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    Traidor?

    Eriel não conseguiu acreditar nas palavras do Monarca. Um traidor dentro da aliança era algo inconcebível. Se isso fosse verdade, informações cruciais sobre a batalha iminente poderiam já estar comprometidas. Descobrir a identidade do traidor e lidar com ele seria o próximo passo lógico, mas a gravidade da situação a deixava inquieta.

    “Quem é o maldito traidor? Devemos lidar com ele imediatamente, não?” A indignação escapou de seus lábios antes que pudesse se conter.

    “Você está certo”, respondeu o Rei, a calma em sua voz contrastando com a seriedade de suas palavras. “Porém, devemos agir com cautela.”

    O Rei fica em silêncio por um instante, mas sua expressão seria falando por si. Ele parecia pesar cuidadosamente cada palavra antes de finalmente falar.

    “Você não odeia os membros da Aliança?” provocou o Monarca, desviando o olhar para o Rei. “Então por que tolera um ao seu lado?”

    “Matar o traidor agora seria um desperdício”, respondeu o Rei, firme. “Estamos preparando uma emboscada.”

    Eriel se surpreendeu com o que ouviu. A situação está sob controle?

    “Me avise quando for o momento”, disse o Monarca, em um tom frio que fez Eriel estremecer. “Eu sei exatamente como lidar com isso.”

    A tensão no ar era quase palpável. Havia uma animosidade silenciosa em torno do tema, que parecia ser compartilhada por todos na sala.

    O olhar de Eriel voltou para os dois líderes. A ideia de um traidor era perturbadora. Como eles poderiam estar tão calmos? A aliança, afinal, era composta por seres de todas as facções, incluindo humanos.

    Os humanos…

    Ela ouviu histórias. Criaturas que não hesitaram em dizimar tudo o que cruzava seu caminho. Desde que seu novo líder assumiu, a aliança se tornará cada vez mais agressiva, com tentativas constantes de conquistar planetas inteiros.

    Nos registros antigos, o líder anterior parecia motivado por um desejo de vingança contra os deuses. O atual, entretanto, foi movido apenas por destruição. Talvez fosse esse o motivo de tanto ódio e desconfiança em relação à Aliança.

    “Vamos parar por aqui”, interrompeu o Rei, encerrando o assunto com um tom decisivo. “Logo você saberá sobre os planos que proponho.”

    “Muito bem. Não vou interferir em sua decisão”, respondeu o Monarca, cruzando os braços e relaxando a postura.

    Com isso, a conversa cessou. O ambiente, antes carregado de tensão, tornava-se estranhamente pacífico. Contudo, o Monarca parecia impaciente, seus olhos se voltavam constantemente para o relógio, como se desejasse que o tempo passasse mais depressivo.

    “Ah… estou entediado”, comentou Vlad, soltando um suspiro desanimado.

    Ele desviou o olhar para Eriel, um leve sorriso surgindo em seus lábios.

    “Garota humana, você está aqui para entreter esses dois velhos, certo?”

    “Você pode se considerar velho, mas eu não”, respondeu o Rei, com um tom seco.

    “Aos olhos dela, você tem a idade de um ancestral.”

    O Rei, como de costume, ignorou a provocação da Monarca, limitando-se a um sorriso enigmático. Talvez ele concordasse, ou talvez não quisesse dar a Vlad a satisfação de uma resposta.

    “Isso não é verdade,” interrompeu Eriel, firme, sua voz cortando a conversa como uma lâmina. “Pensei no Monarca como um homem normal, não como alguém velho.”

    As palavras de Eriel fizeram Vlad erguer uma sobrancelha, visivelmente surpreso.

    “Oh? Vejo que você tem o pensamento de uma raça longínqua. Isso é… interessante. Contudo, para continuarmos conversando, você deveria me chamar apenas de Vlad. Farei o mesmo com você. Eriel, certo?”

    Eriel hesitou. Falar informalmente com o líder de uma raça tão poderosa parecia errado, mas era um pedido direto. Negá-lo poderia ser considerado rude.

    “Sim, meu nome é Eriel,” respondeu ela, finalmente, com um tom neutro.

