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    A noite avançava, e a festa seguia seu curso, mas a mente de Eriel estava longe, perdida em pensamentos. As palavras que ouviu mais cedo ressoavam incessantemente: “Tenha cuidado com Azrael.” Por mais que tentasse, não conseguia ignorar o aviso. Havia algo de sombrio e enigmático em Azrael, algo que ele claramente escondia, mas Eriel ainda não conseguia entender o que era.

    Do outro lado da sala, Ethan parecia estar se divertindo, rindo ao lado de Noir e Sonne, enquanto Alice os observava com um sorriso no rosto. Eriel notou a proximidade entre Ethan e Alice; a conversa que tiveram mais cedo deixou isso evidente. Talvez houvesse uma história compartilhada entre os dois que ela ainda não conhecia.

    Já Azrael permanecia isolado, sentado em uma cadeira que, de tão imponente, parecia um trono. Sua postura ereta, como ele mantinha o queixo erguido, transbordava uma majestade natural. Observando-o de longe, Eriel sentiu uma mistura de fascínio e cautela. Ele exalava poder, e ela sabia que, por mais que tentasse, ele guardava segredos que afetavam diretamente sua vida.

    Ela lembrou-se da breve conversa que tiveram antes. Embora soubesse que Azrael conhecia muito mais do que revelava, algo a impedia de pressioná-lo por respostas. Com o tempo, ele me contará, pensou, tentando acalmar sua ansiedade. Mas o tempo parecia uma eternidade, e cada segundo sem respostas apenas aumentava sua inquietação.

    Foi nesse momento que um grande círculo mágico de teleporte brilhou subitamente no meio da sala, interrompendo os pensamentos de Eriel. O espaço ao redor do círculo se abriu instantaneamente, a multidão se afastando em murmúrios assustados. As runas cintilavam com uma energia antiga e poderosa, e o ar ao redor parecia vibrar com a chegada iminente de algo grandioso.

    Três figuras emergiram do círculo. Cada uma trajava um sobretudo de cor distinta, e a aura que emanavam era esmagadora. O primeiro, com um sobretudo branco e uma runa demoníaca nas costas que significava “Peste”, usava uma máscara que ocultava seu rosto. Mesmo assim, sua presença trazia uma calma inquietante. Embora o poder dele fosse imenso, algo em sua aura parecia transmitir paz, um paradoxo perturbador que fez Eriel querer se ajoelhar diante dele, como se fosse um ser sagrado.

    A segunda figura, muito maior em estatura, usava um sobretudo vermelho-sangue. A runa “Guerra” brilhava nas costas dele. A presença desse ser era ameaçadora, quase sufocante, como se uma força destrutiva estivesse apenas esperando o momento de devastar tudo ao seu redor. Cada movimento dele fazia a sala tremer, e Eriel sentiu seu corpo reagir instintivamente ao perigo.

    A terceira figura, envolta em um sobretudo amarelo-baio, trazia a runa “Morte” nas costas. Ao contrário das outras, essa presença era a mais perturbadora. O ser era pequeno, mas a aura que emanava era a mais poderosa e assustadora de todas. Eriel sentiu o medo se enraizar profundamente dentro de si. A simples existência dessa figura no mesmo espaço era aterrorizante, como se a morte estivesse realmente ali, observando a todos.

    Os três caminharam em direção a Azrael, que continuava imóvel, observando-os com um olhar calmo e distante. A multidão se afastou, abrindo caminho para que eles se aproximassem. Quando chegaram a cerca de dois metros de distância, os três ajoelharam-se diante dele. A sala inteira mergulhou em um silêncio tenso. O ar estava pesado, como se uma batalha estivesse prestes a explodir a qualquer momento.

    Azrael os encarou com desdém silencioso, como se a presença deles não fosse digna de sua atenção. Seu rosto permaneceu inexpressivo, impassível diante da cena.

    “Os Cavaleiros estão aqui por ordem do Conselho,” disse um deles, com a voz grave e formal. “Temos uma mensagem para o Príncipe Azrael.”

    Eriel viu Alice, que estava conversando com Ethan, aproximar-se de Azrael, posicionando-se ao seu lado com um ar protetor. Noir e Sonne também se juntaram, formando uma espécie de barreira ao redor do príncipe. O ambiente se encheu de uma tensão palpável.

    “Devo ouvir a mensagem, certo, Nain?” A voz de Azrael cortou o silêncio como uma lâmina fria.

    A figura de sobretudo vermelho retirou a máscara, revelando o rosto de Nain. Eriel sentiu um choque percorrer seu corpo. Nain? Não era possível. O homem diante dela, com essa aura devastadora, não parecia o mesmo que conhecera. O mesmo aconteceu com os outros dois. Zenith, a figura de branco, e Naara, de amarelo-baio, também removeram suas máscaras. Eriel mal podia acreditar. Eram seus antigos companheiros de masmorra, mas agora pareciam completamente diferentes, transformados por um poder além do imaginável.

