Capítulo 25 — Diário
Quando o treinamento de Eriel terminou, ela recebeu um comunicado oficial — uma ordem direta do líder da facção. Como capitão de sua própria equipe, era seu dever atender prontamente ao chamado. Deixar o líder esperando poderia ser visto como uma ofensa grave.
Eriel foi até o último andar do prédio da facção, uma área restrita aos soldados de alto nível.
Espero que seja algo importante, pensou Eriel, sentindo a leve tensão em seu peito enquanto seus passos ecoavam pelos corredores silenciosos e iluminados por luzes mágicas que flutuavam ao longo das paredes de pedra.
Ao chegar à sala de Ethan, ela ficou surpresa. Não havia uma atmosfera formal e opressiva como esperada. Em vez disso, seu irmão a recebeu com um sorriso afetuoso. Ele acompanhou com os olhos cada movimento dela até que Eriel se acomodasse em uma cadeira próxima à sua mesa. O ambiente era acolhedor, decorado com flores que sua mãe adorava, e o aroma suave de incenso enchia o ar, dando uma sensação de paz e nostalgia. Nas paredes, algumas fotos antigas da família decoravam o local, e isso fez o coração de Eriel se apertar.
“Você está se acostumando com seu novo carga?” Disse Ethan, ainda com um tom leve.
Eriel pensou por um momento. Não estava atuando como capitã há tempo suficiente para se sentir completamente confortável. Ela sentia o peso de suas vidas sob sua responsabilidade e sabia que a segurança de seus companheiros dependia de suas decisões. Mas também havia algo mais profundo. Ser capitã não era apenas uma questão de comando, mas de manter a paz e a estabilidade em um mundo em constante ameaça.
“Ainda não completamente… mas espero contribuir para a facção.” Sua resposta foi sincera, mas carregava uma humildade que talvez ela mesma não percebesse.
Ethan sorriu, inclinando-se levemente para a frente, como se quisesse tornar o ambiente ainda mais íntimo.
“Eu entendo… Mas agora, não estou falando como líder da facção. Estou falando como seu irmão.”
Ao ouvir essas palavras, Eriel sentiu um peso sair de seus ombros. No dia a dia, a rigidez de sua posição a obrigava a tratar Ethan com o respeito formal que sua autoridade exigia. Mas ali, naquele momento, não havia o líder da facção. Apenas seu irmão mais velho.
“Então é assim… Sabe, imaginei que seria mais fácil.” Eriel brincou, soltando uma leve risada enquanto relaxava um pouco na cadeira. Mas ela não estava pensando. A rotina como capitã vinha com uma carga de responsabilidades, e até mesmo a burocracia de relatórios e papéis parecia interminável.
“Ah, eu te entendo bem”, respondeu Ethan, com um tom nostálgico. “Quando assumi a carga do líder da facção, foi extremamente difícil. Mas tive alguém ao meu lado para me ajudar.”
Uma lembrança fez Eriel se calar por um momento. Ethan se tornou líder muito jovem, logo após a morte de sua mãe, quando ela tinha apenas cinco anos. Desde então, ele carregava a responsabilidade de toda a facção, além de cuidar dela. Eriel sabia o quanto ele havia sacrificado.
De repente, Ethan cortejou a seriedade com um sorriso travesso.
“Deixando esses assuntos de lado… Feliz aniversário!”
Dois presentes surgiram debaixo da mesa. O primeiro tinha o nome de Eriel escrito com letras delicadas, embalado em um papel vermelho. O segundo, envolto em um papel preto com uma fita dourada, não tinha nenhuma indicação de quem o havia enviado.
“Espero que você goste dos presentes”, disse Ethan, seus olhos brilhando com a expectativa, como os de um cachorro aguardando aprovação. Aquele olhar fez Eriel sorrir, sentindo o calor familiar entre os dois.
Ela decidiu abrir o presente com seu nome primeiro. Dentro, encontrei um pingente dourado e um pequeno livro de capa artesanal. Na capa do livro, lia-se “Diário de Júlia Facnor” , o nome de sua mãe. E no pingente, uma foto antiga — uma imagem de sua mãe, Ethan e ela mesma, tirada poucos dias antes do trágico acidente que havia tirado a vida de sua mãe.
“Ela queria te dar isso no seu aniversário de cinco anos…” disse Ethan, a voz mais suave, relacionada à emoção. “Eu só descobri esse diário há alguns dias, quando o encontrei entre as coisas dela aqui na facção.”