    “Então, Eriel,” começou Vlad, acomodando-se em sua cadeira com um ar casual. “Há algo que você gostaria de saber? Estou entediado, então me entretenha.”

    Ela piscou, surpresa. Não tinha histórias interessantes para contar, mas havia algo que sempre despertava sua curiosidade.

    “Na verdade, os humanos podem se tornar vampiros?”

    “Eh?”

    O Monarca inclinou a cabeça, como se não tivesse entendido de imediato. O silêncio que se seguiu fez Eriel questionar se havia algo errado.

    “Ela pensa que pode se tornar uma vampira. Existem histórias no mundo humano de que, se for mordido por um vampiro, também se torna um”, comentou o Rei com um tom levemente divertido, olhando para Eriel.

    “Isso é interessante de se pensar, mas temo lhe dizer: isso é falso”, respondeu Vlad, sua expressão se tornando séria.

    O sorriso descontraído do Monarca se tornou distante, dando lugar a um olhar mais grave.

    “Se você — uma humana — for mordida por um vampiro, seu corpo receberá um veneno considerado doloroso. Para se tornar um vampiro, você precisaria nascer em nossa raça e, mesmo assim, passar por um ritual específico. Esse ritual envolve o veneno de um líder vampiro. Sem isso, o processo não é apenas inútil para um humano, mas letal.”

    Eriel escutava atentamente enquanto Vlad continuava.

    “Não é possivel para um humano passar por esse ritual, seu corpo não suportaria. A dor seria tão insuportável que é comparada ao veneno de um basilisco, ou besta divina. Seu corpo simplesmente entraria em colapso.”

    Por um momento, os olhos de Vlad recaíram sobre o Rei Demônio. Havia algo melancólico em sua expressão, um sentimento que Eriel não conseguiu decifrar completamente.

    “Resumindo”, ele concluiu, “é impossível para um humano se tornar vampiro. Para que isso acontecesse, precisaríamos reconstruir seu corpo do zero, e apenas o veneno de uma Monarca teria a capacidade de iniciar o processo. Qualquer veneno de vampiro inferior não passaria de um afrodisíaco temporário ou um simples agente anestésico.”

    Eriel assimilou as informações com calma.

    “Entendo. Então, é realmente impossível”, murmurou, pensativa.

    A ideia de ter um corpo de vampiro parecia fascinante, especialmente considerando os limites que seu corpo humano impunha. Zoe já havia explicado a ela que sua capacidade atual não era suficiente para suportar todo o poder que possuía.

    “É realmente uma pena”, suspirou, disfarçando uma ponta de frustração que sentiu.

    Uma conversa contínua entre Vlad e Eriel, cobrindo tópicos diversos, até que o momento de espera finalmente chegou ao fim.

    Um emissário entrou no salão, carregando uma folha, e entregou a cada pessoa presente. Quando Eriel recebeu a sua, observou que havia uma instrução clara no rodapé: “Confidencial. Destruir após a leitura.”

    No documento, estavam descritas as verdadeiras estratégias para a batalha iminente, além de uma revelação alarmante: o líder dos anões estava colaborando com o inimigo. No entanto, a questão seria resolvida diretamente pelos líderes das facções.

    Após revisar as informações, todos começaram a se organizar para partir. O grupo teve uma sala reservada para o uso de magia de teleporte.

    Quando a magia foi ativada, Eriel não sabia o que esperar. Achou que sentiria algum tipo de desconforto, como uma pressão ou vertigem, mas foi surpreendentemente suave. Em um instante, tudo ao seu redor mudou.

    O novo planeta que chegou tinha uma atmosfera completamente diferente. Eriel notou de imediato como seu corpo parecia mais leve, quase flutuante.

    A gravidade aqui é diferente, ela pensou, olhando ao redor. A paisagem dinâmica, com cores e formas que não existiam na Terra, era de tirar o fôlego. O momento de calmaria seria breve, pois logo o grupo precisaria colocar em prática as estratégias que haviam acabado de obter.

    Diante do grande exército inimigo formado por 4 mil soldados, Eriel sabia que uma batalha seria desafiadora. O número de soldados inimigos superava a facção humana, e se fosse uma luta entre humanos e Aliança, a derrota parecia eminente.