    “Você deve,” respondeu Nain, sua voz carregada de uma seriedade incomum, sem o tom brincalhão que ela lembrava de seus dias de treino.

    Zenith deu um passo à frente, seus olhos sérios fixos em Azrael. “Príncipe Azrael, devido ao desaparecimento do Rei, o Conselho solicita que você retorne ao palácio imediatamente para assumir o trono.”

    O coração de Eriel apertou. O desaparecimento do Rei… Isso mudava tudo. Havia muito mais em jogo do que ela imaginava.

    “O Conselho decidiu que o país não pode ficar sem um líder,” completou Zenith, com um tom que não deixava espaço para objeções.

    Azrael permaneceu calmo, impassível, como se a notícia não o afetasse. “E se eu decidir ficar?” perguntou, sua voz fria e calculista.

    Antes que qualquer um pudesse responder, Naara liberou sua aura. O impacto foi imediato. O poder que emanava dela era devastador, preenchendo a sala com uma pressão sufocante. Eriel sentiu seu corpo tremer, o medo crescendo conforme a tensão aumentava.

    “Se você se recusar a voltar,” disse Naara, sua voz ameaçadora, “nossas ordens são claras: matar todos os seus aliados e trazê-lo à força.”

    A declaração de Naara fez o sangue de Eriel gelar. Ela não estava brincando. Isso era uma ameaça real. O ambiente ficou mortalmente silencioso, até que Azrael finalmente reagiu. Uma aura avassaladora emergiu dele, colidindo com a de Naara. O chão vibrou sob os pés de Eriel, e a sala inteira pareceu sufocada pelo poder desses dois titãs.

    Azrael se ergueu, com uma expressão pesada, e caminhou em direção aos companheiros ajoelhados, que aguardavam em silêncio. Seus olhos, normalmente brilhantes de determinação e humor, agora refletiam um cansaço profundo, algo que Eriel nunca havia visto antes. Quando ele perguntou: “Tenho algum tempo?”, a voz de Nain respondeu com uma tristeza evidente, quase oscilante: “Dez minutos…”.

    Eriel observava em silêncio enquanto Azrael, depois de um momento de pausa, passou por seus companheiros, dirigindo-se diretamente a ela. O encontro de seus olhares era silencioso, mas cheio de significados não ditos. Havia dor no sorriso que ele esboçou — um sorriso que parecia mais um adeus do que um consolo.

    “Tenho que partir…” Sua voz soava fraca, sem a habitual confiança, o que fez o coração de Eriel afundar.

    “Não existe nada que possa ser feito?”, ela perguntou, a urgência de sua pergunta evidente em cada palavra.

    “Não.” A resposta curta e imediata caiu sobre ela como uma sentença. Azrael sempre enfrentava o perigo com leveza, mas desta vez, não havia espaço para suas piadas. Eriel compreendeu, em um instante, que o peso que ele carregava era grande demais, e que talvez ele já soubesse do desfecho há mais tempo do que ela poderia imaginar.

    “Me desculpe por não poder continuar com o treinamento…” Ele desviou o olhar por um momento, como se já esperasse que esse momento chegasse, a certeza de sua partida evidente em seu tom.

    “Azrael… Az.” Ela falou o nome com hesitação, como se o nome mais curto carregasse um pedido velado, um último apelo.

    Ao ouvir o apelido, um sorriso genuíno, embora melancólico, se formou nos lábios de Azrael. “Você finalmente me chamou de Az…” Era algo que ele esperava há muito tempo, e o fato de que isso acontecia agora, neste momento, tornava a situação ainda mais dolorosa.

    Enquanto Eriel lutava para encontrar palavras, as dúvidas em seu coração surgiam com força: sobre sua mãe, sobre o que realmente estava acontecendo, sobre tudo o que não conseguia compreender. Mas não era o momento de prendê-lo com suas perguntas.

    Os olhos de Azrael começaram a mudar, de verde intenso para um vermelho sangue, enquanto seus cabelos castanhos se tornavam de um branco puro. Ele revelava sua verdadeira forma, como se isso fosse parte de sua despedida.

    “Como é uma despedida, devo me despedir de maneira verdadeira… com minha verdadeira aparência.” Ele falou com uma calma triste, e Eriel, por um momento, se sentiu presa entre o fascínio e a angústia.

    Sem que ela percebesse, as lágrimas começaram a cair de seu rosto. Havia algo mais profundo nessa despedida que ela ainda não conseguia entender completamente. A mão de Azrael tocou suavemente seu rosto, enxugando as lágrimas.

    “Durmam!” Sua voz soou como um comando firme, e todos os presentes, com exceção de Etham, caíram inconscientes ao redor. Eriel, ainda de pé, observava tudo sem entender completamente.

