Capitulo 24 — Esquadrão 6
Seis meses se passaram desde que Eriel se juntou à facção humana. Os testes que ela fez foram surpreendentemente simples, talvez devido ao árduo treinamento que fez ao lado de seu irmão. Um ano antes, seu treinamento começou, e agora, Eriel estava em um nível significativamente acima da mídia na facção. No entanto, ela sabia que não poderia se sentir superior só por isso. Havia muito mais em jogo do que sua habilidade.
Há um mês, algo inesperado aconteceu. Enquanto ela desempenhava suas funções como soldado da facção, o capitão do 6º esquadrão decidiu se aposentar. Todos os membros que o seguiam foram rapidamente transferidos para outras divisões, e o esquadrão ficou vazio. Ethan, o líder da facção, tomou então uma decisão incomum: nomear um novo capitão para o esquadrão recém-desestruturado, dando-lhe a liberdade de montar sua própria equipe, escolhendo cada membro pessoalmente.
Quem foi escolhido para a carga? Eriel Facnor. A escolha de Eriel envolveu murmúrios entre os outros capitães e o conselho, que acreditavam que sua nomeação era mais política do que merecida, uma tentativa de preparação para o papel do futuro líder da facção. No entanto, Ethan discordava. Ele declarou abertamente que o poder de Eriel era reconhecido ao nível de um capitão veterano, e por isso ela havia sido escolhida. Mas ele também aprendeu os riscos: um capitão inexperiente poderia custar a vida de soldados sob seu comando. Então, pediu a Eriel que treinasse sua nova equipe e aprendesse as responsabilidades de liderança de um esquadrão.
Determinado a estar à altura do desafio, Eriel mergulhou em estudos sobre o papel de um capitão. Passou horas revisando registros de missões anteriores, tentando entender as estratégias e pensamentos por trás das ações de cada líder, desde os mais antigos até os mais novos. A precisão e a maestria com que as missões foram projetadas a impressionaram profundamente.
Entre as divisões da facção, uma se destacou: a temida e respeitada 10ª Divisão, conhecida como a “Divisão Especial”. Composta por apenas seis membros, essa unidade tinha a responsabilidade de lidar com as situações mais críticas, aquelas que as outras divisões não poderiam resolver. O capitão dessa divisão, devido à natureza do seu trabalho, era o segundo em comando, respondendo apenas ao líder da facção. Porém, misteriosamente, o 10º capitão havia desaparecido sem deixar rastros, um evento ocorrido pouco antes de Eriel fazer seu teste de admissão. A razão por trás desse sumiço era desconhecida para quase todos, exceto para Ethan.
Recentemente, uma facção havia estabelecido uma aliança com várias facções não-humanas, resultando em um novo e audacioso projeto: um intercâmbio de membros entre as raças. Seria uma oportunidade de trocar conhecimentos e observar culturas entre si. Os membros dessas facções foram designados para diferentes esquadrões, mas Eriel, agora capitão, viu uma oportunidade única. Ela pediu permissão a Ethan para recrutar todos os membros não-humanos para seu time, criando uma equipe composta por diversas raças.
Ethan ficou encantado com sua iniciativa e sugeriu que Eriel treinasse esses indivíduos e os inscrevesse na próxima competição da facção, um evento criado para determinar quem se tornaria o novo 10º esquadrão. O capitão vencedor não ocuparia apenas o lugar da divisão perdida, mas o capitão seria considerado o segundo no comando da facção, ao lado de Ethan. Para Eriel, essa era uma oportunidade vital, já que ela estava sendo qualificada como sucessora de Ethan, e deveria se aproximar de seu nível de autoridade.
Uma semana se passou desde esses acontecimentos. O novo grupo de Eriel finalmente se reuniu na área de treinamento, e no momento de conhecê-los chegara. Ela estava confiante e declarada com um sorriso genuíno ao se apresentar aos seus recrutas.