Eriel sentiu um nó na garganta ao segurar o pequeno diário. Seus olhos encheram-se de lágrimas enquanto olhavam para o pingente, a memória de sua mãe tão presente naquele objeto simples. Ela tentou segurar o choro, mas não conseguiu. As lágrimas escorriam silenciosamente por seu rosto enquanto ela acariciava o diário, sentindo a presença de sua mãe como nunca antes.
“…Obrigada…” sussurrou, a voz quebrada pela emoção. Não havia palavras suficientes para expressar o que sentia naquele momento. O presente era inestimável.
“Eu li o diário”, continua Ethan, sua voz suave, mas firme. “Foi assim que descobri que era para você. Espero que goste de ler o que ela escreveu.”
Eriel estava ansioso para explorar as palavras de sua mãe, mas isso podia esperar. Ela respirou fundo e se preparou para abrir o segundo presente. Dentro, encontrou um par de brincos em formato de pequenas ampulhetas douradas. Dentro, a areia parecia cair infinitamente, como se estivesse presa em um fluxo constante de tempo. Mesmo ao girar as ampulhetas, a areia continuava seu caminho, ignorando as leis da física.
Havia algo especial naqueles brincos. Eriel sentiu uma magia familiar neles, algo relacionado ao tempo, uma magia semelhante à que ela possuía. No entanto, havia algo mais, uma magia antiga e poderosa que ela ainda não compreendia completamente.
Quando Eriel desfez o embrulho do presente, encontrou algo mais do que apenas os brincos — havia um pequeno manual junto, explicando as funcionalidades do intrigante objeto.
Os brincos, com suas ampulhetas douradas e a areia infinita, carregavam três habilidades mágicas distintas. A primeira, chamada “Eterno” , era uma magia do Tempo que permitia que a areia caísse continuamente em uma única direção, sem nunca parar. A segunda magia, “Núcleo Externo de Mana” , possibilitava que a mana fosse armazenada no objeto, funcionando como um reservatório. Eriel poderia guardar sua mana nos brincos e passá-los para outra pessoa, que então teria acesso à energia armazenada. Além disso, os brincos converteram mana elemental em mana pura, tornando-se versáteis para qualquer usuário. A última habilidade, “Espaço Distorcido”, permite ao portador dos brincos criar uma pequena fenda no tempo-espaço, capaz de armazenar objetos em um espaço privado, acessível apenas ao usuário dos brincos.
Curiosa, Eriel seguiu as instruções do manual e colocou os brincos. Assim que fez isso, sentiu a mana em seu corpo, se concentrou na ampulheta dourada, uma sensação suave, como se a magia estivesse interagindo delicadamente com ela. Apenas uma pequena quantidade de sua energia foi sugada pelos brincos, algo que se reporia naturalmente em questão de minutos.
“Isso é incrível… Foi você quem fez?” Eriel perguntou, imaginando que o presente, por ter vindo de Ethan, tinha sido obra dele.
Ethan falou, balançando a cabeça em negação, seu olhar divertido.
“Não, não… Foi o meu mestre quem fez. Eu mencionei seu aniversário, e ele decidiu te presentear com algo especial.”
Eriel levantou a sobrancelha, surpresa. Não sabia que Ethan tinha um mestre.
“Mestre?”
“Ah, é verdade, acho que nunca te falei sobre ele,” Ethan começou, sua expressão tornando-se um pouco mais séria. “Ele foi responsável pelo treinamento da nossa mãe e também pelo meu. Era um membro da facção, mas teve que sair devido a certas… situações.”
A menção de sua mãe, a poderosa segunda chefe da facção, fez Eriel se calar por um momento. Sua mãe era uma lenda, conhecida como o mais forte da história da facção, enquanto Ethan tinha o título de líder mais sábio. O fato de ambos terem sido treinados por essa figura misteriosa aguçou ainda mais sua curiosidade.
“Então, foi ele o responsável pela força avassaladora que a mamãe tinha?” Eriel disse, sua voz carregando uma mistura de admiração e nostalgia. Durante muito tempo, ela acreditou que Ethan era o mais forte da facção, mas ao descobrir mais sobre sua mãe, viu que seu irmão não chegava a se comparar ao poder dela.
Ethan concordou lentamente, seu olhar se perdeu por um instante.
“Exatamente… Nosso mestre tem o dom de ensinar pessoas. Ele viu potencial em nossa mãe e a ajudou a alcançar um nível que poucos sequer sonham. Mas… as coisas não terminaram da melhor maneira para ele.”
