Capítulo 115 — Conflito interno
Samael
Enquanto saíamos de cena, notei que Júlia me seguia sem questionar. Sempre com um sorriso, ela me fez questionar se aquela existência realmente fora humana no passado. Nossos olhos se encontraram, e ela parou, me forçando a fazer o mesmo.
“Então esse era seu plano”, disse ela, olhando em volta, como se tivesse notado algo. “Me atrair para o mais distante possível, assim não poderei ajudar em uma situação desesperadora. Não poderia esperar menos de você.”
Seu sorriso era enigmático, enquanto ela parecia calma.
“Me desculpe, mas o plano não foi meu”, eu disse, fazendo-a suspirar.
“Foi aquela criança?”
“Sim… Sua filha realmente cresceu.”
“Verdade… Bom, não viemos até aqui para conversar, certo?”, disse Júlia, assumindo uma postura de combate. “Vamos, Brinca, Samael.”
Respirei fundo, concentrando-me em seus movimentos. Contudo, Júlia não avançou.
“Sabe, queria lutar contra a verdadeira…”, sua voz estava calma, contudo, pude sentir a vibração em seu poder. “A verdadeira Samael. Filha do Deus Supremo.”
Suas palavras me deixaram surpresa por um momento, como se algo não fizesse sentido. A tensão no ar era palpável, e cada segundo parecia se arrastar enquanto tentava compreender o significado de suas palavras. O olhar de Júlia, firme e intenso, mostrava que ela não estava apenas brincando; havia uma seriedade sombria em seus olhos que não podia ser ignorada.
Ela deu um passo à frente, e o chão sob seus pés pareceu estremecer levemente. Era como se o próprio mundo ao nosso redor estivesse respondendo à presença dela. Cada movimento que ela fazia era meticulosamente calculado, e sua aura de poder se intensificava a cada segundo.
“Por que você quer tanto lutar contra a verdadeira Samael?”, perguntei, tentando manter minha voz firme.
“Porque só assim poderei provar minha força”, respondeu Júlia, seu sorriso desaparecendo, dando lugar a uma expressão de determinação inabalável. “E também, porque é o único jeito de libertar a minha alma.”
Ela ergueu a mão, e uma espada de luz surgiu do nada, brilhando com uma intensidade quase cegante. Eu podia sentir o calor emanando dela, e soube naquele instante que não havia mais volta. Era uma batalha que definiria o destino de ambos.
Respirei fundo, preparando-me para o confronto inevitável. Meus pensamentos estavam a mil, mas eu sabia que precisava manter a calma e focar. A verdadeira luta estava prestes a começar, e só uma de nós sairia vitoriosa desse encontro.
“Vamos ver do que você é capaz, Júlia”, murmurei, assumindo minha postura de combate. “Não vou decepcionar você.”
O som de nossas respirações ecoava no silêncio ao redor, enquanto a batalha iminente pairava sobre nós como uma tempestade prestes a se desatar. Júlia era uma humana que havia ultrapassado os limites de sua raça e ascendido a uma divindade, enquanto eu, Samael, também conhecida como Lúcifer, era um anjo caído.
A tensão no ar era palpável. Júlia ergueu sua espada de luz, que brilhava com uma intensidade quase cegante. O calor emanando dela fazia o ar ao redor tremeluzir. Eu invoquei minha própria arma, uma espada de sombras que parecia absorver a luz ao redor, criando um contraste sombrio com a lâmina de Júlia.
Ela avançou primeiro, rápida como um relâmpago. Nossas espadas se encontraram com um estrondo, e a força do impacto criou uma onda de choque que sacudiu o terreno ao nosso redor. Cada movimento dela era preciso e mortal, demonstrando sua maestria e o poder divino que agora possuía.
Eu recuei, girando no ar para evitar um golpe que teria me partido ao meio. As sombras ao meu redor se agitaram, respondendo ao meu comando enquanto contra-atacava com um golpe feroz. Júlia desviou habilmente, sua expressão nunca perdendo a determinação feroz.