“Fico feliz em conhecê-los”, disse, esperando que suas palavras gerassem alguma empolgação.
No entanto, o grupo continuou em silêncio, e Eriel percebeu rapidamente o ar de desmotivação que emparelhava entre eles. Suas diferentes origens, culturas e experiências os tornaram cautelosos e distantes.
“Meu nome é Eriel Facnor, como já deve saber, sou a nova capitã do 6º esquadrão”, continuou ela, tentando quebrar o gelo. Mas o silêncio persistia, e os olhares dos recrutas eram avaliativos, desconfiados.
Esperava que membros de outras facções fossem mais falantes com uma recepção calorosa, pensou Eriel. Mas parece que eles têm suas próprias reservas.
Ela tentou uma abordagem mais direta.
“Vocês são representantes de suas raças e agora fazem parte da facção. Pensei que estariam mais animados para começar essa nova jornada.”
Ainda assim, os rostos dos recrutas mantêm-se fechados. Eriel percebeu que interações como aquela talvez não fossem comuns para eles, e que as dinâmicas sociais de suas raças podiam ser completamente diferentes. Nunca havia saído do planeta, e o desconhecimento sobre os costumes de outras facções pesava naquele momento. O desafio à sua frente não seria apenas moldar soldados, mas também unir diferentes raças e culturas em uma força coesa.
“Não dá para ficar animado ao notar que estamos próximos ao usuário do tempo…” respondeu com relutância um garoto de orelhas longas. Ele era Seghav, representante da raça dos elfos, uma espécie nobre que habitava um planeta repleto de árvores e paisagens exuberantes. Seus olhos castanhos e cabelos esverdeados eram características típicas dos elfos, cuja conexão com a mana do elemento ‘natureza’ era inata. A maestria dessa raça com a natureza era lendária, sendo superiores a todas as outras raças nesse aspecto.
“Seu nome é?” — perguntou Eriel, tentando estabelecer uma conexão.
“Seghav, senhorita.”
Seghav aparentava ter cerca de 13 anos, mas Eriel sabia que as aparências entre elfos e humanos eram enganosas. Ele provavelmente era muito mais velho do que parecia.
“Eu não entendo o motivo de se manterem cautelosos apenas por eu ser um usuário do tempo”, comentou Eriel, observando as respostas silenciosas de seu novo grupo. Na verdade, o que mais a intrigava era como eles descobriram que ela possuía essa habilidade.
“Uma das três magias primordiais. Você acha que somos idiotas? Você tem a mana de Luz, e sua aura é superior aos humanos. O que vemos à nossa frente é um monstro poderoso que ainda não despertou”, disse Seghav, sua voz com desconfiança.
“Ei! Seghav, você não deveria falar dessa forma com a capitã”, uma garota de cabelos vermelhos o repreendeu com um olhar feroz. Seus olhos amarelados cintilavam com uma sede de sangue que ela claramente tentava controlar.
“Você é…?” Eriel rapidamente interveio para evitar que a tensão entre eles se agravasse.
“Oh, peço desculpas pela minha atitude”, respondeu à garota, suavizando o tom de voz. “Sou Lethea Felior, segunda princesa dos vampiros.”
Eriel imediatamente reconheceu sua origem, embora Lethea não ostentasse os típicos dentes refinados que os vampiros costumavam ter nas lendas. Ela aparentava ser uma jovem de 18 a 20 anos, com um olhar doce e gentil, muito diferente das histórias que retratavam vampiros como criaturas sanguinárias e cruéis.
“É bom saber que a monarca dos vampiros permitiu que sua preciosa filha participasse da facção”, comentou Eriel, tentando manter a formalidade.
“Ela é uma filha bastarda, afinal”, provocou um dos garotos, e Eriel notou o olhar irritado que Lethea lançou na direção dele. No entanto, a princesa manteve-se em silêncio, contendo a sua ocorrência.
