Capítulo 31 — Lembranças do Passado
A porta pesada da caverna se abriu com um som metálico que reverberou pelo espaço. Uma mulher entrou, passando por Eriel sem parecer notá-la, como se estivesse ocupada pela cena à sua frente. Seus olhos estavam fixos na figura acorrentada no centro da caverna, com uma expressão de espanto e confusão.
Eriel, observando tudo em silêncio, notou que a mulher parecia lutar para entender o que via. Não era difícil imaginar seus pensamentos. Diante dela, era um ser desconhecido, preso por correntes e selos mágicos que o restringiam completamente.
A mulher hesitou, os passos vacilantes enquanto tentava decidir o que fazer. Sua cautela era evidente, mas a curiosidade parecia ser maior que o medo.
“Olá?” Sua voz saiu baixa, contudo, não houve resposta.
Era óbvio para Eriel que ele não poderia responder. Os selos em seu corpo o mantinham não apenas imóvel, mas também incapazes de se comunicar.
Sem obter retorno, a mulher tentou novamente, desta vez mais firme: “Você pode me ouvir?”
Mais uma vez, apenas o silêncio respondeu.
Eriel observava tudo com atenção, sem comentar. A mulher parecia considerar suas opções. Seus olhos se fixaram nos selos que envolviam a figura, e depois de um momento de hesitação, ela começou a se aproximar. Seus movimentos eram lentos e cautelosos, pois qualquer gesto brusco poderia desencadear algo perigoso.
Com cuidado, ela começou a remover os selos, um por um. Cada símbolo gravado nas correntes desaparecia ao toque dela, até que o último selo foi desfeito.
Quando a mulher retirou o capuz que cobria o rosto da figura, a luz das tochas revelava um par de olhos escarlates brilhando intensamente, mesmo em sua fraqueza.
Azrael.
Eriel prendeu a respiração. Azrael estava claramente debilitado. Embora seu físico não houvesse mudado, sua pele era pálida como porcelana, e a ausência de mana era palpável. Ainda assim, sua presença permanecia esmagadora, mesmo naquele estado.
“Quem é você?” Azrael disse, sua voz grave ressoando pela caverna. As palavras, no entanto, foram, na língua demoníaca, incompreensíveis para a mulher.
Sua expressão demonstrou surpresa e uma ponta de inquietação, mas antes que ela pudesse reagir, um fraco fluxo de mana pareceu retornar ao corpo de Azrael. Com ele, a habilidade de comunicação universal foi ativada.
“Como você chegou aqui?” Azrael repetiu, agora em um idioma que a mulher pudesse entender.
Finalmente, ela compreendeu as palavras dele. Sua expressão animada mostrou a felicidade de finalmente conseguir se comunicar.
Eriel, observando a interação, sentiu um misto de medo e surpresa. Era raro ver Azrael em sua verdadeira forma por tanto tempo. Seus olhos vermelhos e cabelos brancos eram detalhes que ela nunca havia visto contemplar com tanta clareza.
“Entrei na caverna e consegui achar esse lugar”, respondeu à mulher com um tom de empolgação, como se estivesse esperando algum tipo de agrado.
“Você não deveria estar aqui…” Azrael respondeu, piscando os olhos repetidamente enquanto tentava se ajustar à clareza do ambiente.
Agora que a luz iluminava melhor seu rosto, a mulher o observava com atenção, e um sorriso brincalhão surgia em seus lábios. “Sabe, você até que é bonitinho.”
Azrael arqueou uma sobrancelha, sua expressão permanecendo séria, mesmo com uma tentativa de descontração. .
“Você é do tipo que gosta de brincar? Tenho um amigo que adoraria você.”
“Ele é casado?” a mulher perguntou, deixando escapar um pequeno sorriso, quase imperceptível.
A mulher riu, e por um momento a tensão não pareceu desaparecer. Eles mais pareciam velhos conhecidos se reencontrando do que estranhos em uma situação inusitada. Mas essa leveza logo se dissipou quando o rosto dela assumiu um ar mais sombrio.
“Por que você está aqui?” Sua voz agora carregava um tom sério, quase acusador. Ela parecia incomodada com a visão de Azrael presa, suas correntes reforçando a ideia de vulnerabilidade. Para ela, ele parecia mais uma criança frágil do que um ser imponente.
“Você acreditaria se eu dissesse que machuquei um deus?” Azrael respondeu com simplicidade, como se estivesse contando um fato rotineiro.
A mulher arregalou os olhos, surpresa, mas também com um vislumbre de emoção. “Oh! Isso é sério? Espera… os deuses realmente existem?”
