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    Eu estava parado na borda do penhasco, observando as montanhas sombrias de Nyrathor, um planeta esquecido onde o tempo parecia ter abandonado seu curso natural. As pontas afiadas das montanhas perfuravam o céu cinzento, e uma névoa densa cobria os vales, escondendo o que quer que ainda existisse abaixo. Passei muito tempo procurando este lugar, seguindo as pistas vagas e fragmentadas que havia coletado ao longo dos anos. Nunca imaginei que teria outra oportunidade de encontrar a Deusa da Noite, Nix.

    Enquanto olhava para a vastidão desolada, senti uma presença ao meu lado. Eriel estava ali, em silêncio, seus olhos fixos no mesmo horizonte sombrio. Mesmo sem dizer uma palavra, eu sabia que ela compartilhava das mesmas preocupações. Nix havia se isolado após descobrir a morte de seu filho, Nêmesis. Era compreensível que ela quisesse desaparecer do mundo, mas não podia deixá-la assim.

    “Segundo as informações que consegui, ela deve estar em algum lugar nessas terras desoladas,” falei, mais para mim mesmo do que para Eriel. Ela assentiu, sem desviar o olhar das montanhas à frente.

    “Nyrathor não é um lugar que alguém escolheria para um descanso eterno,” Eriel comentou, sua voz suave cortando o silêncio. “Mas talvez isso faça sentido, considerando o que ela perdeu.”

    Eu sabia que Eriel compreendia a dor de Nix, talvez mais do que eu poderia imaginar. Mas isso não mudava que, precisávamos dela. A missão que eu tinha em mente exigia a força da Deusa da Noite, e eu não podia falhar.

    Depois de um longo silêncio, comecei a descer a encosta da montanha, Eriel me seguindo de perto. O caminho era traiçoeiro, e a névoa ao redor parecia querer nos engolir. Era como se o próprio planeta estivesse tentando nos afastar, proteger Nix de qualquer intrusão. Eu não podia deixar que isso me detivesse.

    Passei horas caminhando por aquele terreno hostil, sentindo a energia de Nix se tornando mais forte a cada passo. Eriel permanecia ao meu lado, em silêncio, mas sua presença me dava forças. Finalmente, avistei uma entrada quase oculta, escondida entre rochas caídas e musgo escuro. Era ali. Eu sentia.

    “É aqui,” eu disse, a voz baixa, quase reverente. Eriel se aproximou, seus olhos fixos na entrada da caverna.

    Sem hesitar, avancei, entrando na escuridão. A temperatura caiu abruptamente, e um silêncio opressor nos envolveu. Cada passo ecoava pelas paredes de pedra, mas continuei, determinado. Sabia que estava perto.

    Ao chegarmos à câmara central, onde a escuridão era absoluta, vi algo que me fez parar. No centro da sala, envolta em sombras profundas, estava Nix. Seu corpo flutuava suavemente acima de um leito de rochas negras, uma leve luminescência azulada emanando de sua forma adormecida.

    “Ela está aqui, exatamente como imaginei,” pensei, enquanto Eriel se aproximava, ficando ao meu lado.

    Eu sabia que acordá-la não seria fácil, e que poderia não ser bem-vindo, mas era necessário. Respirei fundo e ergui a mão, concentrando minha energia. Sentia o peso da tarefa sobre mim, mas não havia espaço para dúvidas.

    “Nix,” chamei, minha voz firme reverberando pela caverna. “Desperte.”

    O som da minha voz parecia ecoar eternamente na caverna, e as sombras ao redor de Nix começaram a se agitar, como se estivessem respondendo ao meu chamado. Eriel estava ao meu lado, sua presença silenciosa, mas forte, uma âncora em meio àquele ambiente hostil. No entanto, mesmo com minha tentativa de despertá-la, Nix permaneceu imóvel, como se estivesse presa em um sono profundo demais para ser interrompido por um mero chamado.