“Você realmente se superou, Júlia”, eu disse, sentindo uma mistura de admiração e apreensão.
“Não vou parar até provar minha força contra Lúcifer”, respondeu ela, sua voz firme e implacável.
Ela disparou em minha direção novamente, desta vez imbuindo sua espada com uma energia divina que brilhava como o sol. Eu cruzei minha espada de sombras com a dela, e a explosão de energia que resultou foi tão poderosa que abriu uma cratera no chão sob nós.
Nossos movimentos eram um borrão de velocidade e poder, cada golpe trocado com uma precisão letal. As sombras e a luz dançavam ao nosso redor, criando um espetáculo de forças opostas em conflito. Eu sentia cada impacto reverberar por todo o meu ser, mas também sentia a antiga força que havia me feito cair ainda viva dentro de mim.
“É isso que você quer, Júlia? Destruir tudo para provar sua força?” perguntei, minha voz carregando a gravidade do que estava em jogo.
“Não é só sobre força”, respondeu ela, sua expressão suavizando por um momento. “É sobre liberdade. Sobre encontrar meu verdadeiro eu.”
Eu entendi então. Júlia não estava apenas lutando contra mim; ela estava lutando contra seu próprio destino, buscando um significado além do poder que agora possuía.
Com um grito de guerra, ela liberou uma onda de energia que me lançou para trás. Eu usei as sombras para amortecer a queda, mas a força do impacto ainda me fez cambalear. Levantei-me, respirando com dificuldade, mas determinada a continuar.
“Então vamos ver quem encontra sua verdade primeiro”, declarei, preparando-me para o próximo ataque.
A batalha continuou, intensa e feroz. Cada golpe, cada movimento, era uma expressão de nossas almas em conflito. E enquanto lutávamos, percebi que não era apenas uma luta pelo poder ou pela vitória. Era uma luta pela liberdade, pela redenção e pela compreensão de quem realmente éramos.
O destino de Júlia e o meu estavam entrelaçados em um confronto que transcenderia tempo e espaço, uma dança eterna de luz e sombras, de divindade e queda. E no final, só uma de nós sairia vitoriosa.
“Julia, eu entendo sua busca por liberdade”, disse eu, minhas palavras carregando um peso que só alguém que já caiu poderia entender. “Mas a liberdade não é algo que se obtém com poder bruto.”
Ela parou por um momento, o brilho de sua espada oscilando levemente, mas logo recuperou a compostura. “Não é apenas poder, Samael. É provar que eu posso escolher meu destino, não ser mais uma peça no jogo de alguém.”
A intensidade de seus olhos fez meu coração doer. Em algum momento, Julia havia se tornado mais do que uma adversária; ela era um reflexo da minha própria luta. Eu, que já havia caído, sabia o preço da liberdade e a ilusão do poder.
“Se é isso que você acredita, então não temos escolha a não ser continuar”, murmurei, minha voz firme. A batalha não era mais apenas física; era uma colisão de crenças, de desejos profundos e conflitantes.
Julia avançou novamente, sua espada traçando arcos brilhantes no ar. Eu me esquivei, usando minha velocidade para evitar os golpes mortais. Cada movimento dela era cheio de propósito, e eu sabia que não poderia subestimá-la.
“Você acha que a verdadeira Samael trará a libertação que você procura?”, perguntei enquanto desviava de mais um ataque, minhas palavras pontuando o ritmo frenético da batalha.
“Sim!”, ela gritou, a paixão em sua voz ressoando no ambiente. “Enfrentá-la é o último passo para minha redenção, para provar que não sou mais uma sombra de quem fui.”
Eu sabia que deveria convencê-la de outra maneira, mas em meio ao caos da luta, percebi que as palavras não seriam suficientes. Julia precisava sentir, através do combate, que a verdadeira libertação vinha de dentro, não de derrotar um oponente.