    No entanto, Eriel também sabia que nem todos os combatentes eram humanos. O poder que emanava de alguns dos soldados da aliança era de uma magnitude tão impressionante que poderia facilmente superar o poder de múltiplos capitães humanos.

    O plano era claro: o Rei Demônio Azrael enfrentaria o líder inimigo diretamente, enquanto os quatro cavaleiros lutariam nas suas respectivas áreas e o restante das forças ficaria encarregado de lidar com os outros soldados.

    O poder dos demônios seria o pilar do ataque, cada um com uma função específica e crucial. Por conta disso, não seria possível lutar ao lado deles, pois seu poder afetaria os outros. Eles agiriam de maneira independente, enquanto o Rei Demônio isolaria o líder inimigo para um confronto direto.

    Depois da luta, o plano secreto entraria em ação: todos iriam imobilizar o rei dos anões. Era uma jogada arriscada, pois, caso o rei anão soubesse da estratégia, ele poderia se aliar ao inimigo e destruir os planos.

    “Vamos começar”, disse o Rei Demônio Azrael em um tom impaciente.

    De repente, Ethan falou, surpreendendo todos os presentes. “Espere um pouco. Posso pedir um favor, Azrael?”

    “Suspiro… Eu sabia que você tinha algo em mente.” Azrael parecia relutante, mas não se opunha.

    “Minha irmã é a sucessora do nosso clã, e eu gostaria que ela presenciasse um pouco de como os clãs agem. Poderia levá-la consigo?”

    Azrael olhou para Ethan por um momento, antes de responder com um tom grave, “Deseja que ela observe minha luta para aprender algo?”

    “Exatamente.”

    “… Tudo bem.”

    Azrael parecia hesitante, mas aceitou o pedido. Sem revelar seu rosto devido à máscara, a voz dele expressava uma mistura de relutância e compreensão. “Eriel, venha comigo.”

    Com um movimento rápido, o Rei Azrael segurou Eriel pela cintura e ativou uma magia gravitacional, flutuando com ela para um local afastado. Voaram por quase dez minutos, até chegarem a uma área isolada, longe da batalha.

    “Não deveríamos ir até o líder inimigo?” Eriel disse, confusa, sobre o que aconteceria a seguir.

    “Não se preocupe com isso. O líder virá até onde estamos.” A confiança de Azrael era inabalável.

    Ele começou a liberar toda sua aura de uma vez. Normalmente, a pressão do poder teria sido sufocante para Eriel, mas ele criou uma barreira protetora ao redor dela, isolando-a do impacto de sua força.

    “Aí vem ele.” Azrael murmurou, observando o horizonte com atenção.

    A sensação de poder se aproximando era inconfundível. Eriel sentiu uma aura esmagadora, algo tão vasto e intenso que a deixou sem palavras. Em um piscar de olhos, o ser chegou rapidamente ao local, aterrissando suavemente no chão. Sua presença era dominante, mas o que realmente chocou Eriel foi sua aparência: o ser que irradiava tal poder era apenas um garoto de 17 anos. Seus cabelos negros e olhos castanhos transmitiam uma sensação estranha a Eriel, como se ela já tivesse o visto em algum lugar antes.

    Os olhos de Eriel se encontraram com os do jovem por um breve instante, mas ele parecia não se importar com sua presença. A pressão não era palpável, e se não fosse pela barreira de proteção ao seu redor, ela sabia que não conseguiria resistir ao impacto do confronto iminente entre os dois poderosos combatentes.

    “Como pensei, você é o líder”, disse Azrael com uma voz desanimada, sua aura intensificando-se à medida que o confronto se aproxima.

    “Você pode entender o motivo, certo? Alguém precisa proteger o planeta, mas, se for você, temo que seja impossível”, continua o Rei Demônio, sua voz tingida de preocupação. Ele então retirou sua máscara, revelando seu belo rosto. Seus cabelos brancos como a neve saltaram do capô, e seus olhos vermelhos, normalmente imponentes, agora pareciam tristes ao se fixarem no jovem à sua frente.

    “Não pensei que nosso encontro fosse assim. Baal, por favor, desista de toda essa loucura e volte para o castelo… é o que sua mãe iria querer.”