Eriel, à distância, sentiu suas dúvidas se intensificarem. Era difícil acreditar. Mesmo alguém tão poderoso como Azrael ferir um deus parecia impossível. Os deuses eram, afinal, as entidades mais poderosas, criadas para proteger o universo. Um feito como esse exigia um poder além da imaginação.
A mulher, por outro lado, parecia inclinada a aceitar a afirmação de Azrael. “Então, eles existem mesmo… Que incrível!”
A conversa silenciosa em um tom amigável, com ela fazendo perguntas curiosas e Azrael respondendo com paciência. No entanto, o clima mudou novamente quando a mulher observou as correntes que ainda prendiam Azrael.
“Espere… o que você está fazendo?” Ele perguntou, surpreso ao ver ela mecher nas correntes.
“Vou tirar isso de você, claro”, respondeu ela com naturalidade, como se a solução fosse óbvia.
“Por quê?” A voz de Azrael carregava um tom de ceticismo e preocupação.
“Porque você não deveria estar preso. Isso é errado”, disse ela, começando a examinar as correntes.
Azrael ficou em silêncio por um momento, mas sua expressão mostrou uma confusão de surpresa e desconforto. “Você realmente acredita que pode me libertar?”
“Não custa tentar.” O sorriso confiante dela voltou, mas Eriel, observando de longe, sentiu que algo na situação não estava certo. As correntes não eram simples algemas; elas estavam ali por um motivo, e mexer nelas poderia ter consequências imprevisíveis.
***
Após libertar Azrael, a mulher parecia indecisa sobre como os dois escapariam daquele lugar. Embora suas palavras demonstrassem confiança, havia algo em sua postura — um leve suspiro, talvez — que revelava a preocupação que tentava esconder.
“Bem, vamos. Vou te levar até minha casa. Será muito mais confortável conversar lá do que neste lugar.”
Ela falou, tentando transmitir otimismo, mas Azrael descobriu que o plano dela era, no mínimo, vago. Havia um toque de engenhosidade em sua atitude, como se acreditasse que sair da caverna e atravessar o labirinto infernal seria uma tarefa simples.
“Isso me lembra… ainda não sei o seu nome.” Ela falou com um tom casual, quase descontraído.
Azrael, por um momento, recuou um passo. Seus olhos escarlates contemplam algo distante. Ele levou uma mão ao rosto, os dedos deslizando pela pele pálida, como se tentasse reunir os fragmentos de sua própria identidade. Era estranho para ele, tão acostumado à solidão e ao silêncio, ter de se apresentar a alguém novamente.
“Meu nome é… Azrael,” respondeu, sua voz carregando um misto de hesitação e autoridade.
Azrael observou atentamente a reação dela. Para sua surpresa, não houve choque, medo ou reverência — reações comuns quando seu nome foi mencionado. Normalmente, ao descobrir quem ele era, as pessoas corriam ou adotavam um tom formal e cauteloso. Mas ela simplesmente sorriu, como se o nome dele fosse algo comum, e continuou a conversa com naturalidade.
“Azrael… Azrael…” Ela repetiu, quase cantando o nome. “É um nome legal. Eu sou Mayla. Mayla Facnor.”
“Mayla?” A voz de Azrael carregava um tom de curiosidade, mas antes que pudesse dizer mais, Eriel, que até então observava tudo à distância, arregalou os olhos em surpresa.
“Vovó?” murmurou Eriel, perplexa.
Só então ela começou a conectar os pontos. Mayla era, de fato, sua avó, mas a jovem à sua frente era tão diferente da figura que ela conhecia. A Mayla que Eriel lembrava era uma líder firme, uma mulher que carregava o peso de decisões difíceis. Agora, diante dela, era uma jovem com pouco mais de 25 anos, de cabelos castanhos alongados e olhos azuis vibrantes. Sua energia juvenil era cativante, quase inocente, como alguém que ainda não havia enfrentado as durezas do mundo.
Mayla sorriu novamente, um sorriso sincero, desprovido de malícia. Azrael observava atentamente, intrigado. Era raro encontrar alguém que olhasse para ele sem temor ou julgamento. Para ele, era como encarar uma alma que ainda não havia sido tocada pelos horrores do universo.
“Mayla… Qual o nome deste planeta?” Azrael disse, com sua voz calma, mas com curiosidade urgente.
“Nome do planeta?” Ela franziu as sobrancelhas, surpresa com a pergunta. “É Terra.”
