-se a afastar esses pensamentos sombrios.
Noir suspirou, como se soubesse que ele estava apenas adiando o inevitável, mas assentiu. “Sim.”
Azrael tentou conter seus sentimentos, sabendo que não era o momento de ceder ao desespero. Não agora.
“Decidi criar um evento interessante”, disse ele, sua voz adquirindo um tom calculado. “Preciso que Eriel se fortaleça… e rápido.”
Um plano começou a se formar em sua mente, cruel, mas necessário. Posso me arrepender depois… mas agora, preciso agir. Será pelo bem de Eriel.
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