Capítulo 20 — Sucessor do deus supremo
Azrael
Alguns meses haviam se passado desde os eventos na masmorra, e Azrael ainda refletia sobre as escolhas que fez. Ocultar a verdade de Eriel parecia necessário, mesmo que isso lhe trouxesse um peso na consciência. Ela não podia saber que o mundo em que lutaram era, na verdade, seu próprio mundo interno. Trazer todos para lá foi uma tarefa fácil, mas manipular seus poderes para que a batalha não parecesse uma farsa foi a parte mais complexa. No fim, tudo deu certo, mas ele não conseguia ignorar as consequências.
Ele se sentia particularmente culpado por Noir. A visão dela tremendo, com medo do que havia acontecido, o incomodava profundamente. Usar magia de ilusão para convencê-la de que sua conexão havia sido rompida, e magia de memória para apagar suas lembranças sobre as habilidades de Legion e Nêmesis, fora um sacrifício necessário. Contudo, ao lembrar do rosto desesperado de Noir, um gosto amargo subiu à sua boca.
“Foi há muito tempo…”, pensou, afundando-se em memórias que preferia esquecer.
Naquela época, ele havia voltado de uma curta viagem e descoberto o caos instalado na cidade. Grupos rebeldes aproveitaram sua ausência e atacaram com aliados poderosos. Quando ele chegou, a batalha ainda estava em andamento, e muitas vidas já haviam sido perdidas. Antes de partir, ele havia confiado Noir a proteger alguém muito querido para ele, acreditando que teria tempo para voltar antes de qualquer ataque. Mas o inimigo foi mais rápido do que ele imaginava.
Azrael se lembrava de chegar ao palácio em chamas e de ver Noir lutando sozinha, exausta, mas determinada. Ela lutava contra inúmeros assassinos, protegendo o que ele mais valorizava. O sentimento de culpa ainda o perseguia.
“Devo me desculpar novamente com ela,” murmurou, soltando um suspiro pesado. “Não posso deixá-la sentir ódio de mim.”
Seu pensamento foi interrompido por batidas na porta. Azrael estava no porão da mansão, uma área reservada para criar um item único. Em sua frente, estava uma espada transparente, uma arma forjada a partir do núcleo de um buraco negro. Ela parecia instável, como se estivesse vazia. Azrael havia tentado canalizar sua aura na espada, mas sabia que isso poderia quebrar a frágil ligação que ela mantinha com o tempo.
“Entre.”
A porta se abriu suavemente, revelando Eriel, que o observava com seus olhos azuis curiosos. Seus cabelos curtos emolduravam um rosto sereno, que Azrael achava cada vez mais encantador.
“Você pediu para me chamar?” Ela perguntou, com a voz suave.
Azrael sorriu de lado, aliviado de que Beherit a encontrara mais rápido do que esperava.
“Você estava ocupada?”
“Na verdade, não. Eu estava no jardim com Alice,” respondeu ela, balançando a cabeça levemente.
“Entendo.” Ele assentiu, pegando a espada da mesa e a entregando a Eriel, que a segurou, surpresa, mas sem questionar.
“Essa é sua espada,” disse ele calmamente. “Para sincronizá-la com você, basta passar um pouco da sua mana.”
A espada, ainda sem cor e sem qualquer traço de mana, aguardava. Azrael sabia que a mana dele, sendo de escuridão, poderia causar interferência, então era essencial que a espada fosse alimentada pela mana de luz de Eriel.
“Assim?” Eriel começou a canalizar sua mana na espada.
A lâmina transparente começou a brilhar e gradualmente assumiu um tom branco puro. Runas antigas surgiram ao longo da lâmina, símbolos intricados que, juntos, formavam a palavra “Tempo”. A espada absorveu completamente a mana de Eriel, tornando-se uma extensão natural de seu poder.
“Perfeito,” comentou Azrael, satisfeito ao ver que a espada havia se sincronizado com ela.