O tom de Ethan ficou um pouco melancólico ao lembrar-se de seu mestre, e Eriel notou uma sombra de tristeza em seus olhos, algo raro de se ver em seu irmão.
“Bom”, Ethan voltou ao seu tom habitual, esbanjando nostalgia com um sorriso. “Meu presente vai ser enviado mais tarde. Desculpe por isso, mas agora tenho que resolver outros assuntos.”
“É sobre uma reunião?” Eriel perguntou, já tinha uma resposta.
Ethan suspirou, claramente exasperado.
“Sim. O rei dos demônios e a Monarca dos vampiros foram colocados na mesma sala por engano… A situação pode ficar um pouco tensa.”
Eriel já tinha ouvido falar da rivalidade terrível entre essas duas potências. Colocá-los na mesma sala era uma receita para o caos, e a facção, por mais poderosa que fosse, não poderia intervir diretamente em conflitos entre os dois.
“Boa sorte,” Eriel desejou, pronta para sair da sala, mas foi interrompida pelo irmão, que a chamou novamente. Ao se virar, ela viu o sorriso astuto e malicioso de Ethan, o que fez sentir um arrepio na espinha.
“Pensando bem… Você será a responsável por cuidar daquela sala. Boa sorte,” ele disse com uma expressão que misturava diversão e desafio.
“O quê!?” Eriel exclamou, surpresa, mas antes que pudesse protestar, Ethan continuou.
“E não é só isso. A vovó solicita sua visita. Seria bom você ir até lá com seu grupo. Parece que pode haver um problema na vila, e ela pode precisar de sua ajuda.”
Eriel soltou um suspiro profundo. De repente, sentiu-se pressionado entre duas situações complexas — a tensão entre o rei dos demônios e a Monarca dos vampiros e uma missão na vila de sua avó.
“A vovó é a primeira líder… Não sei como posso ajudar alguém tão forte quanto ela”, comentou Eriel, duvidando de sua própria capacidade.
Ethan riu suavemente.
“A idade é uma inimiga cruel. A vovó não é mais tão forte quanto costumava ser. Apenas ajude no que puder.”
“Entendido,” Eriel respondeu, aceitando a tarefa. Não era apenas um pedido do antigo líder, mas também uma ordem do atual líder.
“Ah, é mais uma coisa”, disse Ethan enquanto Eriel se preparava para sair. “Charlotte parece ser bastante competente, então decidi que seria meu vice. É uma recomendação sua, afinal.”
“Fico feliz em ouvir isso”, respondeu Ethan, satisfeito.
Após um longo dia de atividades, Eriel se sentiu exausta, mas satisfeita. Seu time demonstrava grande potencial, e ela não conseguia deixar de pensar no futuro promissor do grupo. Cada membro trazia algo único — magias poderosas, esgrima habilidosa, combate corpo a corpo impecável. A ideia de moldá-los em uma unidade coesa acendeu.
Mesmo sendo um grupo pequeno, ela sabia que, com o tempo, quando aprendessem a trabalhar em equipe, poderiam se tornar um dos esquadrões mais fortes da facção. Ainda havia a opção de recrutar mais membros, mas Eriel preferia uma equipe pequena. Quanto mais pessoas, mais difícil seria coordenar e liderar de maneira eficiente.
Assim que chegou ao seu quarto, Eriel tirou as botas e, sem perder tempo, colocou a chaleira no fogo enquanto pegava o diário que Ethan lhe havia dado. Havia algo reconfortante na ideia de ler as palavras de sua mãe, especialmente algo tão pessoal quanto aquele diário. O caderno parecia velho, com as páginas amareladas pelo tempo e várias palavras ilegíveis, o que a fez suspirar levemente.
Decidida a restaurar o diário, Eriel colocou a mão sobre ele e murmurou baixinho:
“Retroceder.”
Sua habilidade fluiu suavemente pelo livro, revitalizando-o. A energia mágica corrigiu o desgaste, como se o diário fosse reescrito naquele instante. As letras que antes foram desaparecidas ressurgiram, nítidas e claras. Satisfeita, Eriel abriu a primeira página e começou a ler.
“Parabéns, minha criança. Espero que receba este presente que fiz com tanto carinho…”
As palavras de sua mãe a envolveram como um abraço caloroso. Era como se sua mãe estivesse ali, falando diretamente com ela. O diário foi escrito antes de seu nascimento, algo que surpreendeu Eriel. Sua mãe desejava registrar cada detalhe importante, tanto do presente quanto do futuro.
