Índice de Capítulo

    Entidade desconhecida

    A entidade observava a nova linha temporal em que se encontrava. O ambiente ao redor parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, estranhamente diferente. Seus poderes estavam instáveis, como se algo tivesse interferido no tecido do tempo. Ela sentia a tensão nas correntes temporais, como se o caminho que deveria seguir estivesse se desfazendo diante de seus olhos.

    Prometi que voltaria bem… Pensou com amargura, a incerteza corroendo sua determinação.

    Havia algo errado. A linha temporal atual não estava seguindo o percurso previsto. Vibrações que antes lhe eram familiares estavam ausentes. Será que estou muito à frente? Um futuro distante? Ela especulava, ciente de que estava em um ponto avançado, longe da interferência inicial que tanto a preocupava.

    Estou no futuro… um futuro que vocês, Espectadores, não deveriam ver.

    A ideia de voltar no tempo, até o exato momento em que a interferência ocorreu, parecia ser sua única opção. Talvez assim pudesse restaurar o equilíbrio e entender a razão de tamanha instabilidade. No entanto, antes que pudesse tomar qualquer atitude, uma voz suave ecoou pelo ambiente, interrompendo seus pensamentos.

    “Quem está aí?”

    Aquela voz a fez congelar por um momento. Era inconfundível, familiar e, ao mesmo tempo, carregada de emoções que ela não estava preparada para confrontar. Eriel?

    Não havia mais escapatória. Revelar-se era inevitável. A entidade saiu de seu estado de sombra, materializando-se no espaço temporal. Estava ciente de que a única pessoa capaz de notar sua presença, mesmo em uma dimensão fora da realidade, agora estava diante de seus olhos.

    “Z…?” A voz dela soou surpresa, mas serena. “Faz algum tempo.”

    Os olhos dourados de Eriel se encontraram com os dela. A entidade observou o rosto da mulher, agora mais madura, com seus longos cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo. Havia uma calma em seu semblante que a entidade sempre admirara, embora soubesse que, por trás daquele sorriso gentil, havia um turbilhão de pensamentos e sentimentos.

    “Como você está, Eriel?”

    “Você mudou bastante.” Eriel respondeu, observando a figura à sua frente, um leve sorriso dançando em seus lábios. Havia sabedoria em seus olhos, e sua postura exalava confiança, uma marca da Eriel do futuro.

    A entidade tentou forçar um sorriso, embora soubesse que não era a mesma de antes. Seus poderes estavam fora de controle, e o simples ato de manter a compostura exigia esforço. Ainda assim, para Eriel e os outros, precisava agir como o ser poderoso que sempre aparentara ser.

    “Você…” Eriel estreitou os olhos, como se estivesse tentando desvendar um mistério. “Hmm, entendi. Ainda não me encontrou no passado, certo?”

    A entidade sentiu-se um tanto vulnerável diante daquela perspicácia. Esquecer o quão perceptiva Eriel podia ser foi um erro tolo, provavelmente causado pelos meses em que vinha lidando com seu poder instável.

    “Exatamente.” Ela respondeu, tentando manter o tom neutro. “O ‘Z’ que você conheceu não sou eu. Ainda não. Estou indo para o nosso primeiro encontro neste exato momento.”

    A viagem para a linha temporal “atual” já estava nos planos, mas as circunstâncias a haviam jogado para muito além do previsto. Agora estava diante de uma Eriel que ela ainda não conhecia completamente.

    “Você não vai…” Eriel começou, mas logo se calou, sua expressão foi brevemente tomada pela tristeza.

    A entidade, por um momento, deixou sua mente vagar até a Eriel do passado. Ela se lembrava de sua juventude, com seus cabelos cortados na altura dos ombros e olhos azuis tão profundos quanto o oceano. Eriel sempre lhe pareceu fascinante, uma combinação de força e beleza inigualáveis.