Azrael ficou imóvel por um momento, deixando uma palavra ecoar em sua mente. Fazia muito tempo desde que ouvira falar desse planeta. O planeta proibido. O mundo humano é um lugar protegido pelas leis divinas que impede qualquer influência externa. Era o refúgio absoluto, onde nem mesmo os deuses ousavam interferir diretamente.
“Estou no mundo humano?” ele murmurou, mais para si mesmo do que para Mayla. Agora fazia sentido. Se seu exílio tinha como objetivo mantê-lo fora do alcance de qualquer resgate ou intervenção, os deuses escolheriam o lugar mais isolado possível. O mundo humano era uma prisão perfeita.
“Você parece preocupado”, disse Mayla, inclinando a cabeça, sua expressão novamente confusa. “Mundo humano? Hm, Esse é um nome interessante.” Ela riu levemente, alheia à gravidade do momento.
Azrael sabia que deveria agir com cautela. Mesmo com sua vasta experiência, estar na Terra era um problema delicado. A influência de um ser como ele poderia ter consequências devastadoras para o equilíbrio universal.
“Mayla, precisamos sair daqui,” ele disse, sua voz mais firme agora. “este lugar… a masmorra, está drenando minha energia. Não consigo restaurar minha mana enquanto estiver aqui.”
Mayla franziu o cenho, claramente sem entender completamente o que ele queria dizer, mas algo em seu tom parecia sério o suficiente para convencê-la.
“Você fala como se fosse fácil”, respondeu Mayla, o ceticismo evidente em sua voz.
Azrael ergueu uma sobrancelha, com sorriso sutil no rosto. “Não foi você quem começou com essa confiança toda? De qualquer forma, existe uma maneira correta de sair daqui.”
Sem esperar resposta, ele começou a observar a sala com atenção, seus olhos brilhando com uma intensidade quase sobrenatural. Era como se ele estivesse lendo algo que Mayla não podia ver. Então, uma tocha em uma das paredes chamou sua atenção. Ele caminhou até ela, seus passos ecoando no silêncio da masmorra.
Mayla o confortou, confusa. “O que você está fazendo?”
“Espere e veja”, disse ele simplesmente, enquanto estendia a mão para a chama da tocha. Ao tocá-la, uma luz dourada percorreu a sala, revelando um círculo mágico que pulsava com energia arcana.
“Vamos”, ele disse, sem se virar, sua voz carregando um tom de autoridade que Mayla não questionou.
Relutante, mas curiosa, ela se moveu. Assim que os dois pisaram dentro do círculo, uma estranha sensação percorreu o corpo de Mayla — algo entre formigamento e vertigem. Antes que pudesse reagir, o mundo ao seu redor se distorceria, como se a realidade estivesse sendo dobrada. Quando abri os olhos novamente, estavam do lado de fora da caverna.
Mayla cambaleou um pouco, tentando se equilibrar. “O que foi isso? Foi… teletransportar?”
“Algo assim”, respondeu Azrael casualmente, enquanto respirava fundo. Ele moveu a mão, sentindo o ar ao seu redor. Um leve sorriso curvou seus lábios.
Sua mana estava retornando.
Azrael sentiu os fios invisíveis de energia mágica fluírem novamente em seu corpo, ajustando-se lentamente à nova realidade. Cada fragmento de poder que recuperava parecia reacender uma chama há muito adormecida. Ele fechou os olhos por um momento, absorvendo a sensação. Mas o que ele sentiu não era exclusivo.
O universo inteiro percebeu.
Como uma onda invisível, a presença de Azrael ecoou através do cosmos, alterando o equilíbrio delicado que havia sido limitado por tanto tempo. Mortais e imortais — deuses, demônios, caídos e anjos — todos sentiram a mesma coisa. Era como se um antigo gigante tivesse despertado de seu sono, e o universo se curvasse à força esmagadora de sua existência.
Nos reinos celestiais, anjos murmuravam com intervalo e reverência. Para alguns, o retorno de Azrael teve esperança, a restauração de algo perdido. Em contrapartida, os demônios se tornaram sombrios e cautelosos, como se uma ameaça iminente pairasse sobre eles. Os caídos, acostumados ao desespero, ousaram sentir algo que havia muito esquecido: expectativa.
Mas para os deuses, a história era diferente. Sentindo o impacto de uma presença que, se não tomada com cuidado, poderia se tornar o início de sua destruição.
No centro de tudo, Azrael se encontrou imóvel, mas sua mera existência parecia expandir e comprimir o próprio tecido do cosmos. Havia uma calma quase assustadora nele, como se não tivesse pressa alguma em agir. Ele sabia o que acabara de acontecer, mas não demonstrou surpresa.