“Você, pode se apresentar?” Disse Eriel, voltando-se para o garoto que fez o comentário.
O garoto, que parecia ser o menor entre todos, estufou o peito forte ao ouvir sua vez. Seus olhos verdes e cabelos castanhos revelavam características típicas de sua raça. Eriel sentiu que ele poderia ser um nobre, mas sua maneira de agir estava longe de ser condizente com a classe alta.
“Sou Cledberk Hilvad, filho do comandante da facção dos anões”, declarou ele com arrogância.
O nome Hilvad era bem conhecido entre as facções. O comandante dos anões era o segundo no comando, logo abaixo do líder, o que fazia de Cledberk alguém de grande importância. No entanto, a sua atitude sugeria que ele estava mais interessado em chamar a atenção do que em respeito à posição.
“Entendo…”, disse Eriel, avaliando a postura de Cledberk.
“Você deveria mostrar mais respeito, sabia? Tive que ceder meu tempo para brincar com os humanos”, provocou o anão, com um tom desdenhoso.
“Então vá para casa”, respondeu friamente uma voz feminina.
Eriel observou enquanto a última pessoa que ainda não se apresentou caminhava na direção de Cledberk. Ela colocou a mão sobre a cabeça dele, forçando-o a baixar. Com um olhar severo e uma aura ameaçadora, Cledberk estremeceu visivelmente. A força da garota era incrível, e mesmo o jovem anão, conhecido pela força de sua raça, não conseguiu reagir.
“Quem você pensa que é…?”, Cledberk tentou protestar, mas suas palavras morreram na garganta quando descobriu que não tinha poder suficiente para se libertar.
“Anão, você parece arrogante. Saiba que esse não é o seu país. Aqui, você não tem poder. Mas se deseja continuar, morrerá”, ameaçou a garota, sua voz carregada de uma frieza mortal.
Os anões eram conhecidos por sua força física absurda, mas Eriel descobriu que a garota não estava intimidada. Ela forçou Cledberk a encará-la, e seu corpo começou a tremer. O anão, derrotado, não teve outra escolha senão se render à pressão.
“Peça desculpas à princesa vampira, ou seu pai pagará com a vida”, tentou a garota, seu tom implacável.
Cledberk, percebendo que não havia escapatória, começou a implorar pelo perdão de Lethea.
“Me desculpe, não foi minha intenção ofender você. Imploro por seu perdão e misericórdia!”
Lethea, claramente desconfortável com a situação, lançou um olhar preocupado para Eriel, sem saber como responder.
“Não se preocupe. Não guardo rancor”, disse Lethea suavemente, sua voz doce, apesar da tensão no ar.
Eriel observava a cena com fascínio. O monarca dos vampiros, conhecido por sua crueldade, havia criado uma filha gentil e compassiva. O universo, de fato, era repleto de surpresas inesperadas.
Eriel Observou a garota que havia causado toda aquela confusão. Charlotte Agor, do clã demônio, agora sorria de maneira despreocupada, mostrando parte de sua língua, como se o episódio com Cledberk tivesse sido apenas uma brincadeira. O contraste era impressionante — minutos antes, ela parecia um ser implacável, ameaçando o anão, mas agora exibia a leveza de uma garota comum, não muito diferente de Lethea.
“Peço desculpas pela apresentação tardia. Sou Charlotte Agor, do clã demônio”, ela se apresentou com a mesma despreocupação de seu sorriso.
Eriel lembrou-se de algo que seu irmão mencionou. Ethan havia falado sobre um vice-capitão que ele recomendava fortemente, e seu nome era Charlotte. No entanto, Eriel não imaginava que ela viria do clã demoníaco, uma facção com a qual os humanos haviam formado uma aliança recentemente.
Charlotte observava com seus olhos negros e cabelos vermelhos vibrantes, mantendo aquele sorriso que não revelava nenhuma emoção verdadeira. Eriel, por sua vez, não conseguiu decifrar o que se passava na mente da garota, mas uma coisa era certa: Charlotte não era uma pessoa comum.