“Quando descobri estar grávida, fiquei imensamente feliz. O período mais feliz da minha vida foi quando Ethan nasceu, mas agora tenho dois momentos de alegria. Já consigo imaginar você caminhando pela sala, brincando por todos os lados.”
Eriel sorriu ao imaginar a cena descrita. As palavras traziam um calor profundo ao seu peito, e ela podia quase ver sua mãe escrevendo essas linhas, antecipando o futuro.
“Você veio ao mundo, minha criança. E, como imaginei, você é linda. Ao te segurar nos braços, notei algo especial: seu poder. Sua aura é tão forte… Para um bebê humano, você já nasceu com uma quantidade de mana incomum.”
Eriel ficou surpresa por um instante. Sua mãe havia percebido sua força desde o nascimento. Aquela constatação, que vinha de alguém tão poderoso quanto sua mãe, fez com que Eriel refletisse sobre o peso das expectativas.
A leitura contínua, agora imersa nas memórias de sua mãe.
“Hoje é o dia em que você conhecerá ‘Ele’. Imagino como será o encontro… Minha mãe me contou que, quando eu era pequena, sempre brincávamos juntos. Espero ver a expressão dele ao te encontrar pela primeira vez. Normalmente, você chora quando está nos braços de outras pessoas, Mas talvez com ele seja diferente.”
A cada linha, Eriel sentia o carinho e a expectativa de sua mãe, especialmente sobre essa figura misteriosa chamada apenas de “Ele”. Uma curiosidade começou a despertar em Eriel, que continuou folheando o diário com ainda mais atenção.
“Não foi como eu imaginei… Fiquei um pouco decepcionado. Achei que você choraria ao ser seguro por ele, e eu riria disso. Mas você não chorou, minha criança. Na verdade, você sorriu e brincou com ele como se fossem amigos de longa data. Fiquei surpresa, mas feliz. Ethan também pôde ver seu amigo novamente.”
Eriel levantou as sobrancelhas ao ler isso. Quem seria ‘Ele’? Era um amigo de Ethan, mas a maneira como sua mãe falava parecia implicar algo mais profundo. Havia uma admiração nas palavras de sua mãe, algo quase romântico.
Eriel franziu o cenho, perdida em pensamentos.
“Uma paixão… ou admiração?”, murmurou, tentando entender.
De repente, o som suave da chaleira interrompeu seus devaneios. O chá estava pronto. Ela se moveu, foi até a pequena mesa no canto do quarto e preparou sua xícara de chá. Por sorte, tinha guardado alguns doces que haviam feito mais cedo, embora não tivesse tempo de prová-los antes.
Sentando-se confortavelmente com o chá e os doces, Eriel voltou ao diário. A cada página, sentiu-se mais conectada à sua mãe, revivendo aquelas memórias através das palavras.
“Criança, você já observou o mundo pelo lado de fora? Isso pode soar sem sentido para falar com você agora, tendo apenas cinco anos… Mas existe uma vastidão lá fora, cheia de criaturas fantásticas e seres que, para nós, podem parecer tirados dos contos de fadas. Aqueles mesmos contos que você ama ouvir.”
“Antes de você nascer, percorri um longo caminho em busca de conhecimento. Esse conhecimento me permitiu ver lugares que jamais imaginei serem reais. Conheci planetas inteiros cobertos de florestas, árvores tão altas que superam os prédios humanos, e criaturas que fazem humanos parecerem formigas ao seu lado. Até demônios.”
“Sim, sua mãe viu o mundo dos demônios. E lá, conheci pessoas e seres impressionantes… talvez até mais do que você um dia imaginária. E, por mais incrível que aparente, tive a chance de ver algo que raramente alguém de fora vê. Encontrei um anjo verdadeiro. Uma existência magnífica e rara, que apareceu diante dos meus olhos.”
“Era uma criatura de beleza indescritível, irradiando uma gentileza que parecia envolver tudo ao seu redor. Suas asas eram lindas, e, naquele momento, senti que tinha me tornado a humana mais sortuda do mundo.”
“Foi inteligente, pois, naquele instante, cheguei a confundi-lo com uma mulher! Quando percebi que era um homem, a primeira coisa que passou pela minha mente foi: ‘Ele é um homem? E ainda assim, é mais bonito do que eu…’ Ah, o universo é realmente fascinante, pequena.”
“Mas quero que você saiba que a felicidade não está apenas nesses mundos extraordinários; ela também existe aqui, em lugares e momentos que nos são familiares. Esse é um dos maiores segredos que descobrimos.”