A espada branca começou a brilhar fracamente enquanto absorvia a mana de Eriel. Assim que ela terminou de transferir sua energia, a espada aceitou completamente sua nova mestra, pulsando com uma luz suave.
Azrael observou Eriel com um olhar esperançoso. “Você pode usar o Lorde do Tempo?” perguntou, ansioso para ver como a espada responderia à magia dela.
Eriel assentiu, determinação iluminando seu rosto. “Sim, eu vou tentar.”
Com um gesto firme, ela ativou sua habilidade, e no instante seguinte, Azrael aproveitou a oportunidade para ativar sua própria habilidade de cópia. O espaço ao redor deles congelou, e partículas de luz começaram a flutuar da espada, criando um espetáculo etéreo. Azrael, observando a transformação, não pôde deixar de se sentir orgulhoso.
“Pode desativar agora,” instruiu ele, sua voz firme. Seus olhos estavam fixos na espada, atentos a cada mudança.
Quando Eriel desativou sua habilidade, as partículas de luz persistiram, como se a espada estivesse se adaptando a uma nova realidade. “Incrível,” murmurou Azrael, satisfeito. A espada agora incorporava a magia do Tempo, imbuída pelas runas e pela conexão que Eriel havia estabelecido.
“Você pode treinar com a espada mais tarde,” ele continuou, sua preocupação evidente. “Começar a usá-la imediatamente não é aconselhável. Você a recebeu hoje e ainda precisa entender como ela funciona.”
Eriel examinou a espada com admiração. “Ela é… incrível,” disse, sua voz cheia de reverência enquanto estudava a lâmina.
O brilho nos olhos de Eriel fez Azrael sentir um calor no coração. “A espada se tornou resistente e leve ao mesmo tempo. O poder absorvido pela mana a tornou extraordinária,” explicou ele, um sorriso de satisfação se formando em seu rosto. “Ela foi feita com um núcleo de buraco negro, um fenômeno que colapsa e não segue a linha do tempo dos mortais.”
Eriel, ainda maravilhada, balançou a espada delicadamente. “Ela é leve, mas… tem algo muito superior,” disse, os olhos brilhando com empolgação.
“Usei a técnica de criação do Deus Supremo e de Hefesto para moldar essa espada,” Azrael revelou, sua voz cheia de orgulho. “Materiais raros foram empregados, alguns deles guardados por décadas em um espaço separado do mundo. Eu queria que essa espada fosse especial.”
Eriel olhou para ele com uma curiosidade renovada. “E quanto ao seu sangue?” perguntou, inclinando a cabeça. “Ouvi falar que tem propriedades raras.”
“Sim, meu sangue possui características únicas. Nasci com essa habilidade rara,” Azrael explicou, lembrando-se das palavras do Deus Supremo que lhe haviam sido reveladas. “É um componente essencial na criação de um item único como este.”
“E você escolheu me dar essa espada?” Eriel perguntou, seu tom suave, mas a emoção era palpável.
“Quando você mencionou a espada, pensei que seria algo ‘normal’, mas estou surpresa ao perceber que está longe disso,” respondeu Eriel, um sorriso se formando em seus lábios. “É perfeita.”
O brilho nos olhos de Eriel fez Azrael perceber que suas palavras eram genuínas. “Fico feliz,” disse ele, aliviado. “Passei muito tempo criando essa espada para uma pessoa especial. E sinto que ela pertence a você agora.”
Enquanto Eriel observava a espada uma última vez, um sorriso gentil iluminou seu rosto. “Nunca presenciei uma arma como essa. É um verdadeiro tesouro.”
A satisfação de Azrael era inegável. “Ela absorveu o poder de seu usuário e se tornou uma espada que transcende o tempo. Com prática, você poderá dominar seu potencial.”
No entanto, antes que a conversa pudesse se aprofundar, Azrael percebeu algo. Uma presença distante e fraca começou a se manifestar, emanando uma aura divina que parecia se aproximar.