Mayla olhou para ele, percebendo a mudança. “O que foi isso? Eu senti… como se algo tivesse mudado.”
Azrael abriu os olhos, que agora brilhavam com uma intensidade sobrenatural. “Essa sensação? É o universo percebendo minha volta. A partir de agora, nada será como antes.”
Enquanto ele conversava, uma força invisível parecia observar eles, e por um breve momento, até Mayla conseguiu notar a magnitude do homem ao seu lado. Não era apenas um ser exilado. Não era apenas alguém tentando escapar. Ele era Azrael, o Anjo da Morte.
E em algum lugar distante, o Deus Supremo observava tudo. Um sorriso enigmático surgiu em seus lábios. Ele sabia que o retorno de Azrael traria caos, mas também sabia que o caos tinha um papel fundamental. O equilíbrio havia sido quebrado, e o destino do universo estava prestes a ser reescrito.
***
Mayla levou Azrael até sua vila. O lugar era pequeno e pouco movimentado, mas a presença de um estranho não passava despercebida. Os poucos habitantes que estavam do lado de fora interromperam suas atividades para lançar olhares curiosos e desconfiados. As vestes antiquadas de Azrael não ajudavam a mantê-lo discreto; pelo contrário, destacavam-no como alguém de outro tempo ou lugar.
Mayla parecia relaxada por fora, mas Azrael notava seus constantes olhares para ele enquanto desciam a montanha. Sua mente estava repleta de perguntas, que ela lançava incessantemente no caminho.
“O que exatamente era aquele círculo mágico?”
“Como você sabia onde estava a saída?”
“Por que você parece tão calmo depois de tudo isso?”
Azrael respondeu apenas com frases curtas e promessas vagas: “Eu explicarei… mas precisa ter paciência.”
Quando chegou à vila, Mayla o levou até uma casa modesta no centro, com paredes de madeira envelhecidas, mas bem cuidadas. Ela parou na frente da porta e bateu suavemente. Após alguns instantes, uma jovem abriu a porta.
Helena, como Mayla a chamou, tinha cabelos alaranjados que caíam em suaves ondas sobre seus ombros. Seus olhos claros brilharam com curiosidade ao se depararem com Azrael. Era evidente que a presença dele a intrigava, mas ela se conteve.
“Bem-vinda”, disse Helena com um tom calmo, desviando o olhar para Mayla.
“Obrigada, Helena. Você pode ir agora, tenho assuntos para tratar com este jovem.”
“Entendido.”
Helena lançou mais um olhar curioso para Azrael antes de sair, mas não fez perguntas. A porta se fechou, e Mayla o guiou para o interior da casa.
“Venha, vamos conversar na sala.”
Azrael silenciosamente, analisando o ambiente ao seu redor. Era uma casa simples, mas aconchegante. As paredes de madeira eram adornadas com algumas tapeçarias caseiras, e a sala exalava uma sensação de calma. Era o tipo de lugar que parecia acolhedor até para um espírito inquieto como o dele.
Mayla indicou um sofá de estofado desgastado, mas limpo. “Sente-se aqui.”
Azrael obedeceu sem hesitar, afundando-se no sofá. O silêncio continuou por um momento enquanto Mayla o observava com expectativa. Parecia estar esperando que ele começasse a falar.
“Antes de tudo… me desculpe”, disse Azrael, finalmente quebrando o silêncio.
Mayla inclinou levemente a cabeça, surpresa. “Desculpe? Por quê?”
“Por revelar o círculo de teleporte”, ele respondeu, com um tom sério. “Eu quebrei uma regra importante ao expor algo que está além do conhecimento humano.”
Mayla franziu a testa, claramente confusa. “Por que isso seria tão grave? Você fala como se não fosse humano.”
“Porque não sou”, disse Azrael, seu olhar encontrando o dela.
Mayla hesitou, avaliando-o com mais cuidado. Ele parecia humano — mais humano do que muitos que ela conhecia. Mas havia algo nos olhos dele, um peso antigo, como se carregasse eras de memórias e batalhas.
“Se não é humano… então o que você é?”
“Sou um demônio”, respondeu ele, com voz firme, sem hesitação.
O silêncio foi esmagado. Mayla piscou lentamente, processando a informação. Pela primeira vez desde que o encontrou, ela parecia realmente cautelosa.
“Você diz isso como se fosse algo normal”, murmurou ela.
“Para mim, é”, respondeu Azrael. “Mas entendo que para você não seja. E é por isso que precisamos de um pacto antes de continuarmos.”
Mayla cruzou os braços, um misto de desconfiança e curiosidade em seu rosto. “Um pacto? Que tipo de pacto?”