“Segui com meu treinamento na facção humana. Posso dizer que foram os melhores anos da minha vida. Foi nesse tempo que, por acaso, acabei me apaixonando. Mas o amor não era recíproco… Sinto que ele sabia o que eu sentia , mas optou por não demonstrar. Doía, um pouco… mas sua mãe é forte, e eu poderia seguir em frente Algum dia, talvez, eu supere totalmente.”
“Foi na facção que conheci seu pai. Ele parecia gentil, dedicado a fortalecer nossa organização. Com o tempo, pensei que ele era o homem ideal para estar ao meu lado, já que o outro não se importava comigo da mesma forma. Parecia perfeito… até descobrir que ele só estava na facção por interesse, atraído apenas por dinheiro.”
“Quando viu que eu seria o próximo líder, seu pai mudou ainda mais. Eu, iludida, decidi que ele era uma escolha certa. Tivemos um filho maravilhoso, e mais tarde, uma garotinha gentil. Você e seu irmão são o que tenho de mais precioso. Por isso, não reclamo do homem que me ajudou a trazer ao mundo minhas duas maiores alegrias.”
“Claro, seu pai é parte do passado agora. Quando soube que estava grávida, ele desapareceu…”
A cada linha, Eriel sentia o peso do amor e a preocupação de sua mãe, além de uma responsabilidade que nem imaginava possuir.
“…”
Mesmo para Ethan, sendo muito poderoso, não existe comparação. Ela ainda é considerada a mais poderosa e o próprio Ethan comentou que nem se compara à nossa mãe.
Eriel continuou lendo o diário, mas só havia assuntos do dia a dia. Alguns detalhes sobre suas missões, mas não durou muito, já que Eriel finalmente chegou na última pagina.
Eriel continuou a leitura com os olhos marejados, sua mão tremenda ao virar as páginas do diário. Cada palavra parecia carregar o peso do tempo e da saudade que sua mãe sentiu antes de partir.
“Hoje é o seu aniversário de 5 anos. Pensei em te entregar o livro hoje, mas tem algo que quero fazer antes de entregar. Decidi me declarar para o homem que amo. Como a última parte do livro, decido escrever a sua resposta. Me desejo sorte, minha criança. Em dois dias voltarei para escrever a resposta e te entregar o meu tão querido diário.”
Essas palavras, cheias de esperança e emoção, tocavam seu coração de uma forma que Eriel não sabia descrever. Sua mãe queria tanto dividir aquele momento com ela, mas a vida não lhe foi permitida.
“Estou tão feliz que não posso descrever. Pedi para a sua avó levar você e o Ethan primeiro. Estamos preparando uma festa de aniversário para você. Como estou ocupado com uma missão, demorarei um pouco mais para chegar. Faz um ano que não vejo’ Ele’, a animação e o frio na barriga são as sensações que tenho ao lembrar que preciso tomar coragem para falar sobre meus verdadeiros sentimentos. Mais uma vez, me deseje sorte, sua mãe precisará.
A última linha parecia um suspiro, uma confissão de que sua mãe também estava ansiosa, vulnerável, e cheia de amor por aquele momento que ela esperava tanto. Eriel sentiu que poderia imaginar sua mãe, esperando, com o coração acelerado, ansiosamente para se declarar, mas, ao mesmo tempo, com medo de tudo o que estava por vir.
Eriel se viu envolvido por um turbilhão de sentimentos enquanto refletia sobre cada linha do diário, cada emoção e desejo não realizado de sua mãe. O peso daquelas palavras escritas, o sacrifício por ela e por Ethan, e o amor não declarado foram impressos em sua mente como marcas indeléveis. Era como se estivesse revivendo a dor de sua mãe e, ao mesmo tempo, sentindo um vazio que jamais poderia ser necessário.
As lágrimas escorriam sem ela conseguir contê-las, um reflexo da tristeza e do fardo que agora compreendia. A promessa não cumprida, o afeto que nunca foi expresso — tudo parecia trágico e irremediável.
“Eu li seu diário, mãe…” murmurou Eriel, sentindo o eco das palavras ressoar em seu quarto vazio.
Aquela noite foi longa e inquieta. A leitura deixou um gosto amargo que teimava em não desaparecer, e o sono parecia uma tarefa quase impossível. Quando, por fim, conseguiu adormecer, foi arrebatada por um sonho estranho: uma figura envolta em sombras surgiu, sua presença enigmática e sombria murmurou palavras que ecoaram pela noite.
“Não confie em suas memórias.”
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