“Charlotte… Bom, agora que todos se cumprimentaram, devemos continuar?” Eriel sugeriu.
Todos os membros da 6ª divisão estavam presentes. Normalmente, uma divisão contava com mais de 20 membros, mas Eriel decidiu que sua equipe seria composta apenas por seres de outras raças. Apesar do número reduzido, cada um deles tinha o potencial de 50 humanos. Eriel sabia que, para criar uma equipe coesa, era fundamental conhecer as habilidades e personalidades de seus companheiros. Por isso, ela se reuniu em um círculo, com o objetivo de estabelecer uma base de confiança e cooperação.
“Vamos começar a conhecer um pouco mais sobre nós mesmos”, sugeriu Eriel, buscando promover um ambiente de diálogo. “Quem gostaria de começar?”
O silêncio predominante, e ninguém parecia disposto a dar o primeiro passo. Eriel, então, decidiu começar por si mesma. “Bom, como vocês já sabem, sou Eriel, a líder deste Esquadrão.”, ela começou, refletindo por um momento. “Minha história não é muito diferente de muitos aqui, mas acho importante contá-la. Como todos sabem, sou irmã de Ethan, o líder da facção humana. Não conheci meu pai, e minha mãe faleceu quando eu ainda era muito jovem. Fui criada pelo meu irmão, e tudo o que sou hoje é graças a ele.”
Eriel fez uma pausa, ponderando sobre o que mais poderia compartilhar. “Pouco mais de um ano atrás, comecei meu treinamento com Ethan e foi nesse período que descobri minha habilidade primordial: Tempo.” Ela olhou ao redor, observando as opiniões curiosas de seus novos companheiros. “Bom… tem algo mais que gostariam de saber sobre mim?”
Lethea foi a primeira a levantar a mão, ansiosa para fazer sua pergunta. “Como é ser uma usuária de mana da luz?”, ela indagou, demonstrando interesse genuíno. Mesmo entre as raças não-humanas, o domínio dos elementos de Luz e Escuridão era raro, o que tornava Eriel uma figura intrigante.
Eriel sorriu, apreciando a curiosidade de Lethea. “Acredito que ser um usuário de Luz não seja tão diferente dos outros elementos”, começou ela, embora rapidamente percebesse que sua resposta talvez fosse simplista demais. “Na verdade, soa arrogante falar assim. Deixe-me reformular. A mana de Luz me permite usar os outros quatro elementos-base, porém com um poder limitado. Além disso, posso amplificar o poder da minha magia ao canalizar a mana de Luz .”
Ela fez uma pausa, certificando-se de que todos estavam acompanhando. “Por exemplo, ao usar mana de Luz em um feitiço de cura, posso dobrar o poder da cura. No entanto, essa habilidade vem com um custo. A mana de Luz consome muito mais energia do que os outros elementos.”
Lethea parecia absorver as informações com atenção, seus olhos amarelos brilhando com compreensão. “Deve ser difícil…”, ela comentou, satisfeita com a resposta.
“De certa forma, sim. É uma habilidade extrema poderosa, mas exige um controle para não gastar toda a minha mana em pouco tempo”, acrescentou Eriel, aproveitando o momento para ensinar algo sobre suas limitações.
Eriel então olhou para os demais, incentivando-os a continuarem. Agora que ela havia quebrado o gelo, esperava que seus novos companheiros se sentissem mais confortáveis para compartilhar também. O caminho para fortalecer a 6ª Divisão estava apenas começando, e conhecer o fundo de suas forças e fraquezas seria o primeiro passo para transformá-los em uma verdadeira equipe.
Eriel olhou ao redor, observando a paixão crescente em seu esquadrão. As perguntas deles não só mostravam curiosidade, mas também desejo de compreensão e aprendizado. Ela sabia que aquele momento era crucial para estabelecer uma conexão mais profunda com seus companheiros.