“Simples. Não posso compartilhar tudo sobre mim sem garantias de que o que direi permanecerá entre nós. Este conhecimento não deve se espalhar. Não apenas por sua segurança, mas pelo equilíbrio deste mundo.”
Mayla respirou fundo, considerando as palavras dele. “E o que exatamente acontece nesse pacto?”
Azrael estendeu uma mão aberta, e um leve brilho começou a se formar em torno dela, como um círculo translúcido. “Você jurará manter o que ouvir aqui em segredo. Em troca, eu prometo preveni-la de qualquer consequência que possa surgir.”
Mayla olhou para a mão dele, depois para seus olhos. Ela sabia que estava se envolvendo com algo que ia além de sua compreensão, mas a curiosidade a venceu.
“Está bem”, ela disse, estendendo a mão para encontrar a dele. “Aceito o pacto.”
O círculo brilhou com intensidade, envolvendo os dois por um breve momento antes de desaparecer. Azrael soltou a mão dela e recostou-se no sofá, parecendo satisfeito.
“Agora, posso começar a explicar quem sou e por que estou aqui”, disse ele calmamente, enquanto Mayla o observava. Ela sentiu que, a partir daquele momento, sua vida nunca mais seria a mesma.
Mayla cruzou os braços e inclinou levemente a cabeça, ainda processando a situação. “Pacto, você diz? Como exatamente isso vai funcionar? Só para deixar claro, não tenho interesse em vender minha alma.”
Azrael sorriu de forma breve, um sorriso quase imperceptível. “Não é assim que funciona. Como minha salvadora, é meu dever protegê-la até o último dia de sua vida.”
“Me proteger?” Mayla franziu a testa, claramente intrigada.
“Um pacto de proteção”, ele explicou, sua voz suave, mas firme. “Desde que descobriu a verdade do universo, você deixou de ser uma humana comum. Sua existência e aqueles ao seu redor são agora algo superior. Mas isso também significa que vocês são alvos.”
Mayla hesitou, mas seus olhos indicavam que acreditava nele. Ela havia visto o círculo de teleporte com seus próprios olhos, algo que nenhuma explicação terrena poderia ser justificada.
“Entendo… Vou aceitar seu acordo. Mas devo mudar algo.”
“O quê?”
“Eu não preciso de proteção”, ela disse, sua voz mais suave agora.
Azrael arqueou uma sobrancelha, confusa, mas logo sentiu. Uma presença sutil, mas forte, chamou sua atenção para a escada no fundo da sala. Ele virou a cabeça, e Mayla agitou seu olhar.
Uma criança pequena estava parada na escada, observando-os. Ela parecia ter um pouco mais de quatro anos. Seus cabelos castanhos brilhavam suavemente sob a luz que vinha da janela, e seus olhos azuis refletiam uma curiosidade inocente. Quando ela sorriu, o mundo pareceu parar por um instante.
“Ma-mamãe?” A voz da garotinha era doce, mas trouxe lágrimas aos olhos de Mayla. Ela as sentiu escorrer incessantemente, mal acreditando no que via.
“Mãe…” murmurou Eriel, com um tremor na voz.
Azrael não desviou o olhar da menina. Algo na presença dela era incomum. Ela parecia uma criança comum, mas o fluxo de mana ao redor dela era quase palpáve.
“Você já viu, certo?” Disse Mayla.
“Sim…” respondeu Azrael, ainda encarando a criança.
“Então, se é para proteger alguém… Proteja minha preciosa filha.”
“Nome?”
“Júlia Facnor”, respondeu Mayla.
A atmosfera na sala mudou. Azrael se levantou e caminhou até as escadas, parando em frente à pequena menina. Ele se abaixou para ficar na altura dela, e sua expressão seria se tornou suave ao ver o sorriso puro que ela exibia.
“Olá, pequena,” ele disse, com a voz mais gentil. “Meu nome é Azrael.”
“Jú — Júlia”, respondeu à criança, timidamente.
Azrael estendeu a mão, como se saudasse uma igual, e continuou: “Júlia Facnor. Como filho do Rei Demônio, juro por meu nome que protegerei você até o dia de sua morte. Este é o nosso pacto.”
O brilho do pacto era sutil, mas poderoso. No momento em que foi feito, algo aconteceu. A mana no corpo de Júlia despertou, como um rio contido por uma represa que de repente se rompeu.
Azrael arregalou os olhos, surpreso. Ele recuou levemente, avaliando o fluxo de energia que emergia da menina.
“Isso… isso não é possível”, ele murmurou, intrigado. “Você é…”
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