    Seus olhos se estreitaram e a raiva tomou conta de seu semblante. “Não ouse falar sobre minha mãe! Você, de todas as pessoas, não tem esse direito!” Ele então olhou na direção de Eriel e, com um tom tranquilo, contínuo: “Pensei ter deixado bem claro antes, mas você não me ouviu. Agora, virão as consequências pelos seus atos.”

    Azrael sorriu, mas era um sorriso desanimado, como se já soubesse o que viria. “Você não pode me derrotar. É tudo uma perda de tempo. Apenas me escute.”

    Nesse momento, um novo ser apareceu ao lado de Baal. Uma mulher, com uma beleza etérea, surgiu com olhos de jade e cabelos que refletem todas as cores do arco-íris, fluindo livremente com o vento. Ela observou o Rei Demônio com um desprezo evidente.

    “Você está em desvantagem, Azrael”, a mulher disse com uma voz suave, mas carregada de desdém.

    Azrael, sem se deixar abalar, respondeu sarcasticamente: “Parece que estou em desvantagem?”

    Ele estendeu a mão e um espaço dimensional se formou à sua frente. Eriel, que observava com atenção, notou que era a mesma magia que ele usava nos brincos. Do espaço, Azrael retirou duas espadas, uma dourada e a outra negra. Ambas emanavam uma aura divina, como se estivessem imbuídas de um poder transcendente, digno de deuses.

    “Com isso, estamos todos presentes, não?” Azrael disse, com uma leve ironia na voz.

    Baal, ao ver as espadas, desenhou um sorriso, e algo em sua expressão parecia animado. “O grande Azrael. O anjo da morte… não pensei que teria uma chance de enfrentá-lo.”

    Azrael, sem perder a compostura, respondeu: “Se quiser, pode se render e me poupar bastante tempo.”

    Baal não parecia disposto a aceitar a oferta. “Não é assim que funciona”, retrucou ele, fazendo um gesto com a mão. Uma espada arco-íris apareceu em sua mão, brilhando com uma aura semelhante, mas distinta das espadas de Azrael.

    Azrael, então, falou com calma, como se se dirigisse a alguém invisível: “Não se preocupe, Noir.”

    Eriel, já acostumado com as características sobrenaturais, continuou em silêncio, observando o desenrolar dos acontecimentos. Era difícil não se impressionar com a intensidade da luta que se aproximava, mas algo em sua mente começava a processar a gravidade da situação.

    “Chega de conversa!” Baal falou, sua voz cheia de raiva.

    Com um movimento de sua espada, Azrael conjurou um feitiço e uma poderosa magia começou a emanar no campo de batalha. “Desperte, senhora da escuridão.”

    Azrael, por sua vez, começou a canalizar seu poder para suas espadas. Ele sussurrou palavras antigas e poderosas, que ecoaram pelo ar. Primeira forma: Despertar.” Com a magia ativa, a espada negra em sua mão começou a brilhar intensamente, absorvendo a energia que fluía de Azrael.

    E então, ele olhou para a lâmina dourada: “Acorde, Amaterasu.” A espada dourada irrompeu com uma onda de calor tão intensa que até a mesma a barreira ao redor de Eriel começou a vibrar, mas ainda assim, ela se manteve firme.

    Azrael olhou para as espadas e disse com um tom de comando: “Protejam Eriel.”

    De repente, uma segunda barreira apareceu sobre a primeira, mais sólida e impenetrável.

    “Venha, Baal!” Azrael disse, seu tom agora determinado. “Colocarei um pouco de juízo em sua cabeça.”

    Com um movimento rápido, a espada negra de Azrael se transformou em uma adaga, e ele avançou em direção a Baal. A batalha entre os dois começou a se intensificar. Baal defendeu o primeiro ataque com agilidade, mas logo ambos desapareceram de vista, seus movimentos tão rápidos que Eriel mal conseguiu acompanhá-los. Mesmo com seu treinamento, foi impossível compreender a velocidade e a ferocidade do confronto.

    Ela se concentrou na proteção que Azrael havia providenciada para ela, esperando que, apesar da incerteza do futuro, a luta fosse decidida rapidamente.

    G

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