“Próxima pergunta?”, Eriel incentivou.
Cledberk levantou a mão com confiança e fez uma pergunta que refletia seu interesse pelos humanos.
“Como é a vida de um humano? Ouvi dizer que a maioria de vocês não sabe sobre a existência de outras raças.”
Eriel sorriu levemente. Era uma pergunta interessante, e ela sabia que a resposta poderia abrir portas para mais compreensão.
“Com o decreto do Deus Supremo, os humanos não tiveram interações com as outras raças por muito tempo. Muitos ainda veem vocês como mitos ou lendas”, começou Eriel, explicando pacientemente. “Os líderes das gerações anteriores desejam proteger os humanos, manter o equilíbrio e evitar guerras. Se os humanos souberem da existência de outras raças, isso poderia gerar caos e destruição.”
Cledberk refletiu por um momento. “Vocês, membros da facção humana, nunca consideraram contar a verdade?”
Eriel balançou a cabeça.
“Seria um risco. A humanidade é gananciosa. Alguns ficariam maravilhados, outros tentariam dominar o que não compreendem. O segredo é a paz, mesmo que imperfeito.”
Seghav, o elfo de orelhas longas, tomou a próxima vez e disse de forma cautelosa:
“Você já tem controle sobre sua habilidade primordial?”
Eriel concordou com um leve sorriso.
“No começo foi difícil. A habilidade ‘Tempo’ é complexa e perigosa. Mas, com treinamento constante com Ethan, eu consegui dominá-la. Não digo que consigo usar todo o potencial do Tempo, mas o que aprendi, controlo com maestria.”
Os olhos de Seghav brilharam com respeito. A habilidade primordial do Tempo era algo lendário, e saber que ela a dominava deixava-o sentido.
Antes que alguém mais pudesse falar, Charlotte levantou a mão, animada, mas com sua leveza habitual.
“Agora é a minha vez… Mas antes de perguntar, como devemos chamá-la?”
Eriel viu uma hesitação nas palavras de Charlotte. Normalmente, os soldados chamavam seu capitão por títulos formais, mas isso incomodava. Ela odiava a sensação de superioridade imposta pela posição.
“Podem me chamar apenas de Eriel”, respondeu, com segurança.
Charlotte feliz, satisfeita com a resposta. “Então, Eriel… Você já teve interação com outras raças antes de nos encontrarmos?”
Eriel ponderou por um momento, sabendo que sua resposta surpreenderia a todos.
“No início do meu treinamento, conheci o Dragão do Tempo, Zoe. Fora isso, vocês são minhas primeiras interações reais com outras raças.”
Os olhos de todos no grupo se arregalaram de espanto.
“Espera, você conheceu o Dragão do Tempo… Aion?” Lethea perguntou com incredulidade.
Eriel sorriu ao se lembrar da poderosa Zoe.
“Sim. Você conhece sua história?”
Cledberk foi o primeiro a responder, sua voz contém admiração.
“O dragão do Tempo é um dos cinco Imperadores. Não há uma raça que não conheça sua história.”
“Você gostaria de conhecê-la?”, perguntou Eriel, já imaginando a motivação que viria.
O grupo respondeu em uníssono com um sonoro:
“Sim!!”
Eriel riu ao ver o entusiasmo de todos. Embora ela não tivesse certeza se Zoe poderia se manifestar no mundo físico naquele momento, a ideia de apresentá-los ao dragão em seu mundo interno fez sentir uma conexão crescente com seus novos companheiros. Para Eriel, isso era mais do que uma missão simples; era o início de algo maior, uma união que poderia transcender raças e mundos.
“Assim será. Mas não agora”, respondeu Eriel, mantendo o mistério sobre Zoe, o dragão do Tempo. Ela queria discutir o assunto com Zoe antes de apresentá-la ao grupo, mas sabia que o momento certo viria.