    Eu sabia que precisaria de mais do que palavras para despertá-la. Fechei os olhos por um momento, sentindo a mana do espírito de Nêmesis pulsar dentro de mim, uma força que sempre esteve presente desde o dia em que nossas almas se fundiram. Canalizei essa energia, permitindo que a mana de Nêmesis se misturasse à minha, e infundi todo esse poder em minha voz.

    “Nix, desperte!” A ordem saiu carregada de uma energia que reverberou por toda a caverna, como se a própria terra tremesse em resposta.

    Dessa vez, a reação foi imediata. As sombras ao redor de Nix se agitaram violentamente, como se fossem dilaceradas pela força da minha voz, e a escuridão que a envolvia começou a dissipar-se. Seus olhos se abriram lentamente, revelando o brilho prateado que parecia conter o universo inteiro. Ela piscou algumas vezes, confusa, tentando processar o que estava acontecendo ao seu redor.

    Ela se moveu lentamente, seus olhos encontrando os meus. Por um instante, pude ver a desconfiança em seu olhar, uma reação natural após tanto tempo de isolamento. Nix estava alerta, pronta para qualquer ameaça, até que ela sentiu algo familiar. Seu olhar desviou para Eriel por um instante, mas logo voltou a mim, e seus olhos se arregalaram quando ela percebeu a mana de Nêmesis em meu corpo.

    “Isso… é impossível,” ela murmurou, sua voz carregada de incredulidade e confusão.

    Eu não disse nada, permitindo que ela processasse o que estava sentindo. O silêncio se estendeu por um momento que pareceu durar uma eternidade, até que Nix, com lágrimas escorrendo de seus olhos, deu um passo vacilante em minha direção. Antes que eu pudesse reagir, ela me envolveu em um abraço apertado, sua forma tremendo enquanto o choro escapava de seus lábios.

    “Como…? O que aconteceu? Como você está vivo?” Sua voz estava embargada, e o desespero que eu podia sentir nela me atingiu com força.

    Respirei fundo, permitindo que o calor do abraço dela me envolvesse por um instante antes de responder. “No dia em que Nêmesis morreu,” comecei, minha voz baixa, mas firme, “sua alma não desapareceu. Em vez disso, ela percorreu o universo, buscando um corpo que pudesse conter seu poder. Foi quando sua alma encontrou o meu corpo.”

    Eu senti o aperto de Nix se intensificar por um momento, e continuei, sabendo que ela precisava de todas as respostas. “A alma de Nêmesis se fundiu com a minha, e desde então, ele vive dentro de mim. Ele não está realmente vivo da maneira que você espera, mas… ele ainda existe, de alguma forma, no meu mundo interno.”

    Nix se afastou apenas o suficiente para olhar em meus olhos, e vi a mistura de alívio e tristeza refletida em seu olhar. As lágrimas continuavam a cair, mas havia uma compreensão ali, uma aceitação do que eu estava dizendo.

    “Então… ele está com você… o tempo todo,” ela sussurrou, seus dedos ainda apertando minhas roupas como se temesse me perder também.

    “Sim,” confirmei, acenando lentamente. “Nêmesis está comigo, e ele não está sozinho. Protejo sua alma como se fosse a minha própria. Ele vive em mim, Nix. E é por isso que eu precisava encontrá-la. Para você saber que ele não está completamente perdido. Ele me fez jurar que te encontraria, e aqui estou.”

    Nix deixou escapar um soluço e me abraçou novamente, desta vez com uma intensidade que quase tirou meu fôlego. Eu podia sentir a dor e o alívio em seu abraço, a mistura de sentimentos conflitantes que ela estava tentando processar.

    “Obrigada,” ela murmurou, sua voz quase inaudível, mas carregada de uma gratidão profunda. “Obrigada por manter meu filho vivo, de alguma forma.”

    Eu sabia que o que precisava acontecer a seguir era inevitável. Sentia a presença de Nêmesis pulsando dentro de mim, mais forte do que nunca, como se ele mesmo estivesse ansioso para falar com sua mãe. Fechei os olhos e, em um ato de pura confiança, permiti que sua essência emergisse, tomando o controle do meu corpo. A transição foi suave, como se eu estivesse apenas dando um passo para o lado, permitindo que ele assumisse a dianteira.