Alguém chegou ao planeta? Uma onda de inquietação atravessou Azrael. “Com as informações que escutei de Naara, não deveria ser possível chegar tão cedo. Mas não posso descartar essa hipótese,” pensou, seu coração acelerando.
Eriel, atenta, percebeu a mudança na expressão de Azrael. “O que foi? Você parece preocupado.”
“Uma presença estranha está se aproximando,” ele respondeu, seus sentidos aguçados. “Parece um usuário do ‘Tempo’, mas é raro alguém conseguir tal feito.”
Eriel franziu a testa, seu olhar se tornando sério. “Você acha que é outro viajante temporal?”
“Pode ser uma ‘Eriel’ do futuro, mas isso é improvável,” Azrael ponderou. “Ou pode ser o usuário da habilidade ‘Viagem Temporal’, mas esse indivíduo só deveria voltar em alguns dias. O ser que está usando essa habilidade voltou muitos anos.”
A tensão no ar aumentou à medida que ambos se preparavam para o que poderia vir a seguir. A espada na mão de Eriel parecia pulsar, como se antecipasse a chegada do novo visitante, e Azrael sabia que estavam prestes a enfrentar uma nova e incerta criatura.
Z!
O espaço vazio à frente de Azrael começou a distorcer-se, como se a própria realidade estivesse se desintegrando. Então, onde antes não havia nada, um buraco negro surgiu, deformando o espaço ao seu redor. Azrael sentiu uma mistura de temor e curiosidade enquanto um ser envolto em escuridão emergia da fissura, sua forma indefinida desafiando qualquer tentativa de categorização.
“Você não parece surpreso. Leu o último capítulo?” A voz do ser ressoou, distorcida e ecoante.
“Como sempre, suas palavras são estranhas,” Azrael respondeu, estreitando os olhos. O rosto sem feições do ser sorria, uma expressão que transmitia um misto de divertimento e mistério.
“Você sabia que esta é minha primeira aparição em um capítulo principal? Poderia ser mais amigável para mostrar aos leitores que temos uma boa relação?” O tom provocador de Z fez Azrael revirar os olhos.
“Z, esse é… bem, o Z,” Azrael introduziu, hesitando um pouco, “um… amigo.”
“Ei! Não me apresente assim!” Z exclamou, segurando a mão de Eriel de maneira quase desesperada. “Escuta só, Eriel, ele é muito cruel. Sou amigo dele, pode acreditar.”
A cena era tão absurda que Eriel começou a rir, seus olhos brilhando de diversão. “Fufufu… Vocês parecem bem próximos.”
“Isso mesmo! Está vendo, Az? Ela percebeu!” Z declarou, assumindo uma postura triunfante enquanto Eriel sorria desajeitadamente.
Azrael não pôde evitar um sorriso, mas logo sua expressão se tornou mais séria. “Você não está aqui apenas para fazer uma aparição, certo? Todas as suas aparições anteriores foram catastróficas.”
“Certamente. Pensei que minha entrada seria emocionante por finalmente estar em um capítulo principal, mas agora isso não faz sentido,” Z respondeu, movendo-se com leveza, quase como se flutuasse, enquanto se aproximava de Eriel. Azrael observou com cautela, preocupado com o comportamento imprevisível do ser.
Z sussurrou algo no ouvido de Eriel, e mesmo com sua audição aguçada, Azrael não conseguiu captar uma única palavra. _ Ele deve ter usado alguma magia de barreira _ pensou, inquieto. Mas, por algum motivo, a atitude despreocupada de Eriel o acalmava.
“Então, mestre dos magos, quais são suas intenções desta vez?” Azrael perguntou, sentindo a tensão no ar. Z parecia intrigado com a espada que ele havia dado a Eriel e a examinou com atenção.