Seghav, curioso como sempre, não resistiu em continuar a discussão:
“Se você é um dos cinco imperadores, significa que conhece os outros?”
Eriel balançou a cabeça.
“Não. Desde que conheci Zoe, não ouvi falar dos outros.” Ela mesma estava intrigada, pois Zoe nunca mencionou os outros dragões.
Charlotte, porém, fez silêncio até que Seghav olhou para ela com surpresa.
“Charlotte, o atual rei demônio, não é um dos cinco também?”
A conversa começou a ganhar mais camadas, e o grupo começou a debater entre si. Era exatamente o que Eriel esperava.
Cledberk foi o primeiro a interromper, seu tom cheio de confiança.
“Não seja tolo. O Rei demônio é a reencarnação do dragão do caos. Ele não é um dos cinco Imperadores, ele é o Deus dragão.”
Eriel, observando uma troca de informações, começou a captar os fragmentos da história sobre o Rei demônio e sua reencarnação. Lethea, sempre mais contida, confirmou timidamente:
“Ele está certo. O deus dragão era o mais forte de todos, o líder da raça dos dragões.”
Todos os olhos voltaram para Charlotte, aguardando uma resposta mais completa. Ela suspirou antes de começar.
“Sim, é verdade. O atual Rei demônio é a reencarnação do dragão do caos. E, como os outros dragões, ele herdou a habilidade do dragão. A habilidade nascente dele é a ‘Dominação’, uma ordem absoluta.”
Eriel franziu a testa. Isso fez com que o Rei demônio, assim como ela com a habilidade do Tempo, carregasse o poder do dragão. Mas parecia que havia mais.
Lethea, que claramente sabia muito sobre o Rei demônio, fez uma pergunta que surpreendeu o grupo:
“Ouvi dizer que o atual rei tem três habilidades nascentes. Isso é verdade?”
Charlotte concordou com um olhar sério.
“Sim. Além da habilidade do dragão, Dominação, ele tem sua própria habilidade nascente, que permite copiar qualquer magia, técnica de luta ou habilidade. E a terceira habilidade que ele tem é chamada de ‘Maldição’. Ele dividiu essa maldição em quatro partes e se transformou na base das habilidades dos quatro cavaleiros do apocalipse.”
Eriel ficou impressionado. O conceito de dividir uma habilidade nascente era fascinante, mas o fato de alguém ter três habilidades nascentes era algo sem precedente.
“Então… As maldições dos cavaleiros vêm diretamente do rei?”
Charlotte confirmou:
“Exatamente. Cada um dos cavaleiros carrega uma parte da maldição do Rei demônio.”
O grupo ficou em silêncio por alguns momentos, refletindo sobre as informações. Era raro, quase inédito, alguém tinha duas habilidades nascentes, e o Rei demônio ter três era um feito histórico. Para Eriel, essa revelação sobre as diferentes habilidades entre raças a fez perceber o quão vasto e poderoso era o mundo fora do domínio humano.
Seghav, que até então não parecia interessado, decidiu mudar o tom da conversa ao perguntar:
“Ouvi que o rei demônio, Azrael, vai se casar com a primeira princesa do clã dos vampiros. Isso é verdade?
A menção do nome “Azrael” fez Eriel sentir uma pontada no peito, como se algo não estivesse certo. O nome do rei demônio causava uma sensação de desconforto, como um gosto amargo. Todos os olhos se voltaram para Lethea, a mais informada quando o assunto era vampiros.
Lethea confirmou, hesitante:
“Minha irmã insiste que nosso pai arranjou o casamento. A cerimônia está marcada para daqui a dois meses. Não sei se os noivos estão felizes, mas é uma oportunidade de garantir a paz entre os demônios e os vampiros.”
Embora Eriel não estivesse familiarizado com as culturas de outras raças, sentia que um casamento político entre demônios e vampiros não poderia ser uma solução rigorosa. Ela conhecia fragmentos da história entre o rei demônio e a monarca dos vampiros, e a relação entre eles parecia ser tenso.