    Notando o olhar atento da entidade sobre ela, Eriel riu suavemente. “Fufu! Estou estranha?”

    Ela estava, de fato, diferente. Seus olhos inchados, claros sinais de noites sem dormir, e o jaleco de pesquisadora lhe davam um ar desleixado, algo que nunca havia associado à imagem de Eriel.

    “Sabe… Desde o incidente, tive que mudar um pouco.” Eriel desviou o olhar, sua voz agora um pouco mais sombria. “O Azrael não está mais aqui, então me tornei uma pesquisadora.”

    A entidade sentiu um peso em seu coração ao ouvir o nome de Azrael. “Um trabalho estranho, julgo.”

    “Talvez, mas não penso assim.” Eriel respondeu, seu sorriso um pouco mais forçado.

    Será que ele a influenciou tanto?

    A entidade decidiu que era hora de ir. “Devo sair agora. Estamos no centro de pesquisa da facção humana, não? Não demorará até perceberem minha interferência.”

    Eriel ergueu uma sobrancelha. “Você realmente acha que eles podem detectar um Deus?”

    A entidade não pôde conter um leve sorriso, apesar da tensão que sentia. Mesmo em meio a tanta incerteza, Eriel conseguia trazê-la de volta à realidade com seu humor seco. No entanto, havia muito mais em jogo, e o futuro que observava à sua frente era apenas um vislumbre dos problemas que precisaria enfrentar ao voltar ao passado.

    A entidade observava Eriel com uma calma inabalável, absorvendo suas palavras com um leve toque de curiosidade. O poder que ela possuía, dominando o “Tempo”, “Realidade” e “Criação”, seria dificilmente detectado por seres comuns. No entanto, Eriel sempre foi alguém com uma percepção além do comum.

    “Superestimei os humanos?” A entidade sorriu, uma faísca de ironia cruzando seus olhos. “O poder de um ser que domina o ‘Tempo’, ‘Realidade’ e ‘Criação’ pode ser detectado?”

    Eriel balançou a cabeça, como se aquilo fosse algo óbvio.

    “Me desculpe,” ela continuou, agora com um tom descontraído. “Às vezes esqueço o quão incrível eu sou.”

    Eriel apenas a observava, enquanto ela preparava sua magia, pronta para a próxima viagem no tempo. O silêncio pairava entre as duas, até que a entidade, sempre atenta, notou algo diferente no semblante da mulher à sua frente.

    “Isso me lembra,” ela disse, virando-se para encará-la. “Houve uma interferência temporal. Você percebeu algo?”

    Um sorriso discreto surgiu nos lábios de Eriel, mas seus olhos pareceram se perder por um instante, viajando em pensamentos.

    “Digamos que você não é a única viajante do futuro nesta linha temporal.”

    Então é isso? Ela pensou. A menção a outro viajante temporal despertou sua curiosidade. De repente, tudo parecia fazer sentido. A interferência que tanto a perturbava não estava no passado, como pensara inicialmente, mas no presente, nesta época.

    “Imagino. Então a interferência foi causada pela viagem no tempo daquela garotinha?”

    O tom de sua voz carregava uma mistura de interesse e despreocupação. Certamente, esse evento prometia ser intrigante. Mesmo com a confusão temporal, a entidade ainda encontrava um certo fascínio na ideia de observar o desenrolar de situações complexas.

    “Bom, foi gratificante ver você novamente após tanto tempo,” ela disse, já focando na próxima viagem. “Mande um abraço para o Azrael e para a minha versão passada.”

    Eriel sorriu, dessa vez de forma mais suave, como se a nostalgia lhe tocasse levemente. “Certamente.”

    Ela sabia que passar a mensagem não traria consequências desastrosas para o fluxo do tempo. Para ela, era uma ação simples, um gesto pequeno que não alteraria nada de grande importância.

    “Bom, acho que está na hora de ir.”

    “Z…” Eriel interrompeu, com um tom hesitante na voz.