    Quando abri os olhos novamente, não era mais eu quem estava no comando. A expressão no meu rosto mudou, se suavizando de uma maneira que só Nêmesis poderia expressar. Ele olhou para Nix com um carinho e uma dor que eu nunca poderia replicar.

    “Mãe…” A voz de Nêmesis ecoou da minha garganta, carregada de uma emoção que rasgava a alma.

    Nix, ao ouvir a voz de seu filho, deixou escapar um novo soluço. Seus olhos, cheios de lágrimas, se arregalaram enquanto ela se aproximava hesitante, como se temesse que tudo aquilo não passasse de um sonho. “Nêmesis…? É você mesmo?”

    “Sim, mãe. Sou eu,” respondeu Nêmesis, e a força naquelas palavras dissipou qualquer dúvida que ainda pudesse ter restado em Nix. Ela não hesitou mais. Correu para ele, para mim, e o envolveu em seus braços com uma força desesperada.

    Por alguns momentos, eles permaneceram assim, um filho perdido finalmente reencontrando sua mãe. Nêmesis a segurou com a mesma intensidade, transmitindo através de mim tudo o que ele nunca teve a chance de dizer. Ele sussurrou palavras de consolo, explicando brevemente o que havia acontecido, mas sem se prolongar nos detalhes, pois sabia que o tempo era precioso.

    Após um longo momento, Nix recuou ligeiramente, limpando as lágrimas de seu rosto com as costas das mãos. “Eu… preciso ir com você,” disse ela, sua voz firme. “Se Nêmesis está com você, Azrael, então eu também estarei. Vou para o mundo demoníaco com vocês.”

    Eu senti Nêmesis concordar silenciosamente antes de ceder o controle de volta a mim. Retomei minha forma, e mesmo que a troca fosse breve, a conexão entre nós permaneceu intacta. Olhei para Nix e assenti. “Vamos.”

    Saímos da caverna, eu, Eriel e Nix, lado a lado. No instante em que cruzamos a entrada da caverna, algo extraordinário aconteceu. A noite absoluta, uma escuridão tão densa e profunda que parecia engolir toda a existência, se espalhou por todo o universo. Eu senti o impacto de imediato, uma força esmagadora que reverberava por cada fibra do meu ser.

    A mana de Nix, intensa e primordial, percorreu cada canto do cosmos, um chamado que ecoou em todos os seres vivos, uma proclamação de que um deus havia despertado. Aquela era a essência de um deus absoluto, um poder que transcendia todas as formas de existência que eu já havia presenciado. E já havia presenciado muitas.

    Nix, em sua plena majestade, não era apenas uma deusa. Ela era a própria noite encarnada, um ser de poder absoluto, cuja presença fazia com que até mesmo as entidades mais poderosas parecessem insignificantes. Eu podia sentir a magnitude do seu poder pulsando no ar ao meu redor, como se a própria realidade se curvasse à sua vontade.

    Seus olhos brilhavam com um prateado que continha a vastidão do universo, e cada movimento seu parecia moldar as sombras à sua vontade. Era como se ela fosse uma extensão da própria noite, um ser incomparável, cuja presença exigia respeito e reverência.

    Eu já havia visto muitos seres poderosos ao longo da minha vida, mas Nix… Nix era diferente. Ela não era apenas uma entidade de poder; ela era o poder absoluto em sua forma mais pura, um lembrete de que existiam forças no universo que iam além da nossa compreensão.

    E, ao lado dela, eu me senti pequeno, mas, ao mesmo tempo, imensamente consciente da honra que era estar em sua presença. A missão que tínhamos pela frente não seria fácil, mas com Nix ao nosso lado, eu sabia que as chances de sucesso eram maiores do que jamais imaginei.

    Caminhamos juntos, prontos para enfrentar o que quer que viesse a seguir, enquanto a noite absoluta continuava a se espalhar, anunciando para todos os cantos do universo que um deus primordial havia retornado.

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