A batalha continuou, nossos golpes ecoando como trovões. Em um momento, conseguimos nos afastar, ambas ofegantes, mas determinadas. Julia estava mais forte do que nunca, mas eu também sentia minha antiga força reviver. Era como se a essência de quem eu era antes da queda estivesse despertando, pronta para lutar por algo maior.
“Nunca é tarde para desistir, Julia”, disse eu, minha voz carregada de emoção. “A verdadeira força vem de aceitar quem somos e encontrar paz com isso.”
Seus olhos brilharam com algo que parecia ser reconhecimento, mas ela não recuou. “Então prove isso para mim, Samael!”, gritou, lançando-se em um ataque final, sua espada brilhando como o próprio sol.
Eu invoquei todas as minhas forças, deixando as sombras me envolverem, transformando minha espada em uma extensão da minha própria alma. Quando nossas lâminas se encontraram, houve uma explosão de energia que sacudiu os céus, uma colisão de luz e trevas que transcendia a simples física do mundo mortal.
No momento do impacto, pude sentir a alma de Julia em conflito, buscando uma saída, uma verdade. E foi ali, naquela fração de segundo eterno, que compreendi. Não era sobre vencer ou perder; era sobre encontrar a si mesmo.
Com um último grito, canalizei minha energia para criar uma onda que nos separou, lançando-nos para lados opostos do campo de batalha. Quando a poeira assentou, ambas estávamos de joelhos, exaustas mas vivas.
Julia olhou para mim, sua espada desaparecendo em uma chuva de luz. “Você… você realmente acredita nisso, não é?”, perguntou, sua voz trêmula.
“Sim”, respondi, minha voz carregada de sinceridade. “A verdadeira liberdade vem de dentro, Julia. Não de derrotar um oponente, mas de aceitar quem somos.”
Ela fechou os olhos, respirando fundo. Quando os abriu novamente, havia uma nova compreensão neles. “Talvez… talvez você esteja certa.”
A tensão no ar começou a dissipar, e pela primeira vez, senti que havia uma chance de redenção para ambas. Julia, uma vez inimiga, agora parecia mais próxima de entender a verdadeira natureza de sua busca.
“Você acha que meus filhos, vão me aceitar de volta, mesmo depois do que fiz?”, ela perguntou visivelmente abalada.
“Olhe ao seu redor. Estamos em uma guerra para trazer o Azrael de volta para o nosso lado. Isso tudo foi orquestrado por sua filha. Acha mesmo que ela não faria o mesmo por você?”
Júlia desabou. Exausta, ela parecia não ter mais forças.
E assim, naquele campo de batalha marcado pela intensidade de nossa luta, houve uma trégua. Não uma vitória, mas uma compreensão mútua. Sabíamos que o caminho à frente ainda seria árduo, mas também sabíamos que, de alguma forma, poderíamos enfrentar nossos destinos juntas, em busca da verdadeira liberdade.
***
Naara
“Eriel não é a causadora de dano; ela deve ser o suporte que ajuda o causador de dano”, foram as palavras ditas por Belial e Samael.
Até aquele momento, eu não compreendi o significado dessas palavras, mas diante de Azrael, meu poder parecia ineficaz. Foi então que imaginei que poderia usar uma das habilidades que aprendi com o próprio Azrael.
“Eriel,” chamei, tentando me manter focada na luta que ocorria à minha frente. “Vou usar o Grande Espetáculo.”
Minhas palavras deixaram Eriel intrigada, mas logo ela pareceu lembrar do que eu havia comentado anteriormente. ” Grande Espetáculo” era uma habilidade criada por Azrael especificamente para o meu poder. Essa habilidade possuía três comandos, cada um destinado a atormentar um alvo de forma diferente. No entanto, existia algo que nem mesmo Azrael, o criador da habilidade, conhecia: um quarto comando, criado e aperfeiçoado por mim.
Esse comando foi desenvolvido exclusivamente para selar Azrael, ou ao menos derrotá-lo.
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