Cledberk, curioso, perguntou:
“Com essa conferência entre as raças da aliança, será que poderemos ver o rei dos demônios?”
A conferência entre as raças estava marcada para acontecer em duas semanas, na sede do clã humano. Era uma rara oportunidade de reunir os líderes de cada facção. Eriel também se perguntou sobre o rei, pois sabia que ele havia desaparecido por um tempo antes de assumir o trono.
Charlotte respondeu com conhecimento de causa:
“Acho difícil. Apenas os líderes das facções e seus representantes estarão presentes.”
Lethea olhou para Eriel:
“Isso significa que você participará?”
Eriel concordou. Como capitão, ela tinha que representar Ethan no encontro, ao lado de outros líderes.
“Sim, estarei lá. Não sei muito sobre o que será discutido, mas meu papel não será central. Espero que tudo ocorra bem.”
Este seria o primeiro encontro formal entre os líderes de cada facção desde que a aliança foi formada com os humanos. Era uma oportunidade rara e Eriel sabia que aproveitaria o momento para conhecer melhor as raças aliadas.
De repente, Seghav voltou sua atenção para Charlotte.
“Espera! Charlotte, você disse que seu sobrenome é Agor, certo?”
Charlotte pareceu surpresa, mas logo foi confirmada:
“Sim. Agor é o nome escolhido por meu pai.”
Agnor… Já ouvi esse nome antes, pensou Eriel.
Cledberk, com sua memória afiada, contínua:
“Então você é filha do conselheiro real Asmodeus Agor?”
O nome “Asmodeus” ressoou na mente de Eriel. Asmodeus era mais do que apenas um conselheiro real. Ele era uma figura central, conhecida como um dos reis do inferno e o responsável pela rebelião no reino celeste ao lado de Lúcifer. Nos livros antigos, ele é classificado como o “Luxúria” e havia sido conselheiro do antigo rei demônio.
Charlotte concordou, com um sorriso enigmático:
“Sim, ele é meu pai.”
Cledberk estava intrigado.
“Então você conheceu o atual rei demônio, quando ele ainda era um príncipe?”
O semblante de Charlotte se suavizou, e ela olhou para o passado.
“Não conheci Azrael quando fui resgatado e reconhecido como príncipe. Mas nos tornamos grandes amigos… Fui treinada para ser sua conselheira, afinal. Mas desde o desaparecimento do antigo rei, perdi o contato com ele. Não o vejo desde então.”
A menção de Azrael novamente trouxe uma sensação desconfortável a Eriel. Algo na ideia desse rei demônio a incomodava profundamente, mesmo sem saber o motivo. O nome dele parecia carregar um peso insuportável.
Cledberk notou um detalhe:
“O rei demônio foi resgatado? O que aconteceu?
Charlotte hesitou antes de continuar:
“Houve uma guerra no passado. O jovem príncipe foi levado por um grupo e demorou anos até ele retornar. Após seu retorno, ele herdou o trono, mas os detalhes são assuntos do reino demoníaco.”
Ela fez uma pausa, e seu tom mudou para algo mais definitivo:
“Prefiro não falar mais sobre o rei atual, por favor.”
Eriel respeitou o desejo de Charlotte, entendendo que havia vozes profundas nessa história. Em vez de continuar, decidiu avançar com o treinamento. Ela sabia que, para liderar seu esquadrão com eficiência, precisava conhecer as habilidades e o potencial de cada um.
“Vamos começar nossa aula de estratégia e treinamento”, anunciou Eriel. “Quero avaliar o poder de cada um de vocês.”
Este foi o primeiro ano deles na facção, e as missões até agora eram de baixo risco, envolveram reconhecimento e tarefas que poderiam ser realizadas por humanos. Mas Eriel sabia que missões mais perigosas estariam no horizonte, e ela precisava estar preparada.
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