    “Como um presente de despedida, espero que você aceite isso…” Azrael colocou seu polegar em sua testa, e uma onda de memórias começou a preencher sua mente. Mas, ao mesmo tempo, memórias verdadeiras começaram a desaparecer. Eriel rapidamente compreendeu o que ele estava fazendo — ele estava apagando sua existência de suas lembranças, substituindo os momentos que haviam compartilhado por eventos que nunca aconteceram.

    Enquanto as palavras “Não confie em suas memórias” surgiam em sua mente, Eriel lutava para resistir. “Az…” tentou dizer algo, qualquer coisa, para fazê-lo parar.

    “Durma…” A voz de Azrael era pesada de cansaço e tristeza. Ele claramente não queria fazer isso, mas não tinha escolha. Eriel poderia lutar contra o sono que a invadia, mas sentia que ele também estava lutando com suas próprias emoções. Tornar as coisas mais difíceis seria cruel.

    “Me desculpa…” foram as últimas palavras que ela conseguiu dizer antes de perder a consciência, vendo as lágrimas escorrerem pelo rosto de Azrael.

    “Não se desculpe, não é sua culpa…” A voz dele era um eco distante enquanto ela sentia seu corpo perder o controle. Quando estava prestes a cair, os braços de Azrael a envolveram, e ela viu seu olhar uma última vez, carregado de uma tristeza esmagadora, antes de mergulhar na escuridão da inconsciência.

    Azrael

    O mundo de Azrael parecia ter perdido todas as cores. Ele observava os corpos no chão, todos desmaiados por causa de sua magia, enquanto seus companheiros permaneciam em silêncio, ajoelhados. Nem Ethan, o único que ainda estava acordado, ousou dizer uma palavra. Era como se todos soubessem o que ele estava sentindo naquele momento.

    Não fora uma escolha sua, mas a dor que o consumia naquele instante era inteiramente sua. Por tanto tempo, Azrael acreditou que poderia viver uma vida pacífica, sem grandes preocupações. Pensou que o destino lhe permitiria essa paz. Mas a profecia, essa, ainda pairava sobre ele como uma sombra imutável.

    Só posso ir para longe das pessoas que amo. Esse é o melhor cenário. Pensou, resignado.

    Ele sabia o que estava por vir. Ao lado de seus companheiros, de sua família, em uma batalha que consumiria tudo, onde o único destino era a morte. Era esse o futuro que lhe foi revelado. Não posso mudar meu destino…, pensou mais uma vez, aceitando o inevitável.

    No entanto, ao olhar para aqueles corpos no chão, sua visão, agora tingida por uma escuridão monocromática, parou em uma figura em particular. Eriel. Ela havia estado ao seu lado por tão pouco tempo, mas aquele pouco foi o suficiente para que Azrael entendesse como a vida poderia ser bela. Um aperto tomou conta de seu coração, doloroso e pesado. Ele teria que deixá-la.

    Me desculpe, Eriel… Não posso manter minha promessa…, ele refletiu, com o coração pesado de arrependimento.

    O destino estava selado, e nada poderia ser feito para mudá-lo. Tudo já estava decidido.

    Ele se virou para Ethan, com o semblante marcado pela dor. “Me desculpe por isso, Ethan, mas parece que não poderei ficar por mais tempo.” Suas palavras ecoaram num tom triste e resignado.

    Ethan olhou na direção de Alice, e em seguida voltou seu olhar para Azrael, carregado de tristeza. Azrael sabia o que ele sentia por Alice. Sabia também o que Alice sentia por ele. Por isso, ele sentiu que poderia, ao menos, fazer algo por eles.

    “Alice, você não precisa voltar.”, disse Azrael, mas sua oferta pareceu cair em ouvidos surdos.

    “Também tenho um dever a cumprir. Não posso deixar você carregar tudo sozinho.”, respondeu Alice com firmeza.

    Azrael sabia o que ela sentia. Ela era a verdadeira princesa herdeira, mas ele havia tomado esse posto anos atrás. Alice devia se sentir culpada por isso, mas aquela responsabilidade havia sido sua escolha.

    Azrael suspirou levemente antes de se dirigir novamente a Ethan. “Ethan… Eu alterei as memórias de Eriel. Ela não vai se lembrar de mim. Tudo o que fiz, para ela, será obra sua.” Azrael sabia que, para Eriel, esquecer seria um fardo mais leve do que viver com o peso daquela despedida.

    Bom, com isso, meu pacto finalmente terminou… pensou ele, com uma sensação de alívio misturada à tristeza.

    O pacto que ele fez com a mãe de Eriel, anos atrás, era simples: ele deveria protegê-la até que ela tivesse poder suficiente para se defender sozinha. Agora, Eriel era forte. Ela podia se proteger. E isso significava que não havia mais nada que o prendesse àquele lugar, àquele planeta.

    O fim estava próximo, e Azrael já não podia fugir do seu destino.

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