“Uma espada magnífica, mas falta algo,” Z comentou, observando a lâmina com um olhar avaliativo. Ele se virou para Eriel, que parecia confusa ao receber a atenção repentina. “Você é a dona dela, certo? Posso sentir sua mana.”
“Sim…” Eriel respondeu hesitante, seus olhos focados na figura enigmática diante dela. Azrael notou como a mana de Eriel pulsava, uma energia única e radiante.
“Ela está perfeita, mas posso adicionar algo para melhorar?” A proposta de Z fez Azrael sentir um nó no estômago. Ele conhecia bem o poder de Z e o potencial que poderia ser liberado.
Eriel olhou para Azrael, buscando orientação em seu olhar. Ela se preocupa com meus sentimentos como criador da espada. Não são muitos os que desejariam que suas criações fossem alteradas, pensou Azrael, ponderando sobre a decisão.
“Suspiro… Eriel, ele pode não parecer, mas é um Deus que pode ser considerado o sucessor do Deus Supremo. Ele pode adicionar algo que vá beneficiá-la. Esta é uma boa oportunidade,” Azrael explicou, sua voz cheia de confiança.
Eriel parecia hesitante, mas a necessidade de aprimorar a espada era evidente. “Por favor…!” Ela finalmente exclamou, decidida a aceitar a proposta de Z.
“Então.” Z sorriu, e o ambiente ao redor deles começou a mudar. A aura de poder se intensificou, e Azrael sentiu a mana de Z sendo drenada pela espada.
“Pronto… Adicionei um pouco da minha mana na espada e permiti que ela se tornasse uma só com o seu poder,” Z disse, com um ar de satisfação em seu rosto. “Agora sua espada ganhou uma nova habilidade de proteção. Mas as outras habilidades, você deve descobrir sozinha.”
“Ou seja, além de ser uma arma, a espada se tornou uma guardiã,” Azrael refletiu, aliviado e admirado.
“Bom, é apenas isso por enquanto. O resto você aprenderá com o tempo…” Z começou a recuar, a barreira do Tempo-Espaço se rompendo lentamente à sua volta.
“Lembre-se do que te falei. Será útil no futuro.” Sua voz ecoou enquanto ele preparava uma magia, a energia ao seu redor vibrando com uma intensidade palpável.
“Isso me lembra. A versão futura de Eriel mandou um abraço,” Z comentou, lançando um olhar divertido para Azrael. Sua expressão era um misto de mistério e jovialidade, como se estivesse se divertindo com um segredo que ninguém mais conhecia.
Assim como havia surgido, Z desapareceu na distorção do espaço, deixando para trás um rastro de enigma e uma aura intrigante. Azrael observou, confuso e intrigado, enquanto tentava processar as palavras enigmáticas de seu “amigo”. Como sempre, Z é um mistério. Não consigo entender o que ele realmente deseja ou o significado de suas mensagens.
Azrael se virou para Eriel, que ainda estava processando o que havia acontecido. “Bem… isso foi inesperado,” Azrael disse, tentando quebrar o gelo. “Z tem esse jeito de aparecer e desaparecer que nunca deixa de me surpreender.”
Eriel riu suavemente, um som leve que contrastava com a gravidade do momento. “Sim, e parece que ele sabe mais do que revela. Aquela menção sobre um abraço do meu eu futuro… é… intrigante.”
“É, definitivamente complicado. Será difícil explicar tudo o que acabou de acontecer para Eriel.” Azrael pensou, lembrando-se da dificuldade que teria em traduzir não apenas as palavras de Z, mas também o que elas poderiam significar para o futuro deles.
“Você está bem?” Azrael perguntou, observando Eriel. Havia uma leve sombra de preocupação em seu rosto. “Z pode ser… desconcertante. Mas a espada agora tem um novo poder, e isso é algo que podemos usar.”
“Sim, estou bem.” Ela sorriu, mas havia uma intensidade em seus olhos que não passava despercebida.
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