    “Eu sei…” Ela a encarou com seriedade, antecipando a dúvida não dita. “Você tem uma ideia do que eu sou, mas devo acrescentar que está errada.”

    “Me desculpe.”

    A entidade balançou a cabeça, despreocupada. “Não é nada com o que deva se preocupar. Apenas continue sendo quem você é… Aquele jovem gosta de você exatamente assim.”

    Ela suspirou ao lembrar de algo, seus olhos vagando por um momento.

    “Você não gosta dessa forma e poder, certo? Se quiser, posso te livrar de tudo isso.”

    Devido a um acontecimento no passado dessa linha temporal, Eriel havia sofrido uma alteração em seu corpo.

    “Você não gosta do fato de beber—”

    “Não se preocupe.” Eriel colocou a mão no peito, o olhar distante enquanto lembrava de algo. Seu sorriso reapareceu, carregado de memórias.

    “Mesmo não gostando de minha forma atual, foi um presente que veio com um sacrifício… Devo ser grata apenas por estar viva. Não é que eu odeie essa forma.”

    A entidade decidiu deixar o assunto por ali.

    “Bom, então estou indo.”

    Ela ativou sua habilidade do ‘Tempo’; {Salto Temporal}, e sentiu a mana em seu corpo ser sugada rapidamente.

    “Até a próxima.”

    “Sim…”

    A entidade sabia o que aconteceria na próxima vez que aquela versão de Eriel a encontrasse, por isso não se sentia animada com o próximo encontro. Mas, em algum momento, o inevitável aconteceria. Rompendo o Espaço-Tempo, ela foi em direção à sua próxima parada.

    Às vezes me sinto um pouco triste por meus capítulos terem tão poucas palavras… Ela pensou enquanto sentia o fluxo do tempo se desdobrar ao seu redor. Talvez o autor pense que eu revelaria muito sobre o futuro se tivesse mais interações. As conversas e pensamentos podem entregar segredos que ele prefere manter ocultos por enquanto.

    Ela não pôde deixar de suspirar.

    Imaginei que em meus capítulos eu poderia lutar contra seres poderosos, mas só apareço em capítulos extras. Um sorriso irônico curvou seus lábios.

    Quando será minha hora de brilhar? Ela se perguntou, enquanto atravessava o fluxo temporal, pensando nas expectativas dos leitores sobre uma personagem que só aparecia ocasionalmente.

    “Bom, logo teria sua chance de aparecer no capítulo principal de qualquer forma.” A entidade refletia sobre seu destino com um leve sorriso, ciente de que sua participação no enredo ainda estava por vir.

    Sua habilidade foi repentinamente cancelada, indicando que havia chegado ao destino pretendido. O ambiente ao redor era isolado e silencioso, interrompido apenas pela sensação nítida de duas presenças observando-a de perto. Este devia ser o local onde Azrael havia criado ‘Aquilo’.

    A primeira a perceber sua presença foi uma jovem de aproximadamente 19 anos, com olhos azuis cheios de surpresa. Ela não esperava vê-la surgir tão de repente naquele espaço.

    Oh? Nesta linha do tempo, seus cabelos estão curtos. Que bela visão. A entidade observou os cabelos castanhos da garota, que caíam parcialmente sobre os olhos, dando-lhe uma aparência intrigante. A jovem então virou seu olhar para o rapaz ao seu lado.

    Era Azrael, ainda jovem, mas já carregando um semblante imponente e uma presença que transbordava força. Ele também ficou surpreso com a aparição repentina da entidade, embora seu olhar não revelasse desconforto, apenas curiosidade.

    Ele ainda está com essa aparência? Apenas alguns meses devem ter se passado desde minha visita ao Deus Supremo. Ela pensou, analisando o jovem Azrael e reconhecendo a familiaridade em sua presença.

    A conversa entre eles prometia ser, no mínimo